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ANAIS DO IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA E DO I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina - Piauí, 2017: Novas Fronteiras, Novos desafos
Editoração e organização
Wedson Medeiros Silva Souto (DBIO/ UFPI) • Nélson Leal Alencar (DBIO/UFPI) • Aníbal da Silva Cantalice (Biologia/ UFPI) • Valber Couto Luz Junior (Biologia/ UFPI)
Realização do Evento
Publicado pela Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE) e pela Universidade Federal do Piauí © 2017 SBEE Todos os direitos reservados Associe-se em http://www.etnobiologia.org
DIRETORIA DA SBEE 2017-2018 Presidência: Gustavo Taboada Soldati (UFJF) Vice-presidência: Reinaldo Duque Brasil (UFJF) 1º Secretário: Emmanuel Duarte Almada (UEMG) 2º Secretário: Bernardo Tomchinsky (UNIFESSPA) 1º Tesoureiro: Eraldo Medeiros Costa Neto (UEFS) 2º Tesoureiro: Érika Fernandes Pinto (ICMBio) Conselheiros: Maria das Graças Pires Sabloyrolles (UFPA), Rumi Regina Kubo (UFRGS) e Reinaldo Farias Paiva Lucena (UFPB) Representações regionais: (SE): Lin Chau Ming (UNESP) (S): Natália Hanazaki (UFSC) (S): Kátia Mara Batista (UNESC) (CO): Carolina Joana da Silva (UNEMAT) (NE): Edna Maria Ferreira Chaves (IFPI) Sugestão de citação para um resumo : Autor(es). Título do resumo. In: Souto, W. M. S.; Alencar, N. L.; Cantalice, A. S.; Luz Junior, V. C. (Org.). Anais e Memórias doIX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e do I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí. Teresina-PI: Cadernos de Etnobiologia e Etnoecologia (CEE) da Revista Ethnoscientia - Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia , 2017, p. x x. ISBN: 978-85-53002-00-9
FICHA CAT ALOGRÁFICA Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
E56
Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia (9. :2017); Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí (1.: 2017; Teresina, PI). Novas fronteiras, novos desafios: Anais do IX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí, 01 a 04 de novembro de 2017, Teresina, Piauí / organização, Wedson Medeiros Silva Souto ... [et al.]. – Teresina: Editora da SBEE /UFPI, 2017. 359 f.; Il. Evento realizado pela Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia - SBEE. ISBN: 978-85-53002-00-9 1. Etnobiologia. 2. Etnoecologia. 3. Etnobotânica. 4. Etnozoologia. 5. Conhecimento Tradicional. I. Título CDD 574.52
Anais e Memórias do IX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e do I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí
Editoração e Organização
Wedson Medeiros Silva Souto Departamento de Biologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI
Nélson Leal Alencar
Departamento de Biologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI
Aníbal da Silva Cantalice Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI
Valber Couto Luz Junior
Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI
sbee SOCIEDADE BRASILEIRA DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA
COMISSÃO ORGANIZADORA DO IX ENEE/ I E3PI Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto (UFPI) PRESIDÊNCIA DIVULGAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO
Prof. Dr. Alyson Luis Santos Almeida (UFPI) VICE-PRESIDÊNCIA REGIONAL
Prof. Dr. Nélson Leal Alencar (UFPI)
VICE-PRESIDÊNCIA EM TERESINA, TESOURARIA DIVULGAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO
Prof. Dr.a. Érika de Araújo Abi-chacra (UFPI) SECRETARIA
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MSc. Mirna Andrade Bezerra INSCRIÇÕES
Anibal da Silva Cantalice (Biologia - UFPI/CMPP) GESTÃO DE MÍDIAS E WEBSITE; HOSPEDAGEM
Francisco Igor Ribeiro dos Santos (Biologia - UFPI/CMPP)
HOSPEDAGEM, LOGÍSTICA E SUPORTE MATERIAL; GESTÃO DE MÍDIAS
Vitória de Freitas Paulo (Biologia - UFPI/CMPP) HOSPEDAGEM, LOGÍSTICA E SUPORTE MATERIAL
Prof. Dra. Maria Jaislanny Lacerda e Medeiros Nogueira (UFPI) DIVULGAÇÃO
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COORDENAÇÃO DE MONITORIA
Prof. Dra. Edna Maria Ferreira Chaves REPRESENTANTE DA SBEE NO NORDESTE
COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto (UFPI) Coordenação, Revisão de Trabalhos
Prof.a. Dra. Maria Jaislanny Lacerda e Medeiros Nogueira (UFPI) Coordenação, Revisão de Trabalhos
REVISÃO DE TRABALHOS
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MONITORES Adrianne da Vera Cruz Leite (Biologia - UFPI) Andressa Kelly Moreira Amorim (Biologia - UFPI) Andressa Vieira da Rocha (Biologia - UFPI) Bruna Dias Pontes (biológa, ZUCON-UFPI) Cláudia Maria Silva Sobrinho (Biologia - UFPI) Cleiton Silva Pereira (Biologia - UFPI) Daniel Pereira Monteiro (Biologia - UFPI) Francisca dos Santos Borges (Biologia - UFPI) Francisco Johnatan Rodrigues Carvalho (Biologia - UFPI) George Henrique Reis e Sousa (Biologia - UFPI) Iasmin Raiza Nascimento Gomes (Biologia - UFPI) Joanice Costa Amorim (MDMA-UFPI) Lilian Vanessa Teles Vieira (Biologia - UFPI) Luana Emídio Soares (Biologia - UFPI) Marcus Eugênio Oliveira Briozo (Biologia - UFPI) Marina Barros Abreu (Biologia - UFPI) Michelly de Deus Felipe Araújo (Biologia - UFPI) Mônica Maria Nazaré Rodrigues de Sousa (Biologia - UFPI) Rafaela Cristina Coelho Canedo (Biologia - UFPI) Tárcio Williams Carvalho Fernandes (Biologia - UFPI) Valber Couto Luz Junior (Biologia - UFPI) Vanessa Cristina da Silva (Biologia - UFPI)
Realização
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Apoio/ Patrocínio
Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON - UFPI) LEEV - UFPI
Sumário Página Bem-vind@s......................................................................................................................................................
24
Sedes do IX ENEE e I E3PI...................................................................................................................................
27
Mapa do evento..................................................................................................................................................
28
Programação…………………………………………………………………………………………………………………………………………..
29
Prêmios Professor Dr. Alberto Kioharu Nishida [IX ENEE] & Professora Dra. Roseli Farias Melo de Barros [I E3PI]......................................................................................................
30
Trabalhos premiados………………………………………………………………………………………………………………………..
31
Resumos expandidos.........................................................................................................................................
32
Educação Ambiental Ana Carolina Sabino de Oliveira et al. PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES RIBEIRINHOS DO BAIRRO JARDIM OÁSIS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE EM RELAÇÃO À ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA BASTIANA…..…………………………………………………………..................................
33
Anderson Felipe Teixeira da Silva et al. IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DAS AVES E OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CAÇA, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO BURITI DO MEIO, CAXIAS-MA, BRASIL…...……………………………………………........…………..
39
Etnobotânica Jorge Izaquiel Alves de Siqueira et al. ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS LIGADOS A PLANTAS ORNAMENTAIS EM QUINTAIS RURAIS NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE (NORDESTE DO BRASIL)…….……………...........…………
45
Josiene Maria Falcão Fraga dos Santos et al. RELAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES HUMANAS, CONHECIMENTO E USO DE HERBÁCEAS: UMA REVISÃO A LUZ DA ETNOECOLOGIA….…………………………..........……
52
Leilane de Carvalho e Sousa et al. USO E MANEJO LOCAL DE (Copernicia prunifera) [MILLER] H. E. MOORE NA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ, LESTE MARANHENSE…………………………………………….........……
61
Maria Lindalva Alves da Silva et al. USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS, MARANHÃO, BRASIL…….……………..........………….
65
Sara Tavares de Sousa Machado et al. AS PLANTAS E O TRATAMENTO PARA DIABETES E HIPERTENSÃO EM COMUNIDADES NÃO TRADICIONAIS……………………………………………………........………
71
Sara Tavares de Sousa Machado et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE O MANEJO DA DOR EM UMA COMUNIDADE TRADICIONAL NO MUNICÍPIO DE BARBALHA, CEARÁ……….……..........……
75
Waldileia Ferreira de Melo Batista et al. LEVANTAMENTO DE PLANTAS ORNAMENTAIS NATIVAS NOS JARDINS DE UMA COMUNIDADE RURAL NA REGIÃO NORTE DO PIAUÍ…….……………………….........……………
79
Etnoconservação Leonardo Mesquita Pinto et al. RECURSOS PESQUEIROS EXPLORADOS EM ÁREAS DE USO COMUM EM ESTUÁRIO NO NORDESTE DO BRASIL……………………………………..............…………….
84
Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho et al. OS PESCADORES ARTESANAIS CONHECEM A “NOVA” LISTA DAS ESPÉCIES DE PEIXES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO (PORTARIA 445) NO BRASIL?…………………..............….
88
Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho et al. “...PORQUE SE NÃO FOSSE A RESEX HOJE EM DIA AQUI...”: PERCEPÇÕES DE PESCADORES ARTESANAIS DA PRAIA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DA EFETIVIDADE SOCIOAMBIENTAL DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO CORUMBAU……………………………………………………………………………………….................
92
Thaís Chaves da Silva et al. IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO PESQUEIROS PRATICADOS EM COMUNIDADES DO LITORAL LESTE DO CEARÁ……………………………………...............……
96
Etnoecologia Antonio Alves da Cunha Filho et al. PERCEPÇÃO DE MORADORES DE FLORIANO-PI QUANTO AO USO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS E DE BAIXO IMPACTO AMBENTAL SOBRE OS RECURSOS NATURAIS…………………………………………………….......................……………….............……..
100
Aparecida Barbosa de Paiva et al. PERSPECTIVA ETNOECOLÓGICA ACADÊMICA COM MORADORES DO DISTRITO DE POTI (CRATEÚS-CE) SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS MADEIREIROS…........…….
105
Brendo Barbosa Moura et al. A VISÃO DA POPULAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO PERMANENTE DAS MATAS CILIARES URBANAS EM FLORIANO – PI………..............………….
111
Elisa Pereira dos Santos & Rogério Nora Lima OS CONHECIMENTOS DE UMA COMUNIDADE RURAL DE FLORIANO – PI QUANTO À ECOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES………………………………………..............…………
115
Julia Santos Jardim et al. ATIVIDADES DO PROJETO DE EXTENSÃO TECER JUNTO À COMUNIDADE DOS ÍNDIOS PITAGUARY DE MONGUBA, PACATUBA-CE……………………………..............…………..
120
Karoline Veloso Ribeiro et al. UM OLHAR QUE NADA FALA, MAS TEM MUITO A DIZER: UMA ABORDAGEM ETNOGEOMORFOLÓGICA POR MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO………………………………………………………………….................……
126
Marciléia Wanzeler de Souza Vasconcelos & Francivaldo Alves Nunes O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ILHA DA CONCEIÇÃO A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO EM PERSPECTIVA ETNOECOLÓGICA…………................…….
132
Etnofarmacologia e Etnomedicina Ana Lúcia de Oliveira Borges et al. ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO RELACIONADO AO USO DE PLANTAS NA TERAPIA DE ENFERMIDADES EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO………………………………………………………………………...............………….
137
Denisy Trigueiro do Santos et al. ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL ABORTIVO….............…………
144
Fabrício Nicácio Ferreira & Laura Jane Gomes PERCEPÇÃO DOS FÁRMACOS-NATURAL SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SUAS INTERFACES COM A SAÚDE PÚBLICA……………………..............…………………………………..
149
João Bosco da Silva Júnior et al. POTENCIAL ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS METANÓLICOS DE Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae)........................……………………………………………………………................…..…..
155
João Bosco da Silva Júnior et al. POTENCIAL CITOTÓXICO DE PARTES AÉREAS Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae) In vivo EM NAUPLIOS DE Artemia salina…….……………………………………………..………………..
160
Etnomicologia Santina Barbosa de Sousa et al. PERCEPÇÃO ETNOMICOLÓGICA POR COMUNIDADE RURAL NO PIAUÍ, BRASIL……..............
165
Etnozoologia Francisco Afonso de Azevedo Neiva et al. A CAÇA E USOS DE VERTEBRADOS SILVESTRES EM UMA ÁREA ECOTONAL NO MEIO-NORTE BRASILEIRO……………..............…………………………………………………………
170
Francisco das Chagas Vieira Santos et al. ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL…………………………………………………………………………………………...............……
181
José Carlito do Nascimento Ferreira Junior et al. ETNOICTIOLOGIA DO RIO PERICUMÃ, SÍTIO RAMSAR - APA DA BAIXADA MARANHENSE: ASPECTOS RELACIONADOS À ETOLOGIA DAS ESPÉCIES………...............….
195
Márcio Luciano Pereira Batista et al. PERCEPÇÃO ETNOZOOLÓGICA DO TERMO “INSETO” PELOS MORADORES DA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ, NORDESTE, BRASIL………..............…
200
Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho et al. CONHECIMENTOS ETNOZOOLÓGICOS E ETNOECOLÓGICOS DOS PESCADORES DA VILA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DO ARIOCÓ (Lutjanus synagrys PERCIFORMES, LUTJANIDAE)………………………………………………………..............………….
204
Maria Lindalva Alves da Silva et al. A CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS/MA COMO ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO FAUNÍSTICA NUMA REGIÃO ECOTONAL DO BRASIL………………………………………………………………………………………..............…….…
209
Maria Nazaré de Sousa Pereira et al. EXPLORAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES PARA FINS ALIMENTÍCIOS E ZOOTERÁPICOS NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ – PI……………………………...………..............….
214
Muryllo dos Santos Nascimentos et al. AVES E LINHAS DE TRANSMISSÃO: A PERCEPÇÃO DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO……………………………………………………………..............………
224
Rebeca Mascarenhas Fonseca Barreto et al. PERCEPÇÕES POSITIVAS PARA CONSERVAÇÃO NÃO IMPEDEM A CAÇA POR COMUNIDADE EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA PERNAMBUCANA.............…
235
Suely Silva Santos et al. ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL……………………………………………………………………………………………...............…
241
Resumos simples
Educação Ambiental Aline Wanessa Pinheiro da Silva et al. NO RASTRO DA JIBOIA: A CAMINHO DA CONSERVAÇÃO DA FAUNA OFÍDICA POR MEIO DE UM JOGO DIDÁTICO………………………………..............…………………………………..
254
Ana Letícia Lima da Silva et al. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES EM ESCOLAS DO INTERIOR NORDESTINO…………..……………...............……….
255
Bruna Dias Pontes & Victor Leandro-Silva CONHECIMENTO DA AVIFAUNA URBANA POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA……………………………………………………………………...………...............…
256
Carlos Augusto Tenório Cândido et al. CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017: UM MEIO DE SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL………………………………………………………………………………………..............…
257
Eulina da Silva Lima et al. IMPLEMENTAÇÃO DE MINI-PROJETOS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE, DESTACANDO PROBLEMÁTICAS AMBIENTAIS…………………………………………..............…..
258
Eulina da Silva Lima et al. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NARRATIVA DE EXPERIÊNCIA NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO…………………………………………………………………..............……………..
259
Gisele do Lago Santana & Davi Lima Pantoja INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE OS ANUROS EM UMA COMUNIDADE NO SUL DO PIAUÍ, BRASIL……………………………………………………………………………………..............…
260
José Alex da Silva Cunha & Roseli Farias Melo de Barros USO DE MAPAS MENTAIS DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE AS ARANHAS NO DELTA DO PARNAÍBA, MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, PIAUÍ, BRASIL…………..
261
Lara Matias Freitas et al. A FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA DE PROMOÇÃO DA ECOPERCEPÇÃO……………………………………………………………...............……………………
262
Marcela Eringe Mafort & Marcelo Nocelle de Almeida EDUCAÇÃO ESCOLAR E A ETNOICTIOLOGIA: SABERES TRADICIONAIS COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL………………...........................……………………….
263
Maria Auricélia Cardoso de Moura & Laísa Maria de Resende Castro PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NA UNIDADE ESCOLAR TEREZINHA NUNES, PICOS-PI………..............……………………
264
Marlos Dellan de Souza Almeida et al. PERCEPÇÃO AMBIENTAL: O QUE PENSAM OS MORADORES LOCAIS SOBRE O RIO JAGUARIBE NO MUNICÍPIO DE IGUATU, CEARÁ……………………………………..............………
265
Etnobiologia Histórica Dennis Bezerra Correia et al. REVISÃO DE ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS NUMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO……………………………………………………………..……..............…….
266
Leidimar Lustosa Alves Feitosa & Zafira da Silva de Almeida ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS COM PESCADORES ARTESANAIS REALIZADOS NO PIAUÍ……………………………………………………………………………………..............……………
267
Etnobotânica Ana Letícia Lima da Silva & Yedda Maria Lobo Soares de Matos ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NAS FEIRAS LIVRES DA CIDADE DE CRATO-CE………………………………………………………………………………………...............….
268
Ariane Rayara de Sousa Mineiro et al. USO POPULAR DE ESPÉCIES MEDICINAIS DA FAMILIA CONVOLVULACEAE NO NORDESTE DO BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………............
269
Arianny Bélis da Silva et al. CHÁS DO CERRADO: ESPÉCIES MEDICINAIS UTILIZADAS PARA CHÁ EM DE UMA COMUNIDADE NA REGIÃO SETENTRIONAL DO ESTADO DO PIAUÍ………………..............…..
270
Aytana Vasconcelos dos Santos et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS DA CAATINGA UTILIZADAS NO TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE ACIDENTES COM ESCORPIÕES NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DA TAPERA– AL……………………………………………………………...............…
271
Beatriz da Silva Rodrigues et al. UM CERRADO RUPESTRE QUE EDIFICA: ESPÉCIES MADEIREIRAS UTILIZADAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICIPIO DE CASTELO DO PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL............
272
Camilla Belmiro Soares & Odara Horta Boscolo ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS DOS QUINTAIS DA COMUNIDADE DO ENGENHO DO MATO, NITERÓI, RJ…………………………………..............……………………………………………..
273
Daniela Aguiar Santos et al. USO POPULAR DE ESPÉCIES MEDICINAIS DA FAMÍLIA BIGNONIACEAE NO PIAUÍ, BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA………………………………………………….............……
274
Danielly Lima da Silva et al. QUINTAIS URBANOS: PLANTAS ALIMENTÍCIAS MEDICINAIS CULTIVADAS EM RESIDÊNCIAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO………….............…
275
Eduardo Otavio Silva et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE ACIDENTES OFÍDICOS NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DAS FLORES– AL…………………………………………………….……………………………………………..............….
276
Ethyênne Moraes Bastos et al. OS RECURSOS NATURAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS DE UM ASSENTAMENTO RURAL NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE……………………………..............………..
277
Ethyênne Moraes Bastos et al. INVENTÁRIO ETNOBOTÂNICO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO: RESGATANDO CONHECIMENTOS ACERCA DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO MUNICIPIO DE SÃO MIGUEL DO TAPUIO/PI……………………………………………………..............………………..
278
Etielle Barroso de Andrade et al. FORMAS DE UTILIZAÇÃO E IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PICOS-PI..............…………………………
279
Etielle Barroso de Andrade et al. LEVANTAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PICOS, SUDESTE DO PIAUÍ………………..............………………………………….
280
Francielson da Silva Barbosa et al. LEVANTAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE JAICÓS, SUDESTE DO PIAUÍ………………………………..............………………
281
Francielson da Silva Barbosa et al. PLANTAS MEDICINAIS DA CIDADE DE JAICÓS-PI: MODOS DE USO E IMPORTÂNCIA RELATIVA……………………………………………………………………………………..............………
282
Francielson da Silva Barbosa et al. USO MEDICINAL DE ESPÉCIES VEGETAIS COMERCIALIZADAS EM FEIRAS LIVRES DO MUNICÍPIO DE JAICÓS, SUDESTE DO PIAUÍ……………………..............……………………….
283
Gisele do Lago Santana et al. ESTUDO ETNOBOTÂNICO SOBRE Poincianella bracteosa (Tul.) L. P. Queiroz EM UMA COMUNIDADE RURAL NO SUL DO PIAUÍ, BRASIL…………………………...............……………….
284
Idaiany da Silva Costa et al. FOLHA, CASCA OU RAIZ? CONHECIMENTO POPULAR DE DUAS COMUNIDADES DO MARANHÃO E PIAUÍ……………………………………………..............…………………………….
285
Idaiany da Silva Costa et al. FAMÍLIAS BOTÂNICAS IMPORTANTES: USO MEDICINAL ENCONTRADO NA COMUNIDADE CAPIVARA, ARRAIAL, PIAUÍ………………………………………...............………….
286
Jéssica Pereira da Cruz et al. CONHECIMENTO ETNOFARMACOLÓGICO SOBRE UMA IMPORTANTE ESPÉCIE VEGETAL ARBÓREA DO SUL DO PIAUÍ, A CATINGA DE PORCO (TERMINALIA BRASILIENSIS (CAMBESS EX. A. ST.-HIL.) EICHLER), COM O AUXÍLIO DE ESTÍMULOS VISUAIS………………………………………………………………...............……………..
287
Joanice Costa Amorim et al. PLANTAS CULTIVADAS PELOS PESCADORES ARTESANAIS DE CASTELO DO PIAUÍ, BRASIL…………………………………………………………………………………..............……
288
Jonathan Ferreira Lisboa et al. VARIÁVEIS SOCIECONÔMICAS COMO FATORES DE INFLUÊNCIA NO CONHECIEMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS PELOS MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO MUNICIPIO DE PÃO DE AÇÚCAR-ALAGOAS…................……………
289
Jorge Izaquiel Alves de Siqueira et al. IMPORTÂNCIA DO CONVIVER COM A COMUNIDADE EM PESQUISAS ETNOBOTÂNICAS: REFLEXÕES SOB OLHAR ETNOBIOLÓGICO…………...........….……………
290
Jorge Izaquiel Alves de Siqueira et al. ‘SE NÃO FOSSEM ESSAS PLANTINHAS NÃO HAVÍAMOS CHEGADO ONDE CHEGAMOS’: REFLEXÕES SOBRE O RESGATE DA MEMÓRIA BIOCULTURAL EM ESCALA LOCAL………………………………………………………………………………...............……
291
Juliane de Sousa Silva & Washington Soares Ferreira Júnior INVESTIGANDO A INTERAÇÃO ENTRE SISTEMAS MÉDICOS EM UM GRUPO HUMANO NO NORDESTE DO BRASIL……………………………………………..............……………
292
Lara Costa et al. COMPOSIÇÃO DE QUINTAIS DE SETE MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE – PE………………………………………………………………………..............………...…
293
Márcio Luciano Pereira Batista et al. CHECKLIST DAS ESPÉCIES DE PLANTAS MELITÓFILAS CONHECIDAS PELOS MORADORES DA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ/PI……...........……..
294
Maria do Espirito Santo Ribeiro Reis et al. PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELO POVO TEMBÉ DA ALDEIA SÃO PEDRO: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS………………………………………….........…….
295
Maria Luíza Lino da Silva et al. CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS NO SUL DO MARANHÃO: UM ESTUDO DE CASO…………………………………………………………………..............…………
296
Micheli Véras dos Santos et al. PROSPECÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O CONHECIMENTO TRADICIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS PARA TRATAMENTO DE PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS NO PIAUÍ, BRASIL…………………………………………………………………………………………...............……
297
Naldo Carneiro Tembé et al. ETNOBOTÂNICA INDÍGENA: PLANTAS ÚTEIS NA VIDA DO POVO TEMBÉ DA REGIÃO DO GURUPI……………………………………………………………………………..............……………
398
Raquel Maria da Conceição Santos et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE A ANADENANTHERA COLUBRINA (VELL.) BRENAN NA COMUNIDADE GRUTA BELA…………………………………………................
299
Ricardo Alexandre de Araujo Monteiro Lobo et al. ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE DUAS FAMÍLIAS CIGANAS QUE VIVEM NO ESTADO DE PERNAMBUCO……………………………………………………...............…………………………..
300
Rita de Cássia Silva et al. CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS E TRATAMENTOS DE SINTOMAS E DOENÇAS DE INTERESSE VETERINÁRIO NO ASSENTAMENTO DOM HÉLDER CÂMARA – GIRAU DO PONCIANO – AL…...............…………………………………………………………………..
301
Sâmia Caroline Melo Araújo et al. IMPORTÂNCIA RELATIVA E AS ESTRUTURAS DE PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE PAULISTANA-PI……………...…………………..............…….
302
Sâmia Caroline Melo Araújo et al. PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PAULISTANA, SUDESTE DO PIAUÍ……………………………………………………..............………..
303
Sâmia Caroline Melo Araújo et al. USO MEDICINAL DE PLANTAS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PAULISTANA, SUDESTE DO PIAUÍ………………………………………………..............……………..
304
Sara Tavares de Sousa Machado et al. ESTUDO ETNODIRIGIDO SOBRE O USO DE PLANTAS PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA…………………………………………….............……………
305
Silvio Felipe Barbosa Lima et al. SHRUB AND TREE SPECIES INTRODUCED IN THE URBAN AREA OF THE CITY OF AURORA (CEARÁ) AND ETHNOBOTANICAL ASPECTS…………………………..............………….
306
Taciella Fernandes Silva et al. DIVERSIDADE E ETNOBOTÂNICA DE ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS OCORRENTES EM QUINTAIS AGROFLORESTAIS DA COMUNIDADE ROZALINA, VARGEM GRANDE- MA………………………...............…………………………………………………..
307
Thâmara Kaliny Bezerra da Silva et al. DESMANCHA DA MANDIOCA (Manihot
esculenta CRANTZ): UMA ATIVIDADE
FAMILIAR E TRADICIONAL…………………………………………………………...............……………
308
Vanessa Meyla da Silva & Washington Soares Ferreira Júnior COMO TEMOS TRABALHADO O CONCEITO DE PREFERÊNCIA? UM ESTUDO SOBRE OS MÉTODOS DE ACESSO DA PREFERÊNCIA EM ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS……………………………………………………………..............…………………..
309
Vitoria Caroline Rodrigues da Costa & Alyson Luiz Santos de Almeida EXTRATIVISMO DE CARNAÚBA (COPERNICIA PRUNIFERA (MILL.) H.E.. MOORE- ARECACEAE) AO LONGO DO TRECHO FLORIANO – OEIRAS DA BR 230…................
310
Yago Luís Pessoa Barbosa et al. SOCIALIZAÇÃO DE SABERES POPULARES SOBRE O USO DE PLANTAS SILVESTRES EMPREGADAS NA ALIMENTAÇÃO………………………………………..............….
311
Etnoconservação Clarissa Lobato da Costa et al. CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL DOS PESCADORES ARTESANAIS E O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA DE TAUÁ-MIRIM, SÃO LUÍS, MARANHÃO…………………………………………………………………………………...............……..
312
Elinelma Ribeiro Monteiro et al. AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOCIOAMBIENTAL DOS PESCADORES ARTESANAIS DO RIO PERICUMÃ, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE……………………………………………………………………………................………
313
Hanna G. P. Gonçalves et al. ETNOBIOLOGIA DO BOTO-CINZA (Sotalia guianensis, Van Benédén, 1864) E SUA INTERAÇÃO COM A PESCA NO MUNICÍPIO DE RAPOSA – MA……………….............……………
314
Irlaine Rodrigues Vieira et al. VALORES FLORESTAIS PERCEBIDOS POR EXTRATIVISTAS SOBRE BURITIZAIS DA REGIÃO DOS LENÇÓIS MARANHENSES, BRASIL………………………………...............………….
315
Marcelo D. Vidal et al. IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS PARA OBSERVAÇÃO DE CETÁCEOS NO PARQUE NACIONAL DE ANAVILHANAS BASEADAS NO CONHECIMENTO DE GUIAS E CONDUTORES DE TURISMO………………..……………………………………………...............…….
316
Maria Daniela Santos Gonçalves et al. IMPLANTATION OF A CREOLE SEED GERMPLASM BANK IN THE MICROREGION OF PICOS CITY IN BRAZILIAN STATE OF PIAUÍ…………………………………….............……………..
317
Marina Silva dos Santos et al. TUBARÕES PODEM SER VISTOS COMO ANIMAIS CARISMÁTICOS?…........…..…………………
318
Maria Elisabeth de Araújo & Paulo Wanderley de Melo PROJETO ETNOBIOLÓGICO BASEADO EM DEMANDA DA COMUNIDADE PESQUEIRA DE RIO FORMOSO (PE): VIVÊNCIA E SABER........................................................................................
319
Etnoecologia Anna Rafaella Simplício de Oliveira et al. CONHECIMENTO DE ALUNOS DA ZONA URBANA E RURAL SOBRE O BIOMA CAATINGA DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE SANTANA DO IPANEMA, ALAGOAS……………………………………………………………………………..............…
320
Cledinaldo Borges Leal & Eliesé Idalino Rodrigues ETNOECOLOGIA NA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ECOLOGIA DA UFPI…….............….
321
Cledinaldo Borges Leal & Eliesé Idalino Rodrigues ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA NO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DO CEAD / UFPI……………………………………………………………………………………...............…..
322
Elisa Pereira dos Santos et al. PERCEPÇÃO DE MORADORES LOCAIS SOBRE A MASTOFAUNA DA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ – MA…………………………………………………………………..............……..
323
Maria Rayete Monteiro Lopes et al. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA ATIVIDADE DE PESCA DO RIO PERICUMÃ, SÍTIO RAMSAR – ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE………………………………………………………………………...............…………….
324
Taiane Novaes do Carmo et al. COMIDA DO RIO: A PESCA E AS PRÁTICAS ALIMENTARES NA RESERVA EXTRATIVISTA IPAÚ-ANILZINHO-BAIÃO/PARÁ……………………………………….............……….
325
Etnofarmacologia e Etnomedicina Hytala Ravena Rodrigues de Sousa et al. EFEITOS DO EXTRATO METANÓLICO DE Cnidoscolus urens NO CRESCIMENTO E NA ADESÃO DE Candida parapsilosis………………………………………………..............................……
326
Júlia Maria Rodrigues Ribeiro et al. AVALIAÇÃO DO EFEITO DO EXTRATO METANÓLICO DE Cnidoscolus urens no CRESCIMENTO E NA ADESÃO DE Candida albicans…………......…...................………………….
327
Orianna dos Santos et al. AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EXTRATO ETANOLICO DE Turnera ulmifolia L. ATRAVÉS DO BIOENSAIO DE LETALIDADE FRENTE À Artemia salina Leach……..................…..
328
Roseane Bittencourt Tavares et al. ETNOCONHECIMENTO SOBRE O PARIRI (Arrabidaea chica): USOS TERAPÊUTICOS E EFEITOS INDESEJÁVEIS………………………………………..............………………………………
329
Siomara Elis da Silva Lima et al. AVALIAÇÃO HEMOLÍTICA DOS EXTRATOS DE FOLHAS DE CAESALPINIA PYRAMIDALIS TUL……………………………………………...............…………………………………..
330
Siomara Elis da Silva Lima et al. TRIAGEM FITOQUÍMICA DO EXTRATO METANÓLICO DAS FOLHAS DE CAESALPINIA PYRAMIDALIS TUL……..…………………………………………………………………..............….……
331
Joanna Rayelle Pereira de Lima et al. O IMPACTO DA VIDA ACADÊMICA NO JOVEM UNIVERSITÁRIO E O USO DA ETNOMEDICINA NA POSSÍVEL CURA DA DEPRESSÃO E ANSIEDADE…….......................................…..………….
332
Alycia Kayla da Silva Pinheiro et al. USO DE PRODUTOS EXÓTICOS NO ASSENTAMENTO DOM HÉLDER CÂMARA EM ALAGOAS………………………..............……………………………………………………………………
333
Etnozoologia Ana Letícia Lima da Silva et al. COMÉRCIO ILEGAL DE AVES SILVESTRES NA REGIÃO DO CARIRI……….............…………..
334
Antônia Silvana de Moura Romão et al. ETNOCONHECIMENTO DO POVO INDÍGENA TEMBÉ: OS VERTEBRADOS DA TERRA INDÍGENA ALTO RIO GUAMÁ………………………………………..............……………………………
335
Breno Fernando Cunha de Freitas Sousa et al. ASPECTOS GERAIS DA CAÇA NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ, ESTADO DO PIAUÍ…............…….
336
Francisca Adriana Ferreira de Andrade et al. PERCEPÇÃO DA FAUNA NATIVA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DE SÃO PEDRO DO PIAUÍ…..............…………………………………………………………………………
337
Geovania Figueiredo da Silva et al. HERPETOFAUNA: CONHECER PARA CONSERVAR – UMA CAMPANHA PARA CONSTRUÇÃO CIVIL…………………………………………………………………………….................
338
Heitor Tavares de Sousa Machado et al. O USO MEDICINAL E MISTICO-RELIGIOSO DE RÉPTEIS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA REVISÃO…….……………………..............…………………………………………………………..
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José Alex da Silva Cunha & Roseli Farias Melo de Barros ETNOBIOLOGIA DE ARACNIDEOS (ARACHNIDA; ARANEAE) NO MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, DELTA DO RIO PARNAÍBA, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL…….............……….
340
José Alex da Silva Cunha & Roseli Farias Melo de Barros CARACTERIZAÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBIOLÓGICO DE ARANHAS NO MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL…………………………………………………….
341
Juan Carlos Ferreira Paulino et al. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE……..............……..
342
Márcio Luciano Pereira Batista et al. ABELHAS SEM FERRÃO: COLETA E USO DO MEL NA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ/PI……………………………………………………………..............………….
343
Maria Nazaré de Sousa Pereira et al. ASPECTOS DO COMÉRCIO DE ANIMAIS SILVESTRES NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ, ESTADO DO PIAUÍ………………………………………………………………………..............…………
344
Thatiany de Sousa Pereira et al. ASPECTOS ACERCA DAS PUBLICAÇÕES ETNOZOOLÓGICAS NO NORDESTE DO BRASIL………………………………………………………………………………………………...............
345
Whandenson Machado do Nascimento et al. A IMPORTÂNCIA DE ESPÉCIES DO GÊNERO Macrobrachium BATE, 1868 PARA AS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E INDÍGENAS DO BRASIL……………...………………...............…
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Memórias visuais (IX ENEE: Um evento vivo, um evento de integração)……...........................................
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O Artista do IX ENEE e I E3PI…………………………………………………………………………………………………………………
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A carta de Teresina………………………………………………………………………………………………………………………………….
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Encaminhamentos e a sede do X ENEE………………………………………………………………………………………………..
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Bem-vind@s. Prezad@s Participantes, Obrigado pela vinda ao Piauí!, Obrigado por sua participação no IX ENEE & I E3PI!
O
Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia é um importante evento da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE). A saber, é o principal e mais consolidado evento regional da SBEE. O evento chegou pela primeira vez ao Piauí. O Estado é ímpar na Região Nordeste pela ocorrência de um diversificado número de domínios fitogeográficos e de intersecções desses (ecótonos). Aqui ocorrem caatingas, cerrados, matas úmidas, regiões estuarinas e diversos encontros deles. Nessas áreas, não apenas uma rica diversidade está presente, mas uma igualmente rica diversidade e complexidade de culturas que incluem pescadores, grupos quilombolas, agricultores, catadores/as de babaçu, vaqueiros/vaqueiras e mesmo os residentes urbanos que, em última instância, são a cadeia final da extração e comércio de muitos produtos naturais regionais. A vinda do ENEE ao Piauí representou um desafio assumido por um grupo de docentes. Inicialmente o ENEE no Piauí surgiu de um processo de construção do I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí (I E3PI) que seria realizado em Floriano-PI (Campus Amílcar Ferreira Sobral, CAFS) na primeira quinzena de novembro de 2016. Após discussões no âmbito do Departamento de Biologia da UFPI no Campus Ministro Petrônio Portella, em acordo com etnobiológos do CAFS, ficou decidido que o evento seria transferido para Teresina e teria início a construção do Encontro Regional. A decisão foi comunicada ao então presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, professor Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto, e a representante da SBEE no Nordeste brasileiro, professora Dra. Edna Maria Ferreira Chaves. A comissão organizadora foi estabelecida em dezembro de 2016, sob minha presidência, professor Wedson de Medeiros Silva Souto. O lançamento oficial do site do IX ENEE (ixenee.org) fora realizado já em janeiro de 2017. Em uma estrada com menos de um ano de trabalho, com a organização do evento enfrentando diretamente ou indiretamente os efeitos dos cortes recentes nos orçamentos do Ensino e Pesquisa no Brasil, a conclusão do produto ENEE passou de algo trabalhoso, porém relativamente tranquilo, para uma atividade desafiadora. Mesmo uma equipe com experiências acumuladas em realização de eventos se deparou com a incerteza persistente de recursos e dificuldades na captação de apoios.
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Enfim, a chegada do ENEE ao Piauí deve ser traduzido como uma conquista daqueles que persistentemente acreditaram na realização desta edição do ENEE. Gostaria de, em nome da comissão organizadora do evento, agradecer a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) pelo apoio concedido, assim como à administração da Universidade Federal do Piauí, na pessoa do Magnífico Reitor Professor Dr. José Arimatéia Dantas Lopes, pelo apoio ao evento, dentro das possibilidades vigentes da UFPI. Também foi essencial o apoio da administração do Centro de Ciências da Natureza (CCN) da UFPI, na pessoa do diretor Dr. Edmílson Miranda de Moura. Gostaria de agradecer ao Departamento de Biologia (DBIO) da UFPI, campus Ministro Petrônio Portella, representado na pessoa do professor Dr. Nélson Leal Alencar, também membro da comissão organizadora do IX ENEE, pelo apoio disponível e pela seção dos espaços físicos do Departamento para atividades do evento. Igualmente importante a compreensão dos docentes deste departamento de que o IX ENEE é uma etapa adicional no fortalecimento de pesquisas no DBIO. O ENEE atinge Novas fronteiras e Novos desafios. O evento teve por objetivos alcançar novas fronteiras geográficas e permitir a divulgação da Etnobiologia e Etnoecologia para um público cada vez mais seleto e organizado. Devemos lembrar que o Nordeste brasileiro já se consolidou como um polo internacional em Etnobiologia e Etnoecologia, com grupos de pesquisa dessa região demonstrando excelência em produção científica de muitas obras básicas da área partindo dessa porção do Brasil. Dentre muitos trabalhos cuja a organização partiram do Nordeste brasileiro, destacamos os livros “Introduction to Ethnobiology”, “Methods and Techniques in Ethnobiology and Ethnoecology”, “Evolutionary Ethnobiology” e “Ethnozoology: Animais in Our Lives”, todas publicadas por importantes editoras internacionais. Esta calorosa primavera piauiense, também conhecida como BR-Ó-BRÓ, constituiu dias quentes em esforços e integração da comunidade de etnobiólogos do Nordeste e de outras partes do Brasil. O IX ENEE foi concluído com expectativas de aprendizados e integração para realização dos próximos eventos da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, especialmente o XVII Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia - a ser realizado em 2018 na cidade de Belém-Pará, concomitante ao XVI International Congress of Ethnobiology (Belém +30) – e o X ENEE, cuja previsão de organização é para 2019. Além disso, o ENEE deixa aos etnobiólogos do Piauí a mensagem da capacidade de organização e articulação dos pesquisadores e estudantes desse estado na organização de eventos científicos de grande porte. Um marco desta edição foi a elaboração de um documento por pesquisadores da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia: A carta de Teresina. O documento conclama às Instituições de Ensino Superior para inserirem nos Planos PedagógicoCurriculares (PPCs) de seus cursos de graduação, em especial as licenciaturas e bacharelados em Ciências Biológicas, o componente curricular Etnobiologia. A carta de Teresina será disponibilizada no endereço eletrônico da SBEE (etnobiologia.org) e a SBEE estimula a todos os docentes que realizam pesquisas etnobiológicas a procurarem os setores competentes de sua instituição para discutirem a viabilidade de implementação do componente curricular mencionado.
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A comissão organizadora do ENEE espera verdadeiramente que o IX ENEE tenha contribuído em diferentes aspectos com a formação de novos etnobiólogos da região Meio-Norte do Nordeste, sobretudo no aprendizado proporcionado pelo conhecimento de pesquisas etnobiológicas vigentes na região Nordeste e no estabelecimento de redes de contatos e colaborações com diferentes grupos de pesquisa, sobretudo da região Nordeste. Sem mais, desejo votos de agradecimentos aos participantes do IX ENEE e de toda a entusiasmada comissão que contribuiu com esse inédito evento nas terras do MeioNorte do Nordeste. Saudações cordiais,
Professor Wedson de Medeiros Silva Souto Presidente da Comissão Organizadora do IX ENEE – I E3PI Departamento de Biologia – UFPI/CMPP
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Sedes do IX ENEE e I E3PI O evento foi integralmente organizado nas dependências da Universidade Federal do Piauí. Toda a estrutura foi planejada para ficar em um raio máximo de 600 m.
Cluster 1 – Cerimônias Local: Espaço Integrado Noé Mendes (UFPI). Atividades: Cerimônias de abertura e encerramento
Cluster 2 – Biologia Locais: Departamento de Biologia e Coreto da Reitoria Atividades: Palestras, Mesas-redondas, Apresentações orais e em painéis (banners).
Cluster 3 – CCN 1 Locais: Auditório Afonso Pena (Física), Espaço Integrado e Restaurante Universitário Atividades: Palestras e Mesas-redondas (Auditório Afonso Pena), Alojamento – 200 pessoas (Espaço Integrado), Refeições (almoço/jantar – dias 1 e 3) (Restaurante Universitário).
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Mapa do evento
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Programação Credenciamento
01 de novembro de 2017
08h – 16h: Local – Departamento de Biologia da UFPI/CMPP 17h – 18h30: Local – Espaço Noé Mendes
Abertura – Espaço Noé Mendes 18h: Composição da Mesa de abertura 18h30 – 20h: Palestra de abertura “O futuro da Etnobiologia ou a Etnobiologia sem futuro?” - Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque (UFPE) 20h – 0h: Festa de abertura
02 de novembro de 2017 8h – 10h30m - Minicursos (Local: Departamento de Biologia - DBIO) Bioestatística no R (Prof. Dr. Leonardo Castelo Branco – UFPI), Coletas e Análises de dados Etnobiológicos (Prof.a. Dr.a. Edna Maria Ferreira Chaves – IFPI e Prof. MSc. José Rodrigues de Almeida Neto - PRODEMA-UFPI), Etnofarmacologia e Etnomedicina (Prof. Dr. Thiago Antônio de Sousa Araújo – UNINASSAU-PE), Aspectos Etnobotânicos nos Estudos dos Sistemas Socioecológicos (Dr. Ernani Machado de Freitas Lins Neto – UNIVASF-Senhor do Bonfm-BA), Etnozoologia aplicada à conservação da Fauna (Dr. Hugo FernandesFerreira – UECE-Quixadá-CE), Teorias aplicadas aos estudos etnobiológicos (Dr. Washington Soares Ferreira Júnior – UPE-Petrolina) 10h30m – 12h Palestra A (Auditório do DBIO) – Por que ser Etnobiológo? (Dr. Hugo Fernandes-Ferreira, UECE), Palestra B (Auditório Afonso Sena) – Ameaças nacionais e internacionais aos povos e comunidades tradicionais (Dr. Gustavo Taboada Soldati, UFJF, SBEE) 14h – 16h30m Mesa-redonda 1 (DBIO) – A Etnobotânica para conservação dos domínios ftogeográfcos nordestinos (Prof. Dr. Reinaldo Farias Paiva de Lucena, UFPB; Prof.a. Dra. Josiene M. F. F. dos Santos, UNEAL; Prof.a. Dr. Elcida Lima; UFRPE); Mesa-redonda 2 (Afonso Sena) – Uso e Conservação da Fauna no Nordeste Brasileiro (Prof. Dr. Rômulo Nóbrega Alves, UEPB; Prof.a. Dr.a. Kallyne Machado Bonifácio, PRODEMA-UFPB) 16h30 – 18h – Painéis e Comunicações orais (Coreto da Reitoria e DBIO)
03 de novembro de 2017
8h – 10h30m - Minicursos (Local: Departamento de Biologia – DBIO) 10h30m – 12h Palestra C (DBIO) – Etnobiologia e Conservação (Prof. Dr. José Ribamar de
Sousa Júnior, UFPI-CAFS), Palestra D (Afonso Sena) – Aspectos Éticos da Pesquisa com seres humanos (Prof. Dr. Herbet de Sousa Barbosa, UFPI) 14h – 16h30M – Mesa-redonda 3 (DBIO) – Etnobiologia e potenciais bioprospectivos (Prof. Dr. Felipe Siva Ferreira, UNIVAS; Prof. Dr. Thiago Pereira Chaves, UFPI; Prof. Dr. Thiago Antônio Sousa Araújo, UNINASSAU-PE) 16h30 – 18h – Painéis e Comunicações orais (DBIO)
04 de novembro de 2017
8h – 10h30m - Minicursos (Local: Departamento de Biologia – DBIO) 10h30m – 12h Mesa-redonda 4 (DBIO) – Etnobiologia em ecossistemas litorâneos
do Nordeste (Prof.a. Dr.a. Priscila Fabiana Macedo Lopes, UFRN; Prof. Dr. José da Silva Mourão, UEPB); Mesa-redonda 5 (Afonso Sena) – Recursos naturais e alimentação humana (Profa. Dra. Edna Maria Ferreira Chaves, IFPI; Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto, UEFS). 14h – 16h – Palestra F (DBIO) – Bases biológicas e evolutivas da percepção humana sobre o ambiente natural (Prof. Dr. Taline Crisitina Silva, UNEAL); Palestra G (Afonso Sena) – Black Markets: A Etnozoologia na Investigação do comércio ilegal da fauna silvestre (Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto, UFPI)
16h30m - 17h30m– Afonso Sena Mesa de Encerramento e Premiação de trabalhos (Prêmios Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida e Prof.a. Dr.a. Roseli Farias Melo de Barros), Escolha da Sede do X ENEE. 18h – Palestra de Encerramento (Afonso Sena) – A Etnobiologia não conserva a natureza, assim como a educação não transforma o mundo (Prof. Dr. Ângelo Giuseppe Chaves, UFRPE)
ATIVIDADES CULTURAIS: Dias 2 e 3 de novembro, logo após a exposição de painéis e comunicações orais.
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Prêmios Professor Dr. Alberto Kioharu Nishida [IX ENEE] & Professora Dra. Roseli Farias Melo de Barros [I E3PI] Professor Alberto Kioharu Nishida, falecido em julho de 2016, representou um dos pioneiros em pesquisas etnobiológicas no Nordeste brasileiro. Docente do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi responsável pela formação de uma produtiva geração de etnobiólogos, zoólogos e ecólogos. Foi docente dos programas de Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), o qual atuou como coordenador do subprograma UFPB/UEPB no período entre 2008 e 2010. Esta edição do ENEE teve a honra de premiar os três primeiros trabalhos apresentados em comunicação oral com o prêmio Alberto Kioharu Nishida. A professora Dra. Roseli Farias Melo de Barros é atualmente docente da Universidade Federal do Piauí, instituição a qual atua desde 1993. A professora Roseli foi pioneira em pesquisas etnobiológicas no Piauí e responsável pela formação de expressivo número de etnobiólogos que hoje atual em instituições de ensino superior e pesquisa em diversas partes do Brasil, sobretudo nos Estados do Piauí e Maranhão. Em reconhecimento a atuação profissional, o IX ENEE e I E3PI confere o prêmio prof. Dra. Roseli Farias Melo de Barros as três melhores comunicações orais apresenadas por discentes ou pesquisadores vinculados à Instituições do Piauí.
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Trabalhos Premiados Prêmio Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida (ENEE) Primeiro Lugar PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES RIBEIRINHOS DO BAIRRO JARDIM OÁSIS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE EM RELAÇÃO À ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA BASTIANA Autores: Ana Carolina Sabino de Oliveira, Bruna Letícia Pereira Braga, Marlos Dellan de Souza Almeida, Juan Carlos Ferreira Paulino, Alzeir Machado Rodrigues Segundo Lugar PERCEPÇÃO DOS MORADORES ACERCA DOS IMPACTOS DA AGRICULTURA IRRIGADA SOBRE A AVIFAUNA EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO NORDESTE BRASILEIRO Autores: Suely Silva Santos, Muryllo dos Santos nascimento, Arthur Serejo Neves Ribeiro, Francisco das Chagas Vieira, Santos, Francisco Eduardo Dos Santos Sousa, Wedson de Medeiros Silva Souto, Anderson Guzzi Terceiro Lugar IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DAS AVES E OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CAÇA, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO BURITI DO MEIO, CAXIAS-MA, BRASIL Autores: Anderson Felipe Teixeira da Silva, Hilda Raianne Silva de Melo, Daiane Chaves do Nascimento, Ana Priscila Medeiros Olímpio, Shirliane de Araújo Sousa, Domingos Lucas dos Santos Silva
Prêmio Prof.a. Dr.a. Roseli Farias Melo de Barros (E3PI) Primeiro Lugar PERCEPÇÃO DOS MORADORES ACERCA DOS IMPACTOS DA AGRICULTURA IRRIGADA SOBRE A AVIFAUNA EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO NORDESTE BRASILEIRO Autores: Suely Silva Santos, Muryllo dos Santos nascimento, Arthur Serejo Neves Ribeiro, Francisco das Chagas Vieira Santos, Francisco Eduardo Dos Santos Sousa, Wedson de Medeiros Silva Souto, Anderson Guzzi Segundo Lugar UM OLHAR QUE NADA FALA, MAS TEM MUITO A DIZER: UMA ABORDAGEM ETNOGEOMORFOLÓGICA POR MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO Autores: Karoline Veloso Ribeiro, Karen Veloso Ribeiro, Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque, Roseli Farias Melo de Barros Terceiro Lugar ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL Autores: Francisco das Chagas Vieira Santos, Wedson de Medeiros Silva Souto, Suely Silva Santos, Arthur Serejo Neves Ribeiro, Muryllo dos Santos Nascimento, Reinaldo Farias Paiva de Lucena, Anderson Guzzi
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Resumos Expandidos
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ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL LÍNGUA: Português
CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LANGUAGE: Brazillian Portuguese
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES RIBEIRINHOS DO BAIRRO JARDIM OÁSIS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE EM RELAÇÃO À ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA BASTIANA Ana Carolina Sabino de Oliveira1*, Bruna Letícia Pereira Braga1, Marlos Dellan de Souza Almeida1, Juan Carlos Ferreira Paulino1, Alzeir Machado Rodrigues2 1
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), Iguatu – CE; 2Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), Iguatu – CE. *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO Diante da crise ambiental, sobretudo hídrica, que o planeta tem enfrentado nas últimas décadas, a Educação Ambiental emerge com o papel de mediadora entre o homem e o meio. Diante disso, na Cidade de Iguatu, região Centro-Sul do Ceará o crescimento urbano ocorreu de forma intensa degradando diversos ecossistemas, dentre eles a Lagoa da Bastiana, Área de Preservação Ambiental de importância significativa devido à sua riqueza de fauna e flora e outros fatores. Diante disso, o objetivo deste trabalho é conhecer a percepção ambiental dos moradores de seu entorno sobre a preservação e estado da mesma. Com isso, foi possível perceber que uma parte dos moradores possuem uma real dimensão do problema e que, aliado a uma educação ambiental e orientação sobre o manejo adequado da área, diversos prejuízos poderiam ser evitados tanto a curto como a longo prazo. Palavras-chaves: Educação Ambiental, lagoa da Bastiana, preservação. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas a crise ambiental que afeta todo o planeta vem se alastrando de forma considerável, afetando o mundo inteiro, gerando desequilíbrios que muitas vezes se tornam irreparáveis ao longo do tempo e tornando as condições de vida cada vez mais escassas (Bortolozzi & Filho, 2017). Diante deste dilema, observa-se que parte considerável surge a partir de ações antrópicas, onde o ser humano se coloca como um “ser superior” em meio ao contexto vivenciado e a biosfera sofre as consequências, sendo em sua maioria quase que irreversíveis. Dentro desta crise ambiental generalizada uma das mais preocupantes que ganha destaque é a crise hídrica, conforme exposto por Matsushita e Granado (2017). Neste contexto, a Educação Ambiental (EA) surge com o papel de mediadora entre a comunidade e o ambiente, e, ainda, de sensibilizadora com relação às ações antrópicas e a sua influência direta na vida dos diversos seres vivos. A mesma emerge em um contexto marcado pela crescente e constante degradação do meio ambiente devido a diversos fatores advindos da ação humana, sendo necessárias reflexões so bre estas práticas que tanto afetam ecossistemas em sua totalidade e também articulações que possam chegar de forma transitável na sociedade e seja capaz de sensibilizar esses indivíduos. Com relação a estes papéis exercidos pela EA Jacobi (2003, p. 193) afirma que ela “assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável”. A partir desta premissa de que os indivíduos são corresponsáveis pelo lugar que habitam, entende-se que os mesmos necessitam acompanhar o andamento no qual a sociedade moderna ultrapassa e diante disso, no curso do desenvolvimento, é possível observar um intenso processo de urbanização. No Município de Iguatu, localizado na região Centro-Sul do estado do Ceará, este processo foi intensificado em um curto período de tempo e a urbanização desordenada acabou trazendo sérios prejuízos
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que afetam de forma considerável os diversos ambientes urbanos, tendo em vista que a cidade possui um alto potencial hidrológico e uma grande riqueza de ecossistemas, podendo-se citar os ecossistemas lacustres da cidade, ambientes estes que tornaram-se símbolo da mesma desde o seu topônimo, significando água boa. A cidade é rodeada por lagoas, sendo cinco delas localizadas na área urbana e seis na área rural. Dentre estas uma que ganha destaque devido ao seu potencial hídrico e a sua rica biodiversidade é a Lagoa da Bastiana, onde o processo de ocupação vem sendo intensificado a cada dia e os impactos ambientais crescendo constantemente devido a diversos fatores naturais e, principalmente, antrópicos por causa da urbanização, incluindo as construções que invadem a Área Proteção Ambiental (APA), que constitui o ecos sistema, importunando assim nas condições socioambientais do local. De acordo com Freitas e Freitas (2015, p. 120): “Atualmente os principais impactos detectados resultantes de ações degradantes na lagoa da Bastiana, são: aterramentos, desmatamentos, poluição hídrica, assoreamento, deposição de sedimentos, redução da biodiversidade, dentre outros”. Diante desse cenário, observa-se que em muitas situações a população que reside nas proximidades desse ecossistema não possui uma real compreensão acerca dos desequilíbrios ecológicos acarretados por essas intervenções. Por este motivo emerge a necessidade de conhecer as percepções destes moradores com relação a estas interposições de origem externa que afetam diretamente os processos ecológicos do ecossistema. Com isso, este trabalho objetiva conhecer a percepção ambiental dos moradores do bairro Jardim Oásis no município de Iguatu, Ceará no que se refere à APA - Área de Preservação Ambiental da La goa da Bastiana. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa se trata de um estudo exploratório com os moradores ribeirinhos da APA Lagoa da Bastiana sobre a sua importância, aspectos de conservação e fauna e flora local. Gerhardt e Silveira (2009, p. 35) explicitam que “este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Para a realização da mesma foi utilizada uma pesquisa qualitativa, que ainda segundo Gerhardt e Silveira (2009), esse tipo de pesquisa direciona-se aos aspectos da realidade, que não podem ser quantificados, tendo como foco principal o entendimento e a explicação do dinamismo das relações sociais. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário semiestruturado com um roteiro de perguntas objetivas e discursivas acerca da temática abordada. A pesquisa semiestruturada possui importante papel, uma vez que “[...] tem o objetivo de construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo” (Minayo, 2011, p. 64). Este questionário foi aplicado para 15 moradores do bairro, com faixa etária entre 13 e 51 anos. Anteriormente à aplicação do questionário, foi entregue aos participantes da pesquisa um “TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO”, que informava sobre o teor do estudo e deu a liberdade de escolha ao entrevistado de participar ou não. A RESOLUÇÃO Nº 466/16 do Conselho Nacional de Saúde - CNS dispõe dos aspectos éticos e legais da pesquisa com seres humanos nas áreas de ciências humanas e sociais, sendo a lei atual responsável por esse tipo de pesquisa científica e o artigo 1° parágrafo I diz que se faz necessário o reconhecimento da liberdade e autonomia de todos os envolvidos no processo de pesquisa, inclusive da liberdade científica e acadêmica. (BRASIL, 2016). Toda pesquisa de caráter exploratório deve obedecer à legislação atual vigente, em todos os seus aspectos. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a análise dos dados coletados através do questionário semiestruturado foi possível identificar algumas visões e paradigmas com relação à Lagoa da Bastiana, como também se encontrou moradores que tinham uma real dimensão do problema enfrentado pelo ecossistema. Antes da aplicação do questionário mencionado foi realizado um levantamento socioeconômico básico de cada morador para embasar a pesquisa proposta. À vista disso, foram investigadas algumas informações dos participantes
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antecedendo as perguntas relacionadas ao objetivo central da pesquisa, foram elas a faixa etária dos moradores (Tabela 1) e a média de tempo com que os mesmos residiam nas proximidades da Área de Preservação Ambiental estudada (Tabela 2). Tabela 1. Faixa etária dos moradores FAIXA ETÁRIA
PORCENTAGEM
10 a 25 anos
53,3%
26 a 40 anos
20%
41 a 65 anos
26,7%
Tabela 2. Média de tempo que os moradores entrevistados residem próximos à Lagoa FAIXA DE TEMPO
PORCENTAGEM
Até 7 anos
26,7%
Entre 7 e 14 anos
46,6%
Entre 14 e 21 anos
26,7%
Com isso, é notável que a maior parte dos participantes tinham até 25 anos, e o segundo grupo em representação foram os moradores acima de 40 anos. Também se observa que a maior média de tempo dos moradores nas proximidades da Lagoa é entre 7 e 14 anos, mostrando que os mesmos possuem uma visão apurada dos impactos que o ecossistema vem sofrendo ao longo do tempo principalmente por terem acompanhado de perto o seu processo de urbanização. A partir deste levantamento foi possível a iniciação da análise dos dados coletados. Quando os moradores foram indagados sobre a visão dos mesmos da importância da Lagoa da Bastiana para a população do entorno, algumas respostas obtidas foram: “A importância seria se fosse bem preservada para ter turistas e algumas aves” “Por ela ser tão poluída para os moradores não vejo nenhuma importância. É importante para os animais que vivem na lagoa. Por incrível que pareça ainda existe vida lá” “É fundamental para o equilíbrio ecológico da região, além de promover a termo regulação, contribui para o equilíbrio hídrico”
Diante disso, é possível perceber que por causa da destruição ecológica e visual a qual passa a Lagoa da Bastiana, parte dos moradores entendem que a mesma não é importante para a população, mas reconhecem a sua importância para a fauna existente no local, como é notado na segunda fala. Também pode-se observar no início da primeira fala um discurso que se aplica a sociedade criada a partir do mundo globalizado, onde é possível observar em muitas ocasiões a natureza dando espaço à um paisagismo estético com a finalidade de gerar renda e transmitindo esta ideia como sendo a ideal para a conservação. De acordo com Penna (2016, p. 126): “tanto a natureza quanto a totalidade do ambiente urbano, transformam-se em espaços políticos, inseridos nas estratégias de ocupação e de expansão da cidade”, com isso, é possível destacar a necessidade de ver os ecossistemas presentes no meio urbano como aliados ao processo de urbanização e enaltecer as contribuições que estes podem trazer, como citados na última fala. Também foi perguntado aos participantes da pesquisa se os mesmos conheciam algum projeto ou ação tanto independentemente quanto do poder público de preservação da Lagoa da Bastiana, e a
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unanimidade das respostas foi de que não havia nenhuma ação voltada para este local, em seguida estes foram indagados se eles achavam que a falta de cuidados com a Lagoa poderia ocasionar prejuízos no futuro, e se sim, quais seriam tais prejuízos, algumas das respostas coletadas foram: “Um risco de contaminação maior e possíveis alagamentos em tempos chuvosos, tendo em vista que o lixo causa entupção nas redes de esgoto” “Sim. O aquecimento das águas secando a lagoa, e principalmente a morte das espécies que vivem na lagoa ou em torno” “Pode sim. A dengue, asma (por os moradores irresponsáveis tocarem fogo), isso também acaba prejudicando os moradores”
De acordo com a primeira fala observada é notável algo que ganha destaque que é a questão dos alagamentos. Este fenômeno em tempos muito chuvosos se torna um risco devido a diversos fatores, um deles é a poluição excessiva tanto no ecossistema como no seu entorno, sendo uma característica quando o manejo do próprio local e do solo não é realizado adequadamente. Tonetti, Nucci, Souzan e Valaski (2014, p. 44) trazem em um dos seus estudos uma reflexão acerca das consequências do uso intensivo ou inadequado de um solo que sofreu processo de urbanização e que não é manejado da forma correta, uma destas consequências são alagamentos. Em sua fala, ele diz: “O uso intensivo e muitas vezes inadequado do solo urbanizado, juntamente com a falta de uma visão sistêmica, entre outras questões, provoca alterações no ciclo hidrológico que por sua vez acarreta inúmeros problemas sociais, econômicos e ambientais, tais como: alagamentos, problemas no abastecimento de água, contaminação do lençol freático e de cursos d`água, entre tantos outros. ”
A terceira fala faz referência a questão das queimadas que é muito frequente na Lagoa da Bastiana, este fenômeno acarreta tanto prejuízos a curto como a longo prazo, afetando tanto a população como a fauna e flora existentes no local e a segunda fala traz uma questão que demonstra ainda uma falta de conhecimento acerca do dinamismo e funcionamento deste ecossistema, enfatizando a necessidade de uma construção da educação ambiental como forma de preparar a sociedade para lhe dar tanto com o crescimento populacional através da urbanização como o tratamento adequado para a natureza remanescente e sobrevivente deste processo. De acordo com Albuquerque (2010, p. 182): “A Educação Ambiental crítica, impregnada da utopia da construção de um mundo mais humano e justo, põe-se decisiva na politização necessária da espécie humana para mudar o paradigma de desenvolvimento capitalista dominante, que exaure nossos recursos naturais e humanos ”
Ao final, os moradores foram indagados a respeito de suas visões sobre o que poderia ser feito para preservar a Lagoa da Bastiana e trazer benefícios para o bairro, diante disso, alguns dos comentários obtidos foram: “Preservar a vegetação local e evitar o acúmulo de lixo poderia evitar o mal cheiro, o acúmulo de animais, etc.” “Retirar os esgotos que são jogados na lagoa, respeitar a margem da lagoa, criar projetos que envolvam a lagoa na vida da população” “Primeiramente um saneamento básico adequado e eficiente e posteriormente um projeto de revitalização da lagoa”
Através das respostas obtidas é possível notar que uma parte dos moradores possuem uma visão do real problema e possíveis formas de amenizá-los, tanto por parte da população como do poder público, que possui um papel relevante neste processo. Um dos pontos mencionados que chama a atenção é quando um dos participantes cita a questão do acúmulo de animais. Tais problemas são ocasionados como
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consequência da invasão do ser humano ao espaço pertencente a fauna do local, e consequentemente os animais procuram novos refúgios, muitas vezes causando incomodo. Ainda de acordo com Penna (2016, p.126) o espaço da sociedade urbana não pode ser entendido apenas economicamente, ela também necessita ser um espaço de produção social, política e cultural, em meio ao processo de urbanização, fato este enfatizado pelos participantes da pesquisa. CONCLUSÕES A partir dos achados com as respostas obtidas e analisadas dos moradores ribeirinhos da Lagoa da Bastiana, é possível ultimar que os mesmos possuem uma compreensão apurada do problema, tendo em vista que eles possuem um convívio diário com este, mas, diante da realidade encontrada faz-se necessário uma educação ambiental crítica que atenda as demandas deste ecossistema e dos prejuízos que um manejo inadequado pode trazer tanto a curto como a longo prazo. Esta educação ambiental necessita estar atrelada a diversas esferas da sociedade. Tanto a população como o poder público possuem um papel fundamental para esta construção do desenvolvimento ambiental da sociedade e a Universidade também possui um papel fundamental neste processo, pois o conhecimento gerado só se torna útil quando ultrapassa as barreiras físicas e se materializa no desenvolvimento comum da sociedade.
AGRADECIMENTOS Para a realização desta pesquisa, o agradecimento vai para a população que atenciosamente entendeu o propósito do estudo e concluiu que este poderia ser o início de novas perspectivas relacionadas ao futuro da única Unidade de Conservação da cidade, a Lagoa da Bastiana. REFERÊNCIAS Albuquerque, M. V. P. (2010) A importância da Educação Ambiental Crítica contextualizada voltada para a realidade do semiárido cearense. In: Matos, K. S. A. L. (Org.) Educação Ambiental e Sustentabilidade II. Fortaleza: Edição UFC. Resolução nº 150 (07 de abril de 2016). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Publicada no DOU nº 98, terça-feira, 24 de maio de 2016 - seção 1, páginas 44, 45, 46. Brasília (Distrito Federal): Ministério da Saúde (Conselho Nacional de Saúde). Bortolozzi, A., & Filho, A. P. (2017). Crise ambiental da modernidade e a produção do espaço-lugar do não cidadão. Boletim Paulista de Geografia, n. 76, p. 7-22. Freitas, F. R. D., & Freitas, V. P. (2015). ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA LAGOA DA BASTIANA (MUNICÍPIO DE IGUATU/CE). Revista Jurídica, v. 4, n. 41, p. 109-127. Disponível em: . Acesso em: 07 jan. 2017. Gerhardt, T. E., & Silveira, D. T. (2009). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS. Disponível em: . Acesso em: 06 de jan. 2017. Jacobi, P. (2003). Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. São Paulo: Cadernos de pesquisa. Disponível em: Acesso em: 05 jan. 2017.
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ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL LÍNGUA: Português
CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LANGUAGE: Brazillian Portuguese
IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DAS AVES E OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CAÇA, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO BURITI DO MEIO, CAXIAS-MA, BRASIL Anderson Felipe Teixeira da Silva1*, Hilda Raianne Silva de Melo1, Daiane Chaves do Nascimento2, Ana Priscila Medeiros Olímpio3, Shirliane de Araújo Sousa4, Domingos Lucas dos Santos Silva5 1
Graduados em Ciências Biológicas Licenciatura, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias, Caxias-MA; 2Mestre em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Ciências Agrárias, São Luís-MA; 3Mestranda do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Biodiversidade, Ambiente e Saúde, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias, Caxias-MA; 4Mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Pará, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará; 5Mestre em Biodiversidade, Ambiente e Saúde, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias, Caxias-MA *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO Sabe-se que as aves desde os tempos antigos, são parte do cotidiano dos seres humanos. Apesar deste fato, dentre os estados brasileiros, o Maranhão apresenta um cenário de desconhecimento quanto a pesquisas voltadas a importância natural e usual destes animais. Desta maneira objetivou-se conhecer, a importância e os impactos negativos das atividades de caça sobre as aves na concepção dos moradores da Área de Proteção Ambiental do Buriti do Meio, Caxias-MA. Para isso aplicou-se um questionário com 74 moradores, seguindo-se as normas previstas na Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Observou-se que para os entrevistados, as aves apresentam um papel ecológico na natureza, na manutenção ambiental, entretanto, existe a caça e possivelmente o comércio ilegal destes animais, o que demanda atividades de cunho conservacionista envolvendo educação ambiental, uma vez que os danos provenientes dessas atividades podem prejudicar, em longo prazo, tanto esses animais como o ambiente que estas habitam. Palavras-chave: Caça de aves no Maranhão, Utilização de aves, Educação Ambiental INTRODUÇÃO Quando a fauna se torna importante para uma determinada comunidade, ela passa a fazer parte de sua rotina e de sua cultura, estabelecendo-se então, diversas relações com os animais, sejam elas utilitárias (alimentação, vestuário, medicinal, mágico-religioso, etc.), simbólicas (lendas, mitos), ou de comercialização (Corona, 2011). Desde os tempos mais antigos os animais, em especial as aves, exercem grande fascínio sobre povos de todo o planeta, sendo parte do cotidiano do ser humano onde adquirem múltiplos significados e usos, que vão desde a predição de acontecimentos naturais até o uso na alimentação (Oliveira-Júnior, 2005). Deste modo, a compreensão destes valores permite um melhor entendimento sobre a importância biológica e cultural da avifauna regional para as diferentes populações humanas (Oliveira-Júnior, 2005; Farias & Alves, 2007; Santos-Fita & Costa-Neto, 2007). Apesar desta importante compreensão acerca das relações das aves com as populações humanas, no Brasil e em especial para o Estado do Maranhão, estudos envolvendo as relações destas com os seres humanos, são quase inexistentes, ainda mais quando se relacionam a importância ambiental das aves e os impactos negativos que as mesmas sofrem dentro de áreas de proteção ambiental. Neste contexto, objetivou-se conhecer qual a importância ambiental das aves
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e os impactos negativos das atividades de caça das aves na perspectiva dos moradores da Área de Proteção Ambiental do Buriti do Meio, buscando-se elaborar medidas que viabilizem a preservação e a conscientização dos moradores a respeito da avifauna e o ambiente no qual estão inseridas. MATERIAL E MÉTODOS A Área de Proteção Ambiental (APA) Buriti do Meio possui uma área de 58.347,30 ha e está situada a 35 km do perímetro urbano da cidade de Caxias-MA. Foi criada pela Lei nº 1.540/2004 de 25 de março de 2004, e abrange o Projeto de Assentamento do Buriti do Meio e Santa Rosa, na zona do 2º Distrito da cidade de Caxias-MA (Caxias, 2004). A pesquisa foi realizada com 74 moradores em três povoados dentro da Área de Proteção Ambiental Buriti do Meio, sendo eles: Buriti do Meio, Vitória e Engenho D’água. Para a obtenção dos dados entrevistou-se os moradores, com o uso de um questionário que foi composto de cinco perguntas que abrangem assuntos sobre a importância ambiental das aves descritas em Lara, França & Pereira (2009) e caça das aves descritas por Nobrega, Barbosa e Alves (2011). Antes do início de cada entrevista, um termo de consentimento foi assinado pelos moradores ao concordarem em participar da pesquisa, desta forma o estudo em questão está de acordo com a metodologia descrita na Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Após as entrevistas, foi pedido aos moradores que fossem feitos registros fotográficos de instrumentos de caça que são utilizados para captura de aves e também, registros fotográficos de aves aprisionadas em gaiolas ou que estivem soltas nos domicílios, porém domesticadas pelos moradores, para tanto utilizou-se uma câmera da marca Sony modelo DSC-H400 e uma câmera de um celular da marca Motorola modelo XT1600. As aves fotografadas foram identificadas ainda no local, através do uso do aplicativo Ave: Digital field guide v. 3.7.7 (Florit, 2014). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 74 moradores com idades entre 18 e 77 anos, durante os meses de outubro a novembro de 2016. Quando questionados sobre a importância das aves para a natureza, 26% (n=19 ) não informaram qual a relevância que as aves apresentam dentro da natureza; 28% (n=21) informam que, as aves são dispersoras de sementes, contribuindo para a continuidade da floresta, como mencionado por um morador: “Elas comem as frutas e cai as sementes deles e reproduz as plantas”; 20% dos entrevistados (n=15) atribuíram a importância das aves na cadeia alimentar como consumidores de insetos (como formigas e lagartas) ou como consumidores de carniça, atribuindo essa função ao urubu Coragyps atratus; 14% (n=10) informam que as aves são integradas à natureza, pois foram criadas por Deus. As informações anteriores são corroboradas nos estudos de Jordano (1994), Barbosa (1999) e Francisco e Galetti (2002) e também por Sick (1997), os quais ressaltam que “as aves são de grande importância para a natureza, ‘pois fazem parte das intrínsecas relações com ambiente, tanto no contexto cultural, histórico e religioso, como também no contexto econômico das comunidades humanas’”. Devido ao uso das aves no cotidiano das comunidades humanas, perguntou-se aos entrevistados se caçavam aves, destes 70% (n=52) informaram não caçar aves e 30% (n=22) informam que sim. Quanto a utilidade das aves, 47% dos entrevistados (n=35) informam que as aves são utilizadas na alimentação, 25% criação (domesticação n=18), 12% para o bem-estar do homem (n=9), 4% venda (comercialização n=3), 4% para aprisionamento em gaiolas (n=3) e 8% (n=6) não souberam informar utilidades para as aves. Apesar de alguns entrevistados informarem caçar e vender aves, outros mostraram-se contrários a tais atividades, mencionando que isso é algo ruim para estes animais como observado nas seguintes citações: “Pra fazer malvadeza, pra fazer dinheiro com o que num deve” “Pra fazer maldade mantendo eles presos”. Outros justificam a caça das aves para obtenção de alimento, quando este encontra-se em falta: “Serve pra comer quando não tem”, já outros mencionam que a venda e o aprisionamento das aves têm seus benefícios, quando estes são voltados para a contemplação do seu canto: “Pra criar em gaiola por causa do canto bonito como o do sabiá”. Em relação aos resultados anteriores sobre a caça das aves e seus benefícios, como também a discordância deste tipo de atividade pelos entrevistados, esse trabalho apresenta resultados similares aos
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obtidos por Silva, Olímpio, Araújo & Melo (2015), pois estes autores encontraram utilidades semelhantes para aves, onde as mesmas são usadas pelos moradores para ornamentação, criação e venda, sendo que também reportaram o descontentamento por parte de alguns moradores referente aos hábitos de caça e aprisionamento das aves em gaiola. Quanto ao conhecimento acerca dos métodos utilizados na caça das aves, 7% (n=5) informaram não conhecer nenhum método, e as demais, 93% (n=69), informaram métodos usuais para a caça das mesmas, afirmando ensiná-los a outras pessoas, como por exemplo, sobrinhos e/ou filhos. Dentre os métodos citados, a gaiola (n=20, Figura 1A), o visgo (n=15, Figura 1B) e a arapuca (n=28, Figura 1C) foram os mais mencionados pelos moradores.
Figura 1. Métodos de caça registrados na área de estudo. A - Gaiola, B - Linha para o visgo e C – Arapuca. Direito autoral: Imagens A - B (Silva, A. F. T., 2016) e C (Melo, H. R. S., 2016). Alguns entrevistados também atribuíram parte desses métodos de caça para a captura de espécies, a exemplo tem-se o assaprão, que segundo os moradores são colocadas iscas como frutas ou milho para que a ave seja atraída e capturada. Para a jurití Leptotila sp. e a rolinha C. squammata se utiliza o visgo ou a arapuca com algum atrativo alimentar para capturá-las. Outros informaram que para captura e venda de aves, são feitas procuras em ninhos das mesmas, a exemplo, tem-se o papagaio Amazona aestiva e a curica E. aurea, podendo ser observado na seguinte citação: “Papagaio e curica pego eles no ninho pra vender”, outros métodos também citados foram a baladeira, rede, arma-de-fogo, o bate (também chamado de quebra) e o uso de animais para perseguição dessas aves. Com exceção do visgo, os mesmos métodos de caça foram citados durante o estudo de Silva et al. (2015). Takekawa (2000) e Alves, Mendonça, Confessor, Vieira & Lopez (2009) afirmam que, essa variedade de técnicas está relacionada à diversidade e ecologia das presas, fatores abióticos, sazonalidade, entre outros. Segundo Tynsong, Tiwari & Dkhar (2012), muitas dessas técnicas são tradições passadas de geração em geração, sendo ensinadas e passadas adiante dentro de grupos ou comunidade humanas locais. Registrou-se também, algumas aves aprisionadas em gaiolas ou em poleiros dentro das casas durante as visitas nos domicílios (Figura 2). Dentre estas, foram registrados por fotografia filhotes de curicaestrela E. aurea (Figura 2A), o papagaio A. aestiva (Figura 2B) e o sabiá T. leucomelas (Figura 2C). Algumas destas mesmas espécies foram mencionadas em outros estudos como o de Araújo, Kanieski, Longhi, Behr & Menezes (2010), Moura-Santos et al. (2011) e Silva et al. (2015), com destaque para o bigode, pertencente ao gênero Sporophila, que segundo Rocha et al. (2006) aves deste gênero são as mais procuradas, pois, além de possuírem um belo canto, são de fácil manutenção em cativeiro. Segundo Nobrega et al. (2009), “as aves compreendem 71% dos animais contrabandeados, sendo que estas ‘representam um dos maiores e mais conhecidos grupos de organismos afetados também pelo caráter cultural e econômico dos usuários exploradores’”. Sekercioglu, Daily & Paul (2004) afirmam “que o ‘status de conservação de todas as espécies exploradas precisa ser avaliado de maneira mais intensa, sendo necessárias práticas de cunho conservacionistas para viabilizar a proteção tanto das aves como também a preservação dos seus hábitats naturais’”.
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Figura 2. A - Filhotes de curica-estrela E. aurea; B - Papagaio A. aestiva em um poleiro; C Sabiá T. leucomelas; D - Pipira-verde T. palmarum; E - Bigode S. lineola e F - Guriatã E. violacea. Direito autoral: Silva, A. F. T. (2016). CONCLUSÕES Observou-se que os entrevistados compreendem a importância das aves na natureza, onde as mesmas desempenham de maneira geral, um papel direto na manutenção do ambiente. Apesar desta perspectiva e o eventual descontentamento de alguns moradores sobre a caça das aves, notou-se que a captura ilegal para o comércio e criação destes animais está ocorrendo na comunidade, sendo evidenciado através de fotografias tanto dos métodos de caça, pelo registro de as aves engaioladas ou pela própria afirmação dos entrevistados que informam realizar tais atividades. Diante desta situação, são necessárias implementação de medidas conservacionistas e de educação ambiental através de palestras e atividades educativas, ressaltando-se a importância desses animais para o meio ambiente e os possíveis impactos negativos que o tráfico e a caça das aves podem causar diretamente para ambos, o que muitas vezes pode ser difícil, pois tais hábitos já são práticas culturais comuns dentro das populações humanas, nesta perspectiva demais trabalhos envolvendo o conhecimento e uso das aves são necessários tanto para o Estado do Maranhão, como para demais estados do Brasil, uma vez que podem ser ferramentas importantes pra a compreensão da importância cultural, aspectos históricos e atribuições naturais e sobrenaturais creditadas a diversificada avifauna presente em nosso país, bem como para sua conservação ambiental. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos moradores que aceitaram participar da pesquisa, pois sem os mesmos, os resultados aqui obtidos nunca seriam divulgados ou mesmo conhecidos. REFERÊNCIAS Alves, R. R. N., Mendonça, L. E. T., Confessor, M. V. A., Vieira, W. L. S. & Lopez, L. C. S. (2009). Hunting strategies used in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 5:1-16.
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ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS LIGADOS A PLANTAS ORNAMENTAIS EM QUINTAIS RURAIS NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE (NORDESTE DO BRASIL) Jorge Izaquiel Alves de Siqueira1*, Edna Maria Ferreira Chaves2, Jesus Rodrigues Lemos3 1
Estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI; 2Coordenadora do Curso de Gastronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Campus Teresina Zona Sul, Teresina - PI; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI. *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO Os quintais são importantes espaços provedores de recursos que satisfazem necessidades familiares. Nesses espaços são cultivadas espécies com várias finalidades, entre elas espécies ornamentais. O presente estudo objetivou compreender a dinâmica sociocultural sobre o cultivo de plantas ornamentais na comunidade Franco, Cocal-PI. Foi entrevistada uma pessoa por cada residência que possuía quintal com plantas ornamentais por meio de formulários semiestruturados (Parecer nº 1.408.907). Em adição, calculouse o Valor de Uso (VU) para cada espécie. Os informantes (27) citaram 33 espécies ornamentais, distribuídas em 27 gêneros e 18 famílias botânicas, com destaque para a família Araceae (5 spp.). As espécies com maiores VU´s foram Erythrina variegata L. e Sesbania punicea (Cav.) Benth. (VU = 2,00; cada). As plantas ornamentais na comunidade são importantes agentes na melhoria do bem-estar entre os informantes, além de serem cultivadas com múltiplas finalidades, inclusive funcionando como uma estratégia de adaptação frente às mudanças climáticas. Palavras-chave: Conhecimento popular, Vínculo ambiental, Adaptação às Mudanças Climáticas. INTRODUÇÃO O quintal pode ser compreendido como o espaço do terreno localizado ao redor da casa, onde é cultivada uma diversidade de plantas e inclusive onde são criados animais domésticos (Amorozo, 2002). Esses espaços são reconhecidos em escala mundial e possuem um importante papel como sistemas alternativos de complementação da demanda alimentar (Soemarwoto, Soekartadiredja, & Ralam, 1985), podendo exercer um importante elo na preservação de espécies ameaçadas (Saikia, Choudhury & Khan, 2012), satisfazendo inclusive necessidades familiares (Maroyi, 2013). No Piauí, estudos etnobotânicos sobre quintais se apresentam sob vários enfoques e temáticas (Aguiar & Barros, 2012; Silva et al., 2014; Amorim, Carvalho & Barros, 2015; Pereira, Vieira, Alencar, Carvalho & Barros, 2016), no entanto se configuram incipientes quando considerados a outros estudos etnobotânicos no Nordeste brasileiro, principalmente quando o enfoque são as plantas ornamentais (Santos, Vieira & Barros, 2013). Pelo exposto, o presente estudo teve como objetivo compreender a dinâmica sociocultural relacionada a plantas ornamentais em uma comunidade rural no semiárido piauiense. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo - O presente trabalho foi realizado na comunidade Franco, município de Cocal (03º28’15”S - 41º33’18”O), Piauí, distando 268 km de Teresina, capital do Estado. O município possui 26.036 habitantes e densidade demográfica de 20.51 hab./km² (IBGE, 2010). A área estudo está inserida na Área de Proteção Ambiental-APA da Serra da Ibiapaba, setor norte do Planalto da Ibiapaba e sua criação se deu em meio a vários objetivos, entre eles o de preservar as culturas e tradições locais (Brasil, 1996).
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O clima é classificado como Tropical, Aw’ na classificação de Köppen, caracterizado com máximos pluviométricos no verão (Medeiros, 2004). A vegetação da região se caracteriza por sua fisionomia densa, pela perda de folhas em certo período do ano e por ser arbustiva, com distribuição em todo o município, podendo ser encontrada em altitudes de até 500 metros, o que a carateriza como vegetação do tipo carrasco (Chaves & Barros, 2012). A comunidade apresenta uma carência de recursos financeiros, não dispondo de escola e os alunos têm de frequentar escolas na zona urbana e/o em outras comunidades próximas. O local não dispõe de saneamento básico e as estradas são de piçarra e/ou areia e os moradores não contam com uma Unidade Básica de Saúde, no entanto são acompanhados por um Agente de Saúde. Procedimentos Éticos - Antes de iniciar-se, o presente estudo foi submetido e aprovado (Parecer nº 1.408.907) pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Velloso, obedecendo à Resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (Batista, Andrade & Bezerra, 2012.). Coleta e Análise de Dados- Foi aplicada a metodologia de listagem livre, a qual objetivou identificar percepções e conceitos compartilhados (Bisol, 2012). Foi entrevistada uma pessoa de cada residência, com idade superior a 18 anos, sendo responsável por cuidar do quintal. Os dados etnobotânicos foram coletados mediante visitas aos informantes para documentar os conhecimentos locais sobre plantas ornamentais cultivadas e/ou mantidas nos quintais da comunidade, o gênero dos informantes e aspectos socioculturais. Foram realizadas conversas informais (aquela norteada pela convivência com os moradores) e formais, discussões e entrevistas por meio de formulários semiestruturados, bem como visitas de campo (Albuquerque & Lucena, 2004; Martín, 1995). O valor de uso, um método quantitativo que demostra a importância relativa das espécies conhecidas localmente, foi calculado de acordo a fórmula VU = S (U/n), onde, VU refere-se ao Valor de Uso de uma espécie; U para o número de citações por espécie; E n corresponde ao número de informantes que citaram a etnoespécie (Silva, 1997). A coleta e o processamento do material botânico foram realizados de acordo com Silva et al. (1989). A lista florística foi ordenada alfabeticamente por família, seguindo a proposta do Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009). As sinonímias botânicas foram atualizadas, utilizando-se a base de dados disponível na Lista de Espécies da Flora do Brasil (Brasil, 2017). As informações referentes ao hábito das espécies seguiram Font Quer (1977). Quanto à origem das plantas, seguiu-se Lozano, Araújo, Medeiros e Albuquerque (2014) e ainda Lorenzi e Souza (2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 27 informantes (21 pessoas do gênero feminino e seis pertencentes ao gênero masculino), os quais mostraram cultivar 33 espécies (dois taxa foram identificados somente a nível de gênero) com função ornamental nos quintais da comunidade, distribuídas em 27 gêneros e 18 famílias botânicas (Tab. 1). Os informantes são caracterizados por baixa renda, baixos níveis de escolaridade e vivem em geral da agricultura de subsistência e criação de pequenos animais. O excedente da produção é vendido na feira livre da cidade de Cocal, Piauí. Tabela 1. Diversidade de plantas ornamentais cultivadas na comunidade Franco, Cocal, semiárido piauiense. Hábito: Arv - árvore; Arb - Arbusto; Sub - Subarbusto; Erv - Erva. Origem: N - Nativa; E - Exótica; C - Cultivada; G Naturalizada. VU: Valor de Uso. Família/Espécie Nome Vulgar Hábito Origem VU Agavaceae Agave angustifolia Haw. Sub E 1,00 Agave attenuatta Salm-Dyck Sub E 1,50 Agave sp. Sub E 1,00 Chlorophytum comosum (Thunb.) Jacques Sub E 1,20 Amaranthaceae Gomphrena globosa L. Perpétua Erv G 1,00 Apocynaceae Allamanda blanchetii A.DC. Alamanda Arb N 1,00
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Catharanthus roseus (L.) G.Don Plumeria pudica Jacq. Plumeria rubra L. Araceae Anthurium sp. Caladium bicolor (Aiton) Vent. Caladium bicolor (Aiton) Vent. Dieffenbachia picta Schott Zamioculcas zamiifolia (Lodd.) Engl. Asparagaceae Sansevieria trifasciata hort. ex Prain Sansevieria masoniana Chahin. Asteraceae Helianthus annuus L. Boraginaceae Cordia trichotoma (Vell.) Cactaceae Acanthocereus tetragonus (L.) Hummelinck Opuntia cochenillifera DC. Cannaceae Canna x generalis L.H. Bailey Celastraceae Euonymus japonicus L. Commelinaceae Commelina erecta L. Tradescantia pallida (Rose) D.R.Hunt Tradescantia spathacea Sw. Fabaceae Erythrina variegata L. Sesbania punicea (Cav.) Benth Lamiaceae Solenostemon scultellarioides L. Malvaceae Hibiscus rosa-sinensis L. Portulaceae Portulaca grandiflora Hook. Rosaceae Rosa x grandiflora Lindl. Rubiaceae Gardenia jasminoides Retz. Turneraceae Turnera subulata Sm.
Boa-noite Buquê-de-noiva Jasmim-manga
Sub Arv Arv
C E N
1,00 1,20 1,57
Antúrio Tinhorão
Erv Erv Erv Erv
E N N N
1,00 1,00 1,00 1,40
Erv
E
1,00
Espada-deSão-Jorge -
Erv
E
1,00
Erv
E
1,00
Girassol
Arb
C
1,14
Frei Jorge
Arv
N
1,00
Cacto Palma-doce
Sub Sub
N N
1,00 1,60
-
Sub
N
1,00
-
Arb
E
1,50
Coração roxo -
Erv Erv Erv
N E E
1,00 1,00 1,00
Pau-brasil -
Arv Arv
E N
2,00 2,00
Coraçãomagoado
Erv
E
1,28
Hibisco
Sub
E
1,00
Onze-horas
Erv
N
1,62
Rosa
Erv
E
1,33
Jasmim branco
Arb
E
1,75
Xanana
Arb
N
1,00
Comigoninguém-pode -
As famílias botânicas que mais se destacaram (Fig. 1) foram Araceae (5 spp.) seguidas por Agavaceae e Apocynaceae (4 spp. cada) e Commelinaceae (3 spp.). Sobre o hábito das espécies, destacou-se o herbáceo (42,42%), seguido pelo subarbustivo (27,28%), arbustivo e arbóreo (15,15%, cada). O destaque para o hábito herbáceo se relaciona à facilidade de cultivo em jarros e acomodação no ambiente das residências, além do uso de pouca água para cultivo. Enquanto à origem, destacaram-se as espécies exóticas (51,52%), seguidas pelas nativas (39,39%), cultivadas (6,06%) e naturalizadas (3,03%). Na comunidade, as plantas que surgem naturalmente na vegetação nativa ou nos quintais, quando vistosas pelas cores ou características são removidas do local de origem e plantadas em vasos ou pequenos sacos plásticos, podendo contribuir com o processo de domesticação de espécies por atividade humana. Reportes sobre a domesticação de plantas em quintais agroflorestais não são recentes, Harris (1986) argumenta sobre a hipótese que os quintais agrloflorestais tenham funcionado como importantes espaços de
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domesticação de plantas por ação e seleção humanas. Segundo Brito e Coelho (2000) e Murrieta e Winklerprins (2003) as mulheres desempenham um importante função nesse processo, sinalizando que o gênero feminino está mais envolvido no processo de manejo dos quintais do que o gênero masculino (Voeks, 2007).
Fig. 1 - Famílias botânicas com maior destaque em número de espécies ornamentais na comunidade Franco, Cocal, Piauí.
O número de espécies ornamentais reportadas nesse estudo etnobotânico é considerado menos diverso quando comparado com outros estudos etnobotânicos sobre plantas ornamentais em quintais urbanos. Segundo Moura e Andrade (2007), tal situação pode estar relacionada ao processo de modernização e implicações inseridas no contexto, sugerindo que há um aumento da diversidade de espécies ornamentais no sentido rural-urbano. As espécies mais frequentes nos quintais foram Catharanthus roseus, Dieffenbachia picta, Sansevieria trifasciata, Acanthocereus tetragonus, Opuntia cochenillifera e Portulaca grandiflora. Muitas espécies são cultivadas com vários propósitos, além da finalidade ornamental, algumas delas (D. picta e S. trifasciata, por exemplo) são cultivadas para proteção do ambiente, como inseticida e usos místico-religiosos. Martins (1998) argumenta que o cultivo de plantas com múltiplos usos é uma das principais características no momento de escolha de espécies que compõe um quintal. Além disso, a diversidade de espécies na comunidade é influenciada pelos recursos hídricos, a qual, segundo os informantes, o número de espécies na comunidade está diminuindo como resultado da pouca água disponível. Assim, preferem evitar a competição do uso de água, utilizando-a em outras atividades consideradas mais importantes, como o preparo de alimentos, lavagem de roupas e outras utilidades diretamente relacionadas à sua sobrevivência. Quanto à disposição das espécies nos quintais, essas apresentam uma disposição regular, localizando-se principalmente ao redor da casa e aos lados da residência, com função estética. Alguns informantes salientaram também que tal organização espacial ameniza o clima, tornando o ambiente residencial mais ameno frente às altas temperaturas e ao calor excessivo. Neste sentido, tornou-se perceptível que as populações rurais são detentores de um rico conhecimento empírico, as quais têm aplicado tal saber como modo adaptativo frente às mudanças climáticas (The Nature Conservancy, 2015). Entre os informantes, há um consenso quanto aos benefícios do cultivo de plantas ornamentais nos quintais rurais. “Bem-estar, espaço bonito, ambiente e clima agradáveis” são as palavras que mais lhes vêm à mente ao falarem dos benefícios das plantas ornamentais nos quintais. Entre alguns, há a prática de “falar” com as plantas quando estão com alguma dificuldade pessoal e/ou como um diálogo rotineiro que se vê presente na vida de muitos, contribuindo ao bem-estar interior. Segundo Diniz e Koller (2010), relações
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entre a pessoa e o ambiente podem gerar vínculos, entre elas o afeto, resultado de cognições positivas (Giuliani, 2004). As espécies com maiores VU´s foram E. variegata e S. punicea (VU = 2,00; cada). No entanto, os altos valores VU´s encontrados para as espécies não sugerem um potencial ornamental e econômico, uma vez que houve um grande número de citações de usos para ambas as espécies e um baixo número de informantes que citaram as etnoespécies, gerando VU´s altos. Contudo, discussões sobre o VUpotencial e VUatual (Rossato, Leitão-Filho & Begossi, 1999) para as espécies aumentariam as possibilidades de uso e manejo sobre essas na comunidade, não somente com propósitos ornamentais, mas também como recursos medicinais e outros. CONCLUSÕES Os quintais na comunidade Franco são espaços de cultivo de plantas ornamentais, a diversidade se vê influenciada por diversos fatores, entre eles a disponibilidade de água. A variedade de espécies contribui ao bem-estar dos informantes através de suas práticas tradicionais, funcionando inclusive como uma estratégia de adaptação frente às mudanças climáticas. Em adição, esses espaços podem atuar como verdadeiros ambientes de domesticação de espécies mediante seleção humana. AGRADECIMENTOS Aos moradores da comunidade Franco pelas valiosas informações compartilhadas, pela atenção e receptividade ao longo da pesquisa, à UFPI pela Bolsa de Iniciação Científica Voluntária-ICV concedida ao primeiro autor e pela possibilidade de uso de sua infraestrutura no CMRV. REFERÊNCIAS Aguiar, L. C. G. G., & Barros, R. F. M. (2012). Plantas medicinais cultivadas em quintais de comunidades rurais no domínio do cerrado piauiense (Município de Demerval Lobão, Piauí, Brasil). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 14(3), 419-434. Albuquerque, U. P., & Lucena, R. F. P. Métodos e Técnicas para a Coleta de Dados. In: Albuquerque UP, Lucena RFP (Orgs.). Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobotânica. Recife: NUPEEA; 2004; pp. 37-62. Amorim, A. N., Carvalho, D. B., & Barros, R. F. M. (2015). Vinculação afetiva a quintais urbanos do Nordeste Brasileiro. Espacios, 36(16), 5. Amorozo, M. C. M. Agricultura tradicional: espaços de resistência e o prazer de plantar. Em: Albuquerque UP, Alves AG, Silva ACB, Silva VA (Orgs.). Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Recife: Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia; 2002; pp. 123-131. APG – Angiosperm Phylogeny Group III. An update of the Angiosperm phylogeny group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. (2009). Botanical Journal of the Linnean Society, 161, 105121. doi: 10.1111/j.1095-8339.2009.00996.x Batista, K. T., Andrade, R. R., Bezerra, N. L. (2012). O papel dos comitês de ética em pesquisa. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 27(1), 150-155. Bisol, C. A. (2012). Estratégias de pesquisa em contextos de diversidade cultural: entrevistas de listagem livre, entrevistas com informantes-chave e grupos focais. Estudos de Psicologia, 29, 719-726.
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em:
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e
Estatística/Cidades.
Disponível
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ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
RELAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES HUMANAS, CONHECIMENTO E USO DE HERBÁCEAS: UMA REVISÃO A LUZ DA ETNOECOLOGIA Josiene Maria Falcão Fraga dos Santos1*, Bruno Ayron de Souza Aguiar2, Ulysses Paulino de Albuquerque3, Elcida de Lima Araújo2 1
Núcleo de Biologia, UNEAL, Rodovia Eduardo Alves da Silva, Km 3, Bairro Graciliano Ramos, Palmeira dos índios, Alagoas, Brasil; 2Departamento de Biologia, Programa de Pós-Graduação em botânica, UFRPE, Rua Manoel de Medeiros s/n, Recife, Pernambuco; 3Departamento de Biologia, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, UFPE, Av. Prof. Moraes Rego, Recife, Pernambuco. *Autor para correspondência:
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RESUMO As florestas secas estão sendo gradualmente convertidas em áreas antropogênicas alterando suas características biológicas. Estas florestas detêm elevada riqueza de herbáceas com alto potencial de uso. Todavia, a forma como o homem se relaciona com os recursos herbáceos, seja nas florestas naturais ou antropogênicas, tem sido pouco disseminadas no meio científico, gerando lacunas neste conhecimento. Assim, pretendeu-se mostrar um panorama sobre conhecimento e uso de herbáceas, realizando um levantamento bibliográfico resgatando trabalhos de florestas secas publicados entre 2000 e 2012. Como critério de seleção 25 trabalhos foram selecionados, a maioria com distribuição no Brasil e México. Entre as famílias herbáceas mais conhecidas e utilizadas estão Fabaceae e Poaceae, que possuem elevado número de espécies distribuído nas florestas tropicais secas quentes. A subestimação na diversidade botânica das herbáceas úteis, diante de sua elevada diversidade, pode estar relacionada à falta de identificação das espécies ou divulgação de listas com nomes vernaculares. Palavras-chave: semiárido, ervas, homem-recurso vegetal INTRODUÇÃO As florestas secas têm sido bastante alteradas devido às ações antrópicas. Essas formações são consideradas as mais ameaçadas do planeta (Janzen, 1997) estando erroneamente associada à ideia de improdutividade, e como menor fonte de recursos (Albuquerque & Andrade, 2002). No entanto, são detentoras de uma elevada riqueza florística (Sampaio et al., 2002), sobretudo de herbáceas (Araújo et al., 2007), com elevado potencial de uso (Santos et al., 2009). Nessas formações vegetacionais, a regeneração natural tem apontado ocorrência de alterações nas características das comunidades vegetais, principalmente em termos de composição de espécies que afetam as atividades produtivas humanas (Drumond et al., 2004; Sá & Silva, 2009; Duarte et al., 2009). Essas atividades podem ser as únicas fontes de recursos ou fazem parte da cultura da comunidade que reside no entorno desse conjunto vegetacional. Assim, os estudos etnoecológicos são importantes para entender as relações entre a comunidade humana e a dinâmica de uso dos recursos vegetais (Araújo et al. 2007). Muitos trabalhos mostram a importância dessa relação homem – recurso vegetal em zonas semiáridas, a maior parte destes se concentram no estrato lenhoso da vegetação. Os raros estudos etnobotânicos que consideram as herbáceas, geralmente têm foco no potencial terapêutico (Fret et al., 2000; Amorozzo, 2002; Almeida, 2004; Ayyanara & Ignacimuthu, 2005; Albuquerque, 2006; Khan & Khatoon, 2008; Alencar et al., 2010; Simbo, 2010; Ayyanara & Ignacimuthu, 2011; Balcazar, 2012; Shanmugam et al., 2012), negligenciando o potencial que o componente herbáceo tem em outras categorias de uso (Albuquerque & Andrade, 2002; Florentino et al., 2007; Schmidt et al., 2007; Santos et al., 2009; Massaroto, 2009). Embora exista uma relação direta entre as comunidades rurais de ambientes secos e o componente herbáceo, a ciência não tem dado importância merecida nesse campo de investigações que possam auxiliar
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na compreensão dos fatores envolvidos. Assim, cria-se uma grande lacuna relacionada à falta de conhecimento sobre a forma como as pessoas exploram os recursos herbáceos disponíveis. Por isso, nesta revisão, pretendeu-se mostrar um panorama sobre o conhecimento, uso de herbáceas e como esses recursos estão sendo utilizados. MATERIAL E MÉTODOS Para o desenvolvimento desta revisão, avaliou-se o conhecimento e uso de plantas herbáceas em florestas tropicais sazonais secas. Nestas áreas a temperatura média anual ultrapassa 17ºC e precipitação entre 250 a 2000 mm (Murphy & Lugo, 1986). Ema dição, considerou-se a classificação de Mooney et al. (1995), sendo estes ambientes tropicais possuindo vários meses de seca severa inferior a 100 mm de chuva (Pennington et al., 2006). Essas florestas secas recebem diferentes nomes e classificações regionais. No Brasil foram consideradas a caatinga, cerrado sensu lato, as florestas estacionais deciduais e algumas semideciduais. Não foi adotada uma classificação climática ou vegetacional única para abordagem dos trabalhos, pois os critérios, no método de classificação existente, transmite uma ideia de uniformidade nas variáveis ecológicas, sendo muito difícil que um modelo universal defina ou represente fielmente uma tipologia vegetacional. Uma vez que, as paisagens apresentam variações e particularidades locais e regionais. Inicialmente, o levantamento bibliográfico consistiu na busca de artigos, dissertações, teses, livros e capítulos de livros, com o objetivo de formar um banco de publicações, a partir das seguintes palavraschaves em diferentes combinações: “etnobotânica”, “ervas”, “plantas medicinais”, “uso e conhecimento de herbáceas”, “seleção de plantas”, “forrageiras”, “plantas úteis”, “caatinga”, “semiárido”, “zonas antropogênicas”, “áreas antropizadas”, “conhecimento tradicional”, “comunidade rural”, “categorias de uso”, “conservação da biodiversidade”, “plantas alimentícias”, “florestas secas”, “etnobotânica quantitativa”, “etnobotânica qualitativa”, “ecologia humana”, “biodiversidade florística”, “floresta secundária”, “produtos florestais não madeireiros”, “etnofarmacologia”, “uso sustentável”, “valor de uso”, “cerrado” e “savana”. Posteriormente essas palavras foram utilizadas no inglês e espanhol a fim de aumentar as chances de encontrar novos trabalhos. Em seguida, os trabalhos foram filtrados verificando quanto à presença de plantas herbáceas. No entanto, algumas publicações não informavam o hábito das plantas contidas em seu estudo, por isso, tiveram suas listas florísticas investigadas para detectar a presença de pelo menos uma herbácea. As publicações sem herbáceas foram excluídas do banco. Foram considerados os trabalhos publicados entre os anos 2000 e 2012, pois a partir dos anos 2000 ocorreu um aumento considerável no número de estudos em etnobotânica. A busca dos periódicos disponíveis na internet foi realizada através dos seguintes bancos de dados: Biological Abstract, Scirus, Scielo, Web of Science e Google. Esta revisão trouxe um panorama geral dos trabalhos que abordam o uso e conhecimento de recursos herbáceos, com a finalidade de ressaltar as regiões onde esses estudos estão sendo desenvolvidos. Além de versar sobre as principais famílias botânicas reconhecidas e utilizadas nessas regiões. DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS HERBÁCEOS Foram considerados 25 trabalhos sobre diversidade de herbáceas e sua importância como recursos para comunidades humanas (Tabela 1). A maioria dos artigos realizou uma abordagem em nível de comunidade vegetal (n=23; 92%), onde apenas dois focaram exclusivamente no componente herbáceo. A maioria das publicações sobre uso e conhecimento de plantas que englobaram herbáceas, em vegetação semiárida de clima quente, foi registrada na América do Sul. Essas publicações foram concentradas no Brasil (n=14; 56%), com destaque para a região nordeste, tornando o país o maior detentor dos avanços sobre o conhecimento científico nessa área. Por seguinte, o México apresentou maior publicação sobre uso, conhecimento de herbáceas e suas pesquisas concentradas em Oaxaca (Fret et al., 2000; Blanckaert et al., 2007; Pérez-Negrón & Casas, 2007; Jiménez-Valdés et al., 2010). Todos os países alvos são conhecidos por possuírem variedade de grupos étnicos ou comunidades distantes de grandes centros urbanos, denominadas de comunidades rurais (Albuquerque et al., 2012). O interesse dos pesquisadores em focar no conhecimento e uso de plantas tropicais pode ser movido pela proximidade das comunidades com as
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matrizes vegetacionais, que possuem uma vegetação diversa à disposição (Caldwell, 2007). Por exemplo, em uma revisão sobre ecologia e conservação de caatinga, Albuquerque et al. (2012) ressaltam que a maioria dos estudos etnobotânicos foram realizados em comunidades próximas ao fragmento de vegetação nativa. Essa vegetação serve como fonte de coleta de espécies vegetais com diversas finalidades. Assim, esses estudos têm contribuído na compreensão das demandas locais de recursos naturais necessários a sobrevivência. É importante destacar que, embora a região tropical concentre a maioria dos estudos sobre o uso de recursos vegetais para subsistência humana, as investigações sobre o componente herbáceo ainda são ínfimas. Em ambientes que exibem clima semiárido quente extratropical esse cenário é preocupante, pois foi resgatado apenas o trabalho realizado por Khan e Khatoon (2008), desenvolvido no Paquistão. Na América do Norte houve registro apenas no México (Pérez-Negrón & Casas, 2007). Na Oceania, com vegetação típica de savana, não houve registro de estudos etnobotânicos envolvendo o componente herbáceo. Publicações afirmam que o uso de medicamentos à base de plantas é uma alternativa em comunidades urbanas providas de infraestrutura bem desenvolvida, no entanto, não é a preferida. Nesse caso, as pessoas preferem medicamentos fornecidos pela indústria farmacêutica, pois acreditam que eles são avançados, eficientes, e fáceis de serem administrados, em virtude da falta de conhecimento sobre plantas medicinais (Caldwell, 2007). Assim, é provável que essa ideia seja um reflexo do comportamento de pessoas de países desenvolvidos, que também não fazem uso de plantas pelos mesmos motivos, entre outros. Esses dados apresentam um panorama geral dos locais onde estão concentradas as publicações científicas sobre o uso e conhecimento de plantas herbáceas. No entanto, estamos cientes que existem limitações no panorama apresentado, principalmente por que os bancos de dados na internet não disponibilizam gratuitamente alguns artigos. Além disso, algumas universidades não disponibilizam suas teses online, impedindo a divulgação de resultados valiosos para a evolução do conhecimento científico. Outro ponto é a ausência de identificação de espécies registradas nos levantamentos florísticos, sendo os trabalhos retirados da amostra.
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Tabela 1. Pesquisas etnobotânicas desenvolvidas em florestas tropicais secas que englobaram pelo menos uma espécie herbácea organizada de acordo com a localidade. Foi considerada apenas a riqueza florística das plantas úteis, com exceção dos trabalhos que forneceram apenas informações da diversidade florística local. Local da pesquisa Ásia Tirunelveli (Índia) Vale do Gilgit (Paquistão) Tirunelveli (Índia) Sivagangai (Índia) África Orome – Etiópia Gana (Leste da África) Babungo (Camarões) América Norte Oaxaca (Centro-México) Oaxaca (Centro-México) Oaxaca (Centro-México) Oaxaca (Centro-México) América do Sul Alagoinha - PE (Brasil) Alagoinha - PE (Brasil) Santo Antonio do Leverger – MT (Brasil) Região de Xingó (Brasil) Alagoinha - PE (Brasil) Alagoinha - PE (Brasil) Caruaru - PE (Brasil) Tocantins (Brasil) Goiás (Brasil) Altinho (Brasil) Altinho (Brasil)
Riqueza
Famílias mais importantes
Referência
54 98** 90 71**
Asteraceae Lamiaceae Fabaceae Amaranthaceae
Ayyanara & Ignacimuthu (2005) Khan & Khatoon (2008) Ayyanara & Ignacimuthu (2011) Shanmugam et al. (2012)
248 144 107
Poaceae Não informado Asteraceae
Gemedo-Dalle et al. (2005) Caldwell (2007) Simbo (2010)
Não informado 161 252 1
Não informado Poaceae Fabaceae Agavaceae
Fret et al. (2000) Blanckaert et al. (2007) Pérez-Negrón & Casas (2007) Jiménez-Valdés et al. (2010)
Não informado 75 228 187 34 e 30*** 48 84 1 358 79 79
Não informado Fabaceae Fabaceae Fabaceae Euphorbiaceae Não informado Euphorbiaceae Poaceae Fabaceae Fabaceae e Poaceae Fabaceae e Poaceae
Albuquerque &Andrade (2002) Albuquerque & Andrade (2002) Amorozzo (2002) Almeida (2004) Albuquerque et al. (2005) Albuquerque (2006) Florentino et al. (2007) Schmidt et al. (2007) Massaroto (2009) Santos (2009) Santos et al. (2009)
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Altinho (Brasil) Altinho (Brasil) Araripe - Flona - CE (Brasil)
61 231** 222**
Fabaceae e Lamiaceae Não informado Não informado
*Considerando o uso especificamente de espécies herbáceas. **Foram consideradas as etnoespécies. ***O valor representa a riqueza florística da área, sendo 34 na área preservada e 30 na antropizada.
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Alencar et al. (2010) Silva et al. (2011) Balcazar (2012)
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 FAMÍLIAS DE HERBÁCEAS CONHECIDAS E UTILIZADAS As famílias Fabaceae e Poaceae foram representativas, com nove e cinco citações, respectivamente (Tabela 1), amplamente distribuído nas florestas tropicais secas quentes (Costa et al., 2004; Carvalho et al., 2008; Santos, 2010). No Brasil, receberam sete e três citações, respectivamente. Estas apresentam elevado número de espécies nos inventários que consideram apenas o componente herbáceo, independente das características climáticas da floresta. As famílias botânicas mais importantes citadas do ponto de vista utilitário para as comunidades rurais são Asteraceae e Lamiaceae (Monteiro et al. 2010). Geralmente, essas duas famílias possuem muitos representantes de porte herbáceo e nos inventários etnobotânicos recebem indicações de usos populares, como recurso medicinal. Os trabalhos que consideraram exclusivamente o componente herbáceo (Tabela 1) retrataram parcialmente a realidade acima e revelaram a existência de uma grande diversidade entre as famílias úteis. As Poaceae, Agavaceae, Amaranthaceae e Lamiaceae receberam citações de uso. De acordo com Santos et al. (2009), Poaceae recebe destaque como forrageiras, informação importante do ponto de vista econômico para a região semiárida do Brasil, favorecendo a pecuária local, pois é comum a presença de animais domésticos, como bovinos, caprinos e ovinos (Giulietti et al., 2004). Uma revisão sobre produção de forragem utilizando herbáceas da caatinga reconhece o potencial pastoril das gramíneas, dentre essas, Poaceae e dicotiledôneas herbáceas (Pereira-Filho & Bakke, 2010). Se por um lado, Poaceae é amplamente utilizada em diversas regiões semiáridas (Gemedo-Dalle et al., 2005; Blanckaert et al., 2007), Agavaceae não tem a mesma notoriedade no cenário etnobotânico. No entanto, Agave marmorata é usada para satisfazer necessidades básicas, tais como alimentação e moradia nos estados mexicanos de Puebla e Oaxaca (Jiménez-Valdés et al., 2010). Os autores procuraram avaliar o impacto do manejo tradicional sobre a dinâmica de Agave marmorata, visando proporcionar bases para o gerenciamento e conservação da espécie dentro de seu habitat natural. Já Lamiaceae faz parte do grupo rico em espécies úteis, com compostos ativos associados ao tratamento de doenças (Stepp & Moerman, 2001), nos mais variados ambientes em áreas perturbadas (Bennet & Prance, 2000; Almeida, 2004). Nenhum artigo específico sobre uso de herbáceas registrou Asteraceae como a família mais importante. Entretanto, apenas Blanckaert et al. (2007) registraram Asteraceae como a segunda família com o maior número de espécie de importância utilitária, dentre elas, forrageira, medicinal, comestível, ornamental, doméstico. Quando foi considerado todo o universo de artigos considerados nessa revisão, os que trazem levantamentos etnobotânicos que consideraram também espécies lenhosas (Ayyanara & Ignacimuthu, 2005; Simbo, 2010), a família Asteraceae recebeu o maior número de citação de uso. Cabe aqui deixar claro que nesses trabalhos, as Asteraceae foram compostas basicamente por plantas herbáceas. Esses trabalhos consideraram apenas as plantas de uso medicinal (Ayyanara & Ignacimuthu, 2005; Simbo, 2010) e possuem atividade antibacteriana, tripanocida, antifúngica, citotóxica, anti-inflamatória, anti-malárica e antimicrobiana já relatada em várias comunidades (Monteiro et al. 2010). Muitas dessas propriedades são explicadas pela presença de terpenos específicos e lactonas sesquiterpênicas nas espécies de Asteraceae (Mathekga et al., 2000; Abdin et al., 2003; Drewes et al., 2006; Cheriti & Belboukhari, 2007). Um problema diagnosticado durante a revisão que pode contribuir para a subestimação na diversidade botânica das herbáceas úteis pode ser a falta de identificação de muitas espécies que os trabalhos apresentam. Alguns não trazem a informação porque realmente houve dificuldade na identificação, outros divulgam a lista de espécie com os nomes vernaculares. CONCLUSÕES Relativamente, poucos trabalhos sobre conhecimento e uso de herbáceas foram encontrados. Os trabalhos encontrados, em sua maioria, destinam-se a avaliar o uso medicinal, enquanto as categorias de uso “forrageiro”, “alimentício” e “tecnológico” têm recebido menos atenção. Esse registro pode sinalizar para um conhecimento limitado, sobretudo com o desenvolvimento das cidades que tem dado lugar cada vez maior a comunidades urbanas substituindo as comunidades rurais. Assim, o grande desafio dos
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 pesquisadores é encontrar maneiras de ajudar as comunidades a conservar a identidade cultural e o conhecimento tradicional sem comprometer a capacidade de compreensão global e comunicação. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, FACEPE e CAPES pelo auxílio financeiro para execução do trabalho. Todos os autores são gratos à UFRPE por todo apoio logístico. REFERÊNCIAS Albuquerque, U.P. & Andrade, L.H.C., (2002). Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, nordeste do brasil. Acta Botanica Brasilica 16, 3, 273-285. Albuquerque, U.P. & Andrade, L.H.C., (2002). Uso de recursos vegetais da caatinga, o caso do agreste do Estado de Pernambuco ,Nordeste do Brasil,. Interciencia 27, 007, 336-346. Albuquerque, U.P., Andrade, L.H.C., Caballero, J., (2005). Structure and floristics of homegardens in Northeastern Brazil. Journal of Arid Environments 62, 491–506. Albuquerque, U.P., Araújo, E.L., El-Deir, A.C.A, Lima, A.L.A., Souto, A., Bezerra, B.M., Ferraz, E.M.N., Freire, E.M.X., Sampaio, E.V.S.B., Las-Casas, F.M.G., Moura, G.J.B., Pereira, G.A., Melo, J.G., Ramos, M.A., Rodal, M.J.N., Schiel, N., Lyra-Neves, R.M., Alves, R,R,N., Azevedo-Júnior, S.M., Júnior, W.R.T. & Severi, W. (2012). Caatinga Revisited, Ecology and Conservation of an Important Seasonal Dry Forest. The ScientificWorld Journal. Albuquerque, U.P., (2006). Re-Examining Hypotheses Concerning the Use and Knowledge of Medicinal Plants, A Study in the Caatinga Vegetation of NE Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 2,30,, 1-10. Alcorn, J.B., (1995). The Scope and Aims of Ethnobotany in a Developing World pp 23-39. In, Schultes & Von Reis ,Org.,. Ethnobotany, Evolution of a Discipline. Dioscorides Press, Portland, Oregon. Almeida, C.F. (2004) Etnobotânica nordestina, estratégia de vida e composição química como preditores do uso de plantas medicinais por comunidades locais na caatinga. Dissertação. Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Amorozo, M. C. M. (2002). Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasilica 16,2, 189-203. Ayyanar, M. & Ignacimuthu, S. (2005). Traditional knowledge of Kani tribals in Kouthalai of Tirunelveli hills, Tamil Nadu, India. Journal of Ethnopharmacology 102, 246–255. Araújo, E.L., Castro, C.C., Albuquerque, U.P. (2007). Dynamics of Brazilian Caatinga – A review concerning the plants, environment and people. Functional Ecosystems and Communities 1, 15-28. Ayyanar, M. & Ignacimuthu, S. (2011). Ethnobotanical survey of medicinal plants commonly used by Kani tribals in Tirunelveli hills of Western Ghats, India. Journal of Ethnopharmacology 134, 851–864. Balcazar, A. L. (2012). Hipótese da aparência na dinâmica do uso de plantas medicinais na floresta nacional do araripe ,Ceará, nordeste do Brasil,. Dissertação. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. Blanckaert, I., Vancraeynest, K., Swennen, R.L., Espinosa-García, F. J., Piñero, D. & Lira-Saade, R. (2007). Non-crop resources and production of Mexico. Agriculture, Ecossystems and Environment 119,39-48. Caldwell, K.I. (2007). Assigning medicinal plant value and estimating traditional environmental knowledge in ghana, africa using ethnobotanical measures. Carvalho J. C. T. & Almança C. C. J. Formulário de prescrição fitoterápica. Editora Atheneu, São Paulo. (2003). Costa, I.R., Araújo, F.S. & Lima-Verde, L.W. (2004). Flora e Aspectos Auto-Ecológicos de um encrave De Cerrado na Chapada do Araripe, Nordeste do Brasil. Acta Botânica Brasilica 18,4,759-770. Drumond, M.A., Kill, L.H.P., Lima, P.C.F., Oliveira, M.C., Oliveira, R. V., Albuquerque, S.G., Nascimento, C.E.S. & Cavalcanti, J. (2004). Estratégias para o uso sustentável da biodiversidade da caatinga. pp. 329340. In, J.M.C. Silva, M. Tabarelli, M.T Fonseca & L.V Lins ,org.,. Biodiversidade da caatinga, áreas e
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
USO E MANEJO LOCAL DE (Copernicia prunifera) [MILLER] H. E. MOORE NA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ, LESTE MARANHENSE Leilane de Carvalho e Sousa1,2*, Thâmara Kaliny Bezerra da Silva1,2, Alyson Luis Santos de Almeida2,3, Júlio Marcelino Monteiro2,3, José Ribamar de Sousa Júnior 2,3 1
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 2Laboratório de Etnobiologia e Conservação (LECON), 3Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS. *Autor para correspondência, e-mail:
[email protected]
RESUMO Objetivou-se investigar a relação das pessoas com a carnaúba (C. prunifera) a partir de uma perspectiva etnobotânica, em uma comunidade da região do Barão de Grajaú-MA. Por meio de roteiros semiestruturados, foram entrevistados vinte e cinco coletores locais da carnaúba, os quais compuseram a amostra por serem considerados especialistas locais. Os resultados indicaram que a folha foi a parte mais utilizada, seguida pelo uso madeireiro do caule e fruto, o qual é usado na alimentação. A extração das folhas para obtenção do pó produção da cera são as principais formas de beneficiamento da carnaúba. Isso está relacionado com a grande importância econômica da espécie. Esta pesquisa, portanto, caracterizou os aspectos etnobotânicos do uso e manejo de C. prunifera, indicando, portanto, a forte relação que as pessoas locais vêm mantendo ao longo do tempo com a espécie, a qual está expressa na importância cultural e econômica da carnaúba. Palavras-chave: etnobotânica, conhecimento local, carnaúba INTRODUÇÃO O uso de recursos vegetais por populações humanas é uma prática que pode envolver vários fatores tais como culturais, econômicos, ecológicos etc. Nesse contexto, o conhecimento botânico local pode contribuir para o acesso e identificação dos fatores relacionados ao uso de plantas por populações humanas. Vários estudos etnobotânicos têm demonstrado a importância do conhecimento botânico local para diversas finalidades a partir da análise de categorias de uso. Dentre as várias categorias de uso que podem ser consideradas, o uso alimentício tem sido o mais recorrente em estudos com plantas arbóreas frutíferas. Santos et al. (2009) indicaram que a Acca sellowiana [Berg] Burret possuem frutos de grande importância de usos para populações humanas locais, sendo um recurso potencial para uso alimentício. Estudo etnobotânico realizado por Lins Neto et al. (2010) sobre umbu (Spondias tuberosa Arruda) apontou a categoria alimentícia como a mais importante para o uso. De acordo com Sousa Júnior et al. (2013) o fruto do pequizeiro (Caryocar coriaceum Wittm) também se destaca quanto a categoria de uso alimentício. No entanto, nem sempre o fruto é a parte da planta que se destacada em detrimento dos demais usos. Algumas espécies, embora não arbóreas, apresentam estrutura vegetativas (como folhas e raízes, por exemplo) como a parte mais utilizada por populações humanas locais. Neste cenário, entender quais motivos levam ao uso de determinada estrutura vegetal em relação aos demais pode ajudar na compreensão dos fatores culturais relacionados à seleção de plantas para uso. Diante disso, a carnaúba (Copernicia prunifera) [Miller] H. E. Moore se apresenta como um adequado objeto de estudo etnobotânico. A carnaúba é uma palmeira nativa do Nordeste do Brasil, cujo extrativismo é intenso em especial pelo uso artesanal da folha da carnaúba (Sousa et al., 2015).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Assim, objetivou-se caracterizar o conhecimento, usos e manejo de C. prunifera (carnaúba), além de investigar a relação entre populações humanas locais e esta espécie. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado na comunidade rural Bem Quer, na região do município de Barão de Grajaú, leste do estado do Maranhão, situada nas proximidades da margem maranhense do rio Parnaíba e abriga várias famílias extratoras da carnaúba. Com altitude de 108 metros e vegetação de caatinga, a região de Barão de Grajaú tem aproximadamente 18 mil habitantes e tem como cidade vizinha o município piauiense de Floriano. Para caracterizar o conhecimento, uso e manejo local de C. prunifera, métodos de investigação etnobiológica foram utilizados, a partir de abordagens quantitativas e qualitativas. Assim foram realizadas, a priori, reuniões com membros da comunidade alvo desta pesquisa, a fim de esclarecer quais as intenções do estudo a ser desenvolvido, a partir da técnica rapport (Amorozo e Viertler, 2010). Metodologias participa tivas, tais como reuniões e mapeamento comunitário (Sieber e Albuquerque, 2010), foram aplicadas para acessar os locais de coleta e manejo de carnaúba na região pelos grupos humanos locais. Neste contexto, para acessar o conhecimento local sobre as principais formas de uso e manejo da espécie foi requerida jun to aos colaboradores (pessoas das comunidades) suas devidas anuências por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), de acordo com as resoluções Nº 466/12 e 510/2016. Assim, este trabalho de pesquisa foi submetido à plataforma Brasil (CAAE, 17128213.9.0000.2) para os procedimentos éticos relacionados à pesquisa com seres humanos, seguindo as resoluções supracitadas da Co missão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Considerando que as pessoas entrevistadas são aquelas que tiverem maior contato (especialistas) com a carnaúba (C. prunifera), foi aplicada uma amostragem não probabilística do tipo intencional, isto é, os entrevistados que compuseram a amostra para as entrevistas foram os que fazem uso direto de alguma estrutura da carnaúba. Quando necessário para complementar a amostra, a técnica da bola de neve (Bailey, 1994) foi aplicada ao final de cada entrevista, perguntando se o entrevistado conhecia outra pessoa da comunidade que detinha um conhecimento mais abrangente sobre a palmeira em estudo. As entrevistas foram feitas com base em roteiros semiestruturados (Albuquerque et al., 2010). Para complementar essas informações, os participantes foram questionados se percebem diferenças fenotípicas em relação às estruturas da carnaúba usadas e conhecidas, tais como frutos, folhas, raízes, etc. Um total de 25 pessoas foi entrevistado, sendo todos do gênero masculino. As entrevistas foram tabuladas e analisadas no Laboratório de Etnobiologia e Conservação, o qual está inserido no Laboratório de Biologia Aplicada (LABAP) da UFPI, campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano-PI. Para análise dos dados foi utilizado o software Excel. Este estudo é parte do trabalho de Iniciação Científica do primeiro autor. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os entrevistados citaram a utilização de carnaúba, sendo a folha (palha) a estrutura vegetal com mais indicações de uso, seguido pelo caule (estipe) e fruto. Dentre as citações de uso da folha, 100% dos entrevistados indicaram a retirada do pó a partir da palha, sendo esse o principal beneficiamento da carnaúba, de acordo com os informantes. O pó serve para produzir um tipo de cera, que por sua vez é utilizada para fabricação de velas, chips, cápsulas de remédios, dentre outras aplicações. Além desse beneficiamento, as folhas servem também, de acordo com as entrevistas, para confecção de vassouras (70% das citações), adubação (11%), artesanato (9%) e cobrir casas (8%). A madeira é tradicionalmente utilizada na construção de casas, especialmente taipa de mão. Contudo, segundo os informantes, esse uso está em decadência. O fruto, por sua vez, serve de alimento para os animais (2% das citações). Quanto às formas de manejo, a coleta das palhas (folhas) de carnaúba é a principal e de acordo com os entrevistados não há a prática de plantio da espécie na localidade. As populações de C. prunifera da região ocorrem naturalmente. O período de coleta das palhas vai de julho até setembro e envolve pelos
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 menos cinco pessoas nessa atividade, segundo as entrevistas. Foi possível ainda obervar que as pessoas percebem diferença entre as folhas maduras e as folhas jovens da carnaúba (estas últimas chamadas de “olho”) quanto à produção de pó, sendo as folhas jovens mais produtivas, mais caras que as demais e preferida pelos compradores. A quantidade coletada por ano varia entre 100 mil a 500 mil folhas, dependo do esforço de coleta do extrator e da atividade de coleta do ano anterior. O mesmo vale para a quantidade de palhas coletadas por dia, que varia entre 10 a 20 mil. Para se extrair 1 kg de pó é necessário 1.000 palhas, de acordo com 60% dos entrevistados. O valor do pó varia entre R$ 2,50 a 6,00 e todos os produtos derivados dele são produzidos por fabricantes locais, o que aponta os coletores como primeiro elo da cadeia produtiva do pó da carnaúba. Atualmente a produção de cera está centrada em alguns fabricantes da região, mas no passado as pessoas locais realizam tal produção. A importância econômica de C. prunifera é o fator preponderante para o forte extrativismo e manejo dessa espécie. CONCLUSÕES Com base nesses resultados foi possível identificar que os coletores locais de carnaúba estabelecem relações estreitas com essa planta. A prática de coleta das palhas da carnaúba é uma atividade importante para as pessoas locais, apesar de ser trabalhosa. A importância econômica da espécie é o fator que mantém o uso e manejo da carnaúba. Os dados dessa pesquisa poderão subsidiar estratégias de manejo e conservação de populações de C. prunifera, bem como estudo etnobiológicos futuros. AGRADECIMENTOS Aos moradores da comunidade Bem Quer que participaram do presente estudo. À direção do campus Amílcar Ferreira Sobral (UFPI-CAFS), pelo apoio logístico. REFERÊNCIAS Amorozo, M. C. M., Viertler, R. B. (2010) A abordagem qualitativa na coleta e análise de dados em etnobiologia e etnoecologia p.67-82 in: ALBUQUERQUE, U. P., LUCENA, R. F. P.; e CUNHA, L. V. F. C., (Eds.). Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica. Editora NUPEEA. Recife, Brazil. Albuquerque, U. P., Lucena, R. F. P., Alencar, N. (2010.) Métodos e Técnicas para coleta de dados etnobiológicos p. 41-64 in: ALBUQUERQUE, U. P., LUCENA, R. F. P.; e CUNHA, L. V. F. C.,(Eds.). Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica. Editora NUPEEA. Recife, Brazil. Albuquerque, U.P., Ramos M.A.; Lucena R. F. P., Alencar N. L. (2014). Methods and techniques used to collect ethnobiological data. In: Albuquerque U.P., Cunha L.V.F.C., Lucena R.F.P., Alves R.R.N. (eds) Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology, 1st edn. Springer, New York, pp 15–37. doi:10.1007/978-1-4614-8636-7. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cidades@ (2016). Acesso em 27/07/2017 http://cod.ibge.gov.br/4JS Lins Neto, E. M., Peroni, N., Albuquerque, U. P. (2010) Traditional Knowledge and Management of Umbu (Spondias tuberosa, Anacardiaceae): An Endemic Species from the Semi–Arid Region of Northeastern Brazil. Economic Botany, 64(1), 11-21. Santos, K. L., Peroni, N., Guries, R. P., Nodari, R. O. (2009) Traditional Knowledge and Management of Feijoa (Acca sellowiana) in Southern Brazil. Economic Botany, v63(2), 204-214.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Sousa, R. F.; Silva, R. A. R.; Rocha, T. G. F.; Santana, J. A. S.; Vieira, F, A. (2015) ETNOECOLOGIA E ETNOBOTÂNICA DA PALMEIRA CARNAÚBA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO. CERNE. 21(4),587-594. Sousa Júnior, J.R.; Albuquerque, U. P.; Peroni, N. (2013) Traditional Knowledge and Management of Caryocar coriaceum Wittm. (pequi) in the Brazilian Savanna northeastern Brazil. Economic Botany 67, 225– 233. Sieber, S. S., Albuquerque, U. P. (2010) Métodos Participativos na Pesquisa Etnobiológica. Páginas 85-106 in U. P. Albuquerque, R. F. P. Lucena, e L. V. F. C. Cunha, eds., Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica. Editora NUPEEA. Recife, Brazil.. Sousa Júnior, J.R., Collevatti, R.G., Lins Neto, E. M. F., Peroni, N., Albuquerque, U. P. (2016) Traditional management affects the phenotypic diversity of fruits with economic and cultural importance in the Brazilian Savanna. Agroforestry Systems, p. 1-11,. doi 10.1007/s10457-016-0005-1
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS, MARANHÃO, BRASIL Maria Lindalva Alves da Silva1,*, Maria de Fátima Veras Araújo2, Gonçalo Mendes da Conceição3 1
Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias - MA; 2Centro de Ciências da Natureza (CCN),UESPI, Campus Poeta Torquato Neto, Teresina - PI; 3Programa de PósGraduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias - MA e-mail:
[email protected]
RESUMO O Parque Nacional da Chapada das Mesas foi criado para suprir demanda socioambiental e preservar atri butos naturais e belezas cênicas, sendo delimitado em áreas onde tem a presença de comunidades tradicionais. Nesta perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi realizar o levantamento de espécies vegetais de uso medicinais utilizadas pelas comunidades tradicionais. A pesquisa é do tipo descritiva com abordagem quanti-qualitativa. Como procedimento metodológico, utilizou-se aplicação de formulário com questões fechadas e abertas. O resultado apontou que as espécies botânicas indicadas pelos moradores foram consultadas em checklist de sites especializados para identificação do nome científico e família botânica. Os moradores informaram 57 espécies botânicas medicinais, divididas em 31 famílias com destaque para família Fa baceae com 10 espécies. O levantamento mostrou que a cultura das gerações passadas se mantém viva na região seguida pelos seus descendentes com a prática de uso de plantas medicinais no tratamento de enfermidades. Palavras-chave: Espécies vegetais, Fabaceae, Levantamento INTRODUÇÃO O Parque Nacional da Chapada das Mesas (PNCM) foi criado a partir da mobilização de seguimentos sociais do município de Carolina/MA, que reivindicavam a preservação de atributos naturais, entre elas, as cachoeiras da Prata e do São Romão, as belezas cênicas do lugar (morrarias) e a diversidade de espécies florísticas e faunísticas. A região onde foi instituída a Unidade de conservação (UC) tem a presença de moradores que vivem na região da Chapada das Mesas antes da instituição da referida UC, conhecidas como comunidades tradicionais. Segundo Neste contexto, Amorim et al. (2003), o uso de plantas na medicina popular ou fitoterápica sofreu a influência cultural dos europeus, indígenas e africanos, povos responsáveis pela colonização do território brasileiro. Neste contexto, faz-se necessário realizar o levantamento de espécies vegetais de uso medicinais pelos moradores das comunidades tradicionais do interior e entorno do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão. MATERIAL E MÉTODOS O Parque Nacional da Chapada das Mesas (Figura 1), está localizado sob as Coordenadas 7º19’0’’ S e 47º 20 ’06’’ W. Abrange os municípios de Carolina, Riachão e Estreito na Mesorregião Sul do estado do Maranhão. É uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, criada pelo Decreto Federal s/n de 12 de dezembro de 2005. Segundo Silva et al. (2003) e Goes (1995), o Parque está localizado na Província de Parnaíba/PI de acordo com seus aspectos geológicos.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 A pesquisa foi submetida ao Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) com o número 54126-1, ao Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Estudos Superiores da Universidade Estadual do Maranhão (CEP/CESC/UEMA) com o número 57683316.5.0000.554, além Anuência de Consentimento Livre e Esclarecido junto aos moradores. A metodologia constou-se de uma abordagem quanti-qualitativa de cunho descativa junto a 40 dos 130 domicílios do entorno e interior do PNMC de acordo com a Nota Técnica nº 001/2016. Com aplicação de formulário com questões fechadas e abertas com base nos estudos de Boente, Braga (2004) e Marconi, Lakatos (2009). O formulário continha as seguintes informações: Se os moradores utilizam plantas no tratamento de doenças; indicar o nome vulgar das plantas usadas como medicinais; frequência do uso das plantas; quais as partes da planta mais utilizadas e as principais formas de uso. As espécies botânicas indicadas pelos moradores foram consultadas em checklist de sites especializados para identificação do nome científico e família botânica.
Figura 1. Mapa de localização do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão, Brasil. Direito autoral: MMA, 2015. Organização: SILVA, W.F.N., 2016. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 40 domicílios pesquisados, 38 estão localizados no município de Carolina e dois no município de Riachão. Durante a realização da pesquisa foram indicadas pelos moradores do Parque Nacional da Chapada das Mesas, 57 espécies vegetais distribuídas em 31 famílias botânicas. As famílias mais representativas foram: Fabaceae (10 spp.), Arecaceae, Lamiaceae (5spp.), Myrtacea e Rutaceae com (3 spp.), respectivamente. Tabela 1. Lista de espécies vegetais nativas e cultivadas em quintais usadas no tratamento de doenças pelos moradores do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão, Brasil. Família Anacardiaceae Apiaceae Apocynaceae
Nome científico Myracrodruon urundeuva Allemão
Nome vulgar Aroeira
Mangifera indica L.
Mangueira
Pimpinella anisum L. Hancornia speciosa Gomes
Erva doce Mangabeira
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017
Arecaceae
Boraginaceae Amaranthaceae Asphodelaceae
Oenocarpus bacaba Mart. Butia capitata (Mart.). Becc. Mauritiella armata (Mart.). Burret Cordia ecalyculata Vell Cordia trichotoma (Vell.). Arráb. ex Steud. Chenopodium ambrosioides L. Aloe vera (L.) Burm.F. Tabebuia roseoalba (Ridl.). andwith
Bignoniaceae
Amaranthaceae Cactaceae Caryocaraceae Clusiaceae Cucurbitaceae
Bacaba Coquinho azedo Buritirana Café-de-bugre Pau loro Jacarandá Babosa Pau d’arco
Jacaranda cuspidifolia Mart
Jacarandá
Chenopodium ambrosioides L. Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Luetzelb. Caryocar coriaceum Wittm Platonia insignis Mart. Cucurbita pepo.L.
Mastruz Cabeça de frade Pequi Bacuri Abóbora
Combretaceae
Terminalia argentea Mart.
Capitão do mato
Euphorbiaceae
Sebastiania brasiliensi Spreng. Hymenaea courbaril L. Caesalpinia pyramidalis Tul. Erythrina velutina Willd. Copaifera coriacea Mart. Parkia pendula (Willd.) Benth. Ex. Walp.
Pau-de-leite Jatobá Catinga de porco Mulungu Copaibeira
Anadenanthera macrocarpa (Benth.). Brenan
Angico
Fabaceae
Tamarindus indica L. Bowdichia virgilioide Kunt Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville
Sclerolobium aureum (Tul.) Baill. Krameriaceae Lamiaceae
Krameria tomentosa A. St. Hil. Mentha arvensis L. Plectranthus barbatus Andrews
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Fava de bolota
Tamarindo Sucupira Barbatimão Tartarema Carrapicho-de-boi Hortelã Boldo
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Rosmarinus officinalis L. Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.
Alecrim Umburana
Vitex cymosa Bertero ex Spreng
Tarumã
Laurus nobilis L.
Loro
Lauraceae Cinnamomum verum J. Presl. Asphodelaceae Malpighiceae Malvaceae Meliaceae Moraceae Myristicaceae
Canela
Aloe vera (L.) Burm. F.
Babosa
Byrsonima basiloba (L.) Kunth Luehea divaricata Mart. Cedrela fissilis Vell. Brosimum gaudichaudii Trécul. Ficus adhatodifolia Schott ex Spreng.
Murici Açoita-cavalo Cedro Inharé
Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb.
Gameleira Mucuíba
Caryophyllus aromaticus (L.) Merr. & L.M. Perry
Cravo-da-índia
Psidium guajava L.
Goiabeira
Plinia cauliflora (DC.) Kausel
Jabuticaba
Sesamum indicum L. Cymbopogon citratus (DC.) Staph Zea mays L. Roupala montana Aubl. Cinchona calisaya Wedd. Citrus reticulata Blanco Citrus aurantium L.
Gergelim Capim santo Milho Carvalho Quina Tangerina Laranjeira
Myrtaceae
Pedaliaceae Poaceae Proteaceae Rubiaceae
Rutaceae
Citrus limettioides Tanaka Lippia alba (Mill.) N. E. Br.
Resaceae
Rosa canina L.
Zingiberaceae
Zingiber officinale Roscoe
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Limoeiro Erva cidreira Caninana Gengibre
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Curcuma longa L.
Açafrão
Fonte: Silva, M.L. A (2016). De acordo com as comunidades pesquisadas, 100% dos investigados informaram que fazem uso de plantas medicinais no tratamento de enfermidades, sendo uma prática recorrente de todos os moradores, quando sentem algum mal-estar. Segundo Lima et al. (2017), o uso de plantas no tratamento de doenças se tornou um instrumento muito utilizado pelas populações humanas há varias gerações. Sobre a frequência de uso contínuo das plantas medicinais, 33 (82,5%) afirmaram que sempre utilizam e sete (22,5%) responderam às vezes. Em estudo realizado por Carvalho, Conceição (2015), em áreas de atenção à saúde em bairros periféricas do município de Caxias/MA, revelou que 92,8% dos pesquisados fazem o uso contínuo de plantas medicinais no tratamento de doenças. Estes dados vêm corroborar com os da pesquisa, onde se constatou que a cultura de se utilizar plantas é uma alternativa ao tratamento de doenças em populações tradicionais. Segundo Amorozo (2002), essas práticas de utilização de plantas medicinais se tornam uma alternativa para a população de comunidades tradicionais no tratamento de doenças. O uso de plantas medicinais nas comunidades do Parque Nacional é uma cultura herdada pelos seus colonizadores da etnia indígena, uma vez que a crença dos moradores é que as plantas medicinais têm um grande potencial de cura. Quantos as principais formas de preparos, os investigados responderam que 77,5% utilizam a garrafada e 50% o chá. Para Hamilton (2004), Lorenzi e Matos (2008), o uso das plantas medicinais ajuda na recuperação da saúde das pessoas desde a sua forma mais simples até ao processamento da forma farmacológica. Os moradores relataram que a garrafada e o chá são formas são receitas simples de fazer. As comunidades do interior da Unidade de Conservação mantêm a tradição da fabricação de garrafadas no tratamento de algumas enfermidades como bronquites, asma, problemas intestinais, estomacais, mau funcionamento renal, entre outras doenças e o uso de chás como medida de primeiros socorros quando algum membro de seu grupo familiar sente mal-estar. Os moradores utilizam a folha, raiz, casca, semente na forma de garrafa ou chá. Segundo Balbinot et al.(2013) e Messias et al. (2015), a diversidade nas plantas de uso medicinal conhecidas por pessoas com mais idade nas comunidades tradicionais que as usam na produção de medicamentos fitoterápicos são usados por inúmeras pessoas com menos poder aquisitivo para adquirir medicamentos comprados na farmácia.
CONCLUSÕES A realização do levantamento de espécies botânicas de uso medicinal pelas comunidades tradicionais no Parque Nacional da Chapada das Mesas demonstra a valoração da cultura repassada pelas gerações que povoaram a região ainda se mantém viva e seguida pelos grupos sociais que atualmente habitam o lugar. O trabalho mostrou que a cultura de uso de plantas contribui preservação de espécies botânicas nativas da região contribuindo para manutenção dos sistemas ecológicos presentes na região da Chapada das Mesas. AGRADECIMENTOS Ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde/PPGBAS ao Centro de Estudos Superiores de Caxias/Universidade do Maranhão (CESC/UEMA), ao Laboratório de Biologia Vegetal/LABIVE, ao Instituto Chico Mendes da Conservação e Biodiversidade (ICMBIO) pelo apoio logístico e aos moradores das comunidades do Parque Nacional Chapada das Mesas que participaram da pesquisa.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 REFERÊNCIAS Amorozo, M. C. M. (2002). Uso e diversidade de plantas medicinais em santo Antonio de Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasílica. v. 16, n. 2, p.189-203. Amorin, E. L. C., Lima C. S. A., Higino, J. S., Silva, L. R. S., Albuquerque, U. P. (2003). Fitoterapia: instrumento para uma melhor qualidade de vida. Infarma-Ciência Famacêutica. v. 15, n. 1, p. 66-69. Boente, A. N. P. & Braga, G. (2004). Metodologia Científica Contemporânea para Universitários e Pesquisadores. Rio de Janeiro: Brasport, 175p. Balbinot, S.; Velasquez, P.G.; Düsman, E. (2013). Reconhecimento e uso de plantas medicinais pelos idosos do Município de Marmeleiro-Paraná. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.15, n. 4, p. 632 -638. Carvalho, A. P. da S. & Conceição, G. M. da C. (2015). Utilização de plantas medicinais em uma área da estratégia de saúde da família, Caxias, Maranhão. Enciclopédia Biosfera. Centro Científico Conhecer Goiânia, v.11 n.21, p. 347-348. Góes, A. M. A. (1995). Formação Poti (Carbonífero Superior) da Bacia do Parnaíba. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 204f. Hamilton, A. C. (2004). Medicinal plants, conservation and livelihoods. Biodiversity and Conservation. v.13, p.1477-1517. ICMBIO/MMA. Nota técnica nº 001/2016. Carolina/MA, janeiro de 2016. p. 46. Disponível em: https://d1ij67glom3ric.cloudfront.net . Acesso em: 20/09/2016. Lorenzi, H. & Matos, F. J. A. (2008). Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ª ed. Nova Odessa. Instituto Plantarum, 512p. Lima, C. A. A.de, Silva, D.M. da, Vilar, E. L. da S., Rocha, M. O, Júnior, W.S. F.; Batista, J.S., Silva, A.S. (2017). A etnobotânica aplicada à úlcera gástrica e avaliação farmacológica de Solanum stipulaceum. Acta Brasiliensis. n.1; v.1; p1-7. Marconi, M. A.; Lakatos, E. M. (2009). Fundamentos da metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 282p. Messias, M.C.T. B, Menegatto, M.F., Prado, A.C.C., Santos, B.R., Guimarães, M.F.M. (2015). Revista Brasileira de Plantas Medicinais. v.17, n.1, p.76-104. Silva, A. J. P., Lopes, R. C., Vasconcelos, A. M., Bahia, R. B. V.(2003). Bacias sedimentares paleozóicas e meso-cenozóicas interiores. In: Bizzi, L. A., Schobbenhaus, C., Vidotti, R. M., Gonçalves, J. H. Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil: texto, mapas e sig. Brasília: CPRM – Serviço Geológico do Brasil. p. 55-85.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
AS PLANTAS E O TRATAMENTO PARA DIABETES E HIPERTENSÃO EM COMUNIDADES NÃO TRADICIONAIS Sara Tavares de Sousa Machado1*, Luanna Gomes da Silva2, Maysa de Oliveira Barbosa2, Izabel Cristina Santiago Lemos3, Gyllyandeson de Araujo Delmondes2, George Pimentel Fernandes4, Marta Regina Kerntopf5. 1
Curso de Ciências Biológicas,2Curso de Enfermagem,3Doutoranda- UFRPE, 4Doutor em Educação Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, CRATO - CE; Laboratório de Farmacologia de Produtos Naturais, Departamento de Química Biológica5. E-mail:
[email protected]
RESUMO O uso de plantas para o tratamento de não doenças, tais como a Hipertensão e o Diabetes, é uma prática recorrente, em especial, em comunidades tradicionais. Objetivou-se analisar os principais aspectos sociodemográficos de pessoas com hipertensão e/ou diabetes, que residem em comunidades em torno da Chapada do Araripe-CE, bem como identificar as plantas e os preparos tradicionais mais utilizados nessas comunidades. Pesquisa realizada com 23 participantes, mediante entrevista semi-estruturada. Os dados foram analisados segundo os métodos estatísticos de freqüência simples e porcentagem. Os resultados demonstraram que a maioria dos entrevistados era do sexo feminino, com pouca escolaridade, agricultores e usuáios de plantas como adjuvantes no tratamento, sendo o chá a principal forma de utilização. Os resultados atentam para uma reflexão sobre os aspectos culturais no tratamento de enfermidades e a importância dos profissionais de saúde conhecerem práticas tradicionais de cuidado. Palavras-chave: Hipertensão Arterial; Diabetes Mellitus; Medicina Tradicional. INTRODUÇÃO O perfil epidemiológico das principais doenças no Brasil tem sofrido grandes mudanças ao longo dos anos. Hoje, não são mais as infectocontagiosas que afetam indiscriminadamente a saúde pública e sim, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Nesta classe, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o diabetes mellitus (DM) se apresentam como os principais motivos de preocupação dos dias atuais, pois direta ou indiretamente causam o maior número de óbitos no país (ARAÚJO & PAES, 2013). A HAS e a DM são condições que ainda não possuem cura definitiva. Os fatores de risco para o desenvolvimento, em geral, apresentam semelhanças e, de acordo com Santos e Moreira (2013), incluem a idade, a hereditariedade, sedentarismo, obesidade, e maus hábitos alimentares. O tratamento de ambas se baseia em terapias medicamentosas associadas às mudanças de hábitos e à prática de exercícios físicos, a depender do estágio diagnosticado. Enfatizando-se, ainda, a questão da terapêutica, um assunto que vem sendo bastante discutido atualmente diz respeito à implantação da medicina tradicional, “práticas médicas originárias da cultura de cada país”, ou práticas médicas complementares. Dentre estas práticas, pode-se citar a utilização de plantas medicinais como forma de tratar ou auxiliar no tratamento de diversas enfermidades. Considera-se que no Brasil o uso dessas plantas é amplamente difundido como medida terapêutica, inclusive para doenças crônicas (SOUSA et al., 2012). Assim, considerando a relevância epidemiológica da HAS e da DM e seus impactos na qualidade de vida dos portadores, e o contexto de incentivo ao fomento do conhecimento popular e ao uso de plantas no
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 tratamento dessas e de outras patologias (BRASIL, 2015), objetivou-se com a presente pesquisa identificar os principais aspectos sociodemográficos de pessoas com hipertensão e/ou diabetes que residem em comunidades entorno da Chapada do Araripe-CE, bem como as espécies e os preparos tradicionais mais comuns utilizados como fonte de tratamento ou adjuvante ao tratamento farmacológico. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na região da Chapada do Araripe, localizada na cidade do Crato-CE, tendo como amostra 23 participantes que residem em duas comunidades da Chapada (Sítio Luanda e Lameiro) e realizam acompanhamento de hipertensão e/ou diabetes em uma unidade básica de saúde, também localizada na região. A Chapada localiza-se na região central do Nordeste brasileiro, apresentando uma área total de 313.908,8039 ha, aproximadamente 180 km, distribuídos entre os municípios de Ceará, Pernambuco e Piauí (Silva Neto, 2013). O período de coleta de dados deu-se entre os meses de julho a agosto de 2015. Utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturada, contendo aspectos pertinentes à identificação de dados sociodemográficos dos entrevistados, aspectos referentes à hipertensão arterial e a diabetes, e identificação do possível uso de plantas no tratamento. Os dados obtidos foram organizados em planilhas, por meio do programa Excel 2007. Em seguida, foram analisados segundo os métodos estatísticos de frequência simples e porcentagem e correlacionados com a literatura. Cabe ressaltar que esse trabalho atendeu aos requisitos previstos na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde (CNS/MS), sobre pesquisas envolvendo seres humanos. Todas as informações pertinentes ao objetivo e natureza do estudo foram transmitidas aos participantes e a autorização da participação foi concedida mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa foi aprovada sob parecer: 1.485.333. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pessoas compreendidas na faixa etária de 63-86 anos, agricultores e com ensino fundamental incompleto representaram 65,22%; 26,09% e 78,26% da amostra, respectivamente. A maioria dos casos de hipertensão e de hipertensão com diabetes estava relacionada ao sexo feminino – maioria entre a população entrevistada (60,87%). No entanto, dados epidemiológicos afirmam que a incidência de casos de hipertensão arterial é mais prevalente entre homens (Antonio de Sá et al., 2014). Os indicadores de mortalidade por complicações também são maiores entre o sexo masculino (Carvalho et al., 2015). Além disso, demonstram-se mais resistentes quanto a atitudes preventivas de cuidados com a saúde e adoção de tratamentos (Brito & Santos, 2011). Outro ponto relevante é que a quantidade de participantes com associação de hipertensão e diabetes (26,1%) é maior em relação ao diabetes isolado (8,68%). Alessi et al. (2013) consideram que a hiperglicemia crônica e a resistência a insulina são as responsáveis por levarem os diabéticos a serem hipertensos. No que concerne ao uso de plantas como tratamento ou adjuvante, observou-se que foi referida por 56,52% dos entrevistados, o chá foi o tipo de preparo mais comum, sendo mencionado por 92,31% dos entrevistados. As espécies vegetais mais relatadas foram Colônia (Alpinia zerumbet), Cidreira (Lippia alba), Malva do reino (Plectranthus amboinicus) e destaque para o Alho (Allium sativum). Sobre o A. sativum, testes feitos com ratos anestesiados demonstraram a diminuição considerável da pressão arterial média (PAM) de 124/20 mmHg para 108/20 mmHg (controle), no intervalo de 15 s após a administração (SING et al., 2005). Outras análises também buscaram evidenciar ações antidiabéticas do A. savitum, por meio da utilização de compostos aquosos e etanólicos de alho fresco em humanos e animais diabéticos e não diabéticos. Os resultados constataram melhora na tolerância do teste de glicose via oral, bem como na glicemia de jejum (CARVALHO, DINIZ, & MUKHERJEE, 2005).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Desse modo, destaca-se que o uso de plantas medicinais, além de ser prática muito antiga entre a população mundial, apresenta diversas peculiaridades que perpetuam sua utilização, tais como: os fatores culturais e de identidade e a eficácia percebida a partir do uso e constatação empírica. Além disso, é uma fonte mais acessível em comparação aos medicamentos sintéticos (REIS, 2013). CONCLUSÕES Os resultados deste trabalho corroboram para importância do saber popular na construção do conhecimento cientifico, merecendo ser fortalecido e difundido. As evidências científicas sobre os recursos naturais podem possibilitar o seu manejo adequado, o preparo correto e quantidade a serem utilizadas, bem como o desencorajamento do uso, quando atividades que possam provocar prejuízos à saúde dos usuários forem comprovadas. Além disso, podem reforçar o pensamento e atitude de conservação das espécies. Reflete-se, também, a necessidade do conhecimento por parte dos profissionais de saúde envolvidos na assistência as pessoas com hipertensão e diabetes, principalmente os que trabalham na atenção básica, sobre a identificação do uso das plantas medicinais pelos pacientes e principais formas de uso. Dessa forma, pode-se promover orientações mais adequadas e adaptadas à realidade de cada usuário. AGRADECIMENTOS Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP. REFERÊNCIAS ALESSI, A.; BONFIM, A. V.; BRANDÃO, A. A.; FEITOSA, A. et al. I posicionamento brasileiro em hipertensão arterial e diabetes mellitus. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. Rio de Janeiro, v. 100, n. 6, p. 491-501, 2013. ANTONIO DE SÁ, C.; CORRALO, V. S.; FACHINETO, S.; SCHMIDT, C. L.; CEZAR, M. A.; RIBEIRO, C. G. Obesidade, condição socioeconômica e hipertensão arterial no Extremo Oeste de Santa Catarina. Revista de Salud Pública. Bogotá, v. 16, n. 2, p. 184-194, 2014. ARAÚJO, I. M.; PAES, N. A. Qualidade dos dados antropométricos dos usuários hipertensos atendidos no programa de saúde da família e sua associação com fatores de risco. Texto Contexto Enfermagem. Florianópolis, v. 4, n. 22, p. 1130- 1140, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 2° ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. BRITO, R.S.; SANTOS, D. L. A. Percepção de homens hipertensos e diabéticos sobre a assistência recebida em Unidade Básica de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem. Goiânia, v. 4, n. 13, p. 639647, 2011. CARVALHO, A. C. B.; DINIZ, M. F. F. M.; MUKHERJE, E. R. Estudos da atividade antidiabética de algumas plantas de uso popular contra o diabetes no Brasil. Revista Brasileira de Farmácia. v. 86, n. 1, p. 11-16, 2005.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 CARVALHO, C. A.; FONSECA, P. C. A.; BARBOSA, J. B.; MACHADO, S. P.; SANTOS, A. M.; SILVA, A. A. M. Associação entre fatores de risco cardiovascular e indicadores antropométricos de obesidade em universitários de São Luís, Maranhão, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 479490, 2015. REIS, E. F. Plantasmedicinais: um estudo da suautilização popular no município de Rubim (MG). Ambiência – Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais. v.9, n. 3, p. 627-640, 2013. SANTOS, J. C.; MOREIRA, T. M. M. Fatores de risco e complicações em hipertensos/diabéticos de uma regional sanitária do nordeste brasileiro. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v. 5, n.46, p.1125-1132, 2013. SILVA NETO, B. Perda da vegetação natural na Chapada do Araripe (1975/2007) no estado do ceará. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 2013. SING, G.; DAMASCENO, D. D.; D'ANDRÉA, E. D.; SILVA, G. A. Efeitos agudos dos extratos hidroalcoólicos do alho (Allium sativum L.) e do capim-limão (Cymbopogon citratus (DC) Stapf) sobre a pressão arterial média de ratos anestesiados. Revista Brasileira de Farmacognosia. João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 94- 97, 2005. SOUSA, I. M. C.; BODSTEIN, R. C. A.; TESSER, C. D.; SANTOS, F. A. Z.; HORTALE, V. A. Práticas integrativas e complementares: oferta e produção de atendimentos no SUS e em municípios selecionados. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 28, n.11, p. 2143- 2154, 2012.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE O MANEJO DA DOR EM UMA COMUNIDADE TRADICIONAL NO MUNICÍPIO DE BARBALHA, CEARÁ Sara Tavares de Sousa Machado1*; Denise Bezerra Correia1; Joice Barbosa do Nascimento1; Ana Deyva Ferreira dos Santos2; Jéssica Pereira de Sousa3; Izabel Cristina Santiago Lemos4, Marta Regina Kerntopf5 1
Curso de Ciências Biológicas,2Curso de Enfermagem, 3Mestranda- UFRPE, 4Doutoranda- UFRPE Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, CRATO - CE; Laboratório de Farmacologia de Produtos Naturais, 5 Departamento de Química Biológica/Orientadora. E-mail:
[email protected]
RESUMO A dor é um fenômeno multifatorial que envolve aspectos físicos, emocionais, ambientais e socioculturais. Além do tratamento farmacológico, o uso de terapias complementares são métodos adjuvantes no tratamento dessa condição, destacando o uso das plantas medicinais. Objetivou-se conhecer os saberes da população residente na comunidade Santo Antônio, Barbalha (CE), acerca das plantas utilizadas para o tratamento de dores. Foi realizada uma entrevista semiestruturada onde foram elencadas as espécies mais utilizadas para tal enfermidade. Foram indicadas 60 espécies vegetais pelos entrevistados, onde 7 receberam maior número de citações, destacando-se a Ruta graveolens L. (Arruda). As partes mais utilizadas foram a folha (50%), casca (17,1%), raiz (12,5%) e semente (10,9%). A decocção (31%) foi o modo de preparo mais usado seguido de infusão (27%), maceração (17%) e de molho (15%). Conclui-se que a comunidade local tem um vasto conhecimento sobre a utilização das plantas medicinais. Palavras-chave: Dor; Comunidade tradicional; Plantas medicinais. INTRODUÇÃO A dor é um fenômeno multifatorial que envolve aspectos físicos, emocionais, ambientais e socioculturais (SANTOS et al., 2015). Este processo tem um papel importante na manutenção da homeostase do organismo, uma vez que serve para alertar que a integridade de algum tecido do indivíduo está ou irá ser comprometida (OLIVEIRA, 2003). A dor, seja ela aguda ou crônica, é um dos principais fatores que causam a automedicação em várias comunidades brasileiras (SANTOS et al., 2013; SILVA et al., 2012). Onde por sua vez, muitos desses medicamentos utilizados no manejo da dor apresentam efeitos indesejados como sonolência, constipação, problemas gastrintestinais, náuseas, entre outros, e, dependendo do grau de instrução e informação do paciente quanto a sua condição de saúde, benefícios e malefícios do medicamento, essa prática se torna cada vez mais perigosa (ARRAIS et al., 1997; PIOTTO et al., 2009). Além do tratamento farmacológico, o uso de terapias complementares são métodos adjuvantes no tratamento da dor (BRASIL et al., 2008). Dentre estas destacamos o uso das plantas medicinais, as quais são utilizadas pela população devido ao fácil acesso e por conter um baixo custo (HAEFFNER et al., 2012). Nesse contexto os estudos etnodirigidos, tais como os etnobotânicos e etnofarmacológicos, são de suma importância porque tornam possível realizar o resgate do conhecimento tradicional, bem como a identificação das diversas formas de uso de espécies vegetais para o tratamento de enfermidades (HAEFFNER et al., 2012). Além disso, a valorização e registro do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais é também objetivo de políticas públicas nacionais (Brasil, 2006). Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivos principais: a) obter informações sobre o uso de plantas medicinais para o tratamento da dor em comunidades tradicionais do estado do Ceará; b)
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 promover a utilização racional dos recursos oriundos da flora da Chapada do Araripe pela população, através da realização de palestras e/ou oficinas.
MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida na comunidade Santo Antônio (Sítio Sto. Antônio), localizada no distrito do Arajara, pertencente ao município de Barbalha (CE). Todas as etapas da pesquisa foram realizadas durante os meses de novembro de 2015 a novembro de 2016. Para a seleção da amostra da pesquisa foram estabelecidos critérios de inclusão e de exclusão. Desse modo, a população do estudo consistiu apenas de pessoas residentes na comunidade Santo Antônio com idades entre 21 e 90 anos. No primeiro momento, foi realizada uma visita à comunidade, onde o pesquisador foi apresentado ao líder comunitário, mediante atuação de um intermediador. Com finalidade conquistar a confiança pois a mesma é indispensável na obtenção de informações, técnica conhecida como “rapport” (ALBUQUERQUE, LUCENA e CUNHA, 2010). Posteriormente, no segundo momento, após autorização pelo líder comunitário e contando com a colaboração dos demais membros da comunidade, iniciou o processo de coleta de dados (condicionado ao parecer favorável dos órgãos legais competentes), onde foram contatados os primeiros sujeitos que atenderem aos critérios estabelecidos para a pesquisa e desejarem participar do estudo, através da indicação inicial do líder comunitário. Em seguida foi aplicado um questionário fechado para caracterização socioeconômica dos sujeitos da pesquisa. Logo após o preenchimento desses dados, foi aplicado a entrevista semiestruturada. Esse tipo de entrevista permite ao entrevistado expor o seu pensamento, a partir de um roteiro pré-estabelecido de perguntas selecionadas e/ou formuladas para o estudo, oriundas das teorias que fomentam a ação do pesquisador, bem como das informações levantadas referentes ao assunto investigado (NOGUEIRAMARTINS e BÓGUS, 2004). Para compor a amostra total, foi aplicada a técnica “SnowBall” (bola de neve), onde um participante indica outro (s) que atenda (m) aos critérios estabelecidos pela pesquisa e assim por diante (ALBUQUERQUE, LUCENA e CUNHA, 2010). Para a composição da amostra foi aplicado o critério de saturação das respostas, ou seja, reconhece-se que a coleta deveria ser finalizada quando as novas entrevistas realizadas apresentam repetições recorrentes do conteúdo dos discursos coletados anteriormente (FONTANELLA et al., 2008). Para análise de dados foram elencadas as espécies mais citadas pelos informantes, como também as partes e o modo de preparo mais utilizados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através do levantamento etnobotânico foi possível conhecer a propriedade terapêutica de 60 espécies vegetais indicadas pelos entrevistados. Deste total 7 espécies receberam maior número de citações pela comunidade, entre elas destaca-se arruda (Ruta graveolens L.), marcela (Egletes viscosa Less.) e boldo (Gymnanthemum amygdalinum,(Delile) Sch.Bip. ex Walp.). Em relação às partes da planta utilizadas, folha recebeu o maior número de citações de uso (50%) seguida de casca (17,1%), raiz (12,5%) e semente (10,9%). O uso preponderante das folhas pode estar relacionado com o fato das espécies citadas pela comunidade serem de fácil cultivo (MEDEIROS et al., 2004). No modo de preparo, decocção apresentou maior número de citações (31%), seguida de infusão (27%) e de molho (15%). Outros enfocam formas de preparo semelhantes como as mais citadas (MORAIS, 2011; PINTO et al., 2006; MEDEIROS et al., 2004).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 CONCLUSÕES Os resultados mostraram um considerável conhecimento popular em relação as plantas medicinais. As informações adquiridas neste levantamento podem servir também de referencial para novos estudos, como ampliar esse expressivo conhecimento, além de maiores possibilidades de uso das espécies indicadas, ou mesmo comprovar a eficácia ou impropriedade de sua utilização. AGRADECIMENTOS Pró-reitora de Extensão. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P.; CUNHA, L. V. F. C. (org.). Métodos e Técnicas na pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: NUPEEA, p.559, 2010. ARRAIS, P. S. D.; COELHO, H. L. L.; BATISTA, M. C. D. S.; CARVALHO, M. L.; RIGHI, R. E.; ARNAU, J. M. Perfil da automedicação no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 31, n. 1, p. 71-7, 1997. BRASIL, V. V.; ZATTA, L. T.; CORDEIRO, J. A. B. L.; SILVA, A. M. T. C.; ZATTA, D. T.; BARBOSA, M. A. Qualidade de vida de portadores de dores crônicas em tratamento com acupuntura. Rev. Eletr. Enf., v. 10, n. 2, p. 383-394, 2008. FONTANELLA, B. J. B.; RICAS, J.; TURATO, E. R. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad. Saúde Pública, v. 24, n. 1, 2008. HAEFFNER, R.; HECK, R. M.; CEOLIN, T.; JARDIM, V. M. R.; BARBIERI, R. L. Plantas medicinais utilizadas para o alívio da dor pelos agricultores ecológicos do Sul do Brasil. Rev. Eletr. Enf.,v. 14, n. 3, p. 596-602, 2012. MEDEIROS, T.F.M.; FONSECA, S.V.; ANDRETA, P.H.R. Plantas Medicinais e seus usos pelos sitiantes da Reserva Rio das Pedras, Mangaratiba, RJ, Brasil. Acta Botânica Brasileira. V.18,. 2004. MORAIS, V.M. Etnobotânica nos Quintais da Comunidade de Abderramant em Caraúbas – RN. Tese (Doutorado em Fitotecnia: Área de concentração em Agricultura Tropical) Universidade Federal Rural do Semi-Árido, 2011. NOGUEIRA-MARTINS, M. C. F.; BOGUS, C. M. Considerações sobre a metodologia qualitativa como recurso para o estudo das ações de humanização em saúde. Saude soc., São Paulo, v. 13, n. 3, 2004. OLIVEIRA, A. S.; BERMUDEZ, C. C.; SOUZA, R. A.; SOUZA, C. M. F.; DIAS, E. M.; CASTRO, C. E. S.; BÉRZIN, E. Impacto da dor na vida de portadores de disfunção temporomandibular. Journal of Applied Oral Science, v.11, n. 2, p. 138-143, 2003. PINTO, E. P. P.; AMOROZO, AMOROZO, M. C. M; FURLAN, A. Conhecimento Popular sobre Plantas Medicinais em Comunidades Rurais de Mata Atlântica- Itacaré, BA, Brasil. Acta Bot. Brasileira. V.20. n.4, p. 751-762, São Paulo, 2006. PIOTTO, F. R. S. B.; NOGUEIRA, R. M.; PIRES, O. C.; PELÓGIA, N. C. C.; POSSO, I. P. Prevalência da dor e do uso de analgésicos e anti-inflamatórios na automedicação de pacientes atendidos no Pronto-Socorro Municipal de Taubaté. Revista Dor, v. 10, n. 4, p. 313-317, 2009. SANTOS, F. C.; DE-MORAES, N. S.; PATORES, A.; CENDOROGLO, M. S. Chronic pain in long-lived elderly: prevalence, characteristics, measurements and correlation with serum vitamin D level. Rev Dor., v. 16, n. 3, p. 171-5, 2015.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 SANTOS, T. R. A. et al. Consumo de medicamentos por idosos, Goiânia, Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 47, p. 94-103, 2013. SILVA, R. C. G. et al. Automedicação em acadêmicos de medicina. Medicina, v. 45, p. 5-11, 2012.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOBOTÂNICA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOBOTANY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
LEVANTAMENTO DE PLANTAS ORNAMENTAIS NATIVAS NOS JARDINS DE UMA COMUNIDADE RURAL NA REGIÃO NORTE DO PIAUÍ Waldileia Ferreira de Melo Batista1,*, Roseli Barros Farias Melo de Barros1,2, Santina Barbosa de Sousa1 1
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN). Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Piauí (UFPI). 2Centro de Ciências Naturais. Departamento de Biologia, Curso de Ciências Biológicas, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina/PI, Universidade Federal do Piauí (UFPI). *Autor para correspondência *
[email protected]
RESUMO As plantas ornamentais são importantes na cultura e no bem estar dos moradores das comunidades rurais. Embora com a grande quantidade de plantas exóticas utilizadas no paisagismo na atualidade, as comunidades rurais mantém o costume de cultivar plantas nativas em seus pequenos jardins. Com o objetivo de resgatar essa cultura valorizando a utilização destas plantas para que não haja aculturamento, realizou-se o levantamento das plantas ornamentais nativas utilizadas nos jardins da comunidade rural Novo Nilo, região norte do Piauí. Este trabalho foi realizado no período de julho de 2012 a julho de 2013, através de observação direta e com o auxílio de formulários semiestruturados, turnê-guiadas e projeção fotográfica para obtenção dos dados. Entre as famílias ornamentais nativas registradas, aquelas que mais se destacaram foram Apocynaceae e Cactaceae e os gêneros Allamanda e Ipomoea. O cultivo de plantas ornamentais nativas nos jardins da comunidade auxilia na ambiência da residência e melhoria da paisagem, contribuindo para a conservação de recursos genéticos. Palavras-chave: Etnobotânica, Ornamental, Comunidades rurais, Paisagismo. INTRODUÇÃO A Etnobotânica é o estudo do conhecimento e dos conceitos desenvolvidos por qualquer população em relação ao mundo vegetal, englobando tanto a forma de classificação das plantas, como a finalidade que dá a elas (Amorozo, 2006). Davis (1995) defende que a Etnobotânica contemporânea procura agregar conhecimentos nas áreas de uso e manejo de plantas, agroflorestas e manejo das paisagens, entre outros. Nesse sentido, os estudos etnobotânicos sobre plantas ornamentais são muito importantes, pois mantidas nos jardins das residências favorecem a melhoria da qualidade de vida dos moradores, visto que, além da sua função paisagística, melhoram a qualidade do ar e do ambiente, promovendo beleza, bem estar e aconchego. Apesar de a comunidade estudada encontrar-se numa região de coqueiral, esta, no entanto, apresenta uma rica flora, com usos potenciais diversos, inclusive, para fins ornamentais e de paisagismo. O uso de plantas ornamentais nativas deve ser valorizado especialmente no Brasil onde se encontra a flora mais rica do mundo (Gotlieb et al., 1996), sendo um patrimônio vegetal estimado em 16,5 milhões de genes (Ramos, 2000), o que representa um grande campo a ser explorado. O levantamento de plantas nativas utilizadas nos jardins de comunidades rurais é uma maneira de preservar a nossa flora e manter vivas as culturas tradicionais preservando o patrimônio vegetal e os saberes populares. MATERIAL E MÉTODOS
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 A pesquisa foi desenvolvida na comunidade Novo Nilo, localizada no município de União /PI localizada à margem direita do rio Parnaíba O clima é Tropical Quente com uma vegetação de transição entre Cerrado e Mata dos Cocais. (CEPRO, 2011). A coleta de dados foi procedida por entrevistas individuais usando-se formulário semiestruturado (Bernard, 1988) seguidas de observação direta e registro fotográfico. Com os moradores citados como conhecedores da vegetação local e suas finalidades, foi realizada a técnica de turnê-guiada (Bernard,1988), técnica que consiste em caminhadas no campo guiadas por esses moradores e que, durante as quais foram coletados exemplares botânicos. A amostra total foi de 202 pessoas da comunidade, selecionados pela técnica de amostragem e seleção de informantes, denominada “bola de neve” (Bailey, 1994), que consiste em conversar com algumas pessoas da comunidade em seus domicílios e durante as entrevistas, estas indicaram outras pessoas a serem entrevistadas. O período de coleta foi entre os meses de julho de 2012 a julho de 2013, estes foram coletados após a submissão e aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, aprovado com parecer número 912.195. As entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta e herborização do material botânico foram realizadas segundo a metodologia preconizada por Mori et al. (1989), e após a herborização, todo o material foi incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. As identificações das espécies foram realizadas tomando como referência a bibliografia especializada e comparações com exsicatas identificadas. O sistema adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae que obedeceu a Judd et al. (1999). Todos os dados foram transcritos em laboratório, tabulados em tabelas e gráficos e analisados por meio de estatística descritiva básica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas residências amostradas identificou-se a presença de 12 espécies distribuídas em 10 gêneros e em seis famílias botânicas. As famílias mais representativas em número de espécies citadas foram Apocynaceae (04) e Cactaceae (03) (Tabela 1). Com relação às primeiras, os resultados são semelhantes com os obtidos por Masulo et al. (2009), que observaram que esta família era também utilizadas pela Comunidade Puraquequara em Manaus – AM. Os gêneros mais comumente encontrados foram Allamanda e Ipomoea, cultivadas pela presença de flores coloridas, as quais apresentavam as mais variadas cores e tamanhos. O hábito de crescimento mais encontrado entre as espécies foi o arbustivo, seguido de herbáceo e nenhum arbóreo. Isto se deve provavelmente à facilidade do cultivo na área da frente da casa associadas com outras espécies. Quanto ao uso de adubo, foi citado apenas o uso de adubos orgânicos, geralmente coletados na própria residência. O espaço considerado como jardim representa o espaço sem cobertura (telhado), geralmente sem pavimentação e localizado na frente ou nas laterais de uma residência. Nesses espaços são organizadas as espécies ornamentais associadas ou não a gramados, com a função de ornar a frente da residência. Isso reflete o interesse pela estética, como foi evidenciado em muitos trabalhos (Lamont et al., 1999; Murrieta e Winklerprins, 2003; Wezel e Bender, 2003). O costume de cultivar estas plantas está diretamente relacionado com presença feminina nas residências, demostrando que estas apresentam maior interesse e preocupação com a estética da casa do que os homens (Voeks, 2007). Esse fato foi verificado especialmente entre as mulheres mais idosas que manifestaram maior participação no cultivo dessas plantas. Isso reflete a transmissão de conhecimento, visto que, todas afirmam ter aprendido a cultivar as plantas com a mãe e avó. Quanto à obtenção geralmente ocorre por meio de troca entre vizinhos, reforçando as relações sociais na comunidade. (Winklerprins e Oliveira, 2010).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Tabela 1. Lista das espécies ornamentais nativas utilizadas nos jardins da Comunidade Novo Nilo, União, PI. Legenda: NV = Nome Vulgar; HAB = Hábito: erv = erva; sub = subarbusto; arb = arbusto; arv = árvore; trep = trepadeira; NC = número de coletor (il - identificada no local, não coletada). Família/espécie
NV
HAB
NC
Pente-de-macaco
arb
29.790
Cálice-de-ouro
arb
29.792
Bom-dia
erv
29.801
Dedal-de-ouro
arb
il
Comigo-ninguémpode
erv
il
Mandacaru
arb
29.850
Coroa-de-frade
erv
29.789
Rosa-madeira
arb
28.856
Salsa
sub
29.765
Jitirana
sub
29.852
Bougainvillea glabra Choisy
Buganville
arb
29.800
Portulacaceae Portulaca gradiflora Hook.
Nove-horas
erv
29.841
Apocynaceae Allamanda blanchetti A.DC. Allamanda cathartica L. Catharanthus roseus (L.) G. Don Thevetia peruviana (Pers.) Merr. Araceae Dieffenbachia picta (Lodd) Schott Cactaceae Cereus jamacaru DC. Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. Pereskia grandiflora Haw. Convolvulaceae Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem & Schult Ipomoea SP Nyctaginaceae
Diante dos resultados apresentados verifica-se que a comunidade mantém uma tradição do cultivo de plantas ornamentais nativas em seus jardins, agregando beleza aos espaços residenciais. Isso reflete um paisagismo único das comunidades rurais. Sob o ponto de vista ecológico e cultural, isso se relaciona ao fato de que as espécies encontradas são de fácil cultivo, baixo custo, relativa beleza e que manifestam a manutenção dos conhecimentos tradicionais. CONCLUSÕES
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 O cultivo de espécies ornamentais nativas em comunidades rurais é uma importante ferramenta para a conservação da biodiversidade. Além disso, apresentam consequências sociais amplas, visto que, aumentam relações familiares e agregam a vizinhança, podendo ainda, resultar em desdobramentos econômicos, pois o paisagismo é uma realidade crescente sobretudo, em países como o Brasil, detentor de uma megabiodiversidade. A possibilidade de um mercado consumidor para plantas nativas poderia ser considerada a partir da criação de novas oportunidades de mercados e empregos, representando uma alternativa de produção para populações rurais. Sendo assim, os saberes de comunidades humanas merecem olhares múltiplos, pois estas, instaladas em diferentes ambientes, trazem em si grandes conhecimentos e a possibilidade de respostas para muitos problemas socioambientais e econômicos. AGRADECIMENTOS A Universidade Federal do Piauí (UFPI) e aos colaboradores que auxiliaram para a realização da pesquisa e aos moradores da comunidade Novo Nilo-União-Piauí. REFERÊNCIAS Amoroso, M.C.M. (2006 Mar). Sistemas agrícolas tradicionais e a conservação da agrobiodiversidade. [s.l.]Texto resumido e modificado de Amoroso, M.C.M. Agricultura tradicional, espaços de resistência e o prazer de plantar. In: Albuquerque, U.P.et al (orgs.) Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Recife: SBEE, 2002. Disponível em: Bailey, K. D. (1982). Methods of social research, 553p.. New York: McMillan Publishers, The free press. Bernard, H. R. (1988). Research Methods in Cultural Anthropology, 520 pp. Sage. Newbury Park, CA, EEUU. Conquist, A. An integrated system of classification of flowering plants. (1985) New York: Columbia Universaty Press, 1981. 1262p. Recife.Anais... Recife: Sociedade Botânica do Brasil - Seccional Pernambuco, p. 151-164. Cepro. (2011). FUNDAÇÃO CENTRO DE PESQUISAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DO PIAUÍ. Diag. dos Municípios. Disponível em: < www.cepro.pi.gov.br/diagsoceco.php>. Acesso em: 27 set. 2011. Davis, E. W. (1995). Ethnobotany: an old practice, a new discipline. Pp. 40-51.In: Schultes, R.E. S.; Von Reis (Eds.). Ethnobotany: evolution of a discipline, Portland, Dioscorides Press. Gottlieb, O.R.; Kaplan, M.A.C.; Borim, M.R.M.B. (1996). Biodiversidade: um enfoque químico– biológico. pp. 153-159, 1. ed. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ. Lamont, S. R. et al. 1999. Composition, diversity and use of homegardens among three Amazonian villages. Economic Botany. v.3, n.53, p.312-326. Masulo, G.M.; Melo, S.A.; Brito, A.U.; Moura, R.P.M.; Hilgado, A.F. (2009). Plantas Ornamentais mais utilizadas Comunidade do Puraquequara Plantas Ornamentais mais utilizadas. Manaus-AM – Brasil. In: 61° REUNIÃO ANUAL SBPC, 2009, Manaus. Anais... Manaus: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Murrieta, R. S. S.; Winklerprins, A. M. G. A. (2003). Flowers of water: homegardens and gender roles in a riverine caboclo community in the lower Amazon, Brazil. Culture and Agriculture. United States, v. 25, n.1, p.35-47. Ramos, J.B. Plantas medicinais brasileiras e biopirataria: nossas riquezas em risco. (2010, 24 de Set). Boletim Aqualung, [S.l.], n. 35, 2000. Disponível em: Voeks, R. A. (2007). Are women reservoirs of traditional plant knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in Northeast Brazil. Singapore Journal of Tropical Geography, v. 28, n. 1, p. 7-20. Wezel, A.; Bender, S. (2003). Plant species diversity of homegardens of Cuba and its significance for household food supply. Agroforestry Systems. Netherlands, v.57,n.1 p.39-49.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Winklerprins, A.; Oliveira, P. S. S. (2010). Urban agriculture in Santarém, Pará, Brazil: diversity and circulation of cultivated plants in urban homegardens. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 5, n. 3, p. 571-585.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LANGUAGE: Brazillian Portuguese
RECURSOS PESQUEIROS EXPLORADOS EM ÁREAS DE USO COMUM EM ESTUÁRIO NO NORDESTE DO BRASIL Leonardo Mesquita Pinto¹*, Silmara Costa Loiola¹, Roberto Kiyoshi Kobayashi², Jorge Iván Sánchez Botero³, Danielle Sequeira Garcez¹ ¹ Laboratório de Ecologia Pesqueira, Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR. Programa de Pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais. ²Centro de Estudos em Ambientes Costeiros. ³Laboratório de Ecologia Aquática. Universidade Federal do Ceará (UFC). *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO O presente estudo tem por objetivo caracterizar a exploração de recursos pesqueiros praticada em um estuário do Nordeste brasileiro, com foco em duas práticas: a captura de cavalos marinhos e a coleta de moluscos. Embora bastante distintas, essas duas atividades estão inseridas dentro do mesmo contexto socioambiental e, portanto, devem ser igualmente consideradas em iniciativas de conservação da área. Um total de 30 entrevistas foram aplicadas, sendo 13 para os coletores e 17 para os pescadores. Foram identificados apenas 2 pescadores de cavalo-marinho em toda a região, ao passo que a coleta de moluscos tem o incremento cada vez maior de usuários esporádicos que frequentam as áreas de mais fácil acesso no estuário. Os diferentes tipos de uso e exploração, assim como os diferentes atores sociais envolvidos devem ser considerados para o adequado manejo do ecossistema manguezal e seus recursos. Palavras-chave: pesca artesanal, manguezal, cavalo marinho, mariscos INTRODUÇÃO Historicamente, as áreas estuarinas e de manguezal tem servido de fonte de recursos para as populações humanas que se estabelecem em seus entornos. A relação entre humanos e os organismos encontrados nesses ambientes proporciona o desenvolvimento de técnicas e saberes que vão se acumulando ao longo de gerações (Alves & Nishida, 2002). Porém, esses ecossistemas são hoje dos mais afetados por atividades antrópicas, o que pode pôr em ameaça também os modos de vida das populações que tradicionalmente ocupam essas áreas e delas se utilizam. Cada vez mais os estudos sobre conservação de recursos pesqueiros incluem informações sobre os sistemas de pesca e seus usuários, uma vez que a abordagem focada simplesmente nos estoques nem sempre é bem sucedida (Hilborn, 2007). Assim, o objetivo do presente estudo foi caracterizar o uso dos recursos pesqueiros praticados por uma população humana estabelecida adjacente a um estuário, com foco em duas modalidades: a captura de cavalos-marinhos para aquariofilia e a coleta de moluscos, para fins de consumo e comercialização. Duas atividades que, embora distintas, se inserem no mesmo contexto socioambiental. No Brasil, os moluscos representam um dos grupos de recursos com maior relevância econômica para os agrupamentos humanos próximos a manguezais (Nishida, Nordi & Alves, 2004). De acordo com Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2008), diversos gastrópodes e bivalves marinhos comercializados em toda a costa brasileira estão sobrexplotados, ainda assim, são praticamente inexistentes medidas ou regulamentos que norteiem a sua captura. No Brasil há a ocorrência de três espécies de cavalos-marinhos: Hippocampus reidi, Hippocampus erectus e Hippocampus patagonicus (Silveira et al., 2014), todas elas categorizadas como “Vulnerável” de acordo com a lista brasileira de espécies ameaçadas (Portaria MMA 445/14). No estado do Ceará é descrita a ocorrência apenas de H. reidi (Nottingham, 2003; Osório, 2005; 2008; Osório et al. 2011), que
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 também está no Anexo II da Instrução Normativa nº 5 do Ministério do Meio Ambiente, de 28/5/2004, que lista as Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobre-Explotados ou Ameaçados de SobreExplotação. Segundo dados oficiais do Ibama, de 2006 a início de Setembro de 2015, 28.314 cavalosmarinhos vivos (H.reidi e H. erectus) foram exportados pelo Brasil, sendo o Ceará o principal Estado exportador. Os cavalos-marinhos, em uma perspectiva socioeconômica, representam uma importante fonte de renda, porém, do ponto de vista conservacionista, são peixes ameaçados de extinção. As populações naturais desses animais estão globalmente ameaçadas devido à degradação de seus habitats naturais; captura incidental em aparelhos de pesca (bycatch); sobre-exploração na captura destinada para uso em medicina tradicional, aquariofilia; souvenir ou amuletos (Foster & Vincent, 2004; Lourie et al., 2004; Vincent et al., 2004; Rosa, 2005; Rosa et al., 2005; Alves & Rosa, 2006). Ambos recursos citados, moluscos e cavalos-marinhos, são explorados a partir de regimes de livre acesso, em áreas de uso comum no mesmo estuário, o que contribui para a complexidade das ações de manejo. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo é o estuário do rio Pacoti, Estado do Ceará, o qual pertence a Bacia Metropolitana de Fortaleza, e está inserido na Área de Proteção Ambiental - APA do Rio Pacoti, unidade de conservação de uso sustentável, criada por meio do Decreto Estadual nº 25.778, de 15 de fevereiro de 2000. A coleta dos dados, entre os anos de 2015 e 2016, foi feita com a realização de entrevistas semi-estrutradas, já que esta confere flexibilidade, ficando o informante à vontade para se expressar em seus próprios termos e permite aprofundar questões que podem surgir no decorrer dos relatos. Também utilizou-se a metodologia “snowball” (Goodman, 1961), na qual pede-se que o entrevistado dê indicações sobre outras pessoas que também possam fazer parte do escopo da pesquisa. Além disso, foram feitas observações in loco usando a metodologia da “Observação Participante” (Amorozo & Viertler, 2002) sobre as características da atividade de coleta (instrumentos e formas de captura, locais de coleta, espaço social). Uma vez que a pesquisa foi baseada em informações adquiridas a partir do conhecimento de seres humanos, a mesma foi realizada de maneira a atender o que preconiza a Resolução nº 466 do Conselho Nacional de Saúde, de 12 de dezembro de 2012. Portanto, o projeto foi previamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Ceará, via Plataforma Brasil, e possui CAAE nº 61047016.9.0000.5054 RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao todo foram realizadas 13 entrevistas com coletores de moluscos e 17 com pescadores artesanais atuantes no estuário do rio Pacoti. Apesar do relato de todos eles sobre a avistagem de cavalos marinhos durante a execução de suas atividades, apenas dois entrevistados realizam a captura intencional desses animais. Uma vez que não houve citações novas de possíveis entrevistados (método snowball), assume-se que esse número é uma amostra representativa da população total que explora este recurso. As duas atividades tem caráter sazonal e são realizadas apenas nos meses da estação seca(junho a dezembro). Uma vez que os pescadores afirmam que no período chuvoso é difícil encontrar esses animais no estuário. Durante o inverno, os coletores entrevistados alternam para a exploração de outros recursos locais (peixe, siri, camarão e caranguejo). A média de 53 anos de idade dos coletores entrevistados demonstra o fato mencionado por eles de que as novas gerações na comunidade não se interessam mais com a atividade pesqueira como uma forma de trabalho. O tempo de experiência e vivência dos entrevistados aumenta a credibilidade das informações adquiridas durante esse estudo. Chama a atenção o fato dos mais jovens não estarem envolvidos com a atividade pesqueira na região, o que pode comprometer o futuro da profissão na localidade. Essa característica também foi observada em outro estuário cearense por Basílio & Garcez (2014). Em paralelo,
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 no caso da coleta de moluscos, a percepção dos entrevistados é de que há cada vez mais usuários esporádicos desses recursos. A redução da atividade de pesca pode trazer respostas positivas relacionadas à conservação dos cavalos-marinhos na região. Porém, outras ameaças, como o uso desordenado dos ambientes, podem ser igualmente ou mais prejudiciais para os cavalos-marinhos, extremamente sensíveis a alterações ambientais. Talvez essa descaracterização ou abandono da profissão de pescador no Pacoti possa levar a uma falta de atenção referente à conservação dos ecossistemas do estuário, já que teoricamente, os moradores do entorno não mais dependeriam dos recursos para sobreviver. Ao todo são exploradas seis espécies de moluscos pelos coletores, das quais três delas são mais intensamente visadas: Crassostrea mangle (ostra), Mytella guyanensis (sururu) e Anomalocardia brasiliana (búzio). As três, na ordem anteriormente citada, são as mais demandadas comercialmente. A única espécie de cavalo marinho registrada para a área de estudo é Hippocampus reidi. Ressalta-se que no período desse estudo, a coleta de cavalos-marinhos era permitida segundo a Instrução Normativa (IN) IBAMA nº 202/2008. Atualmente essa atividade é proibida pela Portaria MMA 445/14, tornando-se proibida a captura, transporte, armazenamento, guarda, beneficiamento e comercialização desses animais (ressalta-se que a Portaria ficou suspensa por um ano e voltou a vigorar em meados de 2016). Essa incerteza sobre a legitimidade da captura dos cavalos-marinhos, bem como a dificuldade de encontrá-los em seu ambiente natural nos últimos anos, possivelmente contribuiu para a diminuição de coletores na região, A atividade de coleta de moluscos vem passando por transformações nos últimos cinco anos (20122016). A maioria dos coletores (85%) percebe uma diminuição na abundância das espécies utilizadas. Entre os motivos citados pelos entrevistados para explicar essa variação estão: o maior número de pessoas utilizando-se dos recursos e as condições de seca nos últimos anos. Embora seja unânime a percepção de que o número de pessoas que vivem exclusivamente de recursos pesqueiros na região diminui, os entrevistados relatam um aumento no número de usuários esporádicos. Tal fato acaba por se refletir também no critério que os coletores usam para definir seus locais de coleta, pois 54% tem preferência por locais menos frequentados onde a abundância e tamanho dos recursos é, segundo eles, maior. Isso mostra que pode haver um certo conflito de uso entre esses dois perfis de coletores: em que os mais frequentes precisam se deslocar para locais mais afastados para terem uma boa produtividade. Parte dos coletores afirmou realizar um rodízio entre os locais de coleta, alternando margens ou se deslocando para pontos mais distantes do último lugar em que coletaram. Tal estratégia é justificada pelo fato de que, assim, os recursos tem mais tempo para se estabelecer. Embora os coletores não percebam ou denominem assim, trata-se de forma de manejo dos recursos que pode auxiliar na dinâmica de populações das espécies exploradas. CONCLUSÕES Os resultados encontrados tornam visíveis algumas práticas que são desempenhadas no estuário do rio Pacoti, e relevantes para a socioeconomia local. Portanto, para o adequado manejo do ecossistema manguezal e seus recursos, é preciso considerar as práticas locais de uso e exploração, bem como os diferentes atores sociais envolvidos. AGRADECIMENTOS À Capes, pela bolsa concedida ao primeiro autor. Ao CNPQ pela bolsa concedida ao segundo autor. Ao programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da UFC. Às pessoas da comunidade, que concederam o seu tempo para a realização desse estudo. REFERÊNCIAS
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Alves, R. R. N.; NISHIDA, A. K. (2002). A ecdise do caranguejo-uçá, Ucidescordatus (Crustacea, Decapoda, Brachyura) na visão dos caranguejeiros. Interciencia, v. 27, n. 3, p. 110-117. 2002. Amorozo, M. C. M.; Viertler, R. B. (2000). A abordagem qualitativa na coleta e análise dedados em etnobiologia e etnoecologia. In: Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.;Cunha, L. V. F. C. (Orgs.). Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: NUPPEA, p. 67-82. Alves, R. R. N. & Rosa, I.M.L. (2006). From cnidarians to mammals: The use of animals as remedies in fishing communities in NE Brazil. Journal of Ethnopharmacology, 107: 259-276. Basílio, T.H. & Garcez, D.S. (2014). A pesca artesanal no estuário do rio Curu, Ceará – Brasil: saber local e implicações para o manejo. Actapesca 2(1): 42-58. Decreto Nº 25.778, de 15 de Fevereiro de 2000 (DOE - 17.02.2000). Declara Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Pacoti. Foster, S.J & Vincent, A.C.J. ( 2004). Life history and ecology of seahorses: implications for conservation and management. Journal of Fish Biology , v. 65, p.1–61. Goodman, L. A.(1961). Snowball Sampling. The Annals of Mathematical Statistics, Vol. 32, No. 1, 148-170. Hilborn, R. (2007). Managing Fisheries is Managing People: what has been learned? Fish and Fisheries. 8:285–296. IBAMA. (2008). Instrução Normativa Nº 202 de 22 de outubro de 2008. IUCN. The IUCN Red List of Threatered Species. (2016) Version 2015-4 Lourie, S. A.; Foster, S. J.; Cooper, E. W. T.; Vincent, A. C. J. A (2004). Guide to the Identification of Seahorse. Project Seahorse and TRAFFIC North America. Washington D.C.: University of British Columbia and World Wildlife Fund. Ministério do Meio Ambiente. (2004) Instrução normativa nº5, de 21 de maio de 2004. Diário Oficial da União - seção 1, nº 102. Ministério do Meio Ambiente. (2014). Portaria nº. 445/ 2014. Brasília, Brasil. Nottingham, M. C. (2003). Biologia, parâmetros populacionais e análise do comércio de cavalos-marinhos (Teleostei: Syngnathidae: Hippocampus) no Brasil: Distribuição e estimativa de tamanho populacional no Ceará. Fortaleza. 2003. Relatório apresentado ao subprojeto PROBIO “Biologia, parâmetros populacionais e análise do comércio de cavalos-marinhos (Teleostei: Syngnathidae: Hippocampus) no Brasil”. Osório, F. M. (2005). Análise do Comércio de Cavalos-marinhos no Estado do Ceará. 66f. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas) – Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. Osório, F.M. (2008). Estudo populacional do cavalo-marinho Hippocampus reidi Ginsburg, 1933 (Teleostei: Syngnathidae) em dois estuários cearenses. 74f. Universidade Federal do Ceará – Dissertação de Mestrado em Ciências Marinhas Tropicais. Fortaleza, CE. Osório, F.M., Godinho, W.O.; Lotufo, T.M.C. (2011). Ictiofauna associada às raízes de mangue do Estuário do Rio Pacoti – CE, Brasil. Biota Neotropica 11(1). Rosa, I. L. (2005). The Proceedings of the International Workshop on CITES Implementation for Seahorse Conservation and Trade. National Report - Brazil. Pp. 46-53. In: Bruckner, A. W., J. D. Fields & N. Daves (Eds.). Silver Spring, NOAA Techinical Memorandum, 178p. Rosa, I. M.L.; Alves, R. R.N.; Bonifácio, K. M.; Mourão, J. S.; Osório, F. M.; Oliveira, T. PR.; Nottingham, M.C.. (2005). Fishers' knowledge and seahorse conservation in Brazil. In: Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 1:12. Silveira, R.B.; Ramirez, R.S; Silva, J.R.S.; Oliveira,C. (2014). Morphological and molecular evidence for the occurrence of three Hippocampus species (Teleostei: Syngnathidae) in Brazil. In: Zootaxa, 317:332. Vincent, A. C. J., Marsden, A. D., Evans, K. L.; Sadler, L. M. (2004) Temporal and special opportunities for polygamy in a monogonous seahorse, Hippocampus whitei. Behavior 141: 141-156.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LANGUAGE: Brazillian Portuguese
OS PESCADORES ARTESANAIS CONHECEM A “NOVA” LISTA DAS ESPÉCIES DE PEIXES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO (PORTARIA 445) NO BRASIL? Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho1.*, Rebeca M. F. Barreto2, José da Silva Mourão3 1
Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE, Brasil; 2Colegiado de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE, Brasil; 3Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. *Autor para correspondência:
[email protected].
RESUMO Objetivando-se avaliar os conhecimentos de pescadores artesanais a respeito das espécies proibidas de serem pescadas pela Portaria 445, foram realizadas entrevistas semiestruturadas a 20 pescadores da Vila de Caraíva, Bahia, entre abril e julho de 2017. Os pescadores não reconheceram as recentes espécies alocadas como ameaçadas e desconhecem a Portaria 445. Apenas o mero (Epinephelus itajara) foi reconhecido por todos os pescadores como em moratória. Estes demonstraram reconhecer as possíveis penalidades advindas da captura destas espécies e Reclamam da falta de comunicação com o órgão governamental que publica a lista. Salientam, assim, a necessidade de intervenções na comunidade para informá-los a respeito da temática. A ação de esclarecimento realizada na comunidade por meio da doação de um banner informa tivo poderá proteger os pescadores locais do risco de penalidades e as populações locais de espécies ame açadas. Ressalta-se a necessidade de apresentar aos pescadores artesanais brasileiros as espécies da Portaria 445. Palavras-chave: Pesca artesanal, recursos pesqueiros, Portaria 445, Nordeste do Brasil. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, o governo brasileiro revisou o estado de conservação de todas as espécies da fauna, da flora e de principais grupos de invertebrados existentes em território nacional. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi o responsável por este processo que resultou nas Portarias MMA 443, 444 e 445/2014, com as Listas Nacionais de Espécies Ameaçadas de Extinção, lançadas em 17 dezembro de 2014 (Pinheiro et al., 2015). Estas foram elaboradas a partir do processo iniciado em 2008, que contemplou a realização de dezenas de oficinas nas quais colaboraram mais de 1.000 pesquisadores de diversos órgãos brasileiros que atuam na conservação da natureza (Escobar, 2015). A Portaria 445/2014, especificamente, é responsável por normatizar as capturas, os usos e o comércio de 66 espécies de invertebrados aquáticos e 409 espécies de peixes considerados ameaçados no Brasil (Brasil, 2014). Ao se publicada a Portaria MMA 445, entidades ligadas à pesca industrial iniciaram um processo de contestação da legitimidade desta Portaria, questionando a metodologia aplicada no processo de definição sobre o que vem a ser uma espécie ameaçada de extinção e argumentando que a lista representa um empecilho ao desenvolvimento do setor pesqueiro nacional (Di Dario et al., 2015). Assim, em 2015, diante de uma ação penal impetrada por pescadores industriais organizados, a Portaria 445 foi revogada e só em 25 de janeiro de 2017 e foi reestabelecida (Buckup, 2017). O setor pesqueiro artesanal do Brasil, cuja capacidade de articulação institucional e política é histori camente baixa (Cordell, 1989; Vasconcelos et al., 2007), apesar de ser responsável por gerar trabalho e alimentação a pelo menos 250.000 brasileiros (Diegues, 2006), pouco se envolveu nas discussões a respeito da Portaria 445. Além disso, é provável que o desinteresse e incapacidade do poder público brasileiro em di-
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 alogar com o setor pesqueiro artesanal tenha culminado para um quadro de pouco conhecimento dos pescadores em relação a quais espécies de peixes têm suas capturas proibidas no Brasil. Diante deste contexto, o presente trabalho figura como um estudo de caso que objetivou analisar se pescadores artesanais marinhos da Praia de Caraíva, Bahia, reconhecem a existência da Portaria 445 e o fato dela acarretar na moratória da pesca de diversas espécies de peixes com as quais interagem. Desta forma, as seguintes hipóteses científicas foram avaliadas: 1 – Não foram realizadas iniciativas pelo poder público juntos aos pescadores da localidade no intuito de informá-los a respeito da recente proibição de determinadas espécies de peixes marinhos.; e 2 – Os pescadores não sabem quais espécies de peixes marinhos estão atualmente em moratória no Brasil. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo representa o extremo norte do Banco Oceânico dos Abrolhos, no estado da Bahia. Essa região caracteriza-se pela elevada complexidade ecossistêmica e riqueza de recursos naturais, sendo encarada como uma zona de altíssimo interesse biológico e social pelo governo brasileiro (MMA, 2002). A pesca na região é essencialmente multiespecífica e em um programa de monitoramento pesqueiro realizado no município de Porto Seguro foram identificadas 53 espécies de peixes (Costa et al., 2003). O presente estudo foi realizado junto a pescadores da Vila de Caraíva, em Porto Seguro. Essa locali dade atualmente é habitada por uma população descendente de indígenas Pataxó e por pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo que chegam atraídas pela beleza cênica do local e pelas oportunidades decorrentes do mercado turístico ali estabelecido. Seu litoral está inserido na parte norte da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, Unidade de Conservação implementada no ano de 2000 e que ocupa uma área total de 900 km2 (Previero et al., 2013). As principais atividades econômicas exercidas pelos beneficiários da REMC habitantes da Caraíva são o turismo, a construção civil, a agricultura familiar e a pesca. No ano de 2016 foi protocolado um pedido no Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo seres humanos da Universidade de Pernambuco, pelo site da Plataforma Brasil. Este foi liberado com o seguinte código CAAE: 65458016.0.0000.5207. Pelo fato da pesquisa ser realizada na REMC, este projeto foi cadastrado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), uma exigência do Instituto Brasileiro Do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para a realização de pesquisa em Unidades de Conservação Federais (IN Nº 154, de 2007). Seu código de autenticação é o seguinte: 33794187. Somente após a aprovação da pesquisa pelos Órgãos supracitados, a coleta dos dados junto aos pescadores foi iniciada. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (Drumond, 2002) a 20 pescadores. A seleção dos en trevistados se deu por amostragem probabilística estratificada (Albuquerque et al., 2014), uma vez que os critérios de inclusão de participantes foram: ser beneficiários da REMC, ter mais de 18 anos e pescar peixes no interior da UC. Nas entrevistas foi utilizado um formulário, de modo a permitir uma amplitude de respostas não induzidas a estes pescadores. Dentre as questões existentes no formulário, 14 se relacionam aos conhecimentos destes em relação à proibição da pesca de determinadas espécies de peixes marinhos. Os dados foram analisados quantitativamente por meio de técnicas da estatística descritiva. O pesquisador principal elaborou no programa Power Point uma arte gráfica contendo as fotos, no mes comuns e científicos de 30 das principais espécies de peixes marinhos constantes na Portaria 445. Um banner foi impresso em lona com o tamanho total de 140 centímetros de comprimento por 120 centímetros de altura e oferecido aos pescadores da comunidade em julho de 2017. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os pescadores conhecem ao menos uma espécie cuja captura seja proibida. O mero (Epinephelus itajara) foi citado por todos os participantes, como explicitado da Tabela 1.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Tabela 1. Etnoespécies citadas como proibidas pelos pescados da Caraíva (n=20). Etnoespécie Correspondente científico F. A.* F. R.** (%) Mero Epinephelus itajara 20 100 Badejo Mycteroperca bonaci 5 25 Budião Scarus trispinosus 5 25 Cação Selachii 3 15 Arraia Batoidea 3 15 Tartaruga Reptilia 2 10 As etnoespécies “ariocó”, “bagre” e “beijupirá” foram citadas apenas uma vez, cada. O reconhecimen to do mero (E. itajara) se deu pois a situação ecológica da espécie é a mais emblemática, a proibição se ini ciou há 15 anos e esta é a única espécie de peixe marinho no Brasil cuja moratória foi estabelecida por uma portaria específica (Hostim-Silva et al., 2005). De fato, o badejo (M. bonaci) e o budião (Scarus trispinosus) constam na Portaria 445 como Vulnerável e Em Perigo, respectivamente. Os pescadores que relataram o status de proibição dos cações e das arraias salientaram que todas as espécies destes grupos zoológicos estariam ameaçadas, fato que não correspondem à realidade. De fato, no total 31 espécies de cações e 24 de arraias encontram-se sob o status de conservação de ameaçadas (Brasil, 2014). O número de etnoespécies citadas variou entre um e três, média de 1,8 citações por pescador. Esta é uma quantidade ínfima, dado que a mais de quatro centenas de espécies de peixes encontram-se sob proteção pela Portaria 445. Quando questionados se conheciam uma “Lista nova do IBAMA” na qual constavam novas espécie de peixes cujas capturas se encontram proibidas, onze pescadores disseram conhecê-la e nove deles que não tinham ouvido nem ao menos falar desta. Os que ficaram sabendo, ou ouviram comentários de conheci dos (n=7) ou assistiram notícias de telejornais (4). Contudo, em geral, estes apenas ouviram falar da proibi ção sem muitos detalhes, sendo que alguns acreditam que a lista ainda está para entrar em vigor. Quase to dos os pescadores (n=18) reconhecem que a comunicação entre o órgão governamental e os pescadores não é adequada, uma vez que este não foram informados por tais órgãos sobre as novas proibições. Argu mentam ainda que um modo adequado de intervenção seria a realização de palestras de esclarecimento nas Colônias de Pescadores, na comunidade ou mesmo que os gestores da Resex de Corumbau apresentassem a lista em uma reunião do Conselho Deliberativo da UC. A maioria dos participantes (n=16) sabe das recomendações dos órgãos competentes para que os exemplares de espécies ameaçadas sejam soltos quando fisgados. Contudo, apenas seis entrevistados reconhecem que os pescadores devem soltar os animais ainda que já estejam mortos quando descobertos em seus materiais de pesca. Em relação ás possíveis penalidades no caso de pescadores serem flagrados com exemplares de espécies proibidas em suas embarcações, os entrevistados salientam que pode haver a prisão (n=11), a aplicação de multas (7), a perda da embarcação (1) ou dos equipamentos de pesca (1). Contudo, quase todos argumentaram que é injusta a aplicação de penalidades sem que os pescadores tenham sido previamente informados a respeito da proibição de novas espécies. De fato, este panorama se configura como uma ameaça aos pescadores. Diante deste contexto, como forma de esclarecer os pescadores locais em relação à proibição de espécies de peixes marinhos, o pesquisador principal doou um banner com fotografias e nome popular e científico de 30 diferentes espécies aos pescadores da vila. Este banner foi afixado em um trapiche onde os pescadores da vila Caraíva costumam se encontrar, em frente ao Rio Caraíva. Assim, os pescadores agora estão informados a respeito de quais espécies não podem capturar, fato que poderá beneficiar o ambiente marinho e eles mesmos. CONCLUSÕES Em sua maioria, os pescadores não reconheceram as espécies que constam na Portaria 445. Apenas o mero (E. itajara) foi reconhecido por todos os pescadores, dado que a espécie já se encontra sob status de ameaçada há 15 anos. Os pescadores demonstraram desconhecer a existência da mais recente
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 lista de espécies de peixes ameaçadas do Brasil. Estes atores sociais reconhecem algumas das possíveis penalidades advindas da captura de espécies proibidas. Os pescadores reclamam da falta de comunicação com o órgão governamental que publica a lista, salientando a necessidade de intervenções na comunidade para informa-los a respeito da temática. A ação de esclarecimento realizada na comunidade poderá proteger os pescadores locais do risco de penalidades por capturar espécies em moratória. Faz-se necessário que estudos em outras regiões do país sejam realizados no intuito de investigar se os pescadores artesanais conhecem a Portaria 445 e as espécies de peixes constantes nela. AGRADECIMENTOS Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa do primeiro autor. A dona Ana Lúcia Jandaia Pataxó, por todo apoio dado ao primeiro autor no trabalho de campo. Especialmente aos pescadores de Caraíva pela boa vontade em compartilhar seus conhecimentos. REFERÊNCIAS Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Lins Neto, E. M. F. (2014) Selection of Research Participants. In: Albuquerque, U. P.; Cunha, L. V. F. C.; Lucena, R. F. P.; Alves, R. R. N. (Eds.) Methods and Techniques in Ethnobiology and Ethnoecology. New York, Springer Protocols Handbooks, 2014, p.1-13. Brasil. (2014). Portarias nº 443, 444, 445, de 17 de dezembro de 2014. Diário Oficial da União, Seção 1 (245): 110–130, 18 Dezembro 2014. Buckup, P. A. (2017). Reinstatement of the Brazilian List of Endangered Aquatic Species. Newsletter of the IUCN SSC/WI Freshwater Fish Specialist Group. Issue 13: 24-26. Cordell, J. (1989). Social Marginality and Sea Tenure in Bahia. In: Cordell, J. (ed.). A Sea of Small Boats. Coleman, F. C.; Koening, C. C.; Huntsman, J. A.; Musick, J. A.; Eklund, A. M.; Mcgovern, J. C.; Chapman, R. W.; Sedberry, G. R.; Grimes, C. B. (2000). Long-lived reef fishes: The Grouper-Snapper complex. AFS Policy Statement Fisheries, v. 25, n. 3, p. 14-20. Costa, P. A.S. Braga, A. C., Rocha, L. O. F. (2003). Reef fisheries in Porto Seguro, eastern Brazilian coast. Fisheries Research 60: 577–583. Di Dário, F., Alves, C. B. M., Boos, H., Frédou, F. L., Lessa, R. P. T., Mincarone, M. M., Pinheiro, M. A. A., Polaz, C. N. M., Reis, R. E., Rocha, L. A., Santana, F. M., Santos, R. A., Santos, S. B., Vianna, M. & Vieira, F. (2015). A better way forward for Brazil´s fisheries. Science 347 (6226), 1079. Diegues A.C. (2006). Artisanal Fisheries in Brazil. India: International Collective in Support of Fishworkes, Samudra Monograph 72 pp. Drumond, M. A. (2002). Participação comunitário no manejo de Unidades de Conservação: Manual de técnicas e ferramentas. Belo Horizonte – Instituto Terra Brasilis de Desenvolvimento Sócio-Ambiental. 81p. Hostim-Silva, M., A. A. Bertoncini., L. C. Gerhardinger & L. F. Machado. (2005). The Lord of the Rocks conservation program in Brazil: the need for a new perception of marine fishes. Coral Reefs. 24: 74. MMA. (2002). Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade das zonas costeira e marinha. Brasília: MMA / SBF. 72 p. Olavo, G.; Costa, P. A. S.; Martins, A. S. (2005). Caracterização da pesca de linha e dinâmica das frotas linheiras da Bahia, Brasil. In: Costa, P.A.S.; Martins, A.S.; Olavo, G. (Eds.) Pesca e potenciais de exploração de recursos vivos na região central da Zona Econômica Exclusiva brasileira. Rio de Janeiro: Museu Nacional. p. 13-34 (Série Livros n.13). Pinheiro, H. T., Di Dario, F., Gerhardinger, L. C., Melo, M. R. S., Moura, R. L., Reis, R. E., Vieira, F., Zuanon J. & Rocha, L. A. (2015). Brazilian aquatic biodiversity in peril. Science 350 (6264), 1043-1044. Previero, M., Minte-Vera, C. V., Moura, R. L. (2013). Fisheries monitoring in Babel: fish ethnotaxonomy in a hotspot of common names. Neotropical Ichthyology, 11(2): 467-476. Vasconcelos, M.; Diegues; A. C. S. A; Sales, R. R. (2007). Limites e possibilidades na gestão da pesca artesanal costeira. In: Costa, A. L. (Org.) Nas Redes da Pesca Artesanal. Brasília: IBAMA – MMA, 2007, p.15-83.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LANGUAGE: Brazillian Portuguese
“...PORQUE SE NÃO FOSSE A RESEX HOJE EM DIA AQUI...”: PERCEPÇÕES DE PESCADORES ARTESANAIS DA PRAIA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DA EFETIVIDADE SOCIOAMBIENTAL DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO CORUMBAU Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho1.*, Rebeca M. F. Barreto2, José da Silva Mourão3 1
Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE, Brasil; 2Colegiado de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE, Brasil; 3Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. *Autor para correspondência:
[email protected].
RESUMO Reservas Extrativistas Marinhas visam à melhoria de vida de populações tradicionais em consonância à conservação do meio ambiente. Este trabalho analisou as percepções dos pescadores da Caraíva, Porto Seguro, Bahia, a respeito da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau (REMC) e possíveis influências da Unidade de Conservação nas suas próprias vidas e no meio ambiente como um todo. Foram realizadas en trevistas semiestruturadas a 21 pescadores entre abril e julho de 2017. Todos os entrevistados demonstraram satisfação com a existência da UC. Relatam que a maior contribuição da Resex foi ter impedido que barcos de outras regiões invadissem seus territórios tradicionais. Argumentam também que, por isso, atual mente os pescados estão voltando e pescarias rendem mais peixes. Outra melhoria apontada é o direito exclusivo dos nativos trabalharem com o turismo náutico. Tais resultados devem servir de bandeira em favor desta modalidade de UC no Brasil. Palavras-chave: Áreas Marinhas Protegidas, pesca artesanal, gestão pesqueira, Nordeste do Brasil. INTRODUÇÃO Mundialmente, o estabelecimento de Áreas Marinhas protegidas (AMPs) destaca-se como um dos principais modelos empregados na conservação do ambiente marinho. No Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) estabelece a existência de AMPs de Uso Restrito e AMPs de Uso Sus tentável, sendo as Reservas Extrativistas Marinhas enquadradas no segundo caso. Estas são implementadas em territórios ancestralmente utilizados por populações litorâneas extrativistas e objetivam proteger seus meios de vida e garantir a reprodução da sua cultura, além de conservar os recursos naturais (Brasil, 2000). Assim, qualquer instrumento que vise a avaliar a efetividade deste tipo de UC deve, necessariamente, analisar as percepções dos beneficiários a respeito das alterações socioambientais decorrentes destas. A Lei do SNUC (Brasil, 2000) estabelece os Planos de Manejo como o documento que baliza todas as atividades que ocorrem em Reservas Extrativistas. No ano de 2000, a Reserva Extrativista Marinha do Corumbau (REMC), sul da Bahia, Brasil, foi estabelecida em um hotspot de biodiversidade marinha do Oceano Atlântico Sudoeste: o Banco dos Abrolhos. Essa região, historicamente, representa uma rica e relevante zona de pesca recifal (Moura et al., 2013). O Plano de Manejo da REMC foi lançado em 2003 e, dentre as principais estratégias de manejo, destacam-se as restrições no esforço de captura dos recursos, a existên cia de áreas de restrição a determinadas artes e também o estabelecimento de zonas de exclusão de pesca (No-Take Zones), além do monitoramento da pesca (Moura et al., 2007). Além disso, este Plano de Manejo restringe a realização de atividades comerciais e de subsistência no interior da Resex aos nativos e àquelas pessoas que habitem nas localidades do entorno da UC há pelo menos quatro anos.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 O presente trabalho se propõe a responder a seguinte pergunta científica: “Quais são as percepções dos beneficiários a respeito da efetividade da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau?”. Informações transmitidas em conversações informais realizadas com os pescadores da Praia de Caraíva no ano de 2016, permitiram a avaliar a hipótese científica: “Os pescadores estão satisfeitos com a Resex de Corumbau por perceberem melhorias socioambientais decorrentes desta UC.”. Assim, o presente estudo objetivou avaliar as percepções dos beneficiários sobre a REMC afim de contribuir para a gestão desta UC. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo localiza-se no sul da Bahia e representa o extremo norte do Banco Oceânico dos Abrolhos, região que apresenta as maiores formações recifais do Brasil (Dutra et al., 2005). Diante deste ce nário, o Banco dos Abrolhos abrange a primeira rede de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) do Brasil (Moura et al., 2013), com destaque para as seguintes Unidades de Conservação (UC) Federais: o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, a Reserva Extrativista Marinha de Cassurubá e a Resex Marinha do Corumbau. A REMC foi instaurada em setembro de 2000, ocupa atualmente uma área total de 900 km 2 (Previero et al., 2013) e se estende por 62 km de costa, entre a região norte do município de Prado e sul de Porto Se guro. Esta UC foi estabelecida em resposta a uma demanda dos pescadores de sete comunidades pesqueiras destas duas cidades (Caraíva, Aldeia Barra Velha, Aldeia Bugigão, Corumbau, Veleiro, Cumuruxatiba e Imbassuaba), que se sentiam prejudicados pelos impactos ambientais advindos do que denominavam de “invasão dos barcos de fora” (Dutra et al., 2011). Em sua maioria, estes pescadores artesanais são indígenas da Etnia Pataxó ou descendem destes (Moura et al., 2009). As principais atividades econômicas verificadas na área de estudo são o turismo, a agricultura familiar e a pesca. A Praia de Caraíva atualmente é ha bitada por uma população descendente de indígenas e pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo que se mudaram atraídas pela beleza cênica do local e pelas oportunidades decorrentes do mercado turístico ali estabelecido. Foi protocolado um pedido no Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo seres humanos Universidade de Pernambuco, via o site da Plataforma Brasil. Este foi liberado com o seguinte código CAAE: 65458016.0.0000.5207. Pelo fato da pesquisa ser realizada na REMC, este projeto foi cadastrado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), uma exigência do Instituto Brasileiro Do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para a realização de pesquisa em UCs Federais (IN Nº 154, de 2007). Seu código de autenticação é o seguinte: 33794187. Somente após a aprovação da pesquisa pelos Órgãos supracitados, a coleta dos dados em campo foi iniciada. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (Drumond, 2002) a 21 pescadores da REMC e que mo ram na Praia de Caraíva. A seleção dos entrevistados se deu por amostragem probabilística estratificada (Albuquerque et al., 2014), uma vez que os critérios de inclusão de participantes foram: ser beneficiários da REMC, ter mais de 18 anos e pescar peixes no interior da UC. Nas entrevistas foi utilizado um formulário, de modo a permitir uma amplitude de respostas não induzidas a estes pescadores. Dentre as questões existentes no formulário, 17 se relacionam às percepções dos pescadores a respeito da REMC e possíveis altera ções socioambientais decorrentes do estabelecimento desta UC. Os dados foram analisados quantitativamente por meio de técnicas da estatística descritiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO A maioria (90,5%; n=19) dos participantes nasceu no município de Porto Seguro e suas idades variaram entre 21 e 88 anos, com média de 42 anos. O tempo de experiência na pesca regional variou entre 6 e 70 anos, média de 27 anos e seis meses. Todos os participantes realizam a pesca em embarcações com no máximo 7,5 metros, capturam peixes com linhas de mãos em pescarias denominadas localmente de “bate e volta”, ou seja, não chegam a passar as noites no mar. Entre os pescadores, apenas um não soube responder se a Resex mudou em sua vida. Todos os outros afirmaram que suas vidas melhoraram pela existência da UC. Os principais motivos apontados se relacionam ao aumento na quantidade de peixes (80,1%; n=17), pela melhoria na realização do turismo
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 (71,4% n=15) e pela exclusividade dos nativos em realizar a pesca (52,4%; n=11), além de outros direitos conquistados e que estão atrelados ao papel de beneficiários de uma UC. Não obstante, inúmeros desafios em relação à gestão da Resex e à qualidade de vida dos beneficiários ainda podem ser verificados. Por exemplo, Moura et al. (2009) apontam distorções no processo de comercialização do pescado e afirmam que até aquele momento o estabelecimento da REMC ainda não havia sido traduzido em melhoria nos indicadores econômicos dos beneficiários. Além disso, 52,4% (n=11) dos participantes argumentou que alguns beneficiários da REMC e até mesmo pescadores “de fora” ainda pescam nas áreas protegidas estabelecidas. Assim, a maioria (66,7%; n=14) salientou que a fiscalização dentro da UC é “fraca”. Durante as entrevistas uma expressão emergiu recorrentemente. Quando questionados se a REMC mudou alguma coisa em suas vidas ou na proteção da natureza, os pescadores costumam repetir que “se não fosse a Resex hoje em dia aqui...” com algumas variações que denotam a situação caótica em que se encontrava o ambiente marinho na fase anterior à implementação da UC. Por exemplo, a conclusão das frases variava entre: “...já não existia mais peixe.”, “...a pesca aqui já tinha acabado.”, “...o pescador tava perdido.” ou ainda “...tudo já teria sido destruído.”. Os entrevistados argumentam que a atuação de centenas de barcos de grande porte de outras cidades da Bahia e até de outros estados brasileiros, que realizavam a pesca com redes de arrasto de camarões, destruía o ambiente marinho local e desperdiçava uma grande quantidade de filhotes de peixes de inúmeras espécies. Ainda segundo estes, esse fato foi o principal responsável pela diminuição na pesca de uma infinidade de espécies de peixes, incluindo o desaparecimento de algumas delas dos desembarques. De fato, para a região sul da Bahia, alguns trabalhos têm apontado o impacto negativo da pesca de arrasto de camarão sobre a própria pesca, o assoalho marinho e também sobre diversos grupos animais (Alarcon & Schiavetti, 2005; Moraes et al., 2009; Barbosa-Filho & Costa-Neto, 2016). Quando o assunto são as áreas de uso restrito e aquelas protegidas e o recife do Tatuaçu é o mais reconhecido (80,1%; n=17) como zona de uso restrito, uma vez que está localizado próximo à Praia de Caraíva. As denominadas “pedras próximas à Corumbau” também foram apontadas por 24% (n=5). Os entrevistados também se mostraram favoráveis à tal configuração de proteção e a maioria (85,7%; n=18) percebe que estas áreas acarretam em melhorias na qualidade de vida dos beneficiários e no ambiente. Por exemplo, a maior parte deles (85,7%; n=18) argumentou que elas estão dando certo na proteção à natureza, além de melhorarem o rendimento da pesca nas regiões de entorno (76,2%; n=16). Francini-Filho e Moura (2008), em um monitoramento recifal que comparou o antes e o depois da implementação da zona de proteção em relação à diversidade íctica do Recife de Itacolomis, que fica no litoral em frente à Vila da Ponta do Corumbau, identificou um incremento na abundância e na biomassa dos peixes no interior e no entorno deste recife. CONCLUSÕES Os pescadores demonstram reconhecer os impactos socioambientais positivos advindos da UC. Diante de uma situação de crise financeira e política no Brasil, que coadunam em um panorama de perda de direitos pelos brasileiros, sobretudo pelas populações tradicionais, os resultados do presente estudo devem servir como uma bandeira em favor da implementação e manutenção das Reservas Extrativistas Marinhas. AGRADECIMENTOS Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa do primeiro autor. A dona Ana Lúcia Jandaia Pataxó, por todo apoio dado ao primeiro autor no trabalho de campo. Especialmente aos pescadores de Caraíva pela boa vontade em compartilhar seus conhecimentos. REFERÊNCIAS
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Alarcon, D. T.; Schiavetti, A. (2005). O conhecimento dos pescadores artesanais de Itacaré sobre a fauna de vertebrados (não peixes) associados às atividades pesqueiras. Revista da Gestão Costeira Integrada, Itajaí, v. 4, p. 1-4. Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Lins Neto, E. M. F. (2014) Selection of Research Participants. In: Albuquerque, U. P.; Cunha, L. V. F. C.; Lucena, R. F. P.; Alves, R. R. N. (Eds.) Methods and Techniques in Ethnobiology and Ethnoecology. New York, Springer Protocols Handbooks, 2014, p.1-13. Barbosa-Filho, M. L. V.; Costa-Neto, E. M. C. (2016). Conhecimento ecológico local de pescadores artesanais do sul da Bahia, Brasil, sobre as interações tróficas de tubarões. Biotemas, 29 (3): 41-52. Brasil. (2000). Lei N◦9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1◦, incisos I, II, III, e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de julho de 2000, 138, Seção 1, 45. Drumond, M. A. (2002). Participação comunitário no manejo de Unidades de Conservação: Manual de técnicas e ferramentas. Belo Horizonte – Instituto Terra Brasilis de Desenvolvimento Sócio-Ambiental. 81p. Dutra, G. F., Allen, G. R., Werner, T., Mckenna, A. S. (Eds.). (2005). A Rapid marine biodiversity assessment of the Abrolhos Bank, Bahia, Brazil. RAP Bulletin of Biological Assessment 38. Washington, Conservation International. Dutra, G. F., Camargo, E., Santos, C. A. P., Ceotto, P. (2011). Abrolhos: desafios para a conservação e o desenvolvimento sustentável na área com a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, Field Actions Science Reports [Online], Special Issue 3, Online since 15 décembre 2012, connection on 11 july 2017. URL http://factsreports.revues.org/2310 Francini-Filho, R. B.; Moura, R. L. (2008). Evidence for spillover of reef fishes from a no-take marine reserve: Na evaluation using the before-after control-impact (BACI) approach. Fisheries Research, 93: 346– 356. Moraes, L. E.; Romero, R. M.; Rocha, G. R. A.; Moura, R. L. (2009). Demersal ichthyofauna of the inner continental shelf off Ilhéus, Bahia, Brazil. Biota Neotropica, Campinas, v. 9, p. 163168. Moura, R. L., Minte-Vera, C. V., Curado, I. B., Francini-Filho, R. B., Rodrigues, C. L., Dutra, G. F., Alves, D. C., Souto, F. J. B. (2009). Challenges and prospects of fisheries co-management under a Marine Extractive Reserve framework in Northeastern Brazil. Coastal Management, 37: 617-632. Moura, R. L., Secchin, N. A., Amado-Filho, G. M., Francini-Filho, R. B., Freitas, M. O., Minte-Vera, C. V., Teixeira, J. B., Thompson, F. L., Dutra, G. F., Sumida, P. Y. G., Guth, A. Z.; Lopes, R. M., Bastos, A. C. (2013). Spatial patterns of benthic megahabitats and conservation planning in the Abrolhos Bank. Continental Shelf Research, 70: 109-117. Previero, M., Minte-Vera, C. V., Moura, R. L. (2013). Fisheries monitoring in Babel: fish ethnotaxonomy in a hotspot of common names. Neotropical Ichthyology, 11(2): 467-476.
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CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LANGUAGE: Brazillian Portuguese
IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO PESQUEIROS PRATICADOS EM COMUNIDADES DO LITORAL LESTE DO CEARÁ Thaís Chaves da Silva1,*, Leonardo Mesquita Pinto1, Jorge Iván Sánchez Botero2, Danielle Sequeira Garcez3 1
Mestrandos pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais, Instituto de Ciências do Mar (Labomar), Universidade Federal do Ceará (UFC); 2Professor Associado, Doutor em Ecologia, Laboratório de Ecologia Aquática, Departamento de Biologia (UFC). 3Professora Adjunto IV, Doutora em Ciências, Laboratório de Ecologia Pesqueira, Labomar (UFC). *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO O estudo buscou identificar os sistemas de produção pesqueiros praticados em quatro das 16 comunidades distribuídas ao longo de 46 km de costa do município de Icapuí (CE). A área é importante para a produção pesqueira do estado do Ceará e possui um longo histórico de conflitos relacionados aos territórios marinhos, no uso e captura de recursos pesqueiros. O caráter qualitativo da pesquisa motivou a adoção do método etnográfico, com a aplicação de entrevistas semiestruturadas a pescadores ativos e residentes nas comunidades. Um total de dez sistemas de produção pesqueiros foram identificados, envolvendo combinações de cinco tipos de embarcações e nove aparelhos de pesca. A diversidade de sistemas encontrada é um dos aspectos que reflete a complexidade da atividade na região. Tal característica deve ser considerada pelas iniciativas de conservação na área, priorizando abordagens que incluam os diferentes atores envolvidos em todos os sistemas de produção pesqueira. Palavras-chave: comunidade costeira, pesca, conservação. INTRODUÇÃO A complexidade é uma característica intrínseca da pesca, dada a diversidade de aparelhos utilizados na captura de espécies (seletivos ou não), pela extensão geográfica onde a atividade pode ser realizada, e pela diversificada cadeia produtiva. Nesse contexto, o saber empírico sobre o mar e a pesca é essencial na arte de explorar o ecossistema marinho e de capturar pescados (Soares, Salles, Lopez, Muto, & Giannini, 2009). Para Vasconcellos, Diegues e Sales (2007), a insuficiência de informações estatísticas pesqueiras é um fato conhecido, motivado pelas características peculiares da atividade que dificultam a coleta de dados e sua supervisão; assim, os métodos de avaliação e gestão dos estoques precisam ser adequados às condições de limitação de informações, buscando diversificar as fontes e incluir o conhecimento dos pescadores. Além disso, a necessidade de se obter dados precisos sobre o desenvolvimento da atividade não consiste somente em conhecer a real situação dos estoques de espécies comerciais exploradas, mas abrange a importância da pesca para inúmeras famílias inseridas em comunidades costeiras, como fonte de renda, segurança alimentar e manifestação de suas culturas. Nesse sentido, é preciso conhecer também as relações sociais desenvolvidas, ligadas à atividade, e a forma como esta é praticada, reunindo informações potenciais para gestão de recursos pesqueiros (Gasalla & Ykuta, 2015). No Brasil, algumas iniciativas de gestão pesqueira têm incentivado a participação dos usuários de recursos nas tomadas de decisão a respeito do manejo como alternativa ao modelo centralizado no Estado. E, na legislação brasileira há disposições que possibilitam essa participação, seja por meio de consulta pública ou do protagonismo dos usuários nas tomadas de decisão sobre uso de recursos pesqueiros (Vieira, Santos, & Seixas, 2015).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 O município de Icapuí apresenta uma produção pesqueira relevante para o estado do Ceará. Ao longo dos 46 km de extensão da sua costa estão localizadas 16 comunidades (Santos, 2014). A área apresenta um longo histórico de conflitos em torno dos recursos pesqueiros, que remonta à década de 1980 (Marinho, 2010; Brasil, 2013; Rodrigues, 2013). Os principais atores envolvidos nessa disputa são: de um lado os pescadores que utilizam manzuás e do outro os mergulhadores que utilizam compressores (observação pessoal). No entanto, a maioria dos estudos sobre sistemas pesqueiros desenvolvidos até o momento concentram-se em apenas uma comunidade (Almeida, 2010; Marinho, 2010). Existe, portanto, a necessidade de se incluir e caracterizar os sistemas de outras comunidades do município. Desta forma, este estudo tem por objetivo identificar e descrever sistemas de produção pesqueiros praticados em quatro comunidades distribuídas ao longo de 8 km da costa de Icapuí (CE), a fim de permitir visualizar a diversificação de usos do espaço marítimo-costeiro ligados à pesca. MATERIAL E MÉTODOS Os procedimentos para coleta e análise de dados foram selecionados de forma a atender o caráter qualitativo da pesquisa. Desta forma, optou-se por utilizar o método etnográfico, modalidade de investigação naturalista que tem como base a observação e a descrição (Marconi & Lakatos, 2009), e coletas de dados de forma participativa (Albuquerque, Lucena & Alencar, 2010). A pesquisa foi baseada em informações adquiridas a partir do conhecimento de seres humanos, assim, é importante explicitar que a mesma foi realizada buscando atender aos fundamentos éticos e científicos pertinentes expostos na Resolução nº 466 do Conselho Nacional de Saúde, de 12 de dezembro de 2012. Desta forma, o projeto foi previamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição, via Plataforma Brasil, e possui CAAE nº 65388017.7.0000.5054. Após parecer do CEP, tiveram início os procedimentos para a pesquisa em campo, divididos em duas fases: pedidos de autorização aos pescadores e realização de entrevistas pelo método da entrevista semiestruturada. Esta técnica permite trazer questionamentos de interesse a pesquisa e simultaneamente oferece espaço para que estes possam ser redefinidos à medida que novas dúvidas surgem, direcionando o diálogo (Pieve, 2009). A técnica utilizada para definir o universo amostral foi o método bola-de-neve, onde um primeiro entrevistado indica mais dois pescadores, e assim sucessivamente até que comecem a aparecer indicações repetidas. De acordo com Albuquerque, Lucena e Lins Neto (2010) esta técnica é utilizada para uma seleção intencional de informantes, o que justifica a escolha, já que o objetivo é descrever os sistemas de produção pesqueiros existentes em uma área determinada; logo optou-se por trabalhar apenas com especialistas locais, ou seja, pescadores. Assim, foram realizadas 15 entrevistas, entre os meses de abril e junho de 2017, com pescadores profissionais maiores de 18 anos residentes e atuantes nas comunidades Vila Nova, Barreiras de Baixo, Barreiras de Cima e Barrinha, localizadas em Icapuí, litoral leste do Ceará. Os dados das entrevistas foram somados às informações adquiridas pelo método de observação participante e sistematizadas em um diário de campo, o que permitiu ao pesquisador participar do cotidiano dos grupos envolvidos e adquirir elementos que ajudassem a compreender o modo de vida nas comunidades e as relações desenvolvidas. Essas duas técnicas são muito utilizadas por pesquisadores qualitativos, pois possibilitam ao investigador vivenciar o dia-a-dia do grupo social e trabalhar dentro do sistema de referência dos observados (Marconi & Lakatos, 2009). A análise dos dados foi apoiada no método de triangulação, por ser uma forma de confrontar ou complementar informações provenientes de diferentes fontes de pesquisa utilizadas. Este procedimento assegura que o fenômeno seja tratado a partir de diferentes pontos de vista e que exista uma imagem mais ampla da realidade, pois consiste na combinação de todos os métodos utilizados para coleta de dados, e possibilita maior explicação e compreensão do caso estudado (Verdejo, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 A triangulação de dados permitiu identificar, pelo menos, dez sistemas de produção pesqueiros na área estudada, contemplando combinações diferentes entre cinco tipos de embarcações e nove aparelhos de pesca. Essas pescarias ocorrem desde profundidades baixas (≅2 m) próxima a linha de costa até profundidades mais elevadas (acima de 100 m). Os sistemas envolvem petrechos não seletivos, destinados a peixes diversos, pelágicos ou demersais, e seletivos, destinados a recursos específicos, no caso, principalmente, lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (Panulirus laevicauda). As embarcações utilizadas são jangadas, paquetes e botes, de menor porte, com propulsão à vela ou motor, além de “lanchas” (bote a motor com cabine na popa) e “navios” (embarcação a motor, maior que 10 m, com cabine na proa). As artes de pesca empregadas, citadas e descritas pelos pescadores englobam técnicas ativas e passivas, sendo: linha e anzol, rede de espera boieira (pelágicos), rede de espera aprofundada (demersais), viveiro para peixe, curral, arpão, tarrafa, manzuá e rede de fundo. Os equipamentos acima citados são utilizados por pescadores e mergulhadores, diferenciando assim pesca tradicional de pesca alternativa, como é denominada nas comunidades. Esta última pode ser praticada com auxílio de compressor de ar (mergulhos mais profundos) ou em apneia (mergulho livre em profundidades rasas). Existem, ainda, as “marambaias”, recifes artificiais construídos preferencialmente com tambores de ferro ou pneus, utilizadas como pontos de pescarias marcadas. A diversidade de sistemas de pesca identificada é um reflexo da multiplicidade de usos e interesses em relação aos recursos pesqueiros na região. Também é importante destacar esse fato ao lado do histórico de conflitos existentes no local. Assim, qualquer iniciativa de conservação para a área deve levar em conta essa complexidade e procurar incluir e incentivar o diálogo entre os diferentes atores. Vieira et al. (2015) apresentam uma revisão do conjunto de documentos legais federais que possibilita a participação e cooperação entre os diferentes usuários nos processos de tomada de decisão e elaboração de diretrizes. E concluem que, de sete arranjos institucionais identificados, tanto no âmbito de políticas ambientais quanto no desenvolvimento do setor pesqueiro, apenas um afirma maior autonomia às organizações locais e, portanto, possibilita a participação dos usuários de forma decisória na deliberação sobre uso e acesso aos recursos pesqueiros. No caso, a Instrução Normativa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA nº 29 de 2002 (IBAMA, 2002), que regulamenta os acordos de pesca. CONCLUSÕES Este estudo torna visível a diversidade de sistemas pesqueiros no litoral leste do Ceará, evidenciando, assim, a complexidade de usos e interesses em relação aos recursos. Para a gestão pesqueira na região é fundamental considerar esta diversificação de usuários e formas de exploração, priorizando propostas que incentivem o diálogo entre os diferentes atores sociais envolvidos. AGRADECIMENTOS À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela concessão de bolsas e auxílios, que permitiram a execução do projeto. REFERÊNCIAS Albuquerque, U. P., Lucena, R. F. P. & Alencar, N. L. (2010). A abordagem qualitativa na coleta e análise de dados em Etnobiologia e Etnoecologia. In: U. P. Albuquerque, R. F. P. Lucena & L. F. P. Cunha (Orgs.), Métodos e Técnicas na pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica (pp. 41-64). Recife, PE: NUPPEA. Albuquerque, U. P., Lucena, R. F. P., & Lins Neto, E. M. F. (2010). Seleção dos participantes da pesquisa. In: U. P. Albuquerque, R. F. P. Lucena & L. F. P. Cunha (Orgs.), Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica (pp. 21-38). Recife, PE: NUPPEA. Almeida, L. G. (2010). Caracterização das áreas de pesca artesanal de lagosta na praia de Redonda, Icapuí-CE (Dissertação de Mestrado em Ciências Marinhas Tropicais, Universidade Federal do Ceará,
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Instituto de Ciências do Mar – Labomar, Fortaleza, Brasil). Disponível em http://www.repositoriobib.ufc.br/000008/000008F9.pdf Brasil, E. P. (2013). Guerra na terra e no mar: um conflito socioambiental entre pescadores de lagosta em Icapuí-CE (Dissertação de Mestrado em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil). Disponível em http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/handle/123456789/11910 Gasalla, M. A. & Ykuta, C. (2015). Revelando a pesca de pequena escala. São Paulo, Brasil: Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo (PRCEU - USP). Instrução Normativa IBAMA n. 29. (2002, 31 de dezembro). Disponível em http://www.icmbio.gov.br/cepsul/legislacao/instrucao-normativa/341-2002.html Marconi, M. A. & Lakatos, E. M. (2009). Metodologia Científica. (5ª ed.). São Paulo, Brasil: Atlas. Marinho, R. A. (2010). Co-gestão como ferramenta de ordenamento para a pesca de pequena escala do litoral leste do Ceará- Brasil (Tese de Doutorado em Engenharia de Pesca, Universidade Federal do Ceará - Departamento de Engenharia de Pesca, Fortaleza, Brasil). Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/1418 Pieve, S. M. N. (2009). Dinâmica do conhecimento ecológico local, Etnoecologia e aspectos da resiliência dos pescadores artesanais da Lagoa Mirim- RS (Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil). Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/22674 Rodrigues, D. V. (2013). Análise dos conflitos entre pescadores artesanais de lagosta no município de Icapuí, Ceará (Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil). Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/16665 Santos, A. M.F. (2014). Geotecnologias para a Gestão Pública: uma aplicação em Icapuí/CE (Tese de Doutorado em Geografia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará). Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/20236 Soares, L. S. H.; Salles, A. C. R.; Lopez, J. P.; Muto, E. Y.; Giannini, R. (2009). Pesca e produção pesqueira. In: V. Hatje & J. B. Andrade (Orgs.), Baía de todos os santos: aspectos oceanográficos (pp. 158-206). Salvador, BA: EDUFBA. Vasconcellos, M.; Diegues A. C.; Sales R. R. (2007). Limites e possibilidades na gestão da pesca artesanal costeira. Pp. 15-84. In: A. Costa (Org.), Nas redes da pesca artesanal (pp.15-84). Brasília, DF: IBAMA, PNUD. Verdejo, M. E. (2006). Diagnóstico Rural Participativo: guia prático DRP. Brasília, Brasil: MDA/Secretaria da Agricultura Familiar. Vieira, M. A. R. M.; Santos, C. R.; Seixas, C. S. (2015). Oportunidades na legislação brasileira para sistemas de gestão compartilhada da pesca costeira. Boletim do Instituto de Pesca, 41(4), 995-1012.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOECOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
PERCEPÇÃO DE MORADORES DE FLORIANO-PI QUANTO AO USO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS E DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL SOBRE OS RECURSOS NATURAIS Antonio Alves da Cunha Filho¹, Brendo Barbosa Moura¹, Elisa Pereira dos Santo¹, Rogério Nora Lima²* 1. Graduandos em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – CAFS. *2. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral – CAFS. E-mail:
[email protected]
RESUMO Por conta do crescimento populacional a cada dia que passa há uma maior utilização dos recursos naturais de forma insustentável para suprir as necessidades da população, isto acarreta diversos problemas ambientais. Desta forma se faz necessário pensar em tecnologias de baixo custo, baixo impacto ambiental e de fácil acessibilidade e que podem contribuir para a economia familiar e industrial que, em conjunto, minimizam os impactos negativos causados pelo homem na natureza, tais como climatizadores de ar, lâmpadas solares, biodigestores, dentre outros. O presente trabalho teve como objetivo identificar o nível de conhecimento das pessoas com relação a existências de invenções tecnológicas que podem contribuir para a economia de uma residência e mostrar a viabilidade de tais invenções. Com este intuito realizou-se uma visita a alguns bairros e comunidades da cidade de Floriano-PI. Na zona urbana foram realizadas visitas de forma aleatória nos seguintes bairros: Campo Velho, Via Azul, Pedro Simplício, Rede Nova, Manguinha, Irapuá II, Filadélfia, Coradouro. Participaram um total de 16 pessoas, sendo 9 (56,25%) do sexo masculino e 7 (43,75%) do sexo feminino, a faixa etária dos entrevistados varia de 19 a 63 anos. Já na zona rural de Floriano, foram visitadas as seguintes comunidades: Paracatí, Pé da Ladeira, Cajueiro, Ilha de Guaribas. Participaram um total de 12 pessoas, sendo 6 (50%) do sexo masculino e 6 (50%) do sexo feminino, a faixa etária dos entrevistados varia de 21 a 68 anos. Quase 90% dos entrevistados desconhece ou nunca usou qualquer dessas tecnologias. Sobre a produção de biogás em digestor biológico 50% sequer ouviu falar dessa possibilidade e, mesmo os que conhecem nunca a utilizaram. Situação semelhante ocorre com a aplicação da lâmpada solar, dos climatizadores de ar e da reciclagem de resíduos sólidos. Quanto à existência de outras tecnologias dessa natureza 75% responderam que não conhecem e, dos que disseram saber, 11% citaram apenas a energia solar fotovoltaica. Por outro lado, 93% dos respondentes concordaria em utilizar as tecnologias expostas nesse estudo caso tivesse oportunidade. Palavras-chave: Recursos naturais, Pegada ecológica, Economia ambiental. INTRODUÇÃO Face ao cenário de rápidas e imprevisíveis mudanças ambientais que estão se concretizando nos últimos anos vem à tona novamente a questão de como conciliar desenvolvimento econômico e os limites de uso dos recursos naturais e dos sistemas ambientais nos quais esses recursos estão inseridos. Nesse sentido, a ideia de desenvolvimento ambiental (MILLER & SPOOLMAN, 2013) que permeia o imaginário coletivo remete muito mais à proteção da natureza do que aos estudos necessários para que se conheçam os limites naturais a serem respeitados na exploração econômica dos mesmos. Entretanto, apesar da distorção imediatista do sistema capitalista predominante preocupar-se predominante com a liquidez proveniente das alterações introduzidas nos sistema de suporte à vida, visando acúmulo de capitais voláteis e concentrados para uma pequena parcela da sociedade, há uma
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 contradição gritante nessa visão, a qual é, em última análise, a causadora da quase totalidade dos descontroles e alterações ambientais que estão precarizando as condições de vida na Terra: A economia, que em sua origem surgiu com a proposta de gestão administrativa da natureza e dos recursos ambientais, distanciou-se no curso de sua evolução para uma ciência imediatista ligada ao lucro de sua co-irmã científica, qual seja, a Ecologia que em sua síntese propõe a compreensão da natureza e do funcionamento dos sistemas naturais (SATO, 2005). Assim, como seria viável a uma ciência ou atividade que se propõe a gerir recursos naturais, fazê-lo de forma sustentável (compreenda-se isso como perpetuar essa atividade pela manutenção dos recursos que a mantem) se a ciência que dá suporte a essa gestão com os conhecimentos básicos necessários está afastada e não fornece esse suporte científico citado? A conclusão não poderia ser outra que não um caminho percorrido erroneamente no uso e gestão dos recursos naturais finitos, associados à degradação dos sistemas naturais nos quais esses são retirados, seja pela exploração excessiva, seja pela sua utilização concomitante como depósito de resíduos, os quais não conseguem ser reciclados devido à quantidade acumulada ou à natureza estranha de substâncias alóctones e/ou recalcitrantes aos componentes metabólicos desses sistemas de ciclagem (ODUM, 2012). Nesse paradoxo, o mesmo ente que retira sua “riqueza” econômica desses sistema, inviabiliza, em nome de lucros imediatistas e mal distribuídos, a continuidade dos sistemas de vida e dos serviços ambientais que garantem a sobrevivência da espécie humana. Dentre esses sistemas de vida e serviços ambientais vitais temos a produção de água potável, a produção de oxigênio pela fotossíntese por autótrofos, a produção de solo rico em matéria orgânica, o tamponamento climático em nível local e de paisagem, dentre outros (DE GROOT, 2016). Por outro lado, a literatura tecnológica e/ou tecno-ambiental é rica em exemplo de soluções viáveis, de baixo custo e de fácil execução (MILLER & SPOOLMAN, 2013), que podem mitigar os impactos da presença humana ou pegada ecológica (SATO, 2005) sobre os sistemas naturais e seus serviços ambientais, tais como iluminação alternativa, hortas sem pesticidas e adubadas com compostagem, aeroclimatizadores de ar, energia produzida com a força da gravidade ou pela tração animal, dentre outras, as quais precisam ser testadas para aferir a possibilidade prática da sua implantação e posteriormente esses conhecimento necessitam difusão multiplicadora para que porção maciça da sociedade para a adotá-las. Nesse contexto é importante identificar e testar as potencialidades de soluções tecnológicas alternativas e de baixo impacto negativo ecológico, visando a divulgá-las na sociedade para que a sua aplicação torne-se cada vez mais conhecida e comum, contribuindo para conciliar iniciativas produtivas com a preocupação de conservação dos recursos naturais e dos sistemas de suporte à vida. Dessa forma, foram objetivos do presente estudo Identificar, testar e divulgar as potencialidades de soluções tecnológicas alternativas e de baixo impacto negativo ecológico, visando a compatibilizar o uso dos recursos naturais e dos ecossistemas com a sua conservação. Nesse momento do estudo objetivou-se especificamente O presente trabalho teve como objetivo identificar o nível de conhecimento das pessoas da área de estudo com relação a existências de invenções tecnológicas que podem contribuir para a economia de uma residência e mostrar a viabilidade de tais invenções. MATERIAL E MÉTODOS A região de estudo é constituída pelo município de Floriano – PI, localizada na porção centro-oeste do estado do Piauí, no núcleo do curso médio do rio Parnaíba, abrangendo áreas de Cerrado e Caatinga ecotonais (IBAMA, 2015). Inicialmente o bolsista realizou levantamento bibliográfico sobre as possibilidades de aplicação de ideias sustentáveis a serem aplicadas nessa região do Piauí e posteriormente serão organizadas as informações para construção dos protótipos (etapas e materiais necessários). A seguir foram iniciadas as respectivas preparações dos materiais, com as respectivas adaptações que se fizerem necessárias para que o funcionamento dos protótipos seja adequado às condições ambientais locais, bem como para que se garantam os critérios de viabilidade dos mesmos (uso de materiais de baixo custo e/ou recicláveis) visando à sua adoção pelas comunidades alvo.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Na sequência houve uma pesquisa prévia de conhecimento de moradores locais, visando à estimar o conhecimento da população quanto a essas possiblidades de minimizar os impactos ambientais pelo uso cotidianos de recursos naturais de primeira necessidade, como água, energia e outros, visando também à multiplicação dessas ideias. Com este intuito realizou-se uma visita a alguns bairros e comunidades da cidade de Floriano-PI. Na zona urbana foram realizadas visitas de forma aleatória nos seguintes bairros: Campo Velho, Via Azul, Pedro Simplício, Rede Nova, Manguinha, Irapuá II, Filadélfia, Coradouro. Já na zona rural de Floriano, foram visitadas as seguintes comunidades: Paracatí, Pé da Ladeira, Cajueiro, Ilha de Guaribas. A autorização para obtenção desses dados via entrevistas foi submetida ao Conselho de Ética e está amparada pelo CAAE 48703515.0.0000.5660. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na região urbana de Floriano participaram, nessa fase inicial, 16 pessoas, sendo 9 (56,25%) do sexo masculino e 7 (43,75%) do sexo feminino. A faixa etária dos entrevistados varia de 19 a 63 anos. Por outro lado, na zona rural participaram 12 pessoas, sendo 6 (50%) do sexo masculino e 6 (50%) do sexo feminino, com faixa etária dos entrevistados variando de 21 a 68 anos. Apesar das diferenças ambientais entre as áreas urbanas e rurais que geralmente ocorrem nos municípios brasileiros foi observado que em ambas as regiões investigadas quase 90% dos entrevistados desconhece, conhece apenas superficialmente ou nunca usou qualquer dessas tecnologias (Fig. 1), demonstrando que existe necessidade de intervenções educativas ambientais indistintamente em ambas as situações investigadas.
Figura 1. - Número de respondentes que conhecem ou utilizaram alguma invenção tecnológica que contribui para a economia em uma residência ou para suas práticas cotidianas. Nesse contexto, e corroborando a necessidade de divulgação das ideias que podem contribuir para minimizar os impactos ambientais humanos sobre a demanda cotidiana de recursos naturais, foi constatado que, quanto à produção de biogás em digestor biológico 50% sequer ouviu falar dessa possibilidade e, mesmo os que conhecem nunca a utilizaram. Situação semelhante ocorre com a aplicação da lâmpada solar, dos climatizadores de ar e da reciclagem de resíduos sólidos. E ainda, quanto à existência de outras tecnologias dessa natureza 75%
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 responderam que não conhecem e, dos que disseram saber, 11% citaram apenas a energia solar fotovoltaica. Os resultados obtidos demonstram que a população amostrada conhece muito pouco sobre potencialidades tecnológicas que podem auxiliar na mitigação de impactos ambientais causados pelo modo de vida atual, o qual é altamente predatório e empobrecedor dos ecossistemas naturais e dos serviços ambientais a eles associados (DE GROOT, 2016). Por outro lado, 93% (Fig. 2) dos respondentes concordaria em utilizar as tecnologias expostas nesse estudo caso tivesse oportunidade, evidenciando que se forem oportunizados conhecimentos e condições para aplicação dessas tecnologias pode ocorrer gradativamente uma redução dos impactos ambientais sobre o uso dos recursos naturais vitais para a sobrevivência humana. Dessa forma, o reconhecimento que é possível utilizar menor quantidade de recursos naturais, ou utilizá-los de forma alternativa, promovendo menor desperdício ou menor impacto sobre os sistemas naturais, só poderá ser alcançado pela efetiva divulgação de conhecimentos tecnológicos já existentes e comprovados cientificamente. E assim, a Educação ambiental visando à divulgação de tecnologias menos impactantes dos ambientes naturais é uma necessidade premente para a manutenção da qualidade de vida humana e até mesmo da economia (SANTOS & SATO, 2001; SATO 2005; MILLER & SPOOLMAN, 2013).
Figura 2. Número de pessoas que concordam com a utilização destas técnicas e as utilizaria em sua casa ou atividades cotidianas. CONCLUSÕES Os dados apresentados, embora sejam preliminares, evidenciam fortemente o desconhecimento da população da área de estudo quanto às potencialidades de aplicação das tecnologias que podem ajudar a diminuir os impactos antrópicos cotidianos ou pegada ecológica sobre os recursos naturais vitais, dos quais dependemos para manter condições de vida saudáveis e dignas. Nesse contexto, a educação ambiental é uma ferramenta da máxima importância para divulgar e multiplicar esse conhecimento, visando a manter ecossistemas naturais com níveis aceitáveis de impactos, que não comprometam os serviços ambientais por eles produzidos e dos quais dependemos, tanto ecológica quanto economicamente. REFERÊNCIAS
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 De Groot, R. S. 2016. Functions of nature. Wolters-Noordof: The Netrherlands. 316p. IBAMA. Ecossistemas brasileiros. Acessado em 20/12/2015. Disponível em: www.ibama.gov.br Miller, G. T. & Spoolman, S. E. 2013. Ecologia e sustentabilidade. 3ª Ed. Cengage Learning. 377p. Odum, E.P. & Barrett, G. W. 2012. Fundamentos de Ecologia. Cengage Learning. São Paulo. 612p. Primack, R.B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da conservação. Ed. Midiograf. Londrina. 328 p. Santos, J.E. & Sato, M. 2001. A contribuição da Educação Ambiental para a esperança de Pandora. Rima: São Carlos. 604 p. il. Sato, M. et al. 2005. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Artmed. 232 p. Turner, M. G. & Gardner, R. H. 2014. Landscape ecology in theory and practice: Pattern and process. 2nd ed. Spring-Verlagg, New York. 314p.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOECOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
PERSPECTIVA ETNOECOLÓiGICA ACADÊMICA COM MORADORES DO DISTRITO DE POTI (CRATEÚS-CE) SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS MADEIREIROS Aparecida Barbosa de Paiva1,*, Maria Arlete de Paula Costa1, Adervan Fernandes Sousa2 1
Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará/Faculdade de Educação de Crateús, Crateús- CE; 2Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Estadual do Ceará e Professor Adjunto do Curso de Ciências Biológicas/Faculdade de Educação de Crateús/Universidade Estadual do Ceará.
RESUMO A madeira, possui importância econômica e usual, contudo o padrão predatório de extração, preocupa muitos pesquisadores. Assim, a problemática deste trabalho, é mensurar a utilização deste recurso pela perspectiva etnoecológica dos moradores do distrito de Poti, localizado na cidade de Crateús-CE, com o objetivo de investigar a finalidade da extração, bem como a percepção dos impactos dessa atividade. A mensuração e documentação dos dados foi feita por entrevistas e questionário semiestruturado, abordagem qualitativa do tipo estudo de caso e estudo de frequência. Foram entrevistados 10 famílias selecionadas pelo método “bola de neve”. A Mimosa tenuiflora (jurema-preta), foi indicada como uma das espécies mais extraídas, e utilizada na produção de carvão, que é destinado a venda tanto no distrito quanto em CrateúsCE. As informações obtidas, permitiram constatar o caráter itinerante e utilitarista desta prática, e a necessidade de apoio técnico no intuito de instruir novas práticas de manejo aos moradores. Palavras-chave: entrevistados, madeira, extração INTRODUÇÃO O uso das plantas para diversos fins já é sabido, porém, a madeira das árvores, é, hoje o componente estrutural mais explorado e extensivamente comercializado atualmente (Mellado, 2013). Isso é decorrente de sua versatilidade, que vai desde a construção de habitações, delimitação de áreas territoriais por meio de cercas, confecção de móveis e utensílios, produção de papel, até o uso para a produção de carvão vegetal, que é uma das atividades mais rentáveis para pequenos agricultores, e que, normalmente comercializam esse produto em sua região, sem fazer uso de certificação (Santos et al., 2011). Apesar da expressiva importância econômica para o pais, a extração dos recursos madeireiros, ainda mantém o padrão predatório, e isso só cresceu com o advento da agricultura, que gerou cada vez mais práticas de manejo irracionais e insustentáveis para a proporção da demanda de produtos advindos desse recurso natural (Sousa, Silva, Rocha, Santana & Vieira 2012). É inquestionável o saber das populações advindas desse sistema, a despeito do conhecimento acerca dos fins dos recursos madeireiros e suas utilidades. Estes detêm informações sobre espécies vegetais úteis e sobre a dinâmica da vegetação local. Segundo Camargo, Souza e Costa (2014) é necessário examinar em que proporção estas populações são capazes de reconhecer e identificar os benefícios e danos causados por essa constante interferência antrópica nos processos ecológicos locais, bem como sua relação com a atividade extrativista. Essas populações constituem-se como uma variável nos processos ecológicos, isso porquê exercem influência direta na modificação da fisionomia vegetal e na composição das espécies daquele ambiente, sendo assim, os estudos etnoecológicos são importantes ferramentas na aquisição de informações sobre o uso dos recursos madeireiros e suas implicações para a sustentabilidade local (Medeiros, 2010). Na última década, a etnoecologia tem emergido como uma área que tem tido avanços teóricos e metodológicos acerca da compreensão do uso e manejo de recursos madeireiros, sejam de grande porte ou
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 não.Esse conhecimento tem sido fundamental para a implantação de estratégias de conservação enfocadas na sustentabilidade desta atividade comercial (Prado & Murrieta, 2015). Contudo, os trabalhos nessa área ainda são incipientes e imprecisos, sendo a maior parte voltados a investigação de plantas medicinais e suas aplicações, e isso pode estar aliado a alguns fatores, tais como: o receio em falar sobre a comercialização desses produtos, as espécies extraídas, que muitas vezes ocorre em desacordo com o conteúdo normativo do Art. 1°do Código Florestal Brasileiro (instituído pela Lei n° 4.771/65), que se posiciona de forma intervencionista ao se referir as florestas como; “... as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, ..., são bens de interesse comum a todos os habitantes do País...” (Ahrens, 2013), instituindo assim a necessidade de preservação, sobretudo das espécies ameaçadas de extinção. Neste sentido, para que seja proposto um molde sustentável de uso destes recursos, é necessário conhecer detalhadamente a vegetação local e como a população se utiliza desta.O conhecimento tradicional é de suma importância, para que se possa saber quais recursos madeireiros são utilizados, a sua comercialização e as formas de manejo empregadas, e assim, inferir sobre uma forma de gestão mais apropriada destes (Mello, 2013). A problemática deste trabalho, se configura em avaliar o padrão da utilização comercial dos recursos madeireiros do distrito de Poti, pelos próprios moradores, bem como as práticas de extração e manejo empregadas nessa atividade e a compreensão destes acerca da vulnerabilidade deste recurso natural. Por isso, a presente proposta de pesquisa, buscou investigar questões referentes à utilização local de madeira e as pressões geradas por esta utilização para os moradores do distrito de Poti, localizada no Municipio de Crateús-CE, tais como; i) as espécies mais utilizadas; ii) a destinação destes recursos; iii) valor comercial; e as iv) implicações sociais e ambientais dessa atividade para a localidade em questão, segundo a perspectiva etnoecológica. MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO O presente estudo foi realizado no distrito de Poti localizado a 23 km da sede do município de Crate ús - CE.O referido município está, aproximadamente, a 370 km de distância da capital Fortaleza, e faz fronteira com os municípios que compreendem o território de Ipaporanga, Independência, Novo Oriente e o estado do Piauí. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o distrito conta com uma população de 1.411 habitantes. Essa área foi escolhida mediante relatos de alguns estudantes do cur so de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que são moradores da região, onde está pesquisa teve início, sobre a intensa utilização antrópica dos recursos faunísticos e comercialização deste. COLETA DE DADOS Para coleta dos dados, durante o mês de julho de 2017, foram realizadas entrevistas e, simultaneamente, o preenchimento de questionários semiestruturados, por meio destes, através de abordagem qualitativa do tipo estudo de caso indicado por Albuquerque, Lucena e Alencar (2010) obtivemos informações referentes aos nomes populares das espécies mais utilizadas, formas de coleta e as principais finalidades. Para a obtenção de informações como o tempo de regeneração das espécies observada pelos moradores e a frequência da retirada deste recurso, utilizamos um estudo de frequência também indicado pelos autores para quantificar através do número de citações feitas pelos entrevistados o tempo de regeneração mínimo para as espécies utilizadas por eles e a frequência com que retiram cada uma, baseado em suas experiências pessoais. No total, foram entrevistados 10 famílias, selecionadas pelo método “bola de neve”, sugerido por Vinuto (2016). Esse método consiste em determinar o grupo de amostra, por meio de indicações sucessivas dos próprios entrevistados. Neste caso, o primeiro entrevistado (Denominada “semente”). Além de
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 responder as perguntas, indicou pessoas na comunidade com o perfil desejado. E cada entrevistado teve a oportunidade de fazer essa identificação, até completar o número desejado. O levantamento de dados foi feito por meio de investigação descritiva de abordagem qualitativa (Guerra, 2006), onde aplicamos um questionário semiestruturado, e entrevista gravada em áudio, acompanhado de um termo de consentimento livre e esclarecido sobre os objetivos de nossa pesquisa e a destinação desta apenas para fins acadêmicos com os moradores da localidade de Poti, analisando se estes fazem uso dos recursos madeireiros e a intensidade dessa utilização. Além disso, averiguamos durante essa abordagem a despeito da comercialização destes produtos, a implicação econômica sobre a renda e sobre a importância ecológica da mata para o local. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados versam sobre questões como as espécies mais utilizadas pelos moradores, os fins da utilização destas tanto para atividades pessoais e comerciais, e sobre a frequência com que a atividade extrativista ocorre, bem como o tempo de regeneração de algumas espécies, observadas pelos moradores ao longo da prática com a utilização destes recursos. Percebeu-se, inicialmente, resistência dos moradores em responder as perguntas, devido ao receio de pertencermos a órgão público de fiscalização, o que Segundo Eloy, Vieira, Lucena e Andrade (2014) é um comportamento comum das populações tradicionais que são submetidas a esse tipo de abordagem. No entanto, após um dos moradores explicar que se tratava de um trabalho de cunho acadêmico, os demais se dispuseram a responder o questionário sem receios.Por meio dos dados obtidos, foi possível inferir que os entrevistados possuem renda indireta das atividades extrativistas, e de como a população local percebe e utiliza os recursos madeireiros da região. Atividades como a extração de madeira para cercas e para produção de carvão, sempre foi uma atividade exercida pelos moradores no distrito de Poti, que são utilizados nas suas propriedades ou comercializados, quando há excedentes. A retirada de madeira, normalmente está associada à agricultura, onde o agricultor escolhe a área, corta a vegetação e retira toda madeira, queima o que restar da vegetação e, quando chove, planta milho, feijão, capim e sorgo. Assim, a ocupação central é a agricultura, tendo a extração da madeira como atividade complementar, como constatado pora Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS, 1997). Na Tabela 1, podemos ver a principais espécies citadas, as formas e valores que são comercializadas. Das espécies citadas, a Mimosa tenuiflora (jurema-preta) foi indicada pelos entrevistados como a melhor madeira para a produção de carvão. Para um dos entrevistados “o carvão que a gente faz com a jurema-preta é mais forte, mais resistente, bem pouquinho e você faz um monte de comida” (E6).Outros entrevistados também relataram outras características: “ a jurema-preta dá em muita quantidade aqui sabe, quanto mais corta ela, mais ela rebrota mais forte, se você não cortar, quanto mais vai passando os anos, ela vai secando os galhos, ai se você cortar ela, ela rebrota” (E8) “eu nem fazia carvão, mais quando broca pra plantar, ai ela ficava perdida lá, ai a gente aproveita pra fazer um ‘carvãozinho’ né?” (E5) Tabela 1. Espécies citadas pelos entrevistados, sua utilidade, forma de venda e preço. ESPÉCIES MAIS EXTRAIDAS PELOS MORADORES NOME POPU LAR Jurem a-preta Pau
NOME CIENTIFICO
UTILIDADE
FORMA DE VENDA
PREÇO
Mimosa tenuiflora
Carvão
Saca
Auxemma oncocalyx
Carvão
Saca (carvão)
R$ 12,00 a R$ 15,00 R$ 12,00 a R$
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 branco
Angico
Anadenanthera colubrina
Marme leiro Sabiá
Cydonia oblonga
Algaro ba
Prosopis juliflora
Mimosa caesalpiniaefolia
Caibro e linha
Unidade (caibros e linhas)
15,00 (Saca de carvão) R$ 1,00 (caibros)
Carvão Linha para casas, mourão para cercas Caibro, cerca de faxina Estaca para cercas
Saca (carvão) Unidade (linhas para casas e mourão para cercas) Unidade
R$ 11,00 a R$ 12,00 (saca de carvão) R$ 3,00 (mourão) R$ 0,50
Unidade
Carvão, Mourão para cerca
Saca Unidade
R$ 2,00 a R$ 5,00 R$ 12,00 a R$ 15,00 (saca de carvão)
Muitos entrevistados apontaram que a atividade de retirada da madeira surgiu como atividade secundária, durante o processo de retirada da vegetação para o plantio de seus roçados. Quando perguntados sobre o período de rebrota dessas espécies, os entrevistados pontuaram sobre o tempo observado por eles para a regeneração das espécies utilizadas, estas foram quantificadas através do número de citações feitas por eles (Albuquerque, Lucena e Alencar, 2010) destacando algumas espécies como a Mimosa tenuiflora (jurema-preta) que demora em média cerca de 2 a 3 anos, 1 a 2 anos para a Mimosa caesalpiniaefolia (sabiá), e que as demais espécies como Auxemma oncocalyx (pau branco), Anadenanthera colubrina (angico), Cydonia oblonga (marmeleiro) e Prosopis juliflora (algaroba), demoram em média 1 ano. No entanto, os moradores afirmam não esperar o período de rebrota, optando por outras áreas para as atividades agrícolas e extração de madeira. Em algumas situações, a vegetação é retirada totalmente, eliminando a possibilidade de rebrota como afirma Pimentel, Pareyn, Pinto, Rabelo e Silva (2016). Como podemos perceber na fala do entrevistado E3, onde ele disse que, “se a área for pra plantar, ai a gente broca né, arranca os tocos e deixa o campo limpo pra plantar”, afirmando que não há rebrota da vegetação nessa área. A comercialização dos produtos é feita por saca no caso do carvão (Tab. 1), chegando ao preço de R$ 15,00 durante os meses de junho a dezembro, pois segundo eles são meses com maior procura, sobretudo pelos donos de bares e restaurantes no município de Crateús-CE.Também abastecem os moradores do distrito de Poti, pois muitos não trabalham mais nessa atividade por medo de fiscalizações e penalidades por parte dos órgãos fiscalizadores. No caso da comercialização da madeira para a construção de cercas, estes destacam que não existem uma demanda muito alta como o carvão, concomitante as pesquisas de Júnior, Soares, Lisi e Ribeiro (2017), e que costumam vender apenas para produtores e moradores que pretendem cercar suas áreas, no próprio distrito. Por exemplo, uma das moradoras comprou 500 varas de marmeleiro por R$ 100,00, a qual considerou que o custo é baixo, mediante ao trabalho necessário para retirada da madeira. Preocupante é a constatação de que os moradores acreditam que essa pratica não trará problemas para a comunidade no futuro, ignorando, por exemplo, a relação entre a cobertura vegetal e a disponibilidade de forragem para os animais. Acreditam que a vegetação é um recurso infinito, mas sabem que o esgotamento desse recurso afetará a atividade extrativista. Essa visão Segundo Mattos et al (2007) é preocupante, pois a retirada da vegetação sem um manejo que vise a sustentabilidade, pode comprometer o fornecimento desse recurso em médio ou longo prazo. Vale ressaltar, que a retirada da vegetação implica em outros impactos ambientais, como desiquilíbrio populacional de algumas espécies animais, por afetar a cadeia alimentar e abrigo para outras espécies, diminuição de chuvas, erosão do solo, dentre outros (Arruda, 1999). Todavia, foi possível constatar, mesmo que de forma imprecisa, que os moradores reconhecem as inter-relações ecológicas estabelecidas na natureza, como pode ser constatada nessa fala: “eu tenho pra
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 mim, que as arvores interfere nas chuvas né, assim, porque quanto mais a área tem mata, mais atrai chuva né e fica ruim de nascer as plantas”. Sobre a atuação de fiscais na região, os moradores relatam que no ano de 2016 foram feitas frequentes visitas ao distrito, mas ninguém nunca foi multado. Ao pergunta-lhes sobre apoio técnico em suas produções, muitos disseram, que só receberam a visita de um técnico em agropecuária uma única vez, devido à participação de alguns moradores em programas de apoio à agricultura, fornecidos pelo governo. Mas o técnico se limitou a observar o tamanho de suas propriedades e as culturas que estavam cultivando, sem dar nenhuma orientação sobre o manejo destes produtores. CONCLUSÕES Podemos constatar através dos métodos adotados para alcançar os objetivos propostos, a saber, entrevistas com aplicação de questionário semiestruturado, abordagem qualitativa do tipo estudo de caso e estudo de frequência, onde podemos inferir, que os moradores do distrito de Poti, adotam o caráter utilitarista, itinerante e predatório do recurso vegetal. Mesmo indicando um pouco de conhecimento de processo ecológico, ainda predomina a visão de que a vegetação é um recurso infinito, e de que não existe uma relação entre os diferentes recursos naturais. Diante disso, os moradores não adotam práticas conservacionistas de manejo da vegetação, visando a preservação dos recursos existentes na região.É notória, diante do contexto, a necessidade de apoio técnico especializado para a condução de suas práticas. AGRADECIMENTOS Agrademos todos os entrevistados do distrito de Poti que participaram da pesquisa; a Faculdade de Educação de Crateús pela oferta da disciplina de Ecologia de Recursos Naturais, onde nasceu esta pesquisa e a Universidade Estadual do Ceará. REFERÊNCIAS Ahrens, S. (2003). O novo código florestal brasileiro: conceitos jurídicos fundamentais. In Embrapa Florestas-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 8., 2003. Albuquerque, U. D., Lucena, R. D., & Cunha, L. V. F. C. (2004). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotâni ca. Livro Rápido/NUPEEA, Recife, 19. Arruda, R. (1999). " Populações tradicionais. Ambiente & Sociedade, 5 (2)., 1999. Camargo, F. F., de Souza, T. R., & da Costa, R. B. (2015). Etnoecologia e etnobotânica em ambientes de Cerrado no Estado de Mato Grosso. Interações (Campo Grande), 15(2). Eloy, C. C., Vieira, D. M., de Lucena, C. M., & de Andrade, M. O. (2014). Apropriação e proteção dos conhe cimentos tradicionais no Brasil: a conservação da biodiversidade e os direitos das populações tradicionais. Gaia Scientia, 8(2). Ferreira de Sousa, R., Rodrigues Silva, R. A., Fernandes Rocha, T. G., da Silva Santana, J. A., & de Almeida Vieira, F. (2015). Etnoecologia e etnobotânica da palmeira carnaúba no semiárido brasileiro. Cerne, 21(4). Guerra, I. C. Pesquisa qualitativa e análise de conteúdo: sentidos e formas de uso. Lucerna, 2006. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, 2010. www. ibge. gov. br/censo2010. Acesso, 8, 09-052017. Júnior, F. D. C. N., Soares, M. J. N., Lisi, C. S., & Ribeiro, A. (2017). Avaliação quali-quantitativa das cercas de madeiras em propriedades rurais na Caatinga do Vale do São Francisco-Bahia. Uma estratégia para o manejo e conservação. Gaia Scientia, 11(1).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Mattos, A. D. M. D., Jacovine, L. A. G., Valverde, S. R., Souza, A. L. D., Silva, M. L. D., & Lima, J. E. D. (2007). Valoração ambiental de áreas de preservação permanente da microbacia do Ribeirão São Bartolomeu no município de Viçosa, MG. Medeiros, P. M. D. (2010). Uso de produtos madeireiros para fins domésticos em uma área de Floresta Atlântica no nordeste brasileiro. Mellado, R. E. C. E. (2013). Contribuição ao desenvolvimento tecnológico para a utilização de madeira serrada de Eucalyptus grandis (Hill Ex Maiden) na geração de produtos com maior valor agregado. Mello, A. J. M. (2013). Etnoecologia e manejo local de paisagens antrópicas da floresta ombrófila mista, Santa Catarina, Brasil Nodari, E. S. (2012). “Mata Branca”: o uso do machado, do fogo e da motosserra na alteração da paisagem de Santa Catarina. História ambiental e migrações. São Leopoldo: Oikos Pimentel, D. J. O., Pareyn, F. G. C., Pinto, A. D. V. F., de Carvalho Rabelo, F. R., & Silva, R. J. N. (2016). Manejo florestal sustentável no assentamento batalha, santa maria da boa vista/pe: uma reflexão socioambiental. South American Journal of Basic Education, Technical and Technological, 3(1). Prado, H. M., &Murrieta, R. S. S. (2015). A Etnoecologia em perspectiva: origens, interfaces e correntes atuais de um campo em ascensão. Ambiente & Sociedade, 18(4), 139-160. Santos, R. C. D., Carneiro, A. D. C. O., Castro, A. F. M., Castro, R. V. O., Bianche, J. J., Souza, M. M. D., & Cardoso, M. T. (2011). Correlações entre os parâmetros de qualidade da madeira e do carvão vegetal de clones de eucalipto. Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental- SPVS. Relatório de pesquisa do Projeto Co-gestão de Manejo Ambiental e Desenvolvimento Comunitário na APA de Guaraqueçaba: Populações Tradicionais da APA de Guaraqueçaba, Paraná. Curitiba: IBAMA, 1997, 65 p. Vinuto, J. (2016). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, (44).
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CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
A VISÃO DA POPULAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO PERMANENTE DAS MATAS CILIARES URBANAS EM FLORIANO - PI Brendo Barbosa Moura¹, Antonio Alves Filho¹, Elisa Pereira dos Santos¹ & Rogério Nora Lima²* 1. Graduandos em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – CAFS. *2. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral – CAFS. E-mail:
[email protected]
RESUMO Objetivando estudar a percepção de moradores sobre a conservação de zonas ripárias urbanas, o presente trabalho foi realizado em áreas com residências próximas a riachos no município de Floriano, Piauí. Foram realizadas 21 entrevistas com moradores ao longo de 3 riachos próximos a zona central da cidade. Observou-se que quase todos os entrevistados possuem baixa escolaridade, desconhecem a importância da conservação da água e costumam joga lixo diretamente nos riachos. A baixa escolaridade, idade avançada e baixa renda da maioria dos entrevistados juntamente com a ausência de fiscalização, remete a ideia de falta de conscientização dos moradores. Mesmo com o aumento da divulgação sobre a importância da conservação da água, isso é algo novo para a sociedade. Conclui-se que esses pontos associados à inércia do poder público em educar e fiscalizar essas áreas torna ainda mais importante as iniciativas de educação ambiental com vistas à proteção dos recursos hídricos. Palavras-chave: Recursos hídricos, Rio Parnaíba, Cerrado, Serviços ambientais. INTRODUÇÃO O uso cada vez maior e descontrolado dos recursos hídricos já apresenta problemas para a sociedade humana atual, concretizado na escassez mais marcante a cada ano, seja por efetiva falta dos mesmos nos meses mais secos, seja pela impossibilidade de utilizar o que ainda existe, mas está degradado em sua qualidade, impossibilitando o uso direto ao ser humano e às suas atividades cotidianas, inclusive as de cunho econômico (Lima, 2008). No caso do estado do Piauí, o contexto ainda é relativamente favorável pela presença de um curso d’água de abundante volume em seu curso principal, o rio Parnaíba, embora seus afluentes já não apresentem a mesma vitalidade de outrora nas épocas de estiagem. Associado a esse cenário está há expansão da agricultura, notadamente da soja no MAPITOBA e o crescimento urbano de suas cidades, mesmo as que possuíam menor porte (Castro, 2000). Dessa forma, é importante que, para ocorrer o devido planejamento dos recursos hídricos, vitais ao ser humano e à sua economia, sejam realizados diagnósticos de localização e da situação dos mesmos. Esse aspecto pode ser especialmente atingido pelo monitoramento e mapeamento por geoprocessamento nas diferentes unidades de paisagem e regiões do curso hídrico. Nesse contexto, esse estudo visou diagnosticar variáveis da paisagem associadas à bacia hidrográfica do rio Parnaíba em seu curso médio na ótica proposta por Turner (2014), aplicada também por Forman e Godron (2014) que busca entender o efeito dos padrões espaciais geográficos nos processos ecológicos, com vistas a produção de proposta de gestão de paisagem e de biorregiões. Para atingir esse objetivo, aspectos mais restritos devem ser concretizados, dentre eles: o mapeamento da bacia do rio Parnaíba na região de seu curso médio, a identificação de situações de conflitos na área de estudo pela agressão à seus componentes naturais, especialmente por aqueles associados aos recursos hídricos, o diagnóstico da situação dos componentes da paisagem na área de
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 estudo e a compreensão de aspectos da percepção dos moradores locais quanto ao uso dos recursos naturais, especialmente dos recursos hídricos, que é objeto específico do presente resumo. MATERIAL E MÉTODOS A região de estudo é constituída pela bacia hidrográfica do rio Parnaíba, em sua porção média, nas proximidades do município de Floriano – PI, localizado na porção centro-oeste do estado do Piauí, abrangendo áreas de Cerrado e Caatinga ecotonais (IBAMA, 2015). Como parte do aspecto principal desse trabalho o discente foi treinado em técnicas geoprocessamento e sensoriamento remoto com vistas à construção de base cartográfica da área de estudo para depois aplicar os trabalhos de campo relativos a esse mapeamento. Nessa fase serão utilizados os softwares IDRISI Selva, ArcMap 8.0, ERDAS 4.0 e SPRING. Os recursos hídricos e os impactos identificados serão classificados de acordo com as teorias ecossistêmicas de Odum & Barrett (2012) e quanto à análise da paisagem pelo critério de Lima (2008). Esses aspectos são necessários para o reconhecimento dos principais impactos ocorrentes na malha hídrica principal e secundária do rio Parnaíba, visando à construção de mapa diagnóstico dos pontos agredidos por natureza dos impactos causados, para ao final elaborar um texto diagnóstico com os principais impactos identificados, associados às propostas para sua recuperação, manejo e gestão ambiental. Entretanto, nesse contexto, é importante conhecer a opinião da população local quanto aos usos dos recursos hídricos e ecossistemas a eles associados, bem como dos aspectos que originam os impactos observados, principalmente a degradação das áreas riparias por práticas degradadoras. Dessa forma, selecionamos 3 riachos urbanos e realizamos 21 entrevistas a fim de coletar informações sobre o conhecimento da população em relação a conservação da água e desmatamento, existência ou não de fiscalização ambiental, a forma como são dispensados os resíduos sólidos nessas áreas e, se existe algum tipo de aviso proibindo dos cursos d’água. Toda a área visitada possui construções nas margens dos cursos d’água. A autorização para obtenção desses dados via entrevistas foi submetida à Conselho de ética e está amparada pelo CAAE 48703515.0.0000.5660. RESULTADOS E DISCUSSÃO Predominaram na amostragem, os respondentes com escolaridade de ensino fundamental e médio, com idade de 41 a 80 anos e renda familiar até um salário mínimo. Foi observado que, quanto à distância dos cursos d’água 52% dos entrevistados vive de 0 a 50m de distância dessas áreas (Fig. 1), ou seja, são áreas muito próximas dos cursos d’água, o que já demonstra a ocorrência de uma ocupação irregular das áreas de proteção permanente (APPs) destinada às Matas ciliares (Brasil, 2012) e que deveria ser combatida pelas autoridades municipais. Esse aspecto de buscar a proximidade dos recursos hídricos, denominado “hidrofilia”, sempre acompanhou a humanidade, pela facilidade de acesso que esse aspecto trouxe ao desenvolvimento das civilizações. Entretanto, a mesma população que faz uso dos recursos naturais para suas atividades vitais diárias também degrada esse recurso em qualidade e quantidade, ao enxergá-lo como área de depósito imediato de seus resíduos metabólicos e culturais (Dias, 2008), demonstrando assim uma desconexão entre homem e ambiente no sentido de perceber a necessidade da proteção desses recursos para manutenção da vida e da economia humanas (Miller & Spoolman, 2013).
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Figura 01. Distância média entre a residência dos respondentes e as áreas ripárias (APPs). Esse aspecto da dissociação homem-ambiente fica bastante patente nos dados obtidos por entrevistas, já que quase 90% dos respondentes relataram que costumam jogar lixo nesse local e 67% não possui conhecimento algum sobre a importância da conservação da água para o bem da sociedade, nem sobre a importância ecológica desses ecossistemas (90%) e sequer sobre os problemas associados à poluição dos recursos hídricos (71%). Da mesma forma, 90% não sabe dizer se há proibições quanto ao desmatamento desse ecossistema, nem se há fiscalização municipal nessa área (Fig. 02).
Figura 02. Conhecimento dos respondentes sobre a importância das áreas ripárias e das Matas ciliares para a qualidade da água, saúde humana e economia. Desse modo, a correlação entre uma população de baixa escolaridade, baixa renda familiar e idade relativamente avançada e que construiu ou mora nessas regiões ripárias há muitas décadas pode ser um dos fatores que contribuem para esse quadro, haja vista a disseminação dos princípios ecológicos relacionados à conservação é algo relativamente novo na sociedade brasileira (Primack & Rodrigues, 2001). Esses aspectos, associados à inércia do poder público em educar e fiscalizar áreas chave nos ecossistemas urbanos, torna ainda mais importante as iniciativas locais, informais e não formais, de educação ambiental (Santos & Sato, 2001; Sato et al., 2005), com vistas à proteção dessas áreas fundamentais na proteção dos recursos hídricos e dos serviços ambientais (De Groot, 2016) que essas áreas propiciam a todos, especialmente a produção de água em quantidade e qualidade para a sobrevivência humana e para a economia (Odum & Barrett, 2012; Miller & Spoolman, 2013). CONCLUSÕES As áreas ripárias ou ribeirinhas, onde estão estabelecidas as Matas ciliares, são consideradas Áreas de proteção permanente e, devido à hidrofilia humana em ocupar essas áreas, principalmente nas regiões
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 urbanas, talvez sejam um dos ecossistemas mais ameaçados atualmente pelas ações antrópicas. De outro lado, elas proveem uma série de serviços ambientais vitais à sobrevivência humana, dentre os quais está a manutenção de água em condições de ser utilizada para dessedentação e para outras atividades humanas, além de minimizar a eutrofização artificial dos ecossistemas a elas associados. Nesse âmbito, a presença disseminada das moradias humanas nessas áreas, associadas com práticas culturais de utilizá-las como depósitos de resíduos humanos, vem degradando essas áreas e, por conseguinte, a qualidade dos recursos hídricos. No presente estudo, encontramos a maior parte dos respondentes residindo em até 50 metros dessas áreas protegidas, havendo uma quase total ignorância da importância dessas áreas pelos mesmos associada à prática da deposição de resíduos orgânicos nas margens dos rios. Tal contexto releva fortemente a necessidade de implantação de práticas de educação com essa população, a fim de reverter a presente tendência de degradação dos ecossistemas ripários e dos recursos hídricos. REFERÊNCIAS Brasil. Leis, Decretos. Código Florestal. Lei n° 12.651 de 25 de maio de 2012. Castro, A. A. J. F. 2000. Cerrados do Brasil e do Nordeste: produção, hoje, deve também incluir manutenção da biodiversidade. In: Benjamin, A. H. & Sícoli, J. C. M. (Org.). Agricultura e meio ambiente (Agriculture and the environment). São Paulo: IMESP: 79 - 87. De Groot, R. S. 2016. Functions of nature. Wolters-Noordof: The Netrherlands. 316p. Dias, G. F. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 2008. 467p. Forman, R.T.T. and M. Godron. 2014. Landscape ecology. John Wiley & Sons, New York. 744 p. IBAMA. Ecossistemas brasileiros. Acessado em 20/12/2015. Disponível em: www.ibama.gov.br Lima, R.N. 2008. Comparação de cenários de paisagem obtidos com avaliação por critérios múltiplos visando ao manejo da bacia hidrográfica do Ribeirão dos Negros, São Carlos - SP. In: II Simpósio Internacional de Savanas Tropicais, 2008, Brasília. Anais do II Simpósio Internacional de Savanas Tropicais. Brasília: EMBRAPA Cerrados, 2008. v. único (CD-ROM). Miller, G. T. & Spoolman, S. E. 2013. Ecologia e sustentabilidade. 3ª Ed. Cengage Learning. 377p. Odum, E.P. & Barrett, G. W. 2012. Fundamentos de Ecologia. Cengage Learning. São Paulo. 612p. Primack, R.B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da conservação. Ed. Midiograf. Londrina. 328 p. Santos, J.E. & Sato, M. 2001. A contribuição da Educação Ambiental para a esperança de Pandora. Rima: São Carlos. 604 p. il. Sato, M. et al. 2005. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Artmed. 232 p. Turner, M. G. & Gardner, R. H. 2014. Landscape ecology in theory and practice: Pattern and process. 2nd ed. Spring-Verlagg, New York. 314p.
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CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
OS CONHECIMENTOS DE UMA COMUNIDADE RURAL DE FLORIANO – PI QUANTO À ECOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Elisa Pereira dos Santos¹, Rogério Nora Lima²* 1. Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – CAFS. 2. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral – CAFS. *E-mail:
[email protected]
RESUMO Os humanos sempre têm manejado os recursos naturais para atender as suas demandas energética, medicinal e cultural. Na questão alimentar diversas fontes são utilizadas, dentre elas, estão itens da Classe Mammalia. Estudos quanto ao conhecimento local sobre a mastofauna são de grande importância, pois permitem compreender como os grupos humanos percebem esse recurso e a sua relação com a natureza, incluindo o impacto das ações humanas sobre eles. Esse trabalho objetivou caracterizar o conhecimento de moradores da localidade “Bem Quer” sobre os mamíferos dessa região. Realizou-se entrevistas semiestruturadas com 24 moradores para analisar se os mesmos conhecem a diversidade da mastofauna local, seus hábitos, condições ecológicas associadas e quais são os usos antrópicos dessa fauna. A amostragem foi do tipo intencional, incluindo apenas as residências que aceitaram participar da pesquisa. Houve predomínio de pessoas do sexo feminino, com escolaridade predominante de “primário” e ensino fundamental. Dentre aqueles que informaram a renda familiar, destacam-se os ganhos até um salário mínimo. Todos responderam que não caçam, nem criam animais silvestres, mas oito entrevistados relataram utilidades do uso de mamíferos na alimentação humana. Foram relatadas 19 espécies, dentre as quais as mais citadas foram Pseudalopex vetulus (raposa), Mazama gouazoubira (veado), Callithrix jacchus (soin), Didelphis albiventris (gambá ou mucura). Quanto à frequência de observação da fauna, a maioria respondeu que o avistamento nas proximidades é raro e geralmente está associado a uma época específica ou à frutificação. Os locais de ocorrência mais citados foram matas ciliares, chapadas e matas em geral. Sobre a extinção dessa fauna, quase todos relataram perceber que parece estar havendo uma diminuição da mesma. Apesar de ser uma comunidade rural, de um município pequeno e ainda com bastante cobertura vegetal, os dados não evidenciam um amplo conhecimento dessa população sobre a fauna local, podendo já ser um reflexo do processo de distanciamento entre homem-natureza que já vem ocorrendo em áreas urbanas mais populosas. Tal aspecto indica que, mesmo em localidades mais afastadas são importantes as iniciativas de educação ambiental visando a esclarecer sobre a importância da conservação da biodiversidade para a qualidade de vida e manutenção dos serviços ambientais. Palavras-chave: Biodiversidade, Cerrado, Mamíferos. INTRODUÇÃO O conhecimento sobre a biodiversidade e sobre a sua influência nos diversos setores da vida humana ainda é bastante superficial. Surpreendentemente, um dos grupos mais afeitos ao homem, os mamíferos silvestres, são ainda pouco conhecidos, principalmente aqueles de pequeno porte (Bianchi et al, 2015). Esse aspecto se torna ainda mais crítico em certas regiões do Brasil, como norte e nordeste, em que as pesquisas possuem defasagem em relação às demais regiões (Castro, 2000). Os mamíferos são um grupo de interesse diferenciado no que tange aos mecanismos de controle das comunidades, pois muitos deles influenciam bastante a vida humana, atuando na regeneração das
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 áreas florestais, por meio da sua interação com aspectos da polinização, da dispersão de sementes e do nível de herbivoria (Burnie et al., 2005). No Brasil a diversidade de espécies de mamíferos possui números expressivos, constituindo-se numa das maiores do mundo. Porém, até 1996, das 22 ordens de mamíferos no mundo, apenas indivíduos de poucas delas eram bem estudados no Brasil, sendo que ocorrem aqui 11 ordens desse grupo animal (Fonseca et al., 1996). São necessários estudos mais completos de várias ordens, principalmente Rodentia, Chiroptera e Didelphimorphia, que além de tudo ainda possuem taxonomia mal definida (Sabino & Prado, 2005; Reis et al, 2006; Santos-Filho et al., 2008; Modesto et al., 2008; Moreira et al., 2008). Diversos estudos têm apontado que 26,8% do total de primatas e 34,5% do total de carnívoros brasileiros estão em perigo de desaparecer. Considerando que os primatas possuem uma íntima relação com as grandes florestas como controladores de outras populações e dispersores de sementes, esses números podem significar uma redução perigosa da biodiversidade nos ecossistemas naturais (Barros, 2008). Os carnívoros, por sua vez, são grandes reguladores herbívoros que exercem grande pressão de pastagem sobre os vegetais e a sucessão dos ecossistemas (Leite-Pitman et al., 2006; Forero-Medina et al., 2009). Associado a isso há o grupo de pequenos mamíferos que tem grande importância no controle das síndromes ecológicas envolvendo cadeias alimentares, como predação e dispersão de sementes (Bezerra et al., 2007; Asfora & Pontes, 2009). Segundo o MMA (2002) o Cerrado foi o terceiro bioma em número de espécies (195), seguido pela Caatinga com 148 espécies. Nesse contexto, os Cerrados marginais (ecotonais) do Nordeste e a Caatinga são tidos como áreas de poucos estudos, nas quais os inventários biológicos precisam ser incrementados, principalmente pela rápida expansão da agricultura e silvicultura sobre os espaços naturais remanescentes (Castro, 2000). No caso do estado do Piauí, o contexto ainda é relativamente favorável à conservação, porque apesar da expansão da agricultura, notadamente da soja, ainda existem áreas com potencial para conservação, seja por sua extensão, seja por qualidade dos seus ambientes. Uma situação especial nesse Estado ocorre porque nele se encontram regiões que abrigam diversas conformações ecotonais, muitas delas significativas por apresentarem elevada diversidade biológica (Castro 2000; Lima, 2008). Dessa forma, a atualização do inventário de diversidade de mamíferos da região de estudo poderá embasar estratégias de conservação da biodiversidade, visando a conciliar usos econômicos diretos e proteção dessa região. Nesse contexto, foi objetivo do presente estudo identificar, na região de Floriano – PI, as espécies de mamíferos terrestres (riqueza específica e dominância), seus hábitos e de vida e demais aspectos da sua ecologia. MATERIAL E MÉTODOS A região de estudo está localizada na porção centro-oeste do estado do Piauí, no núcleo do curso médio do rio Parnaíba, abrangendo áreas de Cerrado e Caatinga ecotonais (IBAMA, 2015). Realizou-se entrevistas semiestruturadas com 24 moradores da localidade “Bem Quer” para analisar se os mesmos conhecem a diversidade da mastofauna local, seus hábitos, condições ecológicas associadas e quais são os usos antrópicos dessa fauna. A amostragem foi do tipo intencional, incluindo apenas as residências que aceitaram participar da pesquisa. A autorização para obtenção desses dados via entrevistas foi submetida à Conselho de ética e está amparada pelo CAAE 48703515.0.0000.5660. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos resultados obtidos a partir das informações fornecidas pelos respondentes houve predomínio de pessoas do sexo feminino, com escolaridade predominante de “primário” e ensino fundamental. Dentre aqueles que informaram a renda familiar, destacam-se os ganhos até um salário mínimo.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Todos os moradores entrevistados responderam que não caçam, nem criam animais silvestres, mas oito entrevistados relataram utilidades do uso de mamíferos na alimentação humana. Foram relatadas 19 espécies (Figura 1), dentre as quais as mais citadas foram Pseudalopex vetulus (raposa), Mazama gouazoubira (veado) e Callithrix jacchus (soin). Quanto à frequência de observação da fauna, a maioria respondeu que o avistamento nas proximidades é raro e geralmente está associado a uma época específica ou à frutificação. Os locais de ocorrência mais citados foram matas ciliares, chapadas e as matas em geral. Já quanto ao aspecto de da extinção local dessa fauna, quase todos relataram perceber que parece estar havendo uma diminuição da mesma (Figura 2).
Figura 1. Espécies de mamíferos silvestres relatadas por moradores locais. Apesar de ser uma comunidade rural, de um município pequeno e ainda com bastante cobertura vegetal, os dados não evidenciam um amplo conhecimento dessa população sobre a fauna local, podendo já ser um reflexo do processo de distanciamento entre homem-natureza que já vem ocorrendo em áreas urbanas mais populosas.
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Figura 2. Percepção de moradores quanto às alterações na abundância de espécies da mastofauna nativa. Tal aspecto indica que, mesmo em localidades mais afastadas são importantes as iniciativas de educação ambiental informais e não formais, de educação ambiental visando à esclarecer sobre a importância da conservação da biodiversidade para a qualidade de vida humana por meio dos serviços ambientais que elas realizam (Sato et al., 2005). Nesse contexto, as inciativas de educação ambiental, associadas aos estudos visando ao maior reconhecimento sobre a biodiversidade da região permitirá propor estratégias de mitigação dos efeitos antrópicos nas populações silvestres e nos efeitos dessas interações com humanos, evitando desequilíbrios ambientais e consequências indesejáveis para a própria população humana local, tal como maior disseminação de doenças por vetores silvestres em meio urbano pela destruição dos seus habitats e deslocamento para outros, dentre outras perdas associadas à depleção dos serviços ambientais (De Groot, 2016) . CONCLUSÕES A biodiversidade vem constantemente sofrendo diversas ameaças devido ao aumento da afluência de recursos naturais para sustentar o modo de vida predominantemente predatório imposto pelo sistema econômico predominante atualmente. Nesse âmbito, uma das consequências desse modo de vida humano é o constante e progressivo avanço da civilizações sobre áreas naturais, diminuindo os espaços de habitats silvestres. Outro aspecto bastante destacado nesse padrão é o distanciamento ou desconexão entre homem e natureza, o qual pode ser observado pelo conhecimento cada vez menor das pessoas, mesmo aquelas que residem em área periurbanas ou rurais, sobre informações relativas à biodiversidade e seus ecossistemas associados. Esse trabalho pôde evidenciar essa situação de distanciamento de uma comunidade rural quanto ao seu seu conhecimento da mastofauna silvestre local, pois todas as respostas demonstraram um conhecimento superficial quanto à esse grupo e à sua ecologia, com exceção talvez das espécies ocorrentes na região e onde são encontradas na natureza. Esse aspecto demonstra a importância das iniciativas de educação ambiental que trabalhem o conhecimento de forma contextualizada e voltada para a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, considerando as peculiaridades locais e os conhecimentos tradicionais.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 REFERÊNCIAS Asfora, P.H. e Pontes, A.R.M. Os pequenos mamíferos da altamente impactada Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil, Centro de Endemismo Pernambuco. Biota Neotropica Jan/Mar 2009 vol. 9, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n4/pt/article+bn00409012009. Barros, R. S. M. 2008. Levantamento e estimativas populacionais de mamíferos de medo e grande porte num fragmento urbano de Mata Atlântica no sudeste do Brasil. Dissertação. UFJF. 68p. Bezerra, A.M.R., da Silva Jr, N.J. and Marinho-Filho, J. O rato-de-bambu Dactylomys dactylinus (Rodentia: Echimyidae: Dactylomyinae) no Cerrado do Brasil central. Biota Neotropica. Jan/Apr 2007 vol. 7, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v7n1/pt/bn03507012007. Bianchi, R. C.; Lima, R. N.; Silva, L.G.L. Conservação e métodos de estudos de mamíferos continentais. p. 280-317. In: Lima, M. S. C. S.; Carvalho, L. S.; Prezoto, F. (Org.). Métodos em ecologia e comportamento animal. 1ed.Teresina: EDUFPI, 2015, v. único. 317p. Burnie, D. 2005. Mammals. Elsevier. The Netherlands. 384p. Castro, A. A. J. F. 2000. Cerrados do Brasil e do Nordeste: produção, hoje, deve também incluir manutenção da biodiversidade. In: Benjamin, A. H. & Sícoli, J. C. M. (Org.). Agricultura e meio ambiente (Agriculture and the environment). São Paulo: IMESP: 79 - 87. De Groot, R. S. 2016. Functions of nature. Wolters-Noordof: The Netrherlands. 316p. Fonseca, G. A. B. et al. 1996. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Ocasional papers in conservation biology. V.4. Washington – DC. P. 1 – 38. Forero-Medina, G., Vieira, M.V., Grelle, C.E.V. and Almeida, P.J. Tamaño corporal como factor de amenaza en carnívoros brasileros. Biota Neotropica. Jan/Mar 2009 vol. 9, no. 2 http://www.biotaneotropica.org.br/v9n2/pt/article+bn00509022009. IBAMA. Ecossistemas brasileiros. Acessado em 20/12/2015. Disponível em: www.ibama.gov.br Lima, R. N. 2008. Levantamento de pequenos mamíferos da fazenda Boqueirão, Canavieira – PI. Relatório final do projeto de pesquisa financiado pela FAPEPI. 16p. Ministério do Meio Ambiente (MMA). 2002. Biodiversidade brasileira: avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília: MMA/SBF. 404 p. Modesto, T.C., Pessôa, F.S., Enrici, M.C., Attias, N., Jordão-Nogueira, T., Costa, L. de M., Albuquerque, H.G. and Bergallo, H. de G. Mamíferos do Parque Estadual do Desengano, Rio de Janeiro, Brasil. Biota Neotropica Oct/Dec 2008 vol. 8, no. 4 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n4/pt/article+bn01408042008. Moreira, D.O., Coutinho, B.R. and Mendes, S.L. O status do conhecimento sobre a fauna de mamíferos do Espírito Santo baseado em registros de museus e literatura científica. Biota Neotropica Jan/Mar 2008 vol. 8, no. 2 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n2/pt/article+bn02108022008. Reis, N. R. et al. 2006. Mamíferos do Brasil. UEL: Londrina. 437p. Santos, J.E. & Sato, M. 2001. A contribuição da Educação Ambiental para a esperança de Pandora. Rima: São Carlos. 604 p. il. Santos-Filho, M., da Silva, D.J., e Sanaiotti, T.M. Variação sazonal na riqueza e na abundância de pequenos mamíferos, na estrutura da floresta e na disponibilidade de artrópodes em fragmentos florestais no Mato Grosso, Brasil. Biota Neotropica Jan/Mar 2008 vol. 8, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n1/pt/article+bn02508012008. Sato, M. et al. 2005. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Artmed. 232 p.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOECOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
ATIVIDADES DO PROJETO DE EXTENSÃO TECER JUNTO À COMUNIDADE DOS ÍNDIOS PITAGUARY DE MONGUBA, PACATUBA-CE. Julia Santos Jardim1*, Andrieli Lima da Silva1, Victor Ramalho Barbosa1, Lucília Siqueira Aguiar1, Antonia Pauline Valeska B. de Paula Florindo¹, Patricia Limaverde Nascimento² 1
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Itaperi, Fortaleza-CE; Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Itaperi, Fortaleza-CE *e-mail:
[email protected] 2
RESUMO O fazer científico convencional muitas vezes estabelece uma relação dogmática com a realidade, restringindo-se a um método hiperespecializado e fragmentado. O projeto de extensão TECER (Transdisciplinaridade, Ecologia de Saberes, Currículo, Educação e Resistência), que é vinculado a Universidade Estadual do Ceará (UECE), vem atuando desde 2016 juntamente à comunidade dos índios Pitaguary de Monguba com o intuito de identificar os saberes tradicionais, desenvolver materiais didáticos e retorná-los à comunidade, contribuindo, desta forma, com a tessitura entre os saberes tradicionais e os saberes científicos e escolares. Informações foram coletadas por meio do método de observação ativa e de entrevistas semiestruturadas. Foram produzidos dois vídeos didáticos da série “Saberes Pitaguary”, que retratam aos mais novos como eram os costumes antigamente e como a qualidade de vida mudou a partir do distanciamento do ecossistema local. Acredita-se que tais iniciativas favorecem a convivência na diversidade e o fortalecimento do pensamento livre, crítico, sistêmico e, sobretudo, ecológico. Palavras-chave: Etnobiologia, Transdisciplinaridade, Ecologia de saberes, Saberes tradicionais, Pitaguary. INTRODUÇÃO O ser humano tem constantemente ameaçado a biodiversidade do planeta através de suas ações, desde o extrativismo predatório até as consequências ecológicas da poluição por derivados químicos e biológicos. Como afirma Torres, Oliveira, Alves, e Vasconcellos (2009, p. 623), “Ao longo da história, a interação homem-natureza evoluiu numa perspectiva crescente de exploração e degradação dos recursos naturais.” Observando essa problemática, surgiu a necessidade de resgatar conhecimentos tradicionais, também conhecidos como etnoconhecimentos, em busca da preservação do meio ambiente. Estes são caracterizados como os saberes e as tradições populares de uma comunidade, aprendidas no cotidiano pelo convívio direto com seu meio social e ambiental, os quais são transmitidos através das gerações por diversos métodos, como histórias e cantigas (Nascimento, 2013). A etnobiologia, ou seja, os conhecimentos tradicionais acerca dos processos naturais e a relação de determinada comunidade com a natureza, oferece subsídios para a conservação da biodiversidade, como afirma Arruda (1999): As populações tradicionais são caracterizadas por apresentar um modelo de ocupação do espaço e uso dos recursos naturais voltado principalmente para a subsistência, com fraca articulação com o mercado, baseado em uso intensivo de mão de obra familiar, tecnologias de baixo impacto derivadas de conhecimentos patrimoniais e, normalmente, de base sustentável (p. 79).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Os conhecimentos tradicionais biológicos, altamente difundidos nas comunidades indígenas, continuam desvalorizados por não seguirem os padrões científicos, pois não são empiricamente testados, porém, como afirmam Peterson, Hanazaki, e Simões-Lopes (2005), “Estudos sobre o conhecimento etnobiológico podem gerar dados que contribuam para o estabelecimento de diretrizes para os planos de gestão e manejo dos recursos naturais [...]”. A Ciência, por muitos, é considerada como imparcial. Porém, é sabido que essa realidade não é genuína. A escolha do campo a ser pesquisado e a forma como o pesquisador-cientista vê esse campo, já demonstra a sua, embora não total, parcialidade. Santos, Azevedo, Costa, e Medeiros (2011) afirmam que “[...] a forma como um cientista vê um aspecto de seu mundo orienta o paradigma em que está trabalhando, e vice-versa, consubstanciando-se em critério de julgamento daquilo que é verdadeiro e real.” (Santos et al., 2011, p. 834). A extensão universitária é uma excelente forma de retornar à sociedade o fruto do saber científico, que muitas vezes se restringe ao campo acadêmico, além disso, deve estimular o diálogo entre os conhecimentos teóricos, obtidos em sala de aula, e os conhecimentos das comunidades tradicionais, obtidos de forma vivencial e prática. A partir da promoção de práticas integradas entre várias áreas do conhecimento é possível facilitar espaços que favoreçam a aproximação de diferentes sujeitos, esse contato sociocultural é capaz de desenvolver um senso crítico, formando assim cidadãos éticos e preocupados com a qualidade de vida da sociedade. Todos os envolvidos, pesquisadores, comunidade e sociedade, se beneficiam dessa relação e o conhecimento gerado coletivamente assume seu caráter transdisciplinar (Rodrigues et al., 2013; Fernandes et al., 2012; Castro, 2004). O projeto de extensão TECER (Transdisciplinaridade, Ecologia de Saberes, Currículo, Educação e Resistência), que é vinculado a Universidade Estadual do Ceará (UECE), se propõe a atuar juntamente às comunidades indígenas, contribuindo com a tessitura entre os saberes tradicionais e os saberes científicos e escolares, favorecendo o pensamento livre, crítico, sistêmico e, sobretudo, ecológico. Ao identificar os saberes genuínos de determinada etnia, a maneira como são construídos, transmitidos e transformados, pretende-se elaborar materiais didáticos, como vídeos, álbuns de fotos, cartilhas, etc. a fim de aplicar esses projetos dentro das aldeias. A escola indígena, desta forma, torna-se um espaço de extrema importância e resistência cultural à medida que inclui em seu currículo os conhecimentos próprios de seu povo e território, empoderando alunos e professores frente a reivindicação de seus direitos, dentre estes o acesso à uma educação bilíngue, intercultural e diferenciada (Brasil, 1999). A nível local, onde atualmente são realizados os estudos, a comunidade indígena dos Pitaguary está localizada ao pé da serra da Aratanha entre os municípios de Maranguape, Pacatuba e Maracanaú, a aproximadamente 26 Km de Fortaleza e se subdivide em três comunidades: Santo Antônio, Olho d’água e Monguba (IBGE, 2010; Galdino, 2007; Pinheiro). Desde os anos 1980 e 1990 o povo Pitaguary passa por um processo de reterritorialização que busca não somente a demarcação e legalização da Terra, mas também resgatar sua identidade através da oralidade. Esta descaracterização da etnia foi resultado de um intenso processo de exploração por parte de empresários da agropecuária e de complexos industriais que se instalaram em suas terras e das consequentes movimentações do povo no território, como Lyra (1998) descreve que os ancestrais se localizavam primariamente nas imediações do bairro Mondubim e se deslocaram para a Serra de Pacatuba (Galdino, 2007). A comunidade conserva manifestações culturais características, como a “Festa da banana” e a “Festa do caboclo”. Além disso sua relação com o território e com a natureza vai além do uso para subsistência, é algo cultural, social e afetivo ligado à suas crenças e conhecimentos, incorporando em sua cultura aspectos de misticidade que envolvem sua relação com elementos naturais. Atualmente a comunidade ainda luta para resgatar e transpassar sua cultura para os mais jovens e vê nas escolas de ensino diferenciado um dos principais locus de atuação. Baseando-se nos fatores e perspectivas apresentados, o projeto de extensão TECER teve como principal objetivo a aproximação da comunidade Pitaguary para a produção de vídeos didáticos com os saberes da comunidade relacionados à alimentação, ao consumismo, à saúde e ao meio ambiente, através de relatos de integrantes da aldeia.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 MATERIAL E MÉTODOS O grupo TECER - Transdisciplinaridade, Ecologia dos Saberes, Currículo, Educação e Resistência, atua na aldeia dos Pitaguary de Monguba desde o ano de 2016. Um de seus principais focos de atuação é a escola de ensino diferenciado Ita-Ara, uma das três escolas situadas dentro do território indígena. O projeto já foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos e obtém aprovação pelo Parecer CEP/UECE nº.1.584.582 e CAAE 56074416.0.0000.5534. Atualmente o grupo é composto por 5 integrantes, todos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará, embora já tenha recebido contribuições de alunos da Enfermagem, Medicina e Matemática, fato que contribui com seu caráter transdisciplinar. Encontramos na etnopesquisa um caminho metodológico de compreender e explicitar “[...] a realidade humana tal qual como é vivida pelos atores sociais em todas as perspectivas possíveis” (Silva & Cabral, 2010, p.3). Para isso, o contato direto do investigador com o contexto social e a relevância dos saberes genuínos são importantes para a construção do conhecimento. Diferente das pesquisas quantitativas, que mensuram e interpretam dados por meio de números, esta é realizada por meio do convívio e da participação do pesquisador na comunidade, como uma experiência emancipatória. Os dados da pesquisa foram gerados por meio da convivência, observação direta e de entrevistas semiestruturadas entre os pesquisadores e os Pitaguary, incluindo ao todo cinco atores sociais, entre eles, agricultores, professores, xamãs, lideranças e o pajé. As conversações foram gravadas e transcritas para uma melhor interpretação das informações. Foram investigadas as principais referências tradicionais da cultura Pitaguary em relação ao uso das plantas medicinais, ao cultivo de hortaliças e ao manejo do plantio, bem como suas concepções e relações com a biodiversidade local. Buscou-se compreender, ainda, como tais conhecimentos são formados, conservados e transmitidos, com o intuito de confeccionar materiais didáticos a serem aplicados nas escolas de ensino diferenciado. Para os dois primeiros vídeos didáticos da série “Saberes Pitaguary” foram gravadas e selecionadas entrevistas com lideranças locais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das entrevistas realizadas, aferiu-se que existe uma divergência entre os costumes de “antigamente” e os costumes atuais. A tabela 1 aborda os principais temas de mudanças expressos pelas lideranças indígenas durante as gravações utilizadas para os vídeos. Tabela 1. Costumes Pitaguary Antigamente
Atualmente
Mão de Obra
Autônoma, na própria terra.
Assalariada em fábricas e indústrias.
Alimentação
Alimentos oriundos da agricultura, caça e coleta.
Alimentos industrializados.
Brincadeiras na mata. Possibilitava inúmeros aprendizados a partir da vivência no ambiente natural.
Equipamentos eletrônicos (Celulares, televisão) e a escola.
Infância
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Estilo de vida
Ativo. Integrado ao meio ambiente.
Sedentário. Distanciamento do meio ambiente.
Fonte: autoral Percebe-se que o intenso contato com a sociedade industrializada desencadeou uma série de problemas socioambientais na comunidade dos índios Pitaguary. Como nos aponta Cohn (2001) o processo de transformação é inerente a qualquer cultura, porém deve-se atentar para a perda da diversidade cultural proveniente da imposição do estilo de vida hegemônico da sociedade globalizada, um dos principais fatores identificados para a rápida mudança no estilo de vida dos indígenas Pitaguary, que não tiveram escolhas frente às pressões dos interesses privado. Atualmente, dentro da comunidade, um importante agente influenciador é a escola indígena, onde diferentes metodologias podem integrar os saberes tradicionais aos conteúdos curriculares, diminuindo assim a perda dos valores indígenas e promovendo a inclusão social. Essa transdisciplinaridade, como mencionado anteriormente, é característica da extensão, que busca a integração de diferentes sujeitos e culturas, com o objetivo de promover a transformação social. A presença dos saberes indígenas no ambiente escolar permite e é permitida pela integração de várias áreas de conhecimento, contribuindo para a preservação da história Pitaguary e formação cidadã dos alunos (Fernandes et al., 2012; Castro, 2004). A metodologia dos vídeos possibilita que a presença dos saberes tradicionais da comunidade sejam vivenciados simultaneamente aos conteúdos do currículo escolar, utilizando-se de uma linguagem adaptada ao público infanto-juvenil e animações para incentivar o interesse dos alunos. Desta forma, o conhecimento não é visto como algo fragmentado, mas sim integrado às práticas cotidianas (Trindade, 2013). Até o momento foram produzidos dois vídeos didáticos protagonizados pelos próprios integrantes da comunidade, intitulados “Saúde e Alimentação” e “Consumo e Meio Ambiente”, estes, além de abordarem temáticas dentro da Biologia, possuem narrativas que constroem a história e a cultura do povo Pitaguary sendo, sobretudo,de extrema atualidade por trazerem questões tão urgentes como a forma em que os altos padrões consumistas vem prejudicando o equilíbrio da natureza, a diversidade de seres e de saberes e a qualidade de vida dos nativos da aldeia, que não estão dissociados do ecossistema local. Ao fazermos atividades de extensão com engajamento na melhoria da qualidade de vida da comunidade e visando promover seu fortalecimento e pensamento crítico (Fernandes et al, 2012) buscamos valorizar o saber cultural Pitaguary e diminuir as distâncias existentes os saberes acadêmicos e populares (Macedo, 2002). Outros resultados do projeto durante este primeiro ano de atividades incluem a defesa de uma monografia intitulada “Currículo indígena na escola Ita-Ara: Saberes Pitaguary sobre plantas medicinais”, apresentações de trabalhos na XXVI Semana Universitária da UECE, na 35ª Reunião Nordestina de Botânica e no X Congresso Brasileiro de Agroecologia, assim como o estabelecimento de uma parceria para o desenvolvimento de uma horta agroecológica no espaço escolar. CONCLUSÕES Vivemos em uma sociedade que valoriza a hiperespecialização do conhecimento, os resultados imediatos e a imposição de costumes homogêneos. Tais valores muitas vezes contribuem para a fragmentação da diversidade ambiental e humana. O trabalho de resgate dos saberes genuínos de um determinado grupo étnico contribui para a convivência da diversidade de saberes e para a valorização dos padrões sistêmicos, observados tanto no modo de organização da natureza como de diversas sociedades humanas. Tendo como premissa básica a Ecologia dos Saberes, o Pensamento Sistêmico e a Transdisciplinaridade, o projeto TECER vem realizando atividades junto aos Pitaguary de Monguba com o intuito de promover essa tessitura entre os distintos saberes e fazeres científicos, contribuindo, desta
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 maneira, para o resgate dos etnoconhecimentos Pitaguary, principalmente aqueles ligados à etnobiologia e à etnoecologia. Através da convivência étnica e dos vídeos didáticos realizados, evidenciou-se que as mudanças no estilo de vida dos indígenas foram acentuadas à medida em que houve a incorporação de hábitos e crenças da sociedade dominante, gerando o distanciamento da população ao ecossistema e saberes locais. Os vídeos didáticos, protagonizados por lideranças da aldeia, foram uma das formas encontradas pelo projeto para incentivar o resgate dos conhecimentos etnoecológicos por parte das novas gerações. Neste contexto, destaca-se a importância que a escola indígena assume frente a questões tão importantes quanto o fortalecimento da identidade cultural e à integração dos saberes científicos aos tradicionais. Desta forma, o projeto de extensão TECER cumpre seu papel social que é tramar um elo entre a Universidade e as comunidades tradicionais, de modo a permitir a expansão dos espaços de discussões e reflexões, tendo em vista as distâncias socioculturais que normalmente separam esses espaços. AGRADECIMENTOS À Universidade Estadual do Ceará pelas bolsas concedidas, ao núcleo gestor da escola Ita-Ara e à todo o povo Pitaguary pela hospitalidade e confiança. REFERÊNCIAS Arruda, R. (1999). “Populações tradicionais” e a proteção dos recursos naturais em unidades de conservação. Ambiente e sociedade. ano. 2, n.5, p. 79-152. Retrived from: http://www.scielo.br/pdf/asoc/n5/n5a07 Brasil, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº: 14/99 de 14 de Setembro de 1999. Diretrizes curriculares nacionais da educação escolar indígena. Brasília, 1999. Castro, L. M. C. (2004). A universidade, a extensão universitária e a produção de conhecimentos emancipadores. 2004. Cohn, C. (2001) Culturas em transformação: os índios e a civilização. São Paulo Perspec. [online]. vol.15, n.2, p.36-42. Retrived from: . ISSN 0102-8839. http://dx.doi.org/10.1590/S010288392001000200006 Fernandes, M. C., Silva, L. M. S. da, Machado, A. L. G., & Moreira, T. M. M. (2012). Universidade e a extensão universitária: a visão dos moradores das comunidades circunvizinhas. Educação em Revista. Belo Horizonte, v. 28, n. 04, dez. 2012, p. 169-194. Galdino, L. K. A. (2007). Os caminhos para a territoriedade da etnia Pitaguary: o caso da aldeia de Munguba em Pacatuba no Ceará (Doctoral thesis em Geografia, Universidade Federal do Ceará). Retrieved from: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/8062. Acesso em: 28 jul. 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE. (2010). Censo realizado na Terra Indígena. Retrieved from: http://www.funai.gov.br/terra_indigena_2/mapa/index.php?cod_ti=36201. Macedo, Ana Vera (2002). Cursos de formação de professores índios em História: experiências e considerações. In: Congresso Brasileiro de Qualidade na Educação: formação de professores. Brasília: MEC. Retrived from: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000497.pdf. Nascimento, G. C. C. (2013). Mestre dos mares: o saber do território, o território do saber na pesca artesanal. In: CANANÉA, F. A. Sentidos de leitura: sociedade e educação. João Pessoa: Imprell. Retrieved from: http://pt.slideshare.net/eduardocordula/mestre-dos-mares. Peterson, D., Hanazaki, N., & Simões-Lopes, P. C. (2005). Etnobiologia dos botos (Tursiops truncatus) e a pesca cooperativa em Laguna, Santa Catarina. Santa Catarina. Retrieved from: http://www.sebecologia.org.br/viiceb/resumos/742a.pdf. Acesso em: 20 jul. 2017.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOECOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
UM OLHAR QUE NADA FALA, MAS TEM MUITO A DIZER: UMA ABORDAGEM ETNOGEOMORFOLÓGICA POR MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO Karoline Veloso Ribeiro1*, Karen Veloso Ribeiro2, Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque3, Roseli Farias Melo de Barros4 1
Discente do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 2Discente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 3Professor do Curso de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 4Professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI. *Karoline Veloso Ribeiro:
[email protected]
RESUMO Ao considerar que a Etnogeomorfologia estuda o conhecimento que populações têm acerca dos processos geomorfológicos, considerando os saberes sobre a natureza e os valores da cultura e da tradição local, objetivou-se verificar a geomorfologia predominante na bacia hidrográfica do rio Mulato, sob a ótica dos moradores da comunidade Furnas, situada no município de Jardim do Mulato, estado do Piauí. Os procedimentos metodológicos pautaram-se pelo viés da etnogeomorfologia, sendo que as informações foram analisadas qualitativamente. Diante do trabalho realizado, constatou-se que: i) os planaltos rebaixados/planaltos tabulares correspondem as Chapadas; ii) os morros testemunhos referem-se as Costaneiras/Morros; iii) as planícies fluviais referem-se ao Baixão e; iv) a Baixa contempla os vales interfluviais. Conclui-se que o etnoconhecimento dos moradores pesquisados se aproxima do conhecimento científico, não obstante a identificação e a caracterização das formas de relevo se dá pelas terminologias locais. Palavras-chave: Etnoecologia, Relevo, Paisagem, Conhecimento local. INTRODUÇÃO O relevo como componente do estrato geográfico, no qual vive o homem, fornece não apenas conhecimento sobre os aspectos e a dinâmica da topografia atual, mas contribui de forma significativa para compreender a análise das formas e dos processos, além de exercer uma enorme influência na dinâmica socioambiental (CASSETI, 1991). Ao considerar a importância que o relevo assume nos estudos geomorfológicos, este manifesta fisionomias distinguíveis e compartimentáveis de acordo com os elementos que o modelam, sendo assim passíveis de familiarização pelo conjunto de “aparências” que adquirem nas paisagens (SOUZA, 2013). Ao partir dessa premissa, a Etnogeomorfologia, como foco de abordagem etnoecológica, estuda o conhecimento que populações apresentam acerca dos processos geomorfológicos, levando em consideração os saberes sobre a natureza e os valores da cultura e da tradição local (RIBEIRO, 2012). Vista como essencial na análise das realidades ambientais, parte do princípio de que o ambiente, constituído de seres, saberes, relações e culturas, busca na reconstrução histórica da relação sociedade/natureza, obter um diagnóstico vernacular para a compreensão de padrões de ocupação e organização espacial (DIEGUES, 1996).
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 A análise científica do conhecimento tradicional tem sido uma referência importante para avaliar os saberes, seja pela validação de terminologias pela comunidade científica ou pela sociedade (RIBEIRO, 2012). Diante desta constatação, a Etnogeomorfologia surge com o objetivo de incluir e compreender o papel do homem como um agente ativo dentro desse sistema geomorfológico, pautando-se sob a ótica do entendimento e práticas de uso e manejo que as comunidades exercem sobre a paisagem (LOPES; RIBEIRO, 2016). Dentro desta perspectiva, o estudo do relevo, como parte essencial na análise integrada da paisagem, unido ao saber tradicional do ambiente, vem sendo visto como essencial na abrangência das realidades ambientais locais, sendo este crucial para o potencial sucesso ou fracasso de qualquer tipo de desenvolvimento e/ou atividades realizadas pelo produtor rural (RIBEIRO, 2015). Diante do ineditismo de pesquisas etnogeomorfológicas no Piauí e tendo em vista as variadas formas de relevo contidas no referido Estado, objetivou-se verificar a geomorfologia predominante na bacia hidrográfica do rio Mulato, sob a ótica dos moradores da comunidade Furnas, situada no município de Jardim do Mulato, estado do Piauí, no intuito de identificá-las, diferenciá-las e classificá-las. Com isso, passou-se a vislumbrar esta comunidade como um espaço geográfico propício ao desenvolvimento dessa pesquisa, tendo em vista um padrão geomorfológico diversificado na área em epígrafe. Portanto, o recorte espacial adotado, contemplando a comunidade mencionada, permite no estudo comparar as terminologias e verificar suas similaridades e diferenças, bem como aproximar o conhecimento científico ao conhecimento vernacular da cultura tradicional, além de conhecer seus processos e formas correlatas. MATERIAL E MÉTODOS A bacia hidrográfica do rio Mulato (Fig. 1) engloba, no todo ou em parte, oito municípios piauienses, a saber: Amarante, Angical do Piauí, Hugo Napoleão, Jardim do Mulato, Palmeirais, Regeneração, Santo Antônio dos Milagres e São Gonçalo do Piauí. Diante da abrangência e extensão da bacia hidrográfica mencionada, e seguindo o critério das maiores cotas altimétricas no referido setor espacial em análise, a qual é considerada de extrema importância para esse estudo, optou-se pela escolha do município de Jardim do Mulato, particularmente na comunidade Furnas, para o desenvolvimento da pesquisa.
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Figura 1. Mapa de localização da comunidade Furnas, município de Jardim do Mulato (Piauí, Brasil) Vale salientar que esta pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, sob nº do parecer 2100118, obedecendo aos critérios éticos da Resolução Nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). A coleta de dados se deu por entrevistas semiestruturadas (BERNARD, 2006) com agricultores que possuíam faixa etária igual ou superior a 18 anos, por meio de formulários, contendo questões abertas e fechadas sobre relevo e paisagem; observação participante (BOGDAN; TAYLOR, 1975) e; mapeamento comunitário (BERNARD, 1988). Fotografias também foram utilizadas para consubstanciar e enriquecer a pesquisa. Todas as famílias residentes na comunidade Furnas foram entrevistadas, seguindo o universo amostral definido por Begossi (2009). As informações foram analisadas qualitativamente e a partir da comparação de dados entre o saber popular etnogeomorfológico com o saber científico, foi possível realizar a construção do perfil topográfico da área estudada e, assim, verificar as similaridades e diferenças referentes às terminologias. Bases cartográficas foram produzidas em ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG), utilizando o software de geoprocessamento ArcGis10.2, com licença registrada na Universidade Federal do Piauí, por meio do Laboratório de Geomática, bem como pela utilização da plataforma Google Earth, permitindo, assim, uma diagnose acerca da caracterização topográfica/espacial da área em estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A área de abrangência da bacia hidrográfica do rio Mulato apresenta dois domínios geológicos distintos (CPRM, 2017): as estruturas sedimentares datadas do fanerozoico (Formação Corda, Formação Pastos Bons, Formação Pedra de Fogo e Formação Piauí) e a estrutura cristalina (Formação Sardinha). De acordo com Lira Filho (2011), a atual estrutura e morfoescultura das unidades de relevo da bacia hidrográfica em destaque são resultantes da ação tecnosedimentar e climática pretérita, além dos agentes endógenos e exógenos que atuam na estrutura geológica.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Na proposta de classificação geomorfológica de Lima (1987), a bacia hidrográfica do rio Mulato encontra-se inserida no compartimento regional do relevo que compreende os Baixos Planaltos do MédioBaixo Parnaíba, com altitudes que variam de 80 a 160 metros nas proximidades da foz dos rio Mulato e Parnaíba e de 300 a 400 metros nos planaltos rebaixados e morros testemunhos do tipo mesa no alto curso fluvial. Vale ressaltar, também, que as cotas altimétricas aumentam no sentido oeste-leste, estando o município de Jardim do Mulato inserido nas cotas de maior expressividade. A comunidade rural Furnas, situada no município de Jardim do Mulato/PI, consta atualmente com quatro famílias residentes, conforme os dados informados pelo Agente Comunitário de Saúde da presente localidade. A pesquisa foi realizada com um agricultor de cada família, sendo três do gênero masculino e um do gênero feminino (n=4). A idade dos informantes variou de 56 a 69 anos e o tempo de moradia na localidade de 15 a 69 anos. Dos quatro entrevistados, três (75%) frequentaram o ensino fundamental (incompleto) e apenas um (25%) concluiu o Ensino Médio. De acordo com os saberes dos entrevistados a partir da diferenciação das formas e altura do terreno (relevo), chegou-se à seguinte classificação das morfoesculturas, sendo assim denominadas: I) Costaneira ou morro (área inclinada); II) Chapada (área plana correspondente ao topo da costaneira); III) Baixa (área plana no “pé” da costaneira). Vale ressaltar, ainda, que a área rebaixada onde há acúmulo de água, é por eles denominada de baixão. No que diz respeito à análise da paisagem, todos relataram perceber uma variação altimétrica em relação às formas de relevo que foram identificadas e mencionadas. Ao partir dessa premissa, as terminologias etnogeomorfológicas vernaculares foram confrontadas ao saber científico, possibilitando, assim, um diagnóstico acerca do etnoconhecimento da comunidade. No intuito de espacializar e validar as informações colhidas em campo, considerando a escala adotada (comunidade Furnas) foi realizado um mapeamento hipsométrico da área, a partir de dados da missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e da plataforma Google Earth e, em seguida, elaborou-se um perfil topográfico (Fig. 2) no qual possibilitou uma visualização mais nítida da classificação do relevo regional e local.
Figura 2. Perfil topográfico da comunidade Furnas, município de Jardim do Mulato (Piauí, Brasil) Ao considerar o perfil topográfico da comunidade em consonância com a compartimentação geomorfológica local e área de entorno, identificou-se que: i) os planaltos rebaixados/planaltos tabulares correspondem as Chapadas; ii) os morros testemunhos referem-se as Costaneiras/Morros; iii) as planícies fluviais referem-se ao Baixão e; iv) a Baixa contempla os vales interfluviais, Apesar da altitude constituir fator preponderante dentro dessa escala de análise, a temperatura ambiente e os cursos d’água, ali presentes, foram outros fatores que levaram os agricultores a distinguirem as morfoesculturas. Desta forma, no intuito de relatar com maior clareza as questões abordadas, os produtores rurais relataram que a chapada apresenta características distintas da baixa, sendo a primeira quente e seca e a segunda, fria e úmida. A partir da elaboração desses perfis topográficos, assim como da relação que os produtores rurais fazem da análise da paisagem, estes possibilitaram traçar de forma nítida a classificação etnogeomorfológica da bacia hidrográfica do rio Mulato, de acordo com os saberes dos entrevistados e, articular estes conhecimentos ao viés científico, sistematizado pela ciência geomorfológica.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Por sua vez, todos os produtores rurais entrevistados são nascidos e criados no município de Jardim do Mulato, especificamente, na comunidade Furnas, onde têm nas suas práticas agrícolas seu maior conhecimento etnogeomorfológico, referente à análise da paisagem. Apesar de estarem em uma área predominantemente plana, associado às áreas de relevo acentuado e/ou declivosos, as formas de relevo puderam ser identificadas pelos entrevistados. Isso demonstra as diferenças no tocante às variadas formas de relevo ali existentes. Observou-se, ainda, que essas áreas são ocupadas para criação de animais (bovinos, caprinos e ovinos) e cultivos agrícolas. Em conformidade com os entrevistados, caprinos e ovinos possuem preferência por áreas de morro, diferentemente dos bovinos, que são criados em área de baixão. Isso ficou evidenciado na fala a seguir: “Bode não gosta de chapada porquê é reto” (Informante 1, 57 anos). Relativo ao plantio, este se dá tanto nas áreas altas, quanto nas baixas, entretanto é mais próspero na baixa, em virtude da umidade. Ainda segundo os informantes, as costaneiras ou morros só se tornam viáveis para o plantio se o “inverno” (verão chuvoso) for bom. A chapada foi designada como um local desfavorável para plantação, sendo considerada pelos entrevistados uma área mais seca que a costaneira ou morro, precisando a terra ser arada, adubada e corrigida com calcário para tornar propício ao cultivo. Tais resultados podem ser observados nas menções abaixo: “O baixão segura mais água, tem mais prosperidade, dá mais legume” (Informante 2, 67 anos). “Terra plana não dá nada, mas se adubada dá tudo” (Informante 4, 69 anos). Também ressaltaram a importância da temperatura local, uma vez que, segundo os produtores, futuramente, esta tende a ser alterada, em função do desmatamento que vem ocorrendo nesta última década, em decorrência do agronegócio, onde os entrevistados enfatizam ser a costaneira ou morro e a chapada como áreas quentes e o baixão e a baixa relativamente frios, como demonstrado no discurso subsequente: “Com o tempo, daqui a pouco, não tem mais lugar frio por causa do desmatamento” (Informante 1, 57 anos). Com isso, pode-se inferir que o fator temperatura e, consequentemente, a disponibilidade de água, logo deixarão de serem considerados aspectos relevantes para as características de diferenciação entre as formas de relevo, tendo em vista a tendência de uniformização. CONCLUSÃO Diante da pesquisa realizada, foram observados quatro tipos de unidades geomorfológicas da paisagem local (Costaneira ou morro; Chapada; Baixão e Baixa), segundo o etnoconhecimento dos produtores rurais, onde todos eles trabalham em terras próprias ou da família, e nenhum deles exerce outra profissão, apenas a de lavrador. Dessa forma, o ambiente, em geral, é bem percebido pelos entrevistados, uma vez que, foram nascidos e criados na comunidade onde se tem o contato direto com o ambiente que os rodeiam, possibilitando, assim, identificar e classificar as formas de relevo. Portanto, a partir dos dados altimétricos, a identificação, diferenciação e caracterização das formas de relevo, por meio da realidade visual deles, puderam ser constatadas pela observação do perfil topográfico gerado e comparado ao saber científico. AGRADECIMENTOS Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pelas bolsas concedidas as primeiras autoras. Todos os autores são gratos à UFPI, pelo apoio e incentivo às pesquisas científicas. REFERÊNCIAS
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 BEGOSSI, A. et al. (2009). Ecologia de pescadores artesanais da Baía da Ilha Grande. Rima: São Carlos. BERNARD, H. R. (1988). Research methods in cultural anthropology. Sage Publications: Newbury Park. BERNARD, H. R. (2006). Research methods in cultural anthropology. 2ª ed. SAGE Publication: Newbury Park. BOGDAN; TAYLOR (1975). Introduction to qualitative research methods: a phenomenological approach to the social sciences. J. Wtley: New York. BRASIL. CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Projeto Geobank. 2017. Disponível em: http://geosgb.cprm.gov.br/>. CASSETI, W. (1991). Ambiente e apropriação do relevo. Contexto: São Paulo. DIEGUES, A. C. S. (1996). O mito moderno da natureza intocada. HUCITEC: São Paulo. LIMA, I. M. M. F. (1987). Relevo piauiense: uma proposta de classificação. Carta Cepro. Teresina, (2)2, 5584. LIRA FILHO, M. A. S. Análise geoecológica da bacia hidrográfica do Rio Mulato. 2011. 83p. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia), Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2011. LOPES, V. M.; RIBEIRO, S. C. (2016). Etnogeomorfologia e Paisagem. Revista de Geociências do Nordeste, 2(especial), 212-220. RIBEIRO, S. C. (2012). Etnogeomorfologia sertaneja: proposta metodológica para a classificação das paisagens da sub-bacia do rio Salgado/CE. (Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro). Disponível em: < http://objdig.ufrj.br/16/teses/786204.pdf>. RIBEIRO, S. C. (2015). Etnogeomorfologia sertaneja – estudo dos conhecimentos dos produtores rurais do sitio canabravinha, distrito de palestina do Cariri – Mauriti/CE acerca dos processos morfodinâmicos. Revista Geosaberes, 6(2), 103–112. SOUZA, J. C. O. de. (2013). Identificação de geossistemas e sua aplicação no estudo ambiental da bacia hidrográfica do rio são miguel – Alagoas. (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco). Disponível em: < http://repositorio.ufpe.br/bitstream/handle/123456789/10562/Disserta %C3%A7%C3%A3o%20J%C3%BAlio%20C%C3%A9sar%20de%20Souza.pdf? sequence=1&isAllowed=y>.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOECOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOECOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ILHA DA CONCEIÇÃO A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO EM PERSPECTIVA ETNOECOLÓGICA Marciléia Wanzeler de Souza Vasconcelos1,*, Francivaldo Alves Nunes2. 1 2
Mestrado em Educação e Cultura, Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Cametá, Cametá – PA; Coordenador do Campus de Ananindeu-Pa. Universidade Federal do Pará(UFPA).
RESUMO As ideias apresentadas são o resultado da pesquisa de campo realizada em 2016 e 2017 na Ilha da Conceição como parte da atividade para compor a tese de mestrado da autora. A Ilha da Conceição é formada pelas comunidades de Santana, São Joaquim e Costa de Santana, localizadas no município de Mocajuba na região Nordeste do Estado do Pará. A análise Etnoecológica ajuda na percepção e compreensão da estrutura fundiária construída no interior desses espaços resultantes de colonização mais tradicional, que se remete ao período colonial da História da Amazônia. O objetivo dessa pesquisa foi compreender que através dos saberes do homem ribeirinho produziu-se os espaços de trabalho terra, floresta e rios como os elementos que subsidiaram a ocupação territorial. Palavras-chave: Saberes, Experiência, Ocupação, Etnoecologia. INTRODUÇÃO Os habitadores dessas comunidades tradicionais da ilha da Conceição conseguiram aprender e a conhecer o meio natural e a partir desses conhecimentos criaram habilidades na confecção dos instrumentos utilizados na captura de crustáceos e também para o manuseio de sementes nativas coletadas na floresta. A etnoecologia analisará como o homem amazônico se percebe como parte integrante da natureza, o sentimento de pertencimento, ele pode ter nascido em muitos outros lugares, mas as experiências criadas na ilha da Conceição a partir do seu envolvimento com os elementos naturais e sociais constituíram e constituem a identidade local. O saber reproduzido nesses espaços que produzem as experiências que foram passadas através da oralidade para outras gerações, que são objetos de estudo da Etnoecologia, e que são importantes quando analisamos populações tradicionais, entendemos que para a percepção do meio ambiente o homem criou laços de pertencimento a terra, criando os aspectos culturais inerentes ao homem ribeirinho da Amazônia tocantinense. MATERIAL E MÉTODOS Esses métodos possibilitaram a análise das atividades laborais realizadas na ilha, o manejo da floresta, da terra e do rio e que estão proporcionalmente ligados ao processo de ocupação territorial da ilha da Conceição. A metodologia utilizada foi a visitação in locus, com a observação dos moradores em seus locais de trabalho e também de entrevistas semiestruturada. A utilização da fonte imagética e também de análises de documentos oficiais de órgãos estaduais e federais. A fonte oral “tem sido útil, cúmplice e necessária na reconstituição de saberes, experiências, improvisações e lutas cotidianas vividas no âmbito de uma cultura onde a oralidade predomina” (Pinto, 2004, p. 23). É a base da reconstrução do processo de ocupação e da formação dos saberes, a memória do ribeirinho ajuda a compreender as experiências e os saberes compreendidos e apreendidos ao longa da história desses povos. A fonte imagética tem como finalidade perceber o cotidiano da sociedade em um tempo e espaço específico, possibilitam uma análise dos conhecimentos e comportamentos reproduzidas pelo cotidiano dos habitantes da ilha da Conceição. Já a análise documental de instituições públicas, ajuda na percepção do nível de organização das
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 comunidades, pois o ato de acionar o poder público é diretamente proporcional ao nível de organização social dessas comunidades. RESULTADOS E DISCUSSÃO Thompson (1998), ao trabalhar com a categoria costume entendendo a Inglaterra do século XVIII, mostra que os costumes podiam ser utilizados em interfaces das leis agrárias, pois está pautado na práxis, entendido no cotidiano das pessoas mais comuns, vulgares consutudies, apresentando-se como algo que tem seu uso em comum e um tempo imemorial, assim o costume é lex loci, ou seja, é local. A partir desta ideia de costume procuro entender as experiências que se constrói pela concepção, percepção e conhecimento da natureza, permitindo que se produzir e reproduzir, dando condições materiais e espirituais, apre sentando como um elemento que foi motivador no processo de ocupação das terras. (Toledo, 1990). Chassot (1994) se reportar ao conhecimento que as populações tradicionais adquiriram ao longo de suas gerações, como algo que está longe do universo acadêmico, essas experienciais são fruto do relacio namento direto com a natureza, nesses espaços se constrói um universo cultural, envoltos por “cosmologias, ideologias, crenças, além de um considerável corpo de conhecimento” (Souto, 2008, p. 16). É esse conhecimento que analisado neste trabalho são chamados de experiências, foi um método condicionante para a ocupação territorial e também para o trabalho realizado pelos ribeirinhos. Essas experiências caracterizadas pelo manejo das terra, das florestas e dos rios foram passadas de geração a geração e produziram a interação e integração do meio social e natural, criando valores no uso da terra, e também na construção da própria identidade do homem ribeirinho e na consolidação da ocupação da Ilha da Conceição. O processo de ocupação produziu uma singularidade na formação das comunidades desta ilha, nesses espaços a interação homem-natureza sofrem simbiose, pois a floresta e os rios não são apenas um espaço de produção alimentícia, ou fonte de renda, agrega-se valores culturais e sociais ao meio ambiente. Nestas comunidades a relação é diretamente proporcional a seguridade do território, se refutarmos que desde o período colonial a Coroa Portuguesa preocupa-se em povoar um imenso território e teoricamente não povoado e nem desenvolvido. As políticas de desenvolvimento e de ocupação para a Amazônia sempre foram desenvolvidas pelo mesmo discurso, ou seja, um vasto território sem desenvolvimento econômico e com uma taxa populacional muito baixa. A densa floresta amesquinhava o homem que aqui residia com sua imensidão. No entanto, quando se analise essas experiências de vivência do homem amazônico, percebe-se que ele criou em meio a um local com tantas especificidades, uma resiliência, ou seja, criou uma resistência a partir de sua interação com meio ambiente, proporcionando a formação de uma saber local que se utiliza dos recursos doados pela natureza para efetivar o processo de permanência na ilha. O homem que reside na ilha da Conceição trabalha no “complexo rio-mata-roça-quintal”, extraindo assim sua subsistência (Loureiro, 2014, 22). O saber local são as experiências de manejo da floresta e dos rios. A pesca, as atividades de coleta de açaí, de cacau, da coleta de andiroba (Carapa guianensis aubl) e do muru-muru (Virola aurinamensis) são exemplos dessa experiências, transformadas em saberes locais por uma rede de ensinamento. Esses conhecimentos adquiridos pelos ribeirinhos ao longo de sua vida é chamado de etnoconhecimento, que dispõe de uma qualidade de aprendizado único dos povos tradicionais. Trata-se de conhecimento com uma carga cultural difundida através dos saberes entre os povos nativos e os estrangeiros, que está pautada na elucidação da lógica produtiva do extrativismo vegetal e animal, pois “o conhecimento tradicional é o resultado da soma das experiências de cada indivíduo. A vivência, a relação entre homem e natureza” (Santos, Pereira & Andrade, 2007, p. 70). Os domínios das técnicas de pesca do camarão como, a pesca com o pari e com o matapi, são exemplos pertinentes de como o ribeirinhos usa os recursos naturais e transforma em tecnologias que aumentem sua adaptabilidade ao meio natural, criando domínio e também valores que constroem sua identidade. A paisagem humanizada que foi transformada ao longo dos séculos na região do baixo Tocantins, a partir da construção social e cultural estabelecida pelas relações históricas, políticas, sociais e culturais entre os povos que habitaram e compuseram a população da ilha da Conceição e a natureza. Isto
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 significa que o cotidiano produzido foi circunscrito dentro do campo de interesse e de necessidade da população local (Cunha & Moraes, 2012, p. 94). O ecossistema da ilha está circunscrito pela dinâmica das águas e da floresta, a produção e reprodução da fauna e da flora estão definidos pela própria natureza. Não é algo manipulável pelo homem, mais foi compreendido e aprendido pelos homens, e ensinado as novas gerações através da interação familiar. Cada sistema ambiental funciona de forma única e integrada aos meios de trabalho do homem ribeirinho. Isso quer dizer que a floresta e o rio funcionam como um território de domínio público e privado. Este conhecimento experimentado pelo conviver social da unidade familiar de produção se estende aos produtos da floresta e dos rios. O ribeirinho conhece o tempo de amadurecimento de cada fruto e o momento para coletá-los na floresta, assim como conhece as marés, e esse aprendizado é passado de pai para filho. As crianças de 10 anos em diante acompanham os adultos na andanças na floresta, podendo desenvolver uma atividade ou outra este processo de aprendizado está ligado principalmente à linguagem e oral e corporal. Outro elemento importante é o espaço de convivência social, a floresta e o rio, ganham características peculiares, podendo possuir ou não fronteiras, essa delimitação se dá pelo viés documental, ou seja, o documento de posse da terra, mais pode ser considerado sem fronteira a partir da atividade econômica desenvolvida. Cada Unidade de produção familiar, é delimitada por uma fronteira natural, delimitada pela memória dos ribeirinhos, sendo estes podendo ser documentados ou não. No entanto, a essa delimitação pode ser considerada particular ou comunal, a partir do produto coletado. A exemplo disso está a coleta do açaí, do cacau, da andiroba e do muru-muru. A propriedade é privada para a coleta do açaí e do cacau, ou seja, apenas a família está autorizada a coletar esses produtos, enquanto, que para a coleta das semente de andiroba e de muru-muru, a floresta não tem uma fronteira definida pelos homens, isso ocorre por que essas sementes são levadas para além dos pés de suas árvores matrizes, sendo uma das formas naturais de dispersão dos frutos pela floresta realizada pela água dos rios que inunda as terras de várzeas em horários das marés altas. A tapagem e uma das outras experiências de trabalho existente na ilha, é uma espécie de armadilha para capturar peixe e consiste em construir uma barreira em igarapés, se utilizando dos paris. Trata-se de um exemplo dos saberes que ao longo da história tornaram-se as experiências de trabalho, para capturar alimentos que irá abastecer as casas das famílias ribeirinhas. Esse saber é adquirido entre as gerações. As etapas requer do ribeirinho várias habilidades. Consistia primeiramente na tecelagem de uma espécie de tapete confeccionado com tala de miriti e cipó - comum às plantas lenhosas, trepadeiras, características das matas tropicais, de ramos delgados e flexíveis, que se fixam por meio de acúleos, de gavinhas ou por se enrolarem aos caules e ramos de árvores e arbustos. Geralmente esse processo de tecelagem era realizado pelas mulheres da família, e demandava pelo menos de um a dois dias de trabalho, dependendo do tamanho do pari que era confeccionado na largura do igarapé. Na maré alta, a família (homens, mulheres e crianças, em média entre 9 a 10 anos) deslocam-se de canoa até o ponto definido, o lugar com menor profundidade. Nesse ponto, coloca-se o pari - Espécie de tapete tecido pelos artesãos ribeirinhos de tala de miriti -, criando uma espécie de barragem, devidamente prendida em suas extremidades. Amarradas com cipó as varas que estrategicamente são colocadas. Feito a barragem, espera-se a vazante da maré, diminuindo os leitos e a profundidade dos igarapés. Com paneiro retira-se camarão e peixes que ficaram presos na tapagem. Essa prática é analisada pela etnoecologia como uma apropriação de conhecimento do meio ambiente e a interação com o homem, ou seja, o conhecimento dos materiais utilizados na confecção do pari e do paneiro, as técnicas de tecelagem, sendo que essa técnica é passada de geração a geração, ainda possui o conhecimento do tempo, o momento exato de tapar e o de ir verificar a tapagem, todos esses elementos demonstram o nível de percepção deste homem com a natureza, isto “é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza” (Leff, 2012, 16). Mais esses espaços e os modos de produção das diversas culturas existentes nas ilhas são claramente um reflexo de um processo de dominação capitalista influenciadas pelos hábitos do continente. Mesmo se mantendo na região insular o ribeirinho não se empodera da multiplicidade da divisão das atividades na comunidade, como também, há claramente uma desvalorização da mão-de-obra feminina
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 repetindo o quadro existente também nos centros urbanos, no entanto, a unidade de produção familiar, destaca-se por uma divisão do trabalho, entre mulheres, homens e crianças, mesmo que haja, atividades que teoricamente deveriam ser desenvolvidas pelos homens, as mulheres aprenderam a manusear apetrechos de pesca e assim, também realizam as atividades condicionadas pelo sexo masculina. Outra questão importante é entender que o tempo despendido para determinada atividade laboral, é condicionado pelo valor comercial que esse produto tem no mercado. Sendo assim as culturas com maior valor agregado são comercializados pelos homens. Outra questão relevante é a falta de tecnologias sociais que possibilitem a valorização financeira dos produtos da floresta e dos rios, a exemplo disso está na comercialização dos produtos in natura. E por Tecnologias Sociais entende-se que são produtos e técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas em interação com a comunidade, em que representem efetivas soluções de transformação social. São experiências inovadores que contribuem para resolver grandes problemas sociais. (Samonek, 2016, p. 14). CONCLUSÕES Conclui-se então que os saberes produzidos ao longo da constituição e formação dessas comunidades foram adquiridas pelo processo de observar os mais velhos e assim, as práticas foram perpassadas para as gerações seguintes, e isso promoveu a consolidação da ocupação territorial da Ilha da Conceição. Esse processo de ocupação está pautado nas experiências desse povo, no uso das tecnologias sociais, seja no manejo da floresta, do rio, ou nos elementos que serão inseridos ao longo da sua história. E essa ocupação é feita de forma familiar e a divisão territorial é conduzida pelo patriarca da família referente ao número de filhos que possui, no entanto, alguns casos foram norteados pelas mulheres. E as áreas não possuem demarcação físicas. O fato é que, a etnoecologia ao analisar esses elementos evidencia a impor tância do espaço e dos atores sociais e sua interação produz e reproduz um conhecimento que é provenien te das condições materiais e imateriais dos povos ribeirinhos, em meio à conservação da natureza produzem as condições materiais de trabalho. AGRADECIMENTOS Agradeço a primeiramente a Deus pelo dom da vida e da sabedoria em poder lidar com tantas adversidades, a minha família meu filho esposo pela compreensão e atenção nas horas de estudos. Ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura do Campus de Cametá/Pá. Ao meu orientador prof. Francivaldo Alves Nunes e meu co-orientador prof. Nino Soubreiro.. Pai Nosso que estás no céu, santificado seja vosso nome. Venha nós o vosso reino. REFERÊNCIAS Chassot, A. (1994). A ciência através dos tempos. Ed. Moderna. São Paulo. Cunha, Alessandra Sampaio & Moraes, Sérgio Cardoso de. (2012). Fragmentos de Território de Pesca na Amazônia. In: SOBRINHO, Mário Vasconcelos et al; (Orgs.). (pp. 93-125). Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local. Belém: NUMA-UFPA. Leff, Enrique. (2012). Aventuras da epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes. São Paulo: Cortez. Loureiro, Violeta Refkalefsky. (2014). Amazônia: Estado, homem, natureza. Belém: Cultural Brasil. Marques, J. G. 2001. Pescando pescadores: ciência e etnociência em uma perspectiva ecológica. 2. ed. NUPAUB, USP, São Paulo, Brasil, 258pp.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Pinto, Benedita Celeste de Moraes. (2004). Nas Veredas da sobrevivência: memória, gênero e símbolos de poder feminino em povoados amazônicos. Belém: Paka-Tatu. Samonek, Francisco. (2016). Encauchados 20 anos – do Acre para o mundo. Belém: Supercores. Santos, André Luiz da Silva. Pereira, Eugênia C. Gonçalves & Andrade, Laise de Holanda Cavalcanti. (2007). A construção da paisagem através do manejo dos recursos naturais e a valorização do etnoconhecimento. In: Albuquerque, Ulysses P. de. Alves, Ângelo G. Chaves & Araújo, Thiago A. de Souza. (Orgs). (pp. 61-73). Povos e Paisagens: Etnobiologia, etnoecologia e biodiversidade no Brasil. NUPEA/UFRPE. Recife. Souto, Francisco J. B. (2008). A Ciência que veio da lama: etnoecologia em área de manguezal. NUPEA. Recife. Souto, Francisco José Bezerra. (2008). A ciência que veio da lama: etnoecologia em área de manguezal. NUPEAA. RECIFE. Thompson, (1998). E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras. Toledo, Victor M. (1990). La perspectiva etnoecológica cinco reflexiones acerca de las “ciencias campesinas” sobre la naturaleza con especial referencia à México. Ciências. Especial 4.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO RELACIONADO AO USO DE PLANTAS NA TERAPIA DE ENFERMIDADES EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO Ana Lúcia de Oliveira Borges 1,*, Flávia Cartaxo Ramalho Villar2, Vitor Prates Lorenzo2, Rodolfo de Moraes Peixoto2 1
Bolsista PIBIC, Graduanda em Engenharia Agronômica, Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão Pernambucano); 2 Professor Doutor, IF Sertão Pernambucano. Rodovia BR 235, km 22, Projeto Senador Nilo Coelho – N 4, CEP: 56.300-000, Petrolina – PE. *
[email protected]
RESUMO O presente trabalho objetivou conhecer as principais espécies de plantas utilizadas na terapia de enfermidades nos animais de produção na região Submédio São Francisco. Foram realizadas visitas a 17 famílias voluntárias de comunidades rurais de Sobradinho/BA e quatro famílias de Juazeiro/BA. As principais enfermidades citadas foram: verminoses (90,5%), gripe/tosse/catarro (57,1%), o mal do caroço (19%), entre outras, 4,8%. Foram coletados 36 indivíduos da flora medicinal, distribuídos em 17 famílias, 34 gêneros e 39 espécies. A família mais representativa foi a Fabaceae com 11 espécies, seguida por Euphorbiaceae (4) e Lamiaceae (3). O estudo etnofarmacológico realizado nas zonas rurais dos municípios de Juazeiro-BA e Sobradinho-BA demonstrou que o uso de plantas medicinais da caatinga é comum em várias comunidades, seus empregos terapêuticos e preparos são os mais diversos nas criações de animais de produção. Estudos desta natureza garantem a preservação do conhecimento popular e podem subsidiar a descoberta de novos fitoterápicos. Palavras-chaves: etnofarmacologia, ruminantes, pequenos animais, fitoterapia. INTRODUÇÃO A região Nordeste é conhecida pela sua vegetação savana estépica (Caatinga), apresenta resistência a altas temperaturas, pluviosidade baixa, com espécies vegetais, pouco estudadas e conhecidas pela população local por seus efeitos curativos em tratamentos de enfermidades em pessoas e animais (MMA, 2006). O emprego de plantas medicinais como instrumento de cura tem passado por diferentes paradigmas. Inicialmente, a utilização de plantas era realizada basicamente de forma empírica, sendo o conhecimento repassado entre as gerações. Ao longo do tempo, as plantas medicinais tornaram-se alvo de interesse para pesquisas científicas, aliando diferentes percepções sobre esse instrumento terapêutico (Leite, 2009). O conhecimento sobre a ação das plantas no tratamento de animais em áreas rurais tem sido alvo de pesquisa para a academia (Albuquerque & Hanazaki, 2006), baseada na cultura local ou no aperfeiçoamento dos criadores de animais que muitas vezes desenvolveram métodos próprios (Berg, 2010; Maciel, Pinto & Veiga, 2002), para tratar de seu rebanho utilizando as plantas disponíveis no bioma caatinga ou cultivadas em suas áreas, viabilizando a atividade de criação de animais para sobrevivência da família, como atividade comercial. O presente trabalho teve por objetivo, conhecer as principais espécies de plantas utilizadas na terapia de enfermidades nos animais de produção na região submédio São Francisco.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 MATERIAL E MÉTODOS Após a submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos e Animais CEPHA do IF Sertão-PE (Plataforma Brasil - CCAE 62166616.5.0000.8052 e parecer 1916343). Foram realizadas visitas a 17 famílias voluntárias de comunidades rurais de Sobradinho/BA e 04 famílias voluntárias de Juazeiro/BA, respectivamente localizados nos seguintes pontos geográficos: 9° 27' 34'' S e 40° 49' 31'' W e 9° 26' 18'' S e 40° 30' 19'' W (CIDADE-BRASIL, 2017). Na cidade de Sobradinho/BA, participaram 17 famílias, distribuídas em 9 comunidades (Zona Urbana, Algodões Velho, Canaã, Santa Maria, Lagoa Grande, Tataui I, II, III e IV). Em Juazeiro/BA, no Distrito de Massaroca, participaram 4 famílias, das comunidades de Canoa (1 família) e Saquinho (03 famílias). A pesquisa foi realizada através de entrevista, com questionário semiestruturado contendo as informações necessárias para o estudo etnofarmacológico. Após a entrevista e indicação do uso das plantas pelos participantes para terapia animal, era realizada a coleta botânica da espécie indicada e marcada a coordenada geográfica. A coleta botânica foi realizada seguindo as normas tradicionais da taxonomia vegetal. Os exemplares coletados foram depositados no herbário do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental – NEMA da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina/PE. A identificação das espécies foi realizada utilizando material bibliográfico especializado. RESULTADO E DISCUSSÃO Foram coletados 36 indivíduos da flora medicinal, distribuídos em 17 famílias, 34 gêneros e 39 espécies. A família mais representativa foi a Fabaceae com 11 espécies, seguida por Euphorbiaceae (4) e Lamiaceae (3). As demais famílias apresentaram apenas 1 ou 2 espécies. Os voluntários se declararam ovinocultores, 21 pessoas (100%), 19 caprinocultores (90,5%), 08 bovinocultores (38,1%) e suinocultores/criadores de galinha (1%), 5 pessoas (23,8%) praticam agricultura de sequeiro combinada com a criação de animais, com exceção, de duas pessoas (9,52%) que desempenhavam atividade empregatícia, mantendo a criação como atividade secundária. Todos eram proprietários das terras que vivem, 9 aposentados (42,85%). Em relação a escolaridade, 11 pessoas (52,38%) cursaram o ensino médio. Do total de entrevistados, sete eram 7 mulheres (33,3%) e 14 homens (66,7%), com faixa etária de 36 a 75 anos. O período de moradia nas suas propriedades, oscilou entre 2 a 73 anos. As principais enfermidades citadas no plantel dos entrevistados foram: a verminose (90,5%), 12 relatos para infecções respiratórias (57,1%), 4 relatos para o mal do caroço (19%), além do botulismo. A Aloe vera (babosa), obteve a maior indicação nos questionários, sendo mencionada como milagrosa por 7 voluntários (33,3%) e utilizada como remédio por 14 participantes (66,6%), no tratamento de vermes, ferimentos, infecções, limpeza no pós-parto e usada como energético, sendo bem recebida pelos animais. O uso das raspas dos caules de Mimosa tenuiflora (jurema preta) citada por 13 pessoas (61,9%) é comum nas propriedades e em seu entorno, utilizada para tosse/gripe, infecção, cura de umbigo, ferimentos, limpeza de pele, sendo a segunda espécie mais citada. A Commiphora leptophloeos (umburana de cambão) mencionada por 12 (57,14%), além do uso artesanal da madeira, sua aplicação medicinal é uma pratica diária para muitos camponeses, apontada como alívio para problemas gastrintestinais. A Spondias tuberosa (umbuzeiro), obteve 10 citações (47,61%), com cada vez menos árvores, nas zonas rurais, segundo os relatos, atua contra broncopneumonias, diarreia e cicatrizante. O Cnidoscolus quercifolius (favela), planta vista com facilidade na região do Submédio São Francisco, tem sido utilizada para ferimentos, suas raspas inseridas na pele promovem a cicatrização, possuindo ação repelente e de molho, após algumas horas pode auxiliar na resolução de problemas gastrintestinais. A Anadenanthera colubrina (angico), muito conhecida nas comunidades, é utilizada para tosse, infecções respiratórias,
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ferimentos, fraturas, cura de umbigo, segundo os participantes tem diminuído sua oferta a cada ano, devido a utilização para fins madeireiros. O Myracrodruon urundeuva (aroeira) é uma das plantas normalmente utilizada no tratamento de enfermidades em humanos, empregada para animais, tem proporcionado controle de tosse, infecções diversas, cicatrização e no pós-parto. Nas preparações, são acrescentadas outras substâncias como água 19 citações (90,2%), sal 8 declarações (38,1%), além de álcool/suco de limão/alho 4 (19%), sendo que a composição dos preparados se dá através de chás, infusões, in natura, melaço e pomadas. Os órgãos vegetais citados na pesquisa foram: caule (cascas e entre casca), tanto para uso interno e uso externo (aplicação em ferimentos). O tratamento com folhas também ocorre pelos seus exsudados, a exemplo do Jatropha molíssima (pinhão brabo) que é referenciado como eficaz, sendo o consumo de sua seiva, para tratar envenenamento e limpar manchas oculares, quando usado nas ceratoconjuntivites. Outras partes citadas foram as flores, frutos e sementes, conforme (Tabela 1).
Tabela 1. Levantamento etnofarmacológico de plantas medicinais utilizadas na terapia de enfermidades em animais de produção nas comunidades rurais de Juazeiro/BA e Sobradinho/BA. Número de citação da espécie pelas comunidades e seu uso como fitoterápico.
Táxon
Nome vulgar
Número Parte da de Frequência planta citação utilizada
Usos
Acanthaceae Ruellia paniculata
melosa/amargosa
1
0,64
Folhas, flor
Ferimentos em geral
Amarantaceae Dysphania ambrosioides
mastruz
2
1,28
Folhas e caule
Myracrodruon urundeuva Fr. Allem.
aroeira
7
4,48
Raspas do caule
Anacardium occidentale
cajueiro
4
2,56
Raspas do caule
Spondias tuberosa
umbuzeiro
10
6,41
Raspas do caule
babosa
14
8,97
Geleia
Vermífugo, eliminação da placenta, cicatrizante Tosse, cicatrização, eliminação da placenta
Anacardiaceae Cicatrizante para ferimentos Gripe, diarreia, cicatrizante, catarro e hemorragia
Asphodelaceae Aloe vera
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Vermífugo, cicatrizante, infecções,
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 eliminação da placenta Burseraceae Commiphora leptophloeos
umburana de cambão
12
7,69
Raspas do caule
Disenteria, dores abdominais
batata de purga
2
1,28
Fruto
Vermífugo
Apodanthera sp.
batata de teiú
3
1,92
Fruto
Sarnas
Momordica charantia L.
melão de são caetano
2
1,28
Fruto
Repelente
Convolvulaceae Operculina macrocarpa Cucurbitaceae
Euphorbiaceae Continua... Continuação da Tabela 1.
Táxon
Cnidoscolus quercifolius
Nome vulgar
favela
Número Parte da de Frequência planta citação utilizada 9
Usos
5,76
Raspas do caule
Cicatrizante, repelente, dor de barriga Disenteria, eliminação da placenta
Croton echioides Baill.
quebra faca
5
3,2
Raspas do caule
Jatropha molíssima
pinhão brabo
6
3,84
Folhas, flor, seiva
Amburana Cearensis
umburana de cheiro
5
3,2
Sementes
Anadenanthera Colubrina var. Cebil
angico
7
4,48
Raspas do caule
Tosse, ferimentos, fraturas, cura do umbigo
Bauhinia cheilantra
mororó
1
0,64
Folhas
Broncopneumonia
Caesalpinia pyramidalis Tul.
pau de rato
2
1,28
Raspas do caule
Eliminação da placenta, dores
Em envenenamentos, ceratoconjuntivite
Fabaceae
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Falta de apetite, indigestão
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 abdominias, disenteria Hymenea martiana Hayne
Jatobá
2
1,28
Raspas do caule
Energético
Libidibia férrea
pau ferro
2
1,28
Folhas
Infecções diversas, cicatrização
Mimosa sp.
calumbi
3
1,92
Folhas
Cicatrizante, tosse
Mimosa tenuiflora (Mart.) Benth
jurema preta
13
8,33
Raspas do caule
Tosse, cura de umbigo, cicatrizante
Vermífugo, diarreia, Raspas infecção urinária, dor do caule, abdominais e flor empanzinamento Folhas, Empanzinamento flor Raspas Infecção diversas, do caule laxante e fruto
Poincianella microphylla
catingueira
6
3,84
Senna martiana (Benth) H.S. Irwin & Barneby
canafístula
1
0,64
Tamarindus indica
tomarindo
1
0,64
samba caeta
1
0,64
Folhas
Inflamações
malvão
1
0,64
Folhas
Infecções respiratórias
Lamiaceae Mesosphaerum suaveolens (l.) Kuntze Plectranthus amboinicus
Continua ... Continuação da Tabela 1.
Número Parte da de Frequência planta citação utilizada
Táxon
Nome vulgar
Plectranthus ornatus
boldo
2
1,28
Folhas
Indigestão
algodão crioulo
7
4,48
Folhas e sementes
Infecções diversas, eliminação da placenta, febre
umburuçú
4
2,56
Raspas do caule
Infecções respiratórias
pau de colher
2
1,28
Raspas do caule
Inflamações diversas
Gossypium hirsutum L. Pseudobombax simplicifolium A. Robyns
Usos
Nyctagenaceae Maytenus rigida Mart.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Guapira cf. graciliflora
pau piranha
1
0,64
Folhas
Inflamações diversas
juazeiro
4
2,92
Folha
Cicatrizante, dores abdominais, tosse
limoeiro
5
3,2
Fruto
Ceratoconjuntivite, tosse
xeque xeque
1
0,64
Caule, folha, flor
Intoxicações
flor amarela
1
0,64
Flor
Analgésica
erva cidreira
2
1,28
Folhas
Dores abdominais
1,28
Folhas e caule
Infecções respiratórias, repelente
Rhamnaceae Zizyphus joazeiro Rutaceae Zanthoxylum L. Sapindaceae Cardiospermum corindum L. Turneraceae Turnera subulata Sm. Verbenaceae Lippia alba (Mill) Lippia origanoides
alecrim do campo
2
CONCLUSÕES O estudo etnofarmacológico realizado nas zonas rurais dos municípios de Juazeiro-BA e Sobradinho-BA demonstrou que o uso de plantas medicinais da caatinga é comum em várias comunidades, seus empregos terapêuticos e preparos são os mais diversos nas criações de animais de produção. O tratamento com plantas medicinais é repetido uma ou duas vezes, sendo o objetivo alcançado (cura ou resolução do problema) na maioria das vezes. Estudos desta natureza garantem a preservação do conhecimento popular e podem subsidiar a descoberta de novos fitoterápicos. AGRADECIMENTOS Ao IF SERTÃO-PE, pela concessão da bolsa PIBIC, além da Secretaria Municipal de Agricultura de Sobradinho-BA e Juazeiro-BA e IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) pela mediação junto aos criadores e ao NEMA (Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental), pela cedência do espaço físico e orientação técnica para identificação botânica. REFERÊNCIAS Albuquerque, U.P., Hanazaki, N (2006). As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 16 (supl), pp.678-689.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Berg, M.E.V.D (2010). Plantas medicinais na Amazônia: contribuição ao seu conhecimento sistemático. 3. ed. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. Brasil-cidade (2017), Cidade Brasil / Estado de Bahia / Município de Sobradinho» Informação geral disponível em http://www.cidade-brasil.com.br/municipio-sobradinho.html Brasil-cidade (2017), Cidade Brasil / Estado de Bahia / Município de Juazeiro » Informação geral disponível em http://www.cidade-brasil.com.br/municipio-juazeiro.html Leite, J.P.V. (2009). Fitoterapia – bases científicas e tecnológicas. 1.º Ed. São Paulo: Atheneu. 328p. Maciel, M. A. M., Pinto, A. C., & Veiga JR, V. F. (2002). Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidisciplinares. Química Nova, 25(3): pp 429-438. MMA, (2006) Caderno da Região Hidrográfica do São Francisco / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos. – Brasília: MMA, p 148.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LANGUAGE: Brazillian Portuguese
ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL ABORTIVO Denisy Trigueiro do Santos¹*, Débora Caroline do Nascimento Rodrigues¹, Mariana Rodrigues Lustosa Mendes¹, Lucas Gustavo Galiza¹, Sérgio Emílio dos Santos Valente² ¹Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina-Pi; ²Laboratório de Genética e Biologia Molecular, Departamento de Biologia, UFPI, CMPP. *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO O uso de plantas com propriedades medicinais faz parte da cultura humana desde os tempos mais remotos, essa prática aparece como uma alternativa a medicamentos sintéticos, sendo amplamente empregados para as mais diversas finalidades, que vão desde a cura, tratamento ou prevenção de doenças ao aborto. O seu uso é favorecido pela crença de que não apresentam nenhum risco para saúde, facilidade de obtenção e cultivo, levando assim, ao seu uso indiscriminado. Com base nisso, o presente trabalho objetiva a análise do uso de plantas medicinais potencialmente abortivas. Foi possível evidenciar que muitas plantas medicinais presentes na medicina tradicional apresentam potencial abortivo, dentre as quais podemos destacar a Arruda (Ruta graveolens L.), Sene (Senna alexandrina Mill.), Boldo (Vernonia Condensata Baker.), Chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus Kunth. Micheli) e Gengibre (Zengiber officinalis R.). É necessário promover a conscientização da população sobre o uso adequado de plantas medicinais, riscos tóxicos e seus efeitos adversos. Palavras-chaves: Etnofarmacologia, medicina tradicional, aborto. INTRODUÇÃO “Desde os tempos imemoriais, o homem busca, na natureza, recursos que melhorem sua condição de vida para, assim, aumentar suas chances de sobrevivência pela melhoria de sua saúde. Em todas as épocas e culturas, ele aprendeu a tirar proveito dos recursos naturais” (Brasil, Ministério da Saúde, 2006, p. 09). Neste contexto, o uso de plantas medicinais foi amplamente empregado na medicina tradicional, sendo utilizadas na cura ou tratamento de enfermidades e em vários outros procedimentos clínicos. “O surgimento do conceito de ‘natural’, em muito contribuiu para o aumento do uso das plantas medicinais nas últimas décadas. Para muitas pessoas esse conceito significa a ‘ausência de produtos químicos’, que são aqueles que podem causar algum dano ou, de outra forma, representam perigo. Assim, produtos naturais passaram a ser sinônimo de produtos saudáveis, seguros e benéficos” (Mengue et al., 2001, p. 21). Veiga et al. (2005) considera que a popularidade da utilização de plantas medicinais estar associado aos obstáculos básicos impostos a populações carentes que vão desde a dificuldade do acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos, além de ter seu uso favorecido pela facilidade na obtenção e tradição popular. Assim, todo esse cenário leva ao uso indiscriminado de plantas com propriedades medicinais ignorando a possibilidade de toxidade e efeitos adversos. Em seu estudo, Oliveira et al. (citado em Vasconcelos et al., 2009) descreve que os casos de intoxicação por plantas medicinais em adultos estão vinculados ao uso indevido de plantas medicinais ou plantas com propriedades entorpecentes e abortivas. O uso de espécimes vegetais com propriedade medicinal que possuem potencial abortivo são amplamente utilizadas na medicina tradicional com a crença de que não possuem efeito tóxico, teratogênico, embriotóxico ou mutagênico. Muitas pessoas se quer possuem conhecimento sobre o
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 potencial abortivo que tal espécime vegetal possui, outras, embora cientes de tal potencial utilizam-na ignorando os possíveis riscos ou, em casos de aborto incompleto, a possibilidade de defeitos congênitos em recém-nascidos (Moreira et al., 2001; Rodrigues et al., 2011; Souza et al., 2013). Com base nisso, o presente trabalho enfoca no uso de plantas medicinais com potencial abortivo, podendo o seu uso ser motivado pelo intuito de abortar ou proveniente de outras finalidades, como cura, tratamento ou prevenção de doenças. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi elaborado a partir de uma revisão de literatura nas bases de dados Google, Google acadêmico, Lilacs e Scielo, com preferência por trabalhos nacionais, além da consulta de periódicos referenciados nos trabalhos analisados. As palavras-chaves utilizadas foram “plantas medicinais”, “plantas abortivas”, “aborto induzido”. No Google foi possível utilizar frases completas, exemplo, “plantas para abortar”, “toxidade de plantas medicinais”, “plantas medicinais usadas para tratamento ou prevenção de doenças”. O nome popular das espécies vegetais também foi usado nas buscas. Foram critérios de exclusão: trabalhos publicados antes dos anos 2000 ou que tratam dos efeitos tóxicos ou abortivos de plantas medicinais que não são populares no uso tradicional. RESULTADOS E DISCUSSÃO O abortamento é um assunto bastante polêmico que consiste na interrupção da gravidez até a 20 a ou 22ª semana e com produto da concepção pesando menos que 500g. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, metade das gestações é indesejada, com uma a cada nove mulheres recorrendo ao abortamento para interrompê-las. No Brasil, apesar da sua ilegalidade, estima-se a ocorrência de mais de um milhão de abortos inseguros ao ano. O artigo 128 do Código Penal de 1940 prevê o abortamento legalizado apenas para gestações resultantes de estupro e para caso de risco de morte para a mulher. Há legalização também para o caso de anencéfalos, a hipótese em julgamento não configura aborto, que pressupõe potencialidade de vida do feto (Arcanjo et al., 2013; Bakke et al., 2008; Brasil, 2011). De acordo com o Brasil (2011): O abortamento representa um grave problema de saúde pública, com maior incidência em países em desenvolvimento, sendo uma das principais causas de mortalidade materna no mundo, inclusive no Brasil. Sua discussão, notadamente passional em muitos países, envolve uma intricada teia de aspectos legais, morais, religiosos, sociais e culturais. Vulnerabilidades como desigualdade de gênero, normas culturais e religiosas, desigualdade de acesso à educação, e múltiplas dimensões da pobreza – com a falta de recursos econômicos e de alternativas, a dificuldade de acesso a informação e direitos humanos, a insalubridade, dentre outros – fazem com que o abortamento inseguro atinja e sacrifique, de forma mais devastadora, mulheres de comunidades pobres e marginalizadas. (p. 07) Os métodos mais usuais para induzir o aborto consistem em chás ou infusões de plantas medicinais, inserção de preparos herbais ou objetos perfurantes na vagina, saltos de escadas ou telhados, além do Misoprostol, análogo sintético da prostaglandina E1, comercializado com o nome de Cytotec® (Brasil, 2011; Moreira et al., 2001). Muitas são as plantas medicinais utilizadas na medicina tradicional que possuem efeito abortivo, vale ressaltar que muitas destas são usadas desconhecendo-se tal propriedade. Tais espécies vegetais podem ser utilizadas para as mais diversas finalidades, como calmantes, para mal-estar, cólicas fortes ou dores abdominais, para “descer” a menstruação, como digestivos ou para resfriados. É sabido que mulheres em período gestacional sofrem de frequentes enjoos e prisão de ventre, fazendo o uso de medicamentos ou até mesmo de plantas medicinais para aliviar os sintomas, o que se caracteriza como um risco devido ao potencial abortivo que muitas plantas possuem (Bakke et al., 2008; Barros & Albuquerque, 2005; Souza et
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 al., 2013). No entanto, o emprego de plantas medicinais como método abortivo é uma prática que persiste no Brasil, e muitas mulheres cientes de tal propriedade fazem o seu uso. Dentre algumas espécies vegetais com potencial abortivo amplamente empregadas no uso popular destacam-se: Arruda (Ruta graveolens L.): Arruda está entre as plantas com propriedades medicinais mais utilizadas na medicina popular, e é indicada “para vir a menstruação”, como calmantes, contra piolhos e contra mau olhado. (Mengue et al., 2001). Matos, em seu estudo sobre plantas medicinais usadas em fitoterapia no Nordeste e Sousa et al. em seu trabalho sobre os constituintes químicos ativos e propriedades biológicas de plantas medicinais brasileiras (citados em Rodrigues et al., 2011) descrevem que a arruda possui atividade anti-helmíntica, antihemorrágica abortiva, carminativa, antiespamódica e estimulante. Indicada para reumatismo, hipertensão e verminoses. O seu uso é popular como método abortivo por exercer fortes contrações no útero ocasionado a morte do feto. Sene (Senna alexandrina Mill.): De acordo com Robbers e Tyler (citado em Silva & Rau, 2012) o sene é o laxante antranóide mais utilizado mundialmente. Muito utilizado por mulheres para aliviar problemas intestinais, espécies do gênero Senna têm sido consideradas popularmente como estimulante da menstruação, abortiva e estimulante da musculatura do útero (Silva & Rau, 2012). Boldo (Vernonia condensata Baker.): O principal uso da planta se dá pelas folhas, contra problemas gastrointestinais, tais como diarreia, constipação, dor de estômago, vermes intestinais e infecções bacterianas. A planta também é frequentemente usada para o tratamento de infecções urinárias, inflamação, diabetes e malária (Brasil, 2014). Seu uso também é popular como método abortivo. Chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus Kunth. Micheli): É utilizada na medicina popular para tratamentos de doenças renais, reumatismo, afecções cutâneas e problemas no fígado. Seu uso está associado ao aumento no número de cistos e de abortos em ratas Wistar prenhas (Toledo et al., 2004). Gengibre (Zengiber officinalis R.): O gengibre possui ação estimulante digestiva, antimicrobiana, antivomitiva, anti-inflamatória, antirreumática, antiviral, antitussígena, antitrombose, cardiotônica, antialérgica, colagoga e protetora do estômago. É indicada nos casos de dispepsia, como carminativo das cólicas flutuantes e para combater rouquidão e inflamação da garganta. Seu uso é muito popular para problemas do estômago, garganta e fígado, assim como para enjoos, náuseas e vômitos (Brasil, 2014). O gengibre é potencialmente abortivo por estimular a motilidade uterina (Veiga et al., 2005). Outras espécies potencialmente abortivas comuns na medicina tradicional são, o Hortelã (Mentha pulegium L.), Romã (Punica granatum L.), Alecrim (Rosmarinus officinales L.), Quebra-Pedra (Phyllanthus niruri L.), Cabacinha (Luffa Operculata L.), Quina-verdadeira (Cinchona calisaya Wild.), dentre outras (Moreira et al., 2001; Rodrigues et al., 2011; Souza et al., 2013). Com base na análise da literatura foi possível evidenciar que muitas plantas medicinais apresentam potencial abortivo, sendo contraindicado o seu uso durante a gestação. No entanto, como foi evidenciado na pesquisa realizada por Souza et al. (2013) na Unidade Básica de Saúde (UBS), São Paulo, plantas potencialmente abortivas são amplamente utilizadas por mulheres, mesmo durante a gravidez, principalmente para dores estomacais ou como digestivos, desconhecendo os seus riscos. Em contrapartida, cientes de tal potencial e com o intuito de provocar o aborto, foi constatado na pesquisa realizada por Moreira et al. (2001) o uso frequente de plantas medicinais como recurso abortifaciente. CONCLUSÕES O aborto é uma prática ilegal no Brasil, assim, acaba assumindo um forte caráter clandestino. Entre os métodos mais comuns para provocar o aborto destacam-se o uso de plantas medicinais, devido facilidade de obtenção e cultivo, visto que o aborto é mais frequente entre mulheres carentes. Neste
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 contexto, é importante a promoção de debates que tratem sobre o aborto e atenção humanizada a essas mulheres. É necessário a conscientização sobre o uso indiscriminado de plantas medicinais, muitas podem se apresentar tóxicas quando ingeridas em altas quantidades, além, de que muitas mulheres grávidas podem usá-las para mal-estar sem saber do seu potencial abortivo. O período gravídico caracteriza-se como uma fase sensível para a mulher e requer atenção redobrada na ingestão de qualquer medicamento ou chás de plantas medicinais, por isso faz-se de extrema importância à procura de orientação médica. É necessário que toda informação advinda do meio científico que explicite as propriedades medicinais, riscos tóxicos e efeitos adversos das plantas chegue a toda população, e o meio mais propício para essa divulgação está na realização de palestra em escolas e unidades básicas de saúde. AGRADECIMENTOS Todos os autores são gratos a Universidade Federal do Piauí (UFPI) por favorecer e incentivar a produção científica. REFERÊNCIAS Arcanjo, G. M. G., Medeiros, M. L. F. S., Azevedo, R. R. S., Griz, S. A. S., Rocha, T. J. M., & Mousinho, K. C. (2013). Estudo da utilização de plantas medicinais com finalidade abortiva. Revista Eletrônica de Biologia, 6(3), 234-250. Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/reb/article/view/13347 Bakke, L. A., Leite R. S., Marques, M. F. L., & Batista, L. M. (2008, Junho) Estudo comparativo sobre o conhecimento do uso de plantas abortivas entre alunas da área da saúde e da área de humanas da Universidade Federal da Paraíba. Revista eletrônica de Farmácia, 5(1), 24-31. Disponível em https://revistas.ufg.br/REF/article/download/4611/3933 Barros, F. R. N., & Albuquerque, I. L. (2005, Setembro). Substâncias e medicamentos abortivos utilizados por adolescentes em unidade secundária de saúde. Revista Brasileira em Promoção de Saúde, 18(4), 177-184. Doi: 10.5020/18061230.2005 Bento, A. (2012, Maio). Como fazer uma revisão de literatura: Considerações teóricas e práticas. Revista JÁ (Associação Acadêmica da Universidade da Madeira), 65(7), 42-44. Disponível em http://www3.uma.pt/bento/Repositorio/Revisaodaliteratura.pdf Brasil. Ministério da Saúde. (2006). A Fitoterapia no SUS e o programa de pesquisas de plantas medicinais da central de medicamentos, Brasília, DF: Autor. Brasil. Ministério da Saúde. (2011). Atenção humanizada ao abortamento: Norma Técnica (2ª ed.). Brasília, DF: Autor. Brasil. Ministério da Saúde & Anvisa. (2014). Monografia da espécie Vernonia condensata (“Boldo-Baiano’’), Natal, RN: Autor. Brasil. Ministério da Saúde & Fundação Oswaldo Cruz. (2014). Introdução ao uso das plantas medicinais em Petrópolis, Petrópolis, RJ: Autor. Mengue, S. S., Mentz, L. A., & Schenkel, E. P. (2001). Uso de plantas medicinais na gravidez. Revista Brasileira de Farmacognosia, 11(1), 21-35. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0102695X2001000100004 Moreira, L. M. A., Dias, A. L., Ribeiro, H. B. S., Falcão, C. L., Felício, T. D., Stringuetti, C., & Ferreira, M. D. S. (2001, Setembro). Associação entre o Uso de Abortifacientes e Defeitos Congênitos. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 23(8), 527-521. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S010072032001000800006 Rodrigues, H. G. I., Meireles, C. G., Lima, J. T. S., Toledo, G. P., Cardoso, J. L., & Gomes, S. L. (2011). Efeito embriotóxico, teratogênico e abortivo de plantas medicinais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 13(3), 359-366. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1516-05722011000300016 Silva, L. A., & Rau, C. (2012, Outubro). Potencial abortivo e teratogênico de plantas medicinais. 7a Amostra de Produção Científica da Pós-Graduação Lato Sensu da PUC Goiás, Goiânia, GO, Brasil, 7. Disponível em http://www.cpgls.pucgoias.edu.br/7mostra/Artigos1c.html
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Souza, M. N. C. V., Tangerina, M. M. P., Silva, V. C., Vilegas, W., & Sannomiya, M. (2013). Plantas medicinais abortivas utilizadas por mulheres de UBS: Etnofarmacologia e análises cromatográficas por CCD e CLAE. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 15(4), 763-773. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1516-05722013000500018 Toledo, M. R. S., Moreles, L. A., Conci, M., Olivo, A. M., Simplício, T. T., Valério, D., ...Lima, Z. V. (2004). Comparação da fitotoxicidade dos extratos aquosos de Echinodorus macrophyllus (Kunt) Mich em ratas prenhes. Revista Horticultura Brasileira, 22(2), 493. Disponível em http://www.abhorticultura.com.br/biblioteca/arquivos/Download/Biblioteca/44_717.pdf Vasconcelos, J., Vieira, J. G. P., & Vieira, E. P. P. (2009). Plantas tóxicas: Conhecer para prevenir. Revista Científica da UFPA, 7(1), 1-10. Disponível em http://www.cultura.ufpa.br/rcientifica/artigos_cientificos/ed_09/pdf/rev_cie_ufpa_vol7_num1_cap11.pdf Veiga, V. F. J., Pinto, A. C., & Maciel, M. A. M. (2005, Fevereiro). Plantas medicinais: Cura segura? Revista Química Nova, 28(3), 519-528. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422005000300026
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA E ETNOMEDICINA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY AND ETHNOMEDICINE LANGUAGE: Brazilian Portuguese
PERCEPÇÃO DOS FÁRMACOS-NATURAL SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SUAS INTERFACES COM A SAÚDE PÚBLICA Fabrício Nicácio Ferreira1*; Laura Jane Gomes2 1
Pós-graduando em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Universidade Federal de Sergipe (UFS), Cidade Universitária Professor Aloísio de Campus, Curso de Bacharelado em Enfermagem, Universidade Federal de Sergipe (UFS), Campus Professor Antônio Garcia Filho (CPAGF), Lagarto - SE; 2 Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Sergipe. Orientadora no Programa de pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Campus UFS, São Cristóvão - SE. *Autor para correspondência:
[email protected]
RESUMO A utilização de plantas medicinais pela população proporcionou debates e a elaboração de políticas públicas de saúde no Brasil. Assim, o estudo objetivou analisar a percepção dos “fármacos-natural” 1 quanto ao seu conhecimento e uso de plantas medicinais e as interfaces com a saúde pública. Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e exploratória realizada com 09 fármacos-natural do município de Arauá-SE. As informações foram obtidas por entrevista semiestruturada e analisadas pelo método Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Observou-se que adquiriram conhecimento sobre plantas medicinais com familiares e/ou amigos. Indicam e utilizam de produtos da natureza como forma terapêutica complementar, mesmo incertos quanto aos seus efeitos e pouco se dialoga com os profissionais de saúde. Palavras-chave: Medicina Popular, Biodiversidade, Conhecimento INTRODUÇÃO O uso de recursos da natureza como forma complementar e/ou única alternativa de cuidado a saúde perpassa limites territoriais. No Brasil, fatos históricos expressam a grandiosidade da natureza e a contribuição dos povos que aqui habitavam, mais especificamente dos índios precursores desta atividade que ao contemplar a natureza retiravam das plantas a cura dos males do corpo e do espírito. Além disso, atualmente a utilização de plantas medicinais pela população tem proporcionado debates e a elaboração de políticas públicas de saúde (GIRALDI & HANAZAKI, 2010) Nas últimas décadas, o meio científico e o olhar de pesquisadores para questões socioambientais, tem-se buscado novas informações quanto o consumo, utilização e indicação desses produtos que por possuírem maior acesso à população acabam por ser uma ou até a primeira alternativa de tratamento a saúde de pessoas vulneráveis socialmente (FERNANDES, 2004). Após discussões e incentivos da Organização Mundial de Saúde para adoção de práticas alternativas, sobretudo de produtos vegetais no tratamento a saúde o Ministério da Saúde Brasileiro lançou no ano de 2006 a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos definindo dentre suas diretrizes a adoção de novas alternativas terapêuticas entre elas a prescrição de plantas medicinais, especificamente os fitoterápicos por profissionais dos serviços públicos de saúde (BRASIL, 2006). Nesse sentido, mesmo que sucintamente, o conhecimento empírico encontra-se evidenciado principalmente quando se trata do uso, consumo e manuseio de produtos da natureza para o cuidado 1
O termo “fármaco-natural” é um conceito elaborado pelos autores e estar sendo empregado como o indivíduo que manipula plantas extraídas do ambiente para “curar” doenças, ou seja uma espécie de curandeiro que trata da saúde humana manuseando objetos da natureza.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 individual e da coletividade. Por outro lado, existem aspectos que devem ser priorizados como: conhecimento das plantas especificas para determinadas doenças, o modo de uso desses produtos, a forma de preparo, as contraindicações e os efeitos indesejados. Indicar plantas medicinais sem o conhecimento necessário a outras pessoas pode gerar riscos à saúde, por vezes irreversíveis, dessa forma o diálogo entre a população local e profissionais de saúde, sobre o conhecimento e uso de plantas medicinais, podem compor a estratégia saúde da família, e proporcionar em espaço de troca de saberes e experiências, além do envolvimento popular nas decisões e co-responsabilidade de sua saúde. Assim, é necessário a participação dos detentores locais do etnoconhecimento sobre plantas medicinais como colaboradores para qualidade da saúde pública comunitária de forma a garantir maior segurança individual e coletiva. Desse modo, este trabalho teve como objetivo analisar a percepção dos “fármacos-natural” quanto ao seu conhecimento e uso de plantas medicinais e suas interfaces com profissionais da saúde pública. MATERIAL E MÉTODOS Delimitação da área de estudo A cidade de Arauá está situada na região sul do estado de Sergipe, há 99 km de distância da capital, Aracaju. Possui uma população estimada de 10.477 habitantes. Sua base econômica é a agropecuária. Apresenta vegetação predominantemente caatinga e capoeira, além de áreas do bioma Mata Atlântica que sofrem constantemente com a ação antrópica (IBGE, 2010). A fig. 1 destaca a área de estudo. Figura 01- Localização da área de estudo, município de Arauá - Sergipe.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Fonte: ATLAS/SRH, 2014.
Critérios metodológicos da pesquisa Trata-se de um estudo transversal com abordagem descritiva e exploratória realizado com fármacos-natural residentes nas comunidades rurais Colônia Sucupira, Progresso, Poços e Sapé município de Arauá-SE. Os critérios de escolha destas comunidades foram: formarem uma mesma área adstrita de saúde, utilizarem de produtos da natureza para fins medicinais e não possuir estudos em relação a temática. A seleção dos sujeitos ocorreu por meio da técnica não probabilística “snowball sampling” (VINUTO, 2014). Assim, partiu-se inicialmente de um sujeito já conhecido na comunidade, considerado como “fármaco-natural” detentores do conhecimento sobre plantas medicinais e se ampliou quando este incluiu novos nomes de conhecedores do objeto pesquisado. Quando os nomes dos entrevistados já constavam no grupo de amostragem e não foram observadas novas indicações utilizou-se deste aspecto para conclusão amostral. Como critérios de inclusão dos sujeitos adotou-se: ser residente em uma das comunidades, expressar conhecimento em relação ao uso e/ou indicação de plantas medicinais e ser indicado por outros participantes conforme técnica amostral. Foram excluídos aqueles que mesmo sendo indicados por outros sujeitos afirmaram não possuir conhecimento acerca das plantas medicinais e não desejaram participar da pesquisa. Conforme os aspectos estabelecidos os fármacos-natural foram convidados a assinar o termo de livre consentimento esclarecido (TCLE). Aqueles que se dispuseram participar do estudo responderão a um formulário de entrevista semiestruturada composta por perguntas abertas quanto o conhecimento sobre plantas medicinais e suas interfaces com a saúde pública. Cabe destacar que todas as entrevistas foram individuais e realizadas no domicilio dos participantes. A análise dos dados ocorreu por meio do método Discurso do Sujeito Coletivo – DSC (LEFEVRE & LEFEVRE, 2014), além da transcrição na integra das falas. Observados os critérios de inclusão no estudo 09 pessoas foram identificadas como fármaco-natural do conhecimento empírico sobre plantas medicinais e para garantir o anonimato receberam uma nomenclatura, FN (1) para fármaco-natural 1, FN (2) para fármaco-natural (2), respectivamente. O pesquisador iniciou os trabalhos pela comunidade rural Colônia Sucupira orientado por conversas informais com pessoas da comunidade e profissionais de saúde para identificar uma ou mais pessoas que possuíssem conhecimentos sobre plantas medicinais. Nas outras comunidades supracitadas também foram adotados o mesmo processo. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe sob nº. CAAE 69372817.0.0000.5546 e parecer nº. 2164593 e encontra-se de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). RESULTADOS E DISCUSSÃO Identificou-se exclusivamente mulheres como fármacos-natural detentoras do conhecimento sobre plantas medicinais, com idade mínima de 28 anos e a máxima 80 anos. Para melhor compreensão os tópicos temáticos foram grafados em negrito. Em relação à utilização das plantas medicinais conforme o método de análise Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): DSC 1 “Utilizo para consumo próprio, de minha família e para alguém que me procura, indico a planta e ensino como consumi-la, também faço lambedor, chá, xarope, sabonete, shampoo para melhorar minha saúde e de outras pessoas por isso planto no quintal de casa” DSC 2 “Consumo no momento em que não preciso utilizar de um medicamento” DSC 3 “Eu indico as plantas para outras pessoas, mas muitas delas não acreditam”
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 O primeiro discurso foi expresso por 77,7% (n.7) dos entrevistados já o segundo DSC 11,1% (n.1) e o terceiro 11,1% (n.1). Assim, observa-se que 1) Existe a utilização e prescrição de produtos da natureza. 2) detém o conhecimento, porém utilizam plantas medicinais esporadicamente quando não fazem uso de medicamentos. 3) Apesar de serem procurados pelos fármaco-naturais as pessoas não observaram a grandiosidade da natureza como meio terapêutico à saúde. O estudo de Oliveira, Machado e Rodrigues (2014) identificaram que dos 59 entrevistados 83,05% utilizavam algum tipo de planta medicinal como terapêutica à saúde o que corrobora com os dados encontrados nesta pesquisa. Nascimento, Delmondes e Fratari (2014) concluíram ao avaliar o conhecimento de moradores do município de Pontal-MT que a maioria dos atores não substituem um medicamento alopata por plantas medicinais e que estes as utilizam ou fizeram uso desses produtos em algum momento da vida como forma terapêutica complementar ao tratamento de doenças. Cabe destacar que a Organização Mundial de Saúde (OMS,1978) incentiva o uso seguro e evidencia a importância da preservação do saber popular sobre plantas medicinais que contribuem para prevenção e tratamento alternativo de agravos a saúde. Acerca da aquisição do conhecimento sobre plantas medicinais evidencia-se que FN (1) “Desde pequena aprendi com minha mãe ela fazia para nós, o none eu vi na internet minha neta me mostrou”. FN (3) e FN (9) aprenderam com a mãe. FN (2) expressa que possui “dois livros sobre plantas medicinais na medicina doméstica”. FN (4) “Aprendi com minha avó e uma enfermeira também”, FN (6) “Meu pai que fazia chá para gente, aprendi com ele”, Já FN (5) “Participando de cursos pela pastoral da criança, e o conhecimento vivido do tempo de trabalho além do familiar passado de pai para filho”. FN (7) “Com minha avó e meu avô. E o curso que fiz no NAT (Núcleo de Apoio ao Trabalhador) da farmácia viva aprendi fazer xarope, pomada, sabonete. Tenho até hoje as apostilas” e FN (8) “O povo me dizia e eu gravava, também tenho um livro que olho sempre que tenho dúvida”. Nota-se que o conhecimento transmitido por familiares (pai, mãe, avô e avó) foram os mais evidenciados como identificou-se no estudo de Gonçalves et al (2011) em que 79% dos 485 entrevistados relataram a tradição familiar como influenciadora no uso de plantas medicinais. Observa-se também, o uso da literatura e meios midiáticos como a internet para aquisição de conhecimentos ou até dirimir dúvidas. No que diz respeito a indicação (prescrição) de plantas ou produtos naturais observou-se que para FN (1) “Não só quando vejo que a pessoa tá doente eu digo olhe isso é bom mais eu faço para minha família” e FN (6) “Não indico. Tenho medo que elas passem mal. As vezes a pessoa ensina e o povo não faz direito, tem medo”, FN (2) “Sim. Indico sim, tem pessoas que gostam outras nem acreditam”, FN (3), FN (4) e FN (8) já indicaram para amigos. FN (5) “Indiquei para população que acompanho pela pastoral”. FN (9) “Já indiquei, muitas pessoas vêm atrás e eu passo” e FN (7) afirma que “já indicou”. Evidencia-se que 88,8% (n.8) dos participantes indicam as plantas medicinais a outras pessoas, no entanto uma delas utilizam das plantas mas não as indicam, talvez por medo que não sejam utilizadas de forma correta e causem algum mal à saúde das pessoas. Desse modo, o Programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos expõe três aspectos basilares no uso de plantas medicinais: a eficácia, segurança e qualidade para serem priorizados (BRASIL,2006). Quando indagados acerca do uso dos medicamentos de farmácia e plantas medicinais. Neste aspecto foram observados os discursos do sujeito coletivo (DSC) DSC 4 “Sim utilizo para auxiliar o medicamento não existe contraindicação no uso das plantas medicinais com medicamentos de farmácia” DCS 5 “Não misturo não, pra mim não dá certo acho que faz mal à saúde, tenho medo. Primeiro eu uso o da farmácia, depois eu faço meus xaropes e uso minhas ervas” DCS 6 “Não as plantas é só paliativo tem que tomar o remédio de farmácia” DCS 7 “Dizem que não é bom mas eu faço uso” Os entrevistados que se enquadraram no DCS 4 correspondem 33,3% (n.3), outros 44,4% (n.4) se enquadraram no DCS 5, 11,1% (n.1) expressou o DSC 6, 11,1% (n.1) o DSC 7. Observamos assim que 4) a utilização de plantas medicinais e medicamentos está presente no cotidiano das comunidades que fazem
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 uso da natureza por considerar que todo produto natural não traz danos à saúde mas contribuem para o bem-estar. 5) por não se sentirem seguros talvez pelo desconhecimento dos reais efeitos colaterais e contraindicações das plantas não as utilizam com medicamentos. 6) defende o uso do medicamento sintético para cura de doenças e observa as plantas medicinais apenas de forma complementar por não possuir o efeito terapêutico esperado. 7) mesmo incerto quanto aos efeitos das plantas medicinais para saúde utilizam das espécies vegetais. Em pesquisa realizada por Silveira, Bandeira e Arrais (2008), evidenciaram que existe uma crença cultural que tudo proveniente da natureza é natural e não faz mal à saúde, mas é uma inverdade. As autoras destacam que o uso concomitante dos produtos naturais com medicamentos alopáticos podem ocasionar interações benéficas ou não, fato que dependerá da forma de preparo, local de coleta da planta, dosagem utilizada e outros aspectos. No tocante ao diálogo com profissionais de saúde sobre os conhecimentos das plantas medicinais foi possível identificar nos DSC. DSC 9 “Não converso com eles pois nunca me perguntam, eles não acreditam” DCS10 “Já vi um profissional de saúde ensinando a outras pessoas ai eu aprendi” DSC 11 “Sim conversei com um profissional de saúde”. O DSC 9 foi citado por 55,5% (n.5) dos entrevistados, o DSC 10 por 22,2 % (n.2) pessoas e o DCS também por 22,2% (n.2) pessoas. Nota-se que há pouco diálogo entre profissional de saúde e população relacionado à está temática mesmo com o incentivo do Ministério da Saúde para adoção de novas práticas alternativas como meio terapêutico no Sistema Único de Saúde (SUS). Bittencourt, Caponi e Falkenberg (2002), encontraram resultados em parte semelhantes em que alguns dos profissionais médicos não acreditam nas plantas medicinais como meio terapêutico. Outros profissionais da saúde utilizam e indicam produtos da natureza por encontrarem-se envolvidos com a população em um espaço de troca de conhecimentos por meio do diálogo de saberes. CONCLUSÕES 11
A utilização de plantas medicinais por pessoas das comunidades rurais é uma realidade, haja vista que a maioria (77,7%) dos fármacos-natural consomem e indicam esses produtos a familiares e outras pessoas que os procuram uma vez que possuem as espécies de plantas medicinais no quintal do seu domicílio. O conhecimento popular da natureza está relacionado a transmissão de saberes familiar que ultrapassam gerações. Outro aspecto importante diz respeito a inexistência sobretudo do uso desses preparos concomitante a medicamentos sintéticos no entanto estes são considerados ainda como primeira opção no tratamento terapêutico de doenças. Cabe destacar que o diálogo entre os profissionais de saúde, mais especificamente dos que possuem nível superior, não ocorre no local pesquisado uma vez que nem os fármaco-naturais informam que conhecem e utilizam desses produtos naturais tampouco os profissionais indagam essas questões durante as consultas realizadas nas Unidades de Saúde da Família. É importante a capacitação profissional para obtenção do conhecimento sobre essas novas terapêuticas não convencionais. Bem como os gestores de saúde darem condições, mas especificamente para prescrição desses produtos da natureza com potencial medicinal o que ampliará o diálogo de saberes e troca de experiências entre usuários e profissionais, além do cuidado à saúde seguro e livre de intercorrências. REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (2009). Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos – Brasília: Ministério da Saúde.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica (2006). Política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos – Brasília: Ministério da Saúde. Brasil. Resolução n. 466, (2012, 12 de dezembro). Dispõe sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília DF: Conselho Nacional de Saúde. Bittencourt, S.C; Caponi, S; Falkenberg, M.B (2002). O uso das plantas medicinais sob prescrição médica: pontos de diálogo e controvérsias com o uso popular. Revista Bras. Farmacogn., 12, supl., 89-91. Fernandes, T.M (2004). Plantas medicinais: memória da ciência no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 260. Giraldi, M; Hanazaki, N (2010). Uso e conhecimento tradicional de plantas medicinais no Sertão do Ribeirão, Florianópolis, SC, Brasil. Revista Acta bot. bras. 24, (2),395-406. Gonçalves, N.M.T. et al. (2011). A tradição popular como ferramenta para a implantação da fitoterapia no município de Volta Redonda – RJ. Rev. Bras. Farm. 92, (4), 346-351. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sergipe cidades. Informações completas do município de Arauá/Se 2010. Histórico do município. 2017. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=280040. Lefevre, F; Lefevre, A.M.C (abr-jun, 2014). Discurso do sujeito coletivo: representações sociais e intervenções comunicativas. Revista Texto Contexto Enferm, 23, (2), 502-7. Nascimento, C.S; Delmondes, P.H; Fratari, P.C (2014). Uso de plantas medicinais na percepção dos moradores do município de pontal do Araguaia/MT. Revista eletrônica UNIVAR. 2, (12),137- 140. Oliveira, L.A.R; Machado, R.D; Rodrigues, A.J.L (2014). Levantamento sobre o uso de plantas medicinais com a terapêutica anticâncer por pacientes da Unidade Oncológica de Anápolis. Rev. Bras. Pl. Med.,16, (1), 32-40. OMS. Organização Mundial da Saúde (1987). União das Nações Unidas. Cuidados primários em saúde. In: Relatório da conferência internacional sobre cuidados primários de saúde. Alma-Ata: Ministério da Saúde; 64-6. Silveira, P.F; Bandeira, M.A.M; P.S.D, Arrais (out-dez, 2008). Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Rev. Bras. Farmacogn. Braz J. Pharmacogn.18, (4),618-626. Vinuto, J (ago-dez,2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Revista temáticas, 22, (44), 203-220.
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA LÍNGUA: Português
CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LANGUAGE: Brazilian Portuguese
POTENCIAL ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS METANÓLICOS DE Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae) João Bosco da Silva Júnior, Antônio Fernando Morais de Oliveira 1, João Victor de Oliveira Alves2; Márcia Vanusa da Silva2; Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, Recife – PE; 1Centro de Biociências (CB), Departamento de Botânica, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal (PPGBV), Laboratório de Ecologia Aplicada e Fitoquímica, UFPE, CB.2Centro de Ciências da Saúde (CCS), Departamento de Bioquímica, Programa de PósGraduação em Bioquímica, Laboratório de Química de Produtos Naturais, UFPE.
RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar a atividade antioxidante dos extratos metanólicos e hexânico de Caules e folhas e inflorescências de Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae), planta conhecida popularmente como mussambê, mussambê de espinho e sete marias. Folhas e inflorescências são usados por povos tradicionais do Nordeste em forma de infusão e chás para o tratamento de doenças do sistema respiratório, febres e tosses. O método usado foi o do DPPH em triplicata, e os resultados foram expressos em médias de inibição e CE50. Apenas o extrato metanólico de inflorescências teve inibição do DPPH maior que 50%; mesmo assim, os valores de CE50 ficaram abaixo de 1000 µg/ml, exceto o de caule. Podemos concluir que houve fraca, mas significativa atividade antioxidante. Palavras-chave: Atividade antioxidante; Tarenaya spinosa; Mussambê; bioprospecção; planta medicinal. INTRODUÇÃO O oxigênio é uma molécula essencial a vida; contudo, reações com este átomo e suas moléculas podem produzir espécies reativas (conhecidas popularmente por radicais livres); e estes podem trazer problemas de saúde tanto para as plantas quanto para os animais. Os radicais livres possuem elétrons independentes não pareados gravitando em sentido oposto aos outros elétrons e fora do nível orbital do átomo de oxigênio; tendo vida longa, são instáveis e extremamente descartáveis do organismo; onde são provenientes da respiração celular, de inflamações; e podendo escapar de peroxissomos, e/ou de enzimas do citocromo P450(Oliveira et al, 2015). No entanto os mecanismos de eliminação das espécies reativas de oxigênio, via peroxissomo, podem falhar e à medida que os radicais livres tentam tornar-se estáveis, danificam lipídios, proteínas e ácidos nucléicos; levando ao longo do tempo a problemas de saúde como: arteriosclerose, câncer, diabetes e inflamações. Mais de 50 doenças estão relacionadas ao excesso de radicais livres (Araújo,2012). Algumas moléculas que ocorrem naturalmente em plantas e vegetais podem eliminar estes radicais livres do organismo. Os compostos fenólicos são produzidos pelas plantas para eliminar os radicais livres. e Analisar metabólitos secundários de plantas são um bom caminho para a formulação de novos cosméticos, antioxidantes naturais, fitoterápicos e fármacos (Oliveira et al,2015); sendo os compostos secundários antioxidantes uma alternativa viável aos antioxidantes sintéticos, cujo uso em cosméticos, alimentos, remédios e suplementos para evitar a mudança no cheiro e odor devido ao estresse oxidativo podem provocar efeitos colaterais e intoxicações sobre quem os manipula e consome tais produtos (Gurib-Farkim, 2006; Haberman et al 2016). O uso de antioxidantes naturais é relevante uma vez que o homem atualmente encontra-se exposto a radiação UV e outras fontes de radiações, drogas, poluentes atmosféricos e compostos tóxicos presentes nos alimentos, tais como: defensivos agrícolas, aditivos e conservantes, cujos
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 os efeitos são potencializados pelo excesso de espécies reativas de oxigênio no corpo (VakarelskaPopovska e Velkov, 2016). Além disso a bioprospecção de metabólitos secundários em plantas com potencial antioxidante entra como aliada também para a indústria de biocombustíveis, reduzindo custos e doenças sobre o proletariado. Neste contexto, a família Cleomaceae possui 200 espécies descritas, nos trópicos e Subtrópicos. São plantas de porte herbáceo, arbustivo ou arbóreo, nativas da América Tropical, mas podem ser encontradas na Ásia, Europa e África, e algumas são usadas como ornamental e medicinal (Leal et al , 2007). Dentro da família, o gênero Cleome é o mais conhecido, importante e de ampla distribuição. Segundo a literatura, foram isolados compostos secundários de vinte e nove espécies deste gênero, das quais, doze espécies possuem comprovada ação medicinal. O gênero Tarenaya é representado no Brasil por 3 espécies sendo ainda relacionadas como Cleome. O mussambê (Tarenaya spinosa (Jacq) Raf.) é uma planta semi arbustiva conhecida no Brasil como mussambê ou sete marias. No Nordeste Brasileiro é usado suas folhas e flores na medicina tradicional, sendo a infusão de folhas usada no tratamento de asma, tosse e bronquite, enquanto a infusão de flores tem o seu uso contra a febre (Silva et al, 2015); e usada por comunidades populares do Nordeste (flores e folhas) no tratamento de doenças do sistema respiratório geral e males da garganta (Albuquerque, 2005). Da espécie, foram isolados os seguintes compostos: glucosinolatos (Ahmed et al 1972; diterpenos (Collins et al 2004); outros terpenóides, flavonoides (Collins et al 2004; Leal et al, 2007); flavonóis, flavonas, glicosídeos, catequinas, chalconas, sais de amônia quaternários, leucocianidinas (Leal et al, 2007) e saponinas (Silva et al 2015). A presença de compostos pode ser um indicativo de bioatividades variadas, inclusive a atividade antioxidante. O objetivo deste estudo foi avaliar a capacidade antioxidante dos extratos metanólicos e hexânicos usando o radical livre DPPH. MATERIAL E MÉTODOS Partes vegetais (Caules, folhas e inflorescências) foram coletadas em agosto e setembro de 2016, no bairro da Várzea, em Recife; e no bairro de Bultrins, em Olinda, respectivamente; estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Para a confirmação botânica amostras foram herborizados e depositados no Herbário Dárdano de Andrade Lima, (IPA), onde cujo números das exsicatas são: 91449(FIB Nº 65/2016) e 91433 (FIB Nº84/2016), respectivamente. Caules, folhas e inflorescências, separadamente, foram pesados a fresco, desidratados, pesados a seco para obtenção do rendimento dos extratos e submetido a extrações com metanol por 72 h (maceração e rotaevaporação). Foi separado 1 mg de cada extrato para o bioensaio e restante dos extratos foi reservado e armazenado em freezer para outros estudos de bioatividade e para o perfil fitoquímico. O teste de atividade antioxidante seguiu os mesmos parâmetros adotados por Bloise (1958), com adaptações. Inicialmente foi diluído 0,008g do DPPH em 100ml de metanol e lido no leitor de Elisa no comprimento de onda de 517nm, cuja absorbância ficou entre 0,600 e 0,700, sendo ideal para este estudo. Foram feitas diluições seriadas dos extratos em metanol, respectivamente (concentrações de extrato: 4000; 3000; 2000; 1000 e 500 µg/ml). O branco foi feito em uma placa colocando 40 µl de cada diluição de cada extrato adicionado a 250 µl de metanol em um poço de fundo chato e feito a leitura à 517nm.Foi adicionado nos poços 40 µl em triplicata de cada diluição, nos quais foram distribuídos da menor diluição para maior. Foram feitos três poços como controle adicionando 40 µl do solvente utilizado para diluir as amostras; adicionados 250 µl do reagente DPPH em todos os poços, sendo esta parte feita em ambiente escuro ou mal iluminado. As placas 96 poços com o teste foi guardado no escuro por 40 minutos e lido no Elisa a 517 nanômetros. Os parâmetros observados foram: Médias aritméticas das absorbâncias de cada triplicata e controle; e a habilidade em reduzir o Radical DPPH, que é feito segundo esta equação:
SRL(%) =
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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Foi feita análise a de Probitos, a partir do SRL, com P