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1. O conto é narrado em primeira pessoa (uso do EU no texto). Como essa característica interfere na narrativa do texto?
2. No texto, de maneira recorrente, constrói-se como conflito da história a pergunta: "de que cor eram os olhos de minha mãe?" A que se deve esse questionamento? O que você pode concluir no que diz respeito a relação entre a mãe e a filha no conto?
3. A frase final traz um questionamento: "mãe, qual a cor úmida dos seus olhos?" Diante de toda a narrativa construída, porque será que a filha da narradora mesmo olhando nos olhos da mãe, os ve úmidos?
4. No final do conto, há uma espécie de "elemento surpresa" que nos faz repensar toda a narrativa e nos deixa também curiosos. Que elemento é esse? Qual a análise que podemos fazer da história a partir desse elemento?
O texto de que cor eram os olhos de minha mãe?
Lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de pranto balbuciava rezas a Santa Bárbara, temendo que o nosso frágil barraco desabasse sobre nós. E eu não sei se o lamento-pranto de minha mãe, se o barulho da chuva... Sei que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Nesses momentos os olhos de minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia! Então, porque eu não conseguia lembrar a cor dos olhos dela?
E naquela noite a pergunta continuava me atormentando. Havia anos que eu estava fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida para mim e para minha família: ela e minhas irmãs que tinham ficado para trás. Mas eu nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, mas de minhas tias e todas a mulheres de minha família. E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com as suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?
E foi então que, tomada pelo desespero por não me lembrar de que cor seriam os olhos de minha mãe, naquele momento, resolvi deixar tudo e, no outro dia, voltar à cidade em que nasci. Eu precisava buscar o rosto de minha mãe, fixar o meu olhar no dela, para nunca mais esquecer a cor de seus olhos.
E assim fiz. Voltei, aflita, mas satisfeita. Vivia a sensação de estar cumprindo um ritual, em que a oferenda aos Orixás deveria ser descoberta da cor dos olhos de minha mãe.
E quando, após longos dias de viagem para chegar à minha terra, pude contemplar extasiada os olhos de minha mãe, sabem o que vi? Sabem o que vi?
Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas, eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face? E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum.
Abracei a mãe, encostei meu rosto no dela e pedi proteção. Senti as lágrimas delas se misturarem às minhas.
Hoje, quando já alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os olhos de uma são o espelho dos olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo, ela tocou suavemente o meu rosto, me contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou baixinho, mas tão baixinho como se fosse uma pergunta para ela mesma, ou como estivesse buscando e encontrando a revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei, quando, sussurrando minha filha falou:
Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos?
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Resposta:
1. A narrativa em primeira pessoa no conto permite ao leitor uma conexão mais íntima com os pensamentos e emoções da narradora, proporcionando uma visão pessoal e subjetiva dos eventos. Isso pode criar empatia e imersão na história, permitindo que o leitor compreenda profundamente a perspectiva da narradora.
2. O questionamento recorrente sobre a cor dos olhos da mãe parece refletir a dificuldade da narradora em se lembrar dos detalhes físicos de sua mãe após muitos anos de separação. Isso simboliza a distância emocional que a narradora sente em relação à sua mãe devido à sua ausência e busca de uma vida melhor. O conflito central parece estar relacionado à necessidade de reconciliar sua identidade com sua herança e a relação complexa com sua mãe.
3. A pergunta final da filha sobre a cor úmida dos olhos da mãe sugere uma busca pela compreensão mais profunda da mãe, indo além da aparência física. Pode representar o desejo da filha de entender a verdadeira essência de sua mãe, suas emoções e experiências, o que está além do que os olhos podem ver.
4. O "elemento surpresa" no final do conto é a revelação de que a mãe da narradora possui olhos "cor de olhos d’água", associados à entidade espiritual Mamãe Oxum. Essa revelação adiciona uma dimensão espiritual à história e sugere que a mãe tem uma conexão profunda com a espiritualidade e a natureza. Isso também implica uma herança cultural e religiosa que a narradora busca compreender e transmitir à sua filha, conectando-se às suas raízes e tradições.