A PRÁTICA PEDAGÓGICA E SUAS VERTENTES

A PRÁTICA PEDAGÓGICA E SUAS VERTENTES

Jaqueline Barros Rodrigues1, Maria Simone Ferraz Pereira Moreira Costa2 1,2,3

Faculdade de Ciências Integradas

Author Elias Barbosa Vilanova

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A PRÁTICA PEDAGÓGICA E SUAS VERTENTES

Jaqueline Barros Rodrigues1, Maria Simone Ferraz Pereira Moreira Costa2 1,2,3

Faculdade de Ciências Integradas do Pontal-FACIP/UFU, Curso de Pedagogia. [email protected] 1 [email protected]

Linha de trabalho: Formação Inicial de Professores: PIBID

Resumo O presente trabalho é uma reflexão parcial da pesquisa “As Influências da Avaliação na Prática Pedagógica de uma Escola Municipal de Ituiutaba-MG”. A pesquisa tem o intuito de compreender as influências da avaliação na prática pedagógica. Para o começo da discussão fizemos a pesquisa bibliográfica buscando compreender o conceito de prática pedagógica. Para isso, nos respaldamos em autores como: Schon (1992), Gadotti (1995), Sacristan (1999), Cunha (2001), Tardif (2002), Bock (2004), Moreira (2004), Behrens (2005), Souza (2005), Machado (2005), Mendes Sobrinho (2006), Tozetto (2009), Vieira (2010 e 2013). Palavras-chave: Prática Pedagógica, Reflexão, Inovação.

Contexto do Relato

O presente texto, fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica - IC que objetiva compreender o lugar da avaliação na prática pedagógica de professoras que atuam nos anos iniciais do ensino Fundamental. Além disso, a pesquisa busca refletir sobre a relação entre avaliação da aprendizagem e avaliação externa. Para esse relato, fizemos uma reflexão teórica sobre prática pedagógica e nos respaldamos em autores como: Schon (1992), Gadotti (1995), Gimeno Sacristan (1999), Cunha (2001), Tardif (2002), Bock (2004), Moreira (2004), Behrens (2005), Souza (2005), Machado (2005), Mendes Sobrinho (2006), Tozetto (2009), Vieira (2010 e 2013), dentre ouros.

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Compreendemos que a prática pedagógica não se limita apenas a sala de aula, o fazer docente se estende para os diferentes espaços da escola. Segundo Carvalho (1998) um dos pilares do trabalho do professor é a prática, pois ele está em ação grande parte do seu dia, da sua vida. Entretanto, a prática não pode acontecer de forma isolada e sem reflexão. O trabalho docente precisa ter uma reflexão crítica para que a coerência e a consistência não fujam dos objetivos pensados pelo educador. Sendo assim, é preciso um constante auto avaliação por parte dos docentes, para se certificar se o que está ensinando está correto. Sem o significado consciente, sem o pensamento reflexivo a atividade prática torna-se mecânica e rotineira (DEWEY, 1959).

Detalhamento dos estudos realizados e análise do que os autores dizem sobre prática pedagógica

Fundamentada no pensamento de Schon (1992), Carvalho (1998) afirma que professores são capazes de criar teorias sobre seu fazer e, assim, constantemente reorganizar sua prática. Ao analisar o pensamento de Schon, ela afirma que o autor, em sua teoria, defende o triplo movimento que o professor precisa ter em sua prática, a saber: reflexão-na-ação, reflexão-sobrea-ação e sobre-a-reflexão-na-ação. O primeiro movimento é o pensamento do professor sobre o seu fazer docente enquanto realiza a ação. O segundo é o que o educador deve refletir depois de ter concluído a ação. E o terceiro é uma descrição do que já aconteceu, mas precisa ser mudado, e desse modo sinalizar o que precisa melhorar em suas ações futuras. Ainda respaldada em Schon (1992), Carvalho afirma que o exercício desse triplo movimento, possibilita ao docente uma prática inovadora, ou seja, transformar o que não está bom e melhorar cotidianamente sua prática pedagógica. Em nossas escolas brasileiras presenciamos uma realidade difícil e complexa, com vários problemas e nem sempre identificamos práticas comprometidas com a superação dos problemas. O que muitas vezes vemos é a responsabilização e a culpabilização de um ou outro segmento.

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Às vezes a família responsabiliza a escola pelo sucesso ou fracasso dos seus filhos e, a escola por sua vez, culpabiliza a família por não educar seus filhos devidamente e nem participar da vida escolar deles, prejudicando assim o desenvolvimento da prática pedagógica. A equipe gestora muitas vezes culpa os professores por serem despreparados e por não desenvolverem práticas pedagógicas eficientes para trabalhar com as crianças que recebem de diferentes raças e valores morais. Diante este cenário é preciso que haja interação entre ambas para que possam oferecer aos futuros cidadãos uma educação de qualidade. Para a prática pedagógica se desenvolver de forma efetiva são necessárias instâncias institucionalizadas e formais como a escola e a família, ambas detentoras da autoridade (CARVALHO, 1998). Além dos problemas apresentados acima, um aspecto que merece reflexão é a concepção tradicional ainda presente na prática pedagógica de muitos docentes. Essa prática pedagógica na escola tradicional sistematiza os conhecimentos em disciplinas isoladas e fragmentadas. O espaço físico no interior das salas é organizado em filas, os docentes fazem uso do autoritarismo, exigem silêncio por parte do aluno sendo que os mesmos não podem expor sua opinião, quase sempre são vistos como seres passivos, sem a possibilidade de realizar questionamentos. O conteúdo é passado para os alunos como pronto e acabado resultando na reprodução e cópia (BEHRENS, 2005). Essa prática pedagógica contribui para o desenvolvimento de um processo de ensinoaprendizagem mecânico e sem sentido, pois os educandos tendem a reproduzir o que a professora ensinou, sem ser indagado sobre questões pertinentes para seu aprendizado e sem poder expor sua opinião. E nesse contexto Behrens (2005) coloca que a ênfase do processo pedagógico recai no produto, no resultado, na memorização do conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas repetitivas que, muitas vezes, não apresentam sentido ou significado para quem as realiza. Para que haja uma inovação da prática pedagógica é preciso que professores mudem a sua concepção de reprodução, fragmentação e a ideia de que o aluno é um ser passivo, eles devem proporcionar ao aluno a vivência em uma prática pedagógica que o concebe como sujeito do seu próprio conhecimento, com direito de expressar sua opinião.

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Os docentes precisam enxergar o aluno como um ser que tem potencialidades e pode desenvolvê-las se assim tiver oportunidades, ele deve ser considerado como um ser inacabado. A teoria e a prática são indissociáveis e necessitam uma da outra, e quando estas caminham juntas e acontece em uma prática pedagógica significativa para o aluno, estes aprendem com mais prazer e entusiasmo. E nessa perspectiva para instigar mais ainda o aluno é preciso que o professor inove sua prática explorando outros espaços para além da sala de aula, fazendo visitas de campo, tornando outros lugares como espaços de aprendizagem, trabalhando de forma interdisciplinar, ensinando-os a pensar criticamente, proporcionando assim uma aprendizagem significativa. Para Cunha (2001) a prática pedagógica inovadora deve ser organizada pelo professor, mas não depende só dele, pois, o aluno precisa confiar no docente para que essa inovação aconteça. É preciso que aluno e professor tenham uma relação de confiança e respeito para que o medo e a insegurança não impeçam a possibilidade de mudança no processo ensino e aprendizado. Cunha (2001) ainda afirma que as práticas desenvolvidas em sala de aula que rompem com o tradicional encorajam os discentes a buscarem por conhecimentos e aprendizados novos dentro dos conteúdos já apreendidos. Segundo a autora, na perspectiva da inovação da prática pedagógica não podemos desconsiderar a falta de tempo de muitas professoras por terem dupla jornada de trabalho. Desse modo professores e alunos se tornam reféns de uma prática pedagógica sem sentido e alienante. Para Moreira (2004) a definição de prática pedagógica não é consensual. De acordo com os comportamentalistas, prática pedagógica é uma atividade concreta em que os resultados podem ser registrados, comprovados. Nessa concepção, a prática pedagógica se organiza de forma a garantir a ação e o registro do aluno numa perspectiva passiva. Os cognitivistas a definem como a atividade que desenvolve o raciocínio e que possibilita aos envolvidos resolver problemas, valorizando assim, o pensamento e a observação. Os humanistas dão ênfase às relações humanas valorizando a interação e a dimensão afetiva no desenvolvimento de uma prática pedagógica que garanta um processo ensino-aprendizagem que considera o aluno como um sujeito ativo. Nesse sentido, a prática se concretiza na ideia de que o sujeito precisa contribuir e participar de maneira ativa e intencional do processo de construção do seu conhecimento. ____________________________________________________________________________________________________ Uberaba/MG, 01 a 03 de Outubro de 2015

Segundo Vieira e Zaidan (2010) prática pedagógica é um processo cultural que se desenvolve em três proposições, são elas conhecimento, professor e estudante. Para um melhor entendimento, explicam:

A Prática Pedagógica é entendida como uma prática social complexa acontece em diferentes espaços/tempos da escola, no cotidiano de professores e alunos nela envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação professor- aluno-conhecimento. Nela estão imbricados, simultaneamente, elementos particulares e gerais. Os aspectos particulares dizem respeito: ao docente - sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais; aos demais profissionais da escola – suas experiências e formação e, também, suas ações segundo o posto profissional que ocupam; ao discente - sua idade, corporeidade e sua condição sociocultural; ao currículo; ao projeto político-pedagógico da escola; ao espaço escolar – suas condições materiais e organização; à comunidade em que a escola se insere e às condições locais. (VIEIRA; ZAIDAN, 2010, P. 21).

Vários elementos influenciam a prática pedagógica do professor como o tempo, as vivências profissionais, excessiva carga de trabalho, falta de material disponível para que sua aula seja concretizada, políticas educacionais, número de estudantes por sala, envolvimento ou não dos estudantes, a concepção dos educadores. Tudo isso pode influenciar de maneira negativa ou positiva no trabalho docente. Entretanto, uma prática pedagógica comprometida com uma formação plena, mesmo em meio a tantos empecilhos, busca trabalhar os saberes e conhecimentos de forma significativa para o aluno. Para Souza (2004), a prática pedagógica expressa às atividades rotineiras que são desenvolvidas no cenário escolar. Podem ser atividades planejadas com o intuito de possibilitar a transformação ou podem ser atividades bancárias, tendo a dimensão do depósito de conteúdo como característica central. Depende da concepção do educador! Sabemos que as relações sociais presentes no nosso dia-a-dia se manifestam na prática pedagógica e, dependendo das concepções podem reproduzir práticas de exclusão, desigualdade social, preconceito, alienação e falta de respeito à diversidade. De acordo com Heller (1989, p.38) quanto maior for a alienação produzida pela estrutura econômica de uma dada sociedade, tanto mais a vida cotidiana irradiará sua própria alienação para as demais esferas, inclusiva nas concepções e práticas desenvolvidas na escola. ____________________________________________________________________________________________________ Uberaba/MG, 01 a 03 de Outubro de 2015

Em um movimento de reflexão-ação a prática pedagógica precisa considerar a gestão da escola em geral e a gestão política da sociedade, considerando também a pesquisa que é um elemento primordial para uma prática pedagógica reflexiva e inovadora. Neste contexto, Souza (2004) relata que a informação e o desenvolvimento de conhecimentos científicos são fatores impulsionadores da participação nas atividades escolares – no campo da prática pedagógica e da gestão da escola. O professor na sua ação docente não deve ser o centro da sala de aula e sim um ponto de referência do conhecimento em que os alunos possam contar sempre que tiver alguma dúvida, aperfeiçoando o aprendizado de cada educando, assim o docente se torna o mediador entre aluno e conhecimento. A prática pedagógica pode ser entendida como a ação do professor e do aluno na organização e desenvolvimento da aula. Neste contexto não podemos desconsiderar a teoria, pois é nela que é exercida a ação de ensinar, uma depende da outra. Desse modo, o professor assume a função de agente reflexivo, ou seja, aquele que organiza as ações em sala de aula e interfere significativamente na construção do conhecimento do aluno (SACRISTÁN, 1999, p.183) Para entender melhor os significados e dificuldades da docência é preciso exercê-la, concretizar a teoria do que é ser docente, vivenciar na prática. O professor é um profissional dotado de razão e a prática pedagógica é construída no processo de aprender fazendo e conhecer fazendo. Na atuação profissional também se aprende a ser professor quando se vencem obstáculos, indica-se que se sabe (TARDIF, 2002).

Considerações No presente trabalho refletimos sobre as concepções de alguns autores sobre prática pedagógica. Entendemos prática pedagógica como a organização do trabalho do professor, do planejamento à ação em sala de aula. Discutimos também a importância da prática inovadora no fazer docente. O professor na sua atuação em sala de aula, não deve assumir a centralidade absoluta, e sim ser um mediador entre aluno e conhecimento, considerando as diferentes realidades e valores de cada um.

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Nesta concepção é preciso que o professor deixe de ser tradicionalista no sentido de inovar sempre sua prática, entendendo a importância da ação-reflexão e melhorando o que for preciso, sempre considerando as demandas de alunos. A teoria e a prática necessitam andar juntas, pois assim resultará em uma prática significativa.

Referências BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes,2005. BOCK, Ana Mercês Bahia Bock. ; FURTADO Odair. ; Teixeira, Maria de Lourdes Trassi ; Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. v. 1. 368p . CALDEIRA, Anna Maria Salgueiro.; ZAIDAN, Samira. Prática pedagógica. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade; DUARTE, Adriana Cristina; VIEIRA, Lívia Maria Fraga. (Org.). Dicionário: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: GESTRADO/FaE/UFMG, 2010. v. 1. CUNHA, Maria Isabel da. Aprendizagens significativas na formação inicial de professores: um estudo no espaço dos Cursos de Licenciatura. v.5, n.9, p.103-116, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v5n9/07.pdf. Acesso em: 19 ago. 2015 DEWEY, Jhon. Como pensamos. 3. Ed. São Paulo: Nacional, 1959. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 1995. cap. 5: Dialética: concepção e método. MACHADO, Virginia Maria . Definições de prática pedagógica e a didática sistêmica: considerações em espiral.. Revista do IEEE América Latina , Rio Grande RS, v. 1, p. 126-134, 2005. Disponivel em: http://repositorio.furg.br/handle/1/578 1. Acesso em: 19 ago.2015. MENDES SOBRINHO, José Augusto de Carvalho.; CARVALHO, Marlene (Org.). Formação de professores e práticas docentes: olhares contemporâneos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. Porto Alegre: E.P.U., 2004. SACRISTÁN, José Gimeno. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: ARTMED Sul, 1999. ____________________________________________________________________________________________________ Uberaba/MG, 01 a 03 de Outubro de 2015

HELLER, Agnes. O cotidiano e a História. 3. Ed. RJ: Paz e Terra, 1989. SCHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antonio. (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. SOUZA, Maria Antônia. Prática Pedagógica: conceito, características e inquietações.. In: IV Encontro Ibero-Americano de Coletivos Escolares e Redes de Professores que fazem investigação na sua escola., 2005, Lajeado. IV Encontro Ibero-Americano de Coletivos Escolares e Redes de Professores que fazem investigação na sua escola.. Lajeado: UNIVATES, 2005. v. 1. p. 1-7. SUCHODOLSKI, Bogdan. Teoria marxista da educação. Volume I. Lisboa: Editorial Estampa, 1976. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. RJ: Vozes, 2002. TOZETTO, Susana Soares ; GOMES, Thais de Sá. A Prática Pedagógica na Formação Docente. Reflexão e Ação (Online) , v. v17, p. 181/2-196, 2009. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/1150/834 Acesso em: 19 ago. 2015. VIEIRA, Glaúcia. Aparecida. ; ZAIDAN, Samira. Sobre o conceito de prática pedagógica e o professor de matemática. Revista Paidéia. Universidade FUMEC. Belo Horizonte Ano 10 n. 14 p. 33-54 /2013. Disponível em: http://www.fumec.br/revistas/paideia/article/view/2375/1431. Acesso em: 19 ago.2015

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