O curta metragem (25 minutos) “Em nome da razão”foi dirigido pelo cineasta mineiro Helvécio Ratton e produzido pelo Grupo Novo de Cinema e TV e pela Associação Mineira de Saúde Mental. Produzido em preto e branco com recursos próprios, retrata a tragédia vivida pelos milhares de internos do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, que refletia o cenário nacional nos idos de 1979. O filme se desenvolve a partir das enfermarias e pátios internos, vai pelos corredores, pelas celas fortes, contrasta a miséria humana e a sofisticação do projeto arquitetônico do manicômio inaugurado, com pompas e honras, em 1904.
O som que se capturou foi estritamente o produzido localmente: gritos, lamúrias e relatos impressionantes acerca do cotidiano e das histórias de vida dos que ali resistiam, na fala e expressão dos internos, eventualmente intercaladas pelo depoimento do administrador do hospital acerca das dificuldades de gestão de corpos e subjetividades. Não se escuta a fala dos psiquiatras.
Trata-se de revelar a instituição e seus amplos compromissos com a sociedade que rechaça a loucura e a condena à clausura e à mortificação
O filme termina fora dos limites do Hospital Colônia de Barbacena. Duas mulheres conversam sobre Adão, paciente do manicômio, que aparece anteriormente numa solitária, algemado, esperando pela lobotomização. Agora, após a cirurgia ele está em casa com sua mãe e a irmã, totalmente incapaz de morar sozinho. A irmã lamenta a falta de esclarecimento, por parte do “hospital” em relação aos procedimentos usados no paciente, fazendo-a concordar com o método agressivo sem ao menos tomar conhecimento disso. A mãe sofre pelo filho.
O diretor nos conduz a uma reflexão sobre a psiquiatria e sobre o Brasil: como é possível que uma sociedade seja capaz de gerar e sustentar uma instituição tão cruel e retrógada como era o Hospital Colônia de Barbacena?
O documentário "Em Nome da Razão" foi o estopim para que as mudanças naquela e em outras instituições fossem tomadas. O filme proporcionou um processo que provou serem ilegítimos seus métodos de tratamento/atenuação da doença mental e isso ocasionou numa abertura para projetos que já haviam sido iniciados, encontrando espaço para serem colocados em prática.
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MirelySouzaa
pegou de algum lugar na internet? se sim vou ter que mudar algumas coisas , me avisa aqui no comentário
rkaoliveira
GOULART, Maria Stella Brandão. Em nome da razão: Quando a arte faz história. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. [online]. 2010, vol.20, n.1 [citado 2023-06-03], pp. 36-41 . Disponível em: . ISSN 0104-1282.
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O curta metragem (25 minutos) “Em nome da razão”foi dirigido pelo cineasta mineiro Helvécio Ratton e produzido pelo Grupo Novo de Cinema e TV e pela Associação Mineira de Saúde Mental. Produzido em preto e branco com recursos próprios, retrata a tragédia vivida pelos milhares de internos do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, que refletia o cenário nacional nos idos de 1979. O filme se desenvolve a partir das enfermarias e pátios internos, vai pelos corredores, pelas celas fortes, contrasta a miséria humana e a sofisticação do projeto arquitetônico do manicômio inaugurado, com pompas e honras, em 1904.
O som que se capturou foi estritamente o produzido localmente: gritos, lamúrias e relatos impressionantes acerca do cotidiano e das histórias de vida dos que ali resistiam, na fala e expressão dos internos, eventualmente intercaladas pelo depoimento do administrador do hospital acerca das dificuldades de gestão de corpos e subjetividades. Não se escuta a fala dos psiquiatras.
Trata-se de revelar a instituição e seus amplos compromissos com a sociedade que rechaça a loucura e a condena à clausura e à mortificação
O filme termina fora dos limites do Hospital Colônia de Barbacena. Duas mulheres conversam sobre Adão, paciente do manicômio, que aparece anteriormente numa solitária, algemado, esperando pela lobotomização. Agora, após a cirurgia ele está em casa com sua mãe e a irmã, totalmente incapaz de morar sozinho. A irmã lamenta a falta de esclarecimento, por parte do “hospital” em relação aos procedimentos usados no paciente, fazendo-a concordar com o método agressivo sem ao menos tomar conhecimento disso. A mãe sofre pelo filho.
O diretor nos conduz a uma reflexão sobre a psiquiatria e sobre o Brasil: como é possível que uma sociedade seja capaz de gerar e sustentar uma instituição tão cruel e retrógada como era o Hospital Colônia de Barbacena?
O documentário "Em Nome da Razão" foi o estopim para que as mudanças naquela e em outras instituições fossem tomadas. O filme proporcionou um processo que provou serem ilegítimos seus métodos de tratamento/atenuação da doença mental e isso ocasionou numa abertura para projetos que já haviam sido iniciados, encontrando espaço para serem colocados em prática.