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Unidade 9 – O teatro, o verso e a prosa Um dos elementos primordiais de uma anál

Author Stella de Abreu Pais

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Unidade 9 – O teatro, o verso e a prosa Um dos elementos primordiais de uma análise literária é a sua estrutura. Um texto pode apresentarse em prosa, sendo, então, disposto em parágrafos; em poema, caracterizado por sua disposição em versos e estrofes; ou como orientação cênica, isto é, para o teatro, cuja particularidade é a predominância de diálogos e rubricas. Nesse quadro estrutural, a finalidade estética de uma obra literária nos permite sintetizar as tipologias dos gêneros literários, classificadas como pertencentes ao gênero lírico, que manifesta emoções e sentimentos pessoais, épico, em que se desenvolvem narrativas heroicas de um povo, e dramático, no qual personagens representam ações em um palco.

 Aplicando o conteúd 01.  (UFPE) O gênero lírico está associado à expressão mais profunda do eu, o qual, com razão e sensibilidade, elabora uma forma textual para extravasar suas emoções. Nesse sentido, leia o poema abaixo, de Manuel Bandeira, e analise as proposições a seguir.

( ) Na apreciação do poema, é possível perceber a presença do lirismo, quando a voz poética expressa as emoções vivenciadas pelo “eu” em lembranças de um espaço que pertenceu ao passado.

Velha chácara

( ) O gênero lírico está associado, desde seus primórdios, à musicalidade. No poema de Bandeira, essa musicalidade é alcançada pela cadência e harmonia com que ele trata os versos, todos em sete sílabas poéticas.

A casa era por aqui... Onde? Procuro-a e não acho. Ouço uma voz que esqueci:

( ) Os versos do poema contam uma história com início, meio e fim. Então, é possível reconhecer nele traços marcantes da poesia épica, incluindo a exaltação de um passado glorioso.

É a voz deste mesmo riacho. Ah quanto tempo passou! (Foram mais de cinquenta anos.)

( ) O poema de Manuel Bandeira é construído numa forma poética muito rígida, seguindo os padrões estéticos do Parnasianismo. Isso o torna um poeta na contramão de seu tempo.

Tantos que a morte levou! (E a vida... nos desenganos...)

( ) Velha chácara é um poema que expressa claramente o confronto entre dois tempos, o presente e o passado. Em uma leitura, é possível dizer que o último verso revela que o passado ainda está vivo no presente, presenciado pelo sujeito do discurso.

A usura fez tábua rasa Da velha chácara triste: Não existe mais a casa... — Mas o menino ainda existe.

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Sim, me leva para sempre, Beatriz Me ensina a não andar com os pés no chão Para sempre é sempre por um triz Aí, diz quantos desastres têm na minha mão Diz se é perigoso a gente ser feliz

02.  (CFTMG) Beatriz Chico Buarque

Olha Será que ela é moça Será que ela é triste Será que é o contrário Será que é pintura O rosto da atriz Se ela dança no sétimo céu Se ela acredita que é outro pais E se ela só decora o seu papel E se eu pudesse entrar na sua vida

Esse texto é um exemplo do gênero lírico, porque: a) explora as manifestações psíquicas que confundem realidade e sonho. b) aborda a temática amorosa, ainda que sob uma perspectiva contemporânea. c) revela a expressão dos estados emotivos do eu lírico ante a inalcançável dama. d) exalta a personagem de outro texto lírico, a Beatriz da Divina comédia de Dante Alighieri.

Olha Será que é de louça Será que é de éter Será que é loucura Será que é cenário A casa da atriz Se ela mora num arranha-céu E se as paredes são feitas de giz E se ela chora num quarto de hotel E se eu pudesse entrar na sua vida

 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C5-H16) 03.  (ENEM) Confidência do itabirano Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana.

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De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.

Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui--se que o poema acima: a) representa a fase heroica do Modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade. b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos. c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo. d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira. e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.

 Exercícios extra 04.  (Cesgranrio-RJ) Associe os gêneros literários às suas respectivas características. 1 – Gênero lírico

( ) Exteriorização dos valores e sentimentos coletivos

2 – Gênero épico

( ) Representação de fatos com presença física de atores

3 – Gênero dramático

( ) Manifestação de sentimentos pessoais predominando, assim, a função emotiva

A sequência correta, de cima para baixo, é: a) 3 – 2 – 1 b) 2 – 3 – 1 c) 2 – 1 – 3 d) 1 – 3 – 2 e) 1 – 2 – 3

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Nem o sol de inferno a terra ressequida a falta de amor a falta de comida. É mulher é mãe: rainha da vida.

05.  (UFU-MG) Leia os textos a seguir. Texto A Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não sei quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou de perto as manchas no rosto. Em Alagoas chamavamse “panos”, diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era morrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio. [...] Só eu a amo.

De pés na poeira de trapos vestida é uma rainha e parece mendiga: a pedir esmolas a fome a obriga. Algo está errado nesta nossa vida: ela é uma rainha e não há quem diga.

Clarice Lispector, A hora da estrela

Texto B

Ferreira Gullar, Melhores poemas

Uma nordestina Ela é uma pessoa no mundo nascida. Como toda pessoa é dona da vida.

a) Cite dois elementos constitutivos do poema que contribuem para acentuar o seu caráter de apelo “popular”. b) Compare os textos e discorra sobre a descrição da nordestina, considerando: – as perspectivas diferentes do narrador e do sujeito lírico;

Não importa a roupa de que está vestida. Não importa a alma aberta em ferida. Ela é uma pessoa e nada a fará desistir da vida.

– os aspectos convergentes das opiniões do narrador e do sujeito lírico.

Guia de Estudos Estudar

Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 4 – Tópico 1 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis

121 a 135

Exercícios Fundamentais

121

122

123

124

125

126

Exercícios Complementares

130

131

132

133

134

135

170

127

128

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Unidade 10 – Gênero épico O gênero épico apresenta-se com um narrador que se relaciona à história ou ao assunto narrado. De sua origem, na Antiguidade Clássica (os principais poemas épicos da cultura ocidental foram escritos provavelmente por Homero no século VIII a.C. e tinham aspectos marcantes como uma estrutura definida), desenvolveu-se o que se tornaria a narrativa moderna em prosa, classificada como romance, conto, novela, crônica e fábula, cada qual com características distintas.

 Aplicando o conteúd 01.  (Unicamp-SP – modificado)

02.  (UFC-CE)

À Ilíada, epopeia guerreira, sucede a Odisseia, pacífica coletânea de lendas e aventuras marítimas. Esse contraste corresponde a uma mudança, quando os povos da região renunciam às lutas em territórios muito estreitos e se voltam para os países longínquos. Os poemas homéricos são contemporâneos da grande expansão marítima dos fenícios e a Odisseia está cheia de violências e rapinas de todo tipo praticadas pelos fenícios, apresentados como mercadores descarados e bandidos sem escrúpulos; mas devemos levar em conta, nessas narrativas, as rivalidades comerciais.

(...) Os homens comuns desaparecem com a morte, no terrível esquecimento do Hades tornam-se anônimos, sem-nome. Somente o indivíduo heroico, aceitando enfrentar a morte na flor de sua juventude, vê seu nome perpetuar-se gloriosamente de geração em geração. Sua figura singular fica para sempre inscrita na vida comum (...)

GABRIEL-LEROUX, J. As primeiras civilizações do Mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 67-68. Adaptado.

a) As epopeias eram narrativas da vida de indivíduos comuns durante o período homérico.

VERNANT, Jean Pierre. L’individu, la mort, l’amour: soi-même et l’autre en Grece ancienne. Paris: Gallimard, 1989. p. 217.

Assinale a alternativa correta quanto à construção da imagem do guerreiro na Grécia Antiga.

b) A Ilíada e a Odisseia foram as narrativas que consolidaram o ideal de guerreiro.

Segundo o texto, quais seriam as razões históricas da diferença entre a Ilíada e a Odisseia?

c) A Ilíada é a narrativa que desconstruiu a idealização do guerreiro. d) Para os gregos, a imortalidade era conquistada através das ações cotidianas. e) A morte dos deuses do Olimpo era uma forma de perpetuar a imagem dos guerreiros.

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 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C5-H16) 03.  (UFMG – modificado)

Com base na leitura dessas estrofes, é correto afirmar que a ideia central do poema é:

Leia estas estrofes iniciais de Os lusíadas, poema datado de 1572.

a) exaltar a religião reformada e os valores puritanos, num contexto em que a Europa se expandia na direção de novos mundos.

As armas e os barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana,

b) louvar os modelos antigos até então referenciais para a cultura europeia, como as epopeias homéricas e os feitos de heróis gregos e romanos.

Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, E em perigos e guerras esforçados

c) narrar a saga marítima portuguesa, ou seja, os feitos relacionados às expedições oceânicas realizadas pelos lusos a partir do século XV.

Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram

d) relatar os acontecimentos mais marcantes da conquista e colonização das terras brasileiras, visando gravá-los na memória dos contemporâneos.

Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas

e) ofuscar os valores da sociedade grega antiga, bem como sua mitologia.

Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando: Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Porto: Porto Editora,1975. p. 69.

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 Exercícios extra 04.  (UFPE)

o abafava com a mesma habilidade que as lides da casa lhe haviam transmitido. Saía para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na.

Os textos a seguir são de escritoras de diferentes épocas e estilos, sendo o primeiro deles um artigo de jornal. Observe as semelhanças e diferenças entre os três, analisando as afirmações que vêm logo após.

Clarice Lispector, Amor, in: Laços de família.

Texto 1

( ) Não são percebidas tendências literárias fortemente marcadas em nenhum deles, apenas estilos e escolhas diferentes. Os textos 1 e 2 estão na primeira pessoa, sendo bastante subjetivos; enquanto o 3 tem narrador onisciente, com voz na terceira pessoa.

Não adianta desenhar o meu rosto; ele se mostra diferente a cada dia. O espelho não reproduz o que sinto, mas o que parece que sinto. Driblo a figuração do que é projetado: ora de um jeito; ora de outro. Dessemelhante ao que sou. O tempo interfere na exterioridade. Mas não só; o essencial é interior e nem sempre muda na mesma equivalência epidérmica. A depender do dia, sou uma; a depender da noite, sou outra. Impossível identificar a cronologia da identidade. Não receio as rugas. Receio o que elas podem significar na aparência. Há traços ocultos em um rosto visto a olho nu! Por trás do que se capta, habitam os segredos de cada um. E, de repente, o perfil se perde, as linhas se confundem no emaranhado de “eus”. O rosto se multiplica em diversas feições.

( ) Pertencendo a gêneros diferentes, respectivamente, (1) jornalístico, (2) poema e (3) conto, os textos têm abordagens particulares do universo feminino. O texto da jornalista aborda o mesmo tema do texto da poetisa: a mutação da própria imagem no espelho. ( ) Os versos de Cecília Meireles expressam um tom melancólico, ampliado pela dor da passagem do tempo, que elimina as ilusões, a memória, e modifica a própria imagem do sujeito refletido no espelho. O texto de Fátima Quintas tem um tom descontraído e despreocupado, centrado no hoje.

Fátima Quintas. Qual o rosto de hoje? – Jornal do Commercio/Recife.

Texto 2 Eu não tinha este rosto de hoje,

( ) O texto 3 flagra um confronto entre a realidade íntima da personagem e a realidade circundante. De acordo com o trecho, Ana tinha uma vida emocional cotidianamente abafada pelos afazeres de esposa, mãe e dona de casa que era.

assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. (...)

( ) Clarice Lispector e Cecília Meireles foram contemporâneas, mas seguiram caminhos diversos na literatura. Enquanto grande parte da poesia de Cecília Meireles foi marcada por um neossimbolismo, a prosa intimista de Clarice Lispector foi vanguardista, transgredindo, muitas vezes, o sentido convencional do gênero narrativo.

Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face? Cecília Meireles. Retrato, in: Poesia Completa.

Texto 3

Texto para a próxima questão

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. (...) No fundo, Ana sempre tivera a necessidade de sentir a raiz firme das coisas. (...) Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o Sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela

Romance II ou do ouro incansável Mil bateias1 vão rodando sobre córregos escuros; a terra vai sendo aberta por intermináveis sulcos; infinitas galerias penetram morros profundos.

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De seu calmo esconderijo,

– mas não se encontram vassalos.

o ouro vem, dócil e ingênuo;

Mil bateias vão rodando,

torna-se pó, folha, barra,

mil bateias sem cansaço.

prestígio, poder, engenho... É tão claro! – e turva tudo:

Mil galerias desabam;

honra, amor e pensamento.

mil homens ficam sepultos; mil intrigas, mil enredos

Borda flores nos vestidos,

prendem culpados e justos;

sobe a opulentos altares,

já ninguém dorme tranquilo,

traça palácios e pontes,

que a noite é um mundo de sustos.

eleva os homens audazes, e acende paixões que alastram

Descem fantasmas dos morros,

sinistras rivalidades.

vêm almas dos cemitérios: todos pedem ouro e prata,

Pelos córregos, definham

e estendem punhos severos,

negros, a rodar bateias.

mas vão sendo fabricadas

Morre-se de febre e fome

muitas algemas de ferro.

sobre a riqueza da terra:

MEIRELES, Cecília. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

uns querem metais luzentes, outros, as redradas2 pedras.

1

peneiras de madeira

2

depuradas, selecionadas

Ladrões e contrabandistas

05.  (UERJ)

estão cercando os caminhos;

O poema de Cecília Meireles apresenta um tom épico e revela afinidades com as propostas que distinguiram a chamada geração de 30 da primeira geração modernista.

cada família disputa privilégios mais antigos;

a) Indique duas características do poema relacionadas ao gênero épico.

os impostos vão crescendo e as cadeias vão subindo.

b) Aponte um aspecto em comum entre a perspectiva da autora sobre o país, revelada nesse texto, e a que predominou na obra de romancistas da geração de 30.

Por ódio, cobiça, inveja, vai sendo o inferno traçado. Os reis querem seus tributos,

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Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 4 – Tópico 2 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis

136 a 150

Exercícios Fundamentais

136

137

138

139

140

141

Exercícios Complementares

145

146

147

148

149

150

174

142

143

144

Unidade 11 – Breve história da Literatura Para estudar literatura, é necessário conceituá-la e relacioná-la com seu contexto sócio-histórico desde os primeiros registros na Antiguidade Clássica, até o que é produzido na modernidade, passando por importantes momentos da cultura ocidental, como, por exemplo, a Idade Média, o Renascimento Cultural, as Grandes Navegações, a Reforma, o Iluminismo, a Revolução Francesa, a Industrial etc. Essa relação é o que determina os estilos de época, que podem, também, serem chamados de escolas literárias. Contudo, é importante ressaltar que, embora os artistas imprimam certa “obediência” a determinadas concepções estéticas do período em que viveram, cada um deles é perfeitamente capaz de apresentar traços particulares, o que chamamos estilo individual.

 Aplicando o conteúd 01.  Explique com suas palavras o conceito artístico de literatura.

02.  Explique genericamente a diferença entre estilo de época e estilo individual.

 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C5-H16) 03.  (ENEM)

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:

No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo.

a) “... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas...” b) “...era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça...”

Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,...” d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos...” e) “...o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.

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 Exercícios extra Textos para a próxima questão

Texto 2

Texto 1

Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que passavam para o trabalho se aproximavam dos corpos para ver se eram conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço às sete e trinta, foi ver o corpo do ladrão. Ao retirar o lençol de cima do cadáver, concluiu: “É bandido”. O defunto tinha duas tatuagens, a do braço esquerdo era uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha colorida confeccionada por presidiários. Porém, quando apontou na extremidade direita da praça da Quadra Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe apresentavam a imagem do corpo de Francisco, um nervosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar desespero absoluto. O presunto era de um trabalhador.

A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855. Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo. Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos.

LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 55-56.

04.  (PUC-RJ – modificado)

Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano recém- chegado à Corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?

Os textos 1 e 2 são narrativas urbanas que têm como cenário o Rio de Janeiro. Compare os trechos dos dois romances anteriormente transcritos, estabelecendo diferenças em relação à percepção da cidade e suas personagens e à linguagem utilizada pelos respectivos autores. Texto para a próxima questão Partimo-nos assim do santo templo

Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.

Que nas praias do mar está assentado, Que o nome tem da terra, para exemplo, Donde Deus foi em carne ao mundo dado. Certifico-te, ó Rei, que se contemplo Como fui destas praias apartado, Cheio dentro de dúvida e receio, Que a penas nos meus olhos ponho o freio.

ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988. p. 12.

Camões, Os lusíadas, Canto 4º - 87.

176

05.  (UFSCar-SP) O trecho faz parte do poema épico Os lusíadas, escrito por Luís Vaz de Camões, e narra a partida de Vasco da Gama, para a viagem às Índias. a) Em que estilo de época ou época histórica situa-se a obra de Camões? b) Para dizer que o nome do templo é Belém, Camões faz uso de uma perífrase: “Que o nome tem da terra, para exemplo,/Donde Deus foi em carne ao mundo dado”. Em que outro trecho dessa estrofe Camões usa outra perífrase? Guia de Estudos Estudar

Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 5 – Tópico 1 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis

151 a 165

Exercícios Fundamentais

151

152

153

154

155

156

Exercícios Complementares

160

161

162

163

164

165

177

157

158

159

Unidade 12 – Estilos de época Em oito séculos de produção, a literatura de língua portuguesa inicia-se na Era Medieval, no século XII, muito embora existissem outros idiomas (consequentemente outras literaturas) muitos séculos antes das primeiras produções em galego-português; posteriormente, passa pela Era Clássica e pela Era Romântica (ou Moderna). Dentro desses blocos maiores, encontram-se subdivisões, as escolas literárias em si: Trovadorismo, Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo/Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo e Modernismo.

 Aplicando o conteúd 02.  Podemos afirmar que a escrita de todos os idiomas surgiu em um momento histórico próximo ao surgimento da língua portuguesa?

01.  De que século datam os manuscritos mais antigos de que se tem registro em língua portuguesa? Trata-se de um idioma igual ao que falamos atualmente?

 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C7-H22) 03.  (ENEM)

I. De acordo com o texto I, pode-se encontrar a essência do estilo individual de um autor por meio dos ritmos frasais.

Observe o que se diz acerca das afirmações a seguir. Texto I

II. P ara o texto II, o estilo individual reflete condições íntimas do autor.

É nas boas obras de ficção que os recursos linguísticos melhor se estruturam, e com mais evidência nos apercebemos de uma forma ou um estilo. A evidência de uma forma ou estilo próprio de certa obra ou autor quando resulta, numa obra de ficção, da ordem ou organização dos temas, como, por exemplo, dos ritmos das frases.

III. Segundo explica o texto I, há um tipo de manifestação artística onde se evidenciam mais claramente os elementos caracterizadores de estilo individual. IV. O texto II defende que a habilidade inventora do artista demanda que se investigue cuidadosamente sua psicologia, pois sua capacidade de deformar a realidade pode comprometer a compreensão do estilo individual.

História da literatura portuguesa. 9. e. Porto Ed., 1976.

Texto II E que vem a ser o estilo?

Está correto o que se afirma em:

Estilo é a própria compreensão, o que equivale a dizer, é o modo de ser do espírito do artista: sua constituição psicológica, sua atitude perante a vida, sua cultura, suas inclinações e preferências, tudo isto expresso nas imagens que esse espírito forma da realidade.

a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas e) todas.

Teoria da literatura. São Paulo: Ed. Clássico-Científica, 1944.

178

 Exercícios extra 04.  Explique com suas palavras de que forma se dividem didaticamente os estudos da literatura de língua portuguesa.

05.  Por que a proposta de periodização da literatura se afasta da portuguesa em alguns aspectos?

Guia de Estudos Estudar

Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 5 – Tópico 2 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis Exercícios Fundamentais

166 a 171 166

167

168

169

Exercícios Complementares

179

170

171

Unidade 13 – Legado cultural clássico e medieval Duas culturas exercem importante influência na literatura de língua portuguesa: a clássica, especialmente originária na Antiguidade Grega e Romana, que contribui com conceitos e ideias político-sociais, artes (música, poesia, teatro, pintura, escultura e arquitetura), filosofia, estética, mitologia, entre outros; e a medieval, que contribui com o idioma, a economia, a religiosidade, a música, entre outros.

 Aplicando o conteúd 01.  (UEM-PR) Uma das obras de Platão (428-347 a.C.) mais conhecidas é A República, na qual se encontra o mito da caverna. “Platão imagina uma caverna onde pessoas estão acorrentadas desde a infância, de tal forma que, não podendo ver a entrada dela, apenas enxergam o seu fundo, no qual são projetadas as sombras das coisas que passam às suas costas, onde há uma fogueira. Se um desses indivíduos conseguisse se soltar das correntes para contemplar, à luz do dia, os verdadeiros objetos, ao regressar, relatando o que viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco e não acreditariam em suas palavras.” ARANHA, M.L.A. e MARTINS, M.H. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003. p.121.

Sobre a citação acima e o alcance epistemológico do mito da caverna, assinale o que for correto. 01. As imagens produzidas na caverna são sombras que podem ser confundidas com a realidade. 02. A todo aquele que sai da caverna é vetada a possibilidade de retorno. 04. A imagem da fogueira se contrapõe, fora da caverna, à presença do Sol, responsável pela verdadeira luz. 08. Tal qual o mito da Esfinge, decifrado por Édipo, Platão descreve três estados da humanidade: infância, juventude e maturidade. 16. Tal qual o mundo sensível, ilusório e efêmero, as imagens da caverna possuem um grau ontológico deficitário ou duvidoso.

180

02.  (Unesp) Leia o texto, extraído do livro VII da obra magna de Platão (A República), que se refere ao célebre mito da caverna e seu significado no pensamento platônico. Agora, meu caro Glauco – continuei – cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos, comparar o mundo que a visão nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a ideia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em todas as coisas; e que é preciso vê-la para conduzirse com sabedoria na vida particular e na vida pública. Platão. A República, texto escrito em V a.C. Adaptado.

Explique o significado filosófico da oposição entre as sombras no ambiente da caverna e a luz do Sol.

 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C5-H16) 03.  (UEM-PR/ENEM – modificado)

b) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria das ideias.

Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz vinda de uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que não conseguem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situação, você acha que os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na parede ao fundo da caverna? PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Scipione, 2002. p. 83.

c) O mito da caverna simboliza o processo de emancipação espiritual que o exercício da filosofia é capaz de promover, libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos preconceitos. d) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre mundo inteligível e mundo sensível; o primeiro ocupado pelas ideias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam destas ideias ou são suas cópias imperfeitas.

Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for incorreto.

e) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar a ela para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, é conhecedor do Bem e da Verdade e o mais apto a governar a cidade.

a) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como eram a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habitavam em cavernas.

181

 Exercícios extra 04.  (UENP-PR) Conosco homens, aí se diz, se passa o mesmo que com prisioneiros, que se achassem numa caverna subterrânea, encadeados, desde o nascimento, a um banco, de modo a nunca poderem voltar-se, e assim só poderem ver a parede oposta à entrada. Por detrás deles, na entrada da caverna, corre por toda a largura dela, um muro da altura de um homem, e por trás deste, arde uma fogueira. Se entre esta e o muro passarem homens transportando imagens, estátuas,figuras de animais, utensílios etc., que ultrapassem a altura do muro, então as sombras desses objetos, que o fogo faz aparecerem, se projetam na parede da caverna, e os prisioneiros também percebem, além da sombra, o eco das palavras pronunciadas pelos homens que passam. Como esses prisioneiros nunca perceberam outra coisa senão as sombras e o eco,têm eles essas imagens pela verdadeira realidade. Se eles pudessem, por uma vez, voltar-se e contemplar a luz do fogo, os próprios objetos, cujas sombras foram apenas o que até agora viram; e se pudessem ouvir diretamente os sons, além dos ecos até então ouvidos, sem dúvida ficariam atônitos com essa nova realidade. Mas se além disso pudessem, fora da caverna e à luz do Sol, contemplar os próprios homens vivos, bem como os animais e as coisas reais, de que as figuras projetadas na caverna eram apenas cópias, então ficariam de todo fascinados com essa realidade de forma tão diversa. PLATÃO, 7º livro da República, p.514.

Ei, moço! pode me dizer o que vocês estão fazendo?

Ei! O que vocês estão fazendo?



Que pergunta mais boba!

Que pergunta mais boba!

Como se existisse outra coisa pra fazer!

Como se existisse outra coisa pra fazer!

Estamos contemplando a vida!

Estamos contemplando o fantástico show da vida!

Copyright© 2002 Maurício de Souza produções Ltda. Todos os direitos reservados.

Relacionando o fragmento de texto de Platão e a tirinha da Turma da Mônica, de Maurício de Souza, com os seus conhecimentos sobre o mito da caverna, assinale a alternativa incorreta. a) Os homens acorrentados no fundo da caverna são aqueles que passam a vida contemplando sombras, acreditando que elas correspondem à realidade e à verdade. b) Para Platão existem três níveis de conhecimento: o primeiro é chamado de agnosis, que significa ignorância, e corresponde ao estágio dos homens no interior da caverna; o segundo é denominado de doxa, ou opinião, e é o primeiro estágio de conhecimento, que se forma logo após os homens saírem da caverna e contemplarem a realidade; o terceiro é designado pela palavra grega epistheme, que significa ciência, ou o conhecimento em sua integralidade. c) Para Platão existe um único mundo sensível e inteligível, de forma que os homens devem aprender com a experiência a distinguir o conhecimento verdadeiro de impressões falsas dos sentidos. d) O visível, para Platão, corresponde ao império dos sentidos captado pelo olhar e dominado pela subjetividade. É o reino do homem comum preso às coisas do cotidiano. e) O inteligível, para Platão, diz respeito à razão. É o reino do homem sábio, que desconfia das primeiras impressões e busca um conhecimento das causas da realidade. 182

05.  (UEL-PR)

I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela, corresponde ao mundo inteligível, o do conhecimento do verdadeiro ser.

Leia o texto a seguir e responda à questão. — Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, a fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldade e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?

II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento. III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida em que, ao voltar à caverna, aquele que contemplou o bem quer libertar da contemplação das sombras os antigos companheiros. IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada unicamente em fatores circunstanciais e relativistas. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas.

PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Caiouste &Ibenkian, I993. p. 3I8-3I9.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

O texto é parte do livro VII de A República, obra na qual Platão desenvolve o célebre mito da caverna. Sobre o mito da caverna, é correto afirmar:

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.

Guia de Estudos Estudar

Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 5 – Tópico 3 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis Exercícios Fundamentais

172 a 175 172

173

174

175

Exercícios Complementares

183

Unidade 14 – Cantigas do gênero lírico Também conhecido como “Primeira Época Medieval”, o Trovadorismo é a escola literária referente ao período histórico da Idade Média. No início da história da língua portuguesa, período que também coincide com a própria história da formação de Portugal, o Trovadorismo manifesta-se como uma verdadeira extensão do processo de independência política daquele país, que viveu importantes momentos como a luta dos canaleiros das Cruzadas contra os mouros, as relações de nassalagem prestada aos nobres e senhores feudais, a própria consolidação do sistema feudal, com a centralização do poder espiritual representada pelo clero. Todos os textos poéticos pertecentes ao período do Trovadorismo são chamados cantigas, que se dividem nos gêneros e tipos a seguir.

Cantigas medievais

Gênero lírico • Cantigas de amor • Cantigas de amigo

Gênero satírico • Cantigas de escárnio • Cantigas de maldizer

Gênero Lírico Cantigas de amor

Cantigas de amigo

Eu lírico masculino

Eu lírico feminino

Ausência de paralelismo

Presença de paralelismo

Predomínio das ideias

Predomínio da musicalidade

Tema: coita amorosa do poeta perante uma mulher idealizada

Tema: lamento da moça por namorado que partiu

Amor cortês (convencionalismo)

Amor natural (espontâneo)

Ambientação nobre das cortes

Ambientação popular rural e urbana

plicando o conteedo 01. (Espcex-SP/ Aman-RJ) É correto afirmar sobre o Trovadorismo que: a) os poemas são produzidos para serem encenados. b) as cantigas de escárnio e maldizer têm temáticas amorosas. c) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre feminino. d) as cantigas de amigo têm estrutura poética complicada. e) as cantigas de amor são de origem nitidamente popular. 184

02.  (IFSP)

Sobre o fragmento anterior, pode-se afirmar que pertence a uma cantiga de:

Leia atentamente o texto abaixo.

a) amor, pois o eu lírico masculino declara a uma amiga o sentimento de amor que tem por ela.

Com’ousará parecer ante mi

b) amigo, pois o eu lírico feminino expressa a uma amiga a falta de seu amigo por quem sente amor.

o meu amigo, ai amiga, por Deus, e com’ousará catar estes meus

c) amor, pois o eu lírico é feminino e acha que seu amor não deve voltar para os seus braços.

olhos se o Deus trouxer per aqui, pois tam muit’há que nom veo veer

d) amigo, pois o eu lírico masculino entende que só Deus pode trazer de volta sua amiga a quem não vê há muito tempo.

mi e meus olhos e meu parecer? Com’ousará parecer ante mi de Dom Dinis. Disponível em: . Acesso em: 5 dez. 2012.

e) amor, pois o eu lírico feminino não consegue enxergar o amor que sente por seu amigo.

per = por tam = tão nom = não veer = ver mi = mim, me parecer = semblante

 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C5 - H15) 03.  (UNESP – modificado) Observe os textos a seguir e assinale a alternativa correta. Sedia la fremosa seu sirgo torcendo

Estava a formosa seu fio torcendo paráfrase de Cleonice Berardinelli

Estava a formosa seu fio torcendo, Sua voz harmoniosa, suave dizendo

Estêvão Coelho

Cantigas de amigo.

Sedia la fremosa seu sirgo torcendo, Sa voz manselinha fremoso dizendo

Estava a formosa sentada, bordando,

Cantigas d’amigo.

Sua voz harmoniosa, suave cantando Cantigas de amigo.

Sedia la fremosa seu sirgo lavrando, Sa voz manselinha fremoso cantando

– Por Jesus, senhora, vejo que sofreis

Cantigas d’amigo.

De amor infeliz, pois tão bem dizeis Cantigas de amigo.

– Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes Amor muy coytado que tan ben dizedes

Por Jesus, senhora, eu vejo que andais

Cantigas d’amigo.

Com penas de amor, pois tão bem cantais Cantigas de amigo.

Par Deus de Cruz, dona, sey que andades D’amor muy coytada que tan ben cantades

– Abutre comeste, pois que adivinhais.

Cantigas d’amigo.

In BERARDINELLI, Cleonice. Cantigas de trovadores medievais em português moderno. Rio de Janeiro: Organ. Simões, 1953. p. 58-59.

– Avuytor comestes, que adevinhades. Cantiga nº 321 – CANC. DA VATICANA.

185

I. O texto de Estêvão Coelho se estrutura em duas séries de estrofes paralelas: as duas primeiras estrofes (uma série) e as duas estrofes seguintes (outra série).

Está correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) II, apenas.

II. N a primeira parte do poema, são enfatizados os afazeres da mulher; na segunda, o seu sofrimento.

c) I e II, apenas. d) II e III, apenas.

III. Considerando o último verso do poema, podemos interpretar que a mulher, personagem que se expressa em discurso direto no texto, considerou o poeta uma espécie de vidente, pois descobriu o seu sofrimento amoroso.

e) I, II e III.

 Exercícios extra Texto para a questão 4 Cantiga de amor

05.  (UEPA) A literatura do amor cortês, pode-se acrescentar, contribuiu para transformar de algum modo a realidade extraliterária, atua como componente do que Elias (1994)* chamou de processo civilizador. Ao mesmo tempo, a realidade extraliterária penetra processualmente nessa literatura que, em parte, nasceu como forma de sonho e de evasão.

Afonso Fernandes

Senhora minha, desde que vos vi, lutei para ocultar esta paixão que me tomou inteiro o coração; mas não o posso mais e decidi que saibam todos o meu grande amor, a tristeza que tenho, a imensa dor que sofro desde o dia em que vos vi.

Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, v. 41, n. 1 e 2, p. 83-110, abril e outubro de 2007. pp. 91-92. (*) Cf. ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, v.1.

Já que assim é, eu venho-vos rogar que queirais pelo menos consentir que passe a minha vida a vos servir (...)

Interprete o comentário acima e, com base nele e em seus conhecimentos acerca do lirismo medieval galego-português, marque a alternativa correta. a) As cantigas de amor recriaram o mesmo ambiente palaciano das cortes galegas.

Disponível em:. Adaptado.

b) “A literatura do amor cortês” refletiu a verdade sobre a vida privada medieval.

04.  (IFSP) Uma característica desse fragmento, também presente em outras cantigas de amor do Trovadorismo, é:

c) A servidão amorosa e a idealização da mulher foi o grande tema da poesia produzida por vilões.

a) a certeza de concretização da relação amorosa. b) a situação de sofrimento do eu lírico.

d) O amor cortês foi uma prática literária que aos poucos modelou o perfil do homem civilizado.

c) a coita de amor sentida pela senhora amada.

e) Nas cantigas medievais, mulheres e homens submetem-se às maneiras refinadas da cortesia.

d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico. e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre pessoas de camadas distintas da sociedade.

Guia de Estudos Estudar

Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 6 – Tópico 1 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis

176 a 195

Exercícios Fundamentais

176

177

178

179

180

181

182

183

184

Exercícios Complementares

187

188

189

190

191

192

193

194

195

186

185

186

Unidade 15 – Cantigas do gênero satírico Além das cantigas do gênero lírico, a poesia do Trovadorismo é composta de um importante tipo de texto, principalmente por seu valor sócio-histórico: as cantigas do gênero satírico. Essa importância reside no fato de que esse gênero poético apresenta críticas a costumes e atitudes e, naquele período, não existia nenhum outro documento que registrasse o comportamento da sociedade medieval portuguesa (religiosos, nobres, homens e mulheres).

Cantigas medievais

Gênero lírico • Cantigas de amor • Cantigas de amigo

Gênero satírico • Cantigas de escárnio • Cantigas de maldizer

Gênero Satírico Cantigas de escárnio

Cantigas de maldizer

Crítica indireta (não se identifica o nome da pessoa satirizada.)

Crítica direta (o nome da pessoa satirizada é identificado.)

Linguagem trabalhada

Linguagem agressiva

Trocadilhos sutis, ambiguidades

Obscenidade, ataques explícitos, baixo calão

Ironia

Zombaria

Na prosa medieval, o gênero narrativo surge na forma das nonelas de canalaria, textos de caráter mais ou menos imaginário que descreve os detalhes da vida e dos costumes da cavalaria feudal.

plicando o conteedo 01. Observe as afirmações abaixo e, considerando () – cantigas de escárnio e (B) – cantigas de maldizer, preencha as lacunas corretamente. ( ) Zombaria ( ) Crítica direta ( ) Linguagem agressiva ( ) Crítica indireta ( ) Sutileza na linguagem ( ) Trocadilhos e ambiguidades ( ) Ironia ( ) Linguagem obscena ( ) Identificação da pessoa satirizada ( ) Nome da pessoa satirizada poupado

187

02.  A partir do que você aprendeu sobre a literatura do Trovadorismo, explique de que forma o contexto histórico medieval torna-se circunstância determinante a esta escola literária.

 Desenvolvendo habilidade (Linguagens, códigos e suas tecnologias – C4-H13) 03.  A cultura medieval, principalmente por volta do século XII: a) era totalmente dominada pelo clero, que impunha as figuras dos deuses como as mais importantes do universo. b) era controlada pela Igreja Católica, que valorizava sobretudo a forma humana, semelhante à do seu deus. c) era imposta, dominada e até controlada pela Igreja, que orientava o espírito humano na direção do teocentrismo (um deus único e, ao mesmo tempo, centro de todo o universo). d) era monoteísta e o homem era o centro do universo por ter sido criado “à imagem e semelhança de Deus”. e) era politeísta, porém teocêntrica, na medida em que um único deus era considerado o centro do universo.

 Exercícios extra Textos para as questões 04 e 05

Ca o vej’eu assaz om’ ordinhado5

Fragmento I

E moi gran capa de coro trager6;

Um cavalo non comeu

E os que lhe mal buscan por foder

á seis meses, nen s’ergueu;

Non lhe vann jajuar7 o seu pecado.

mais proug’a Deus que choveu1, e cresceu a erva,

Vocabulário 1- Mas prouve a Deus que choveu. 2- E por fim se pastou. 3- E já se levanta 4- Zombam; escarnecem 5- Eu o vejo vestido como um padre 6- e trazer muito grande capa de couro 7- vão jejuar

e per cabo se paceu2 e já se leva3. Fragmento II De Martin Moxa posfaçam4 as gentes E dizen-lhe por mal que é casado; Non lho dizem senon os maldizentes, 188

04.  Assinale a alternativa em que se encontra uma afirmativa falsa sobre os textos lidos.

05.  Assinale a alternativa em que se faz uma classificação correta dos textos lidos.

a) Ambas pertencem ao gênero lírico da poesia medieval.

a) Ambas são cantigas de maldizer. b) Ambas são cantigas de escárnio.

b) Em I, critica-se indiretamente um sujeito que não deu de comer ao seu cavalo, que só pastou porque choveu e então o pasto cresceu.

c) I é cantiga de escárnio, II é cantiga de maldizer. d) I é cantiga de maldizer, II é cantiga de escárnio.

c) Em II, criticam-se as pessoas que andam fazendo fofoca sobre um padre, Martin Moxa, acusando-o de fornicação.

e) I é cantiga de cavalaria, II é cantiga religiosa.

d) Em I, observa-se certa variedade métrica, pois há versos de sete, cinco e quatro sílabas poéticas na mesma estrofe. e) Em II, observa-se a presença de sete versos decassílabos com esquema de rima ababccb. Guia de Estudos Estudar

Livro 2 / Frente 2 – Capítulo 6 – Tópico 2 Exercícios Propostos

Exercícios Compatíveis

196 a 205

Exercícios Fundamentais

196

197

198

Exercícios Complementares

203

204

205

199

189

200

201

202

Gabarito Unidade 9 4. B 5. a) Linguagem simples, repetições, contrastes (apesar de pobre, é rainha da vida). b) Para o narrador (primeiro texto), a nordestina só é vista e amada por ele, não tem valor para a sociedade. É uma pessoa indefesa, fraca. Para o eu lírico (segundo texto), a nordestina, apesar das dificuldades da vida, é forte, valente, dona de sua própria vida.

Unidade 10 4. V, V, F, V, V 5. a) Algumas das características seriam: – tema tratado com dignidade, sem irreverência; – vocabulário identificado com o uso da língua em situações de formalidade; – abordagem de fatos históricos, encarados sob a perspectiva da coletividade.

b) A poetisa aborda criticamente os problemas do Brasil, enfocando as origens da desigualdade social – tema frequente no romance regionalista a partir dos anos 30.

Unidade 11 4. José de Alencar idealiza as belezas naturais da cidade e as diferenças socioeconômicas entre seus habitantes, utiliza-se de um excessivo descritivismo, com predomínio de períodos longos e uso de adjetivação. Já Paulo Lins descreve de forma realista a cena urbana e seus conflitos socioculturais, faz uso de uma linguagem seca e econômica, com períodos curtos e com pouco uso de adjetivos. 5. a) Camões situa-se, na história literária, no período clássico ou renascentista português, século XVI (1527-1580). b) O “santo templo / Que nas praias do mar está assentado” é uma outra referência perifrástica à Torre de Belém, “caravela fendida no mar”, e marco comemorativo das navegações portuguesas, erigido à saída do Rio Tejo, em estilo manuelino.

190

Unidade 12 4. Os estudos da literatura de língua portuguesa são divididos em três eras: a Era Medieval, a Era Clássica e a Era Romântica (ou Moderna), dentro das quais se encontram subdivisões, as chamadas escolas literárias. 5. Há um período brasileiro marcado pela situação sócio-histórica colonial, momento em que esteve sob a exploração de Portugal. É preciso considerar que, durante um longo período, os naturais do Brasil não produziam literatura (ou arte) apoiados nos estilos de época europeus e mesmo os colonos que aqui estavam não o faziam.

Unidade 13 4. 5.

C B

Unidade 14 4. 5.

B D

Unidade 15 4. 5.

A C

Português capítulo 4

Exercícios propostos

Texto para a questão 121

d) Define-se um tempo – o fim do período ditatorial de Getúlio Vargas. e) Tem-se acesso a todos os elementos – personagens, espaço, tempo, ações – através de um narrador.

De súbito, os alto-falantes da Rádio Anunciadora Serrana, presos aos postes telefônicos ao longo da Rua do Comércio, começaram a funcionar, e o ar se encheu de sons que pareciam sair da boca de enormes robôs. O vento varria as vozes metálicas que apregoavam a excelência de dentifrícios, inseticidas, sabonetes, e pediam ao público que só comprasse na “tradicional Loja Caramês, onde um cruzeiro vale três”. Quando as vozes se calaram, romperam dos alto-falantes os acordes lânguidos dum velho tango argentino, e o choro das cordeonas abafou a lamúria do vento. Naquele minuto, o Veiguinha saiu da Casa Sol, caminhou até a beira da calçada, trazendo debaixo do braço um quadro que durante sete anos tivera pendurado na parede do escritório e, olhando para um mulato que passava, exclamou: — Este é o dia mais feliz da minha vida! 1Dito isto, agarrou o quadro com ambas as mãos e bateu com ele violentamente contra a quina da calçada, partindo a moldura e o vidro. Depois, numa fúria que o deixava apoplético, arrancou dentre os destroços do quadro o retrato do ex-Presidente e rasgou-o em muitos pedaços, lançando-os ao vento num gesto dramático: — Este é o fim de todos os tiranos! O mulato parou, olhou para o proprietário da Casa Sol e disse: — Deixe estar, um dia esse retrato volta pra parede. 2Os milicos derrubaram o Velho, mas ele caiu de pé nos braços do povo! — 3”Viva o nosso Presidente! Viva o Estado Novo!” Do outro lado da rua, à frente da Casa Sol, lia-se no muro caiado, em largas letras de piche: “Queremos Getúlio”. Logo abaixo, em garranchos brancos: 4”Viva Prestes! Morra o fascismo!” E, entre a foice e o martelo, um moleque gravara no reboco, à ponta de prego, um nome feio. 5Gardel silenciara: agora os violinos cantavam em melosa surdina, e a voz do sueste parecia também fazer parte da orquestra, bem como o rufar do motor do Rosa-dos-Ventos.

122.  (UFG-GO) Leia a canção a seguir: Aos quatro cantos o seu corpo Partido, banido. Aos quatro ventos os seus quartos, Seus cacos de vidro. O seu veneno incomodando A tua honra, o teu verão. Presta atenção! Presta atenção! Aos quatro cantos suas tripas, De graça, de sobra, Aos quatro ventos os seus quartos, Seus cacos de cobra, O seu veneno arruinando A tua filha, a plantação. Presta atenção! Presta atenção! Aos quatro cantos seus gemidos, Seu grito medonho, Aos quatro cantos os seus quartos, Seus cacos de sonho, O seu veneno temperando A tua veia, o teu feijão. Presta atenção! Presta atenção! Presta atenção! Presta atenção! BUARQUE, Chico; GUERRA Ruy. Calabar. O elogio da traição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 68-69.

Na peça teatral Calabar, a personagem Bárbara entoa a canção “Cobra-de-Vidro”, acima transcrita. a) Considerando-se os gêneros literários, o que a presença desse texto na obra evidencia? b) Analise a metáfora “cobra-de-vidro”. c) A quem se refere o jogo gramatical estabelecido entre “seu, seus, suas” e “tua, teu” e que efeito ele produz para a compreensão da mensagem da peça?

Érico Veríssimo. O tempo e o vento.

121.  (UFF-RJ) O fragmento de Érico Veríssimo é parte de uma obra classificada como pertencente ao gênero épico ou narrativo.

123.  (CFTMG) Numere os fragmentos de texto de acordo com os seguintes gêneros literários:

Assinale a opção que se afasta desta classificação. a) Configura-se um personagem – O Veiguinha – que desenvolve ações: sai da Casa Sol, conversa com outro personagem, quebra um quadro. b) Registra-se a exposição de sentimentos de personagens que não fazem parte de uma história. c) Compõe-se um espaço – a Rua do Comércio e seus arredores.

1. lírico 2. satírico 3. épico ( ) Quem por ti de amor desmaia, Nesta praia geme e chora: Vem, Pastora, por piedade A saudade consolar. 191

Não recreiam sempre os montes Co’as delícias de Amalteia; Vem, ó Glaura, a ruiva areia, Rio e fontes animar.

Em 2008, comemora-se o centenário de sua morte, ocorrida em setembro de 1908. Machado de Assis é considerado o mais canônico escritor da Literatura Brasileira e deixou uma rica produção literária composta de textos dos mais variados gêneros, em que se destacam o conto e o romance. Segue o texto desse autor, em poesia.

Silva Alvarenga

( ) A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.

A Carolina Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro.

Em cada porta um frequentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Para levar à Praça, e ao Terreiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs um mundo inteiro.

Gregório de Matos

( ) Nesta triste masmorra, de um semivivo corpo sepultura, inda, Marília, adoro a tua formosura.

Trago-te flores, restos arrancados Da terra que nos viu passar unidos, São pensamentos idos e vividos.

Amor na minha ideia te retrata; busca, extremoso, que eu assim resista à dor imensa, que me cerca e mata.

Que eu, se tenho nos olhos mal feridos Pensamentos de vida formulados, São pensamentos idos e vividos.

Tomás Antônio Gonzaga

Machado de Assis

125.  (Ibmec-RJ) Ao avaliarmos o texto quanto a seu gênero literário, podemos afirmar que ele pertence:

( ) Este lugar delicioso e triste, Cansada de viver, tinha escolhido, Para morrer, a mísera Lindoia. Lá reclinada, como que dormia, Na branda relva, e nas mimosas flores; Tinha a face na mão, e a mão no tronco De um fúnebre cipreste, que espalhava Melancólica sombra. Mais de perto Descobrem que se enrola em seu corpo Verde serpente...

a) ao gênero narrativo, pois conta a história triste do poeta. b) ao gênero lírico, pois expressa os sentimentos do eu-poético. c) ao gênero dramático, pois evidencia o drama sentimental do poeta. d) ao gênero épico, pois exterioriza e narra as emoções do eu-lírico de forma grandiloquente. e) ao gênero descritivo, pois descreve os detalhes do contexto físico da cena.

Basílio da Gama

A sequência correta encontrada é: a) 1, 2, 1, 3. b) 1, 2, 3, 3. c) 2, 1, 3, 1. d) 3, 2, 3, 1.

Texto para a próxima questão Como prevenir a violência dos adolescentes (...) Quando deparo com as notícias sobre crimes hediondos envolvendo adolescentes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e Liana Friedenbach, fico profundamente triste e constrangida. Esse caso é consequência da baixa valorização da prevenção primária da violência por meio das estratégias cientificamente comprovadas, facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que a recuperação de crianças e adolescentes que comentem atos infracionais graves contra a vida. Talvez seja porque a maioria da população não se deu conta e os que estão no poder nos três níveis não estejam conscientes de seu papel histórico e de sua responsabilidade legal de cuidar do que tem de mais importante à nação: as crianças e os adolescentes, que são o futuro do país e do mundo.

124.  (CFTMG) Com relação aos gêneros literários, é incorreto afirmar que, no gênero: a) lírico, o artista retrata criticamente a realidade. b) épico, o autor se apega à objetividade e à impessoalidade. c) lírico, a tendência do escritor é revelar as emoções que o mundo causou nele. d) dramático, há ausência de narrador, apresentando-se um conflito através do discurso direto. Texto para a próxima questão Joaquim Maria Machado de Assis é cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. 192

A construção da paz e a prevenção da violência dependem de como promovemos o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo das nossas crianças e adolescentes, dentro do seu contexto familiar e comunitário. Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas ou desestruturadas (...) (...) Em relação às crianças e adolescentes que cometeram infrações leves ou moderadas – que deveriam ser mais bem expressas – seu tratamento para a cidadania deveria ser feito com instrumentos bem elaborados e colocados em prática, na família ou próxima dela, com acompanhamento multiprofissional, desobstruindo as penitenciárias, verdadeiras universidades do crime. (...) (...) A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um tecido social saudável e promissor, que começa antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil, principalmente propiciando o desenvolvimento e o respeito à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o jogar; uma educação para a paz e a não violência. A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, forma redes de ação para multiplicar o saber e a solidariedade junto às famílias pobres do país, por meio de mais de 230 mil voluntários, e acompanhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão de crianças menores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades de 3.696 municípios do país. O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infantil nos últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado da organização e universalização dos serviços de saúde pública, da melhoria da atenção primária, com todas as limitações que o SUS possa ainda possuir, da descentralização e municipalização dos recursos e dos serviços de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil, a desnutrição e a violência intrafamiliar contaram com a contribuição dessa enorme rede de solidariedade da Pastoral da Criança. (...)” (...) A segunda área da maior importância nessa prevenção primária da violência envolvendo crianças e adolescentes é a educação, a começar pelas creches, escolas infantis e de educação fundamental e de nível médio, que devem valorizar o desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música, a arte, o esporte e a prática da solidariedade humana. As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter dois turnos, para darem conta da educação integral das crianças e dos adolescentes; deveriam dispor de equipes multiprofissionais atualizadas e capacitadas a avaliar periodicamente os alunos. Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação, com atividades em larga escala e simples, baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o território nacional. (...)

(...) Com relação à idade mínima para a maioridade penal, deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e conforme orientações da ONU. Mas o tempo máximo de três anos de reclusão em regime fechado, quando a criança ou o adolescente comete crime hediondo, mesmo em locais apropriados e com tratamento multiprofissional, que urgentemente precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã. (...) Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança. (Folha de S.Paulo, 26/11/2003.)

126.  (IFAL) Sobre o discurso da Dra. Zilda Arns, é verdadeiro dizer que: a) se trata de uma prosa poética, de alto valor literário. b) se trata de um texto identificado como discurso argumentativo, constituindo-se em um autêntico artigo de opinião. c) se trata de um texto descritivo, com características autobiográficas. d) dentro da perspectiva classificatória moderna dos gêneros, o texto em análise está enquadrado na categoria “gênero épico”. e) se trata de um texto híbrido, com elementos do discurso narrativo e, também, descritivo. 127.  (ENEM) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação. COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. Adaptado.

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, concluise que: a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva. 193

b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores. c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros. d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais. e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.

De modo geral, a musicalidade é um elemento fundamental no texto lírico. Nesse texto de Vinicius de Moraes, além das rimas, a ocorrência considerável de fonemas sibilantes /sê/ e a semelhança de som de palavras como fez, “espuma”, “espalmadas”, “espanto” etc. consistem nos principais recursos empregados pelo artista para alcançar a referida sonoridade. 08. No texto anterior, pertencente ao gênero lírico, predomina: a) a antítese como figura de linguagem. b) a referência a fatos presentes como deflagradores do conflito do eu lírico. c) a função conativa da linguagem. d) os versos decassílabos. e) as rimas consoantes, pobres e interpoladas. f) o emprego da linguagem figurada. g) a expressão do conflito do eu lírico decorrente da separação amorosa. 16. Pode-se afirmar que: a) a antítese, figura de linguagem predominante no texto anterior, exprime ideias cuja força significativa reside na oposição dos contrários. É o que acontece no verso “E do momento imóvel fez-se o drama”, em que o conflito vivido pelo eu lírico atinge seu ponto culminante. b) no texto literário, dependendo do contexto, uma mesma palavra pode ter uma significação objetiva (denotação) ou sugerir outras significações, marcadas pela subjetividade do emissor (conotação). No verso “De repente da calma fez-se o vento”, as palavras estão empregadas em sentido figurado ou conotativo. 32. Pode-se afirmar que: a) o soneto, composto de dois quartetos e de dois tercetos, é uma das formas poemáticas mais tradicionais e difundidas na literatura ocidental e expressa, quase sempre, conteúdo lírico. b) o soneto costuma conter uma reflexão sobre um tema ligado à vida humana. No texto anterior, Vinicius de Moraes, ao retomar esse modo tradicional de compor versos, presta homenagem aos grandes clássicos da literatura, reconhecendo, no presente, a herança cultural do passado.

128.  (UEM-PR) Leia o texto a seguir e assinale o que for correto. Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Vinicius de Moraes

01. A teoria literária moderna reconhece três gêneros literários fundamentais – o épico, o lírico e o dramático – e, apesar de não prestigiar um em detrimento de outro, não aceita a mistura deles em uma mesma obra literária. Esses três gêneros podem ser subdivididos em espécies ou formas: o soneto é uma das formas dramáticas; a tragédia é uma das formas épicas; a balada é uma das formas líricas. 02. No texto anterior, predomina o gênero dramático, que tem a sua manifestação mais viva nos aspectos trágicos, procurando representar os conflitos e os dramas vivenciados pelos homens e a precariedade do mundo em que estão inseridos. Nesse caso específico, trata-se de representar o drama da separação de dois amantes. 04. No texto anterior, predomina o gênero lírico, caracterizado, essencialmente, por manifestar a subjetividade do eu lírico, expressando-lhe os sentimentos, as emoções, o mundo interior.

Texto para a próxima questão Para responder às questões adiante, leia os textos a seguir. Psicografia de Ana Cristina Cesar

Também eu saio à revelia e procuro uma síntese nas demoras cato obsessões com fria têmpera e digo do coração: não soube e digo da palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena e vivo como quem despede a raiva de ter visto

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Autopsicografia

Texto para a próxima questão Sim, leitor benévolo, e por esta ocasião te vou explicar como nós hoje em dia fazemos a nossa literatura. Já me não importa guardar segredo; depois desta desgraça, não me importa já nada. Saberás, pois, ó leitor, como nós outros fazemos o que te fazemos ler. Trata-se de um romance, de um drama. Cuidas que vamos estudar a História, a natureza, os monumentos, as pinturas, os sepulcros, os edifícios, as memórias da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós o somos. Desenhar caracteres e situações do vivo da natureza, colori-los das cores verdadeiras da História... isso é trabalho difícil, longo, delicado; exige um estudo, um talento, e sobretudo um tacto!... Não, senhor, a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico. Todo o drama e todo o romance precisa de: Uma ou duas damas, Um pai, Dois ou três filhos de dezanove a trinta anos, Um criado velho, Um monstro, encarregado de fazer as maldades, Vários tratantes, e algumas pessoas capazes para intermédios. Ora bem; vai-se aos figurinos franceses de Dumas, de Eugénio Sue, de Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada um deles, as figuras que precisa, gruda-as sobre uma folha de papel da cor da moda, verde, pardo, azul – como fazem as raparigas inglesas aos seus álbuns e scrap-books; forma com elas os grupos e situações que lhe parece; não importa que sejam mais ou menos disparatados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se uns poucos de nomes e palavrões velhos; com os nomes crismam-se os figurões; com os palavrões iluminamse... (estilo de pintor pinta-monos). – E aqui está como nós fazemos a nossa literatura original.

de Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só as que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. Vocabulário comboio: trem de ferro calhas de roda: trilhos sobre os quais corre o trem de ferro. 129.  (UFSCar-SP) Na segunda estrofe do poema de Fernando Pessoa, há um jogo de sentido estabelecido entre os pronomes “ele” e “eles”. a) A quem se refere cada um desses pronomes? b) Como se pode entender a dor, referida nesta estrofe, em relação a “ele” e “eles”? 130.  (UFU-MG) Pobre terra da Bruzundanga! Velha, na sua maior parte, como o planeta, toda a sua missão tem sido criar a vida, e a fecundidade para os outros, pois nunca os que nela nasceram, os que nela viveram, os que a amaram e sugaram-lhe o leite, tiveram sossego sobre o seu solo!

(cap. V – Fragmento) In: Garrett, Almeida. Obra Completa – I, Porto, Lello & Irmão, 1963, p. 27-28.

Lima Barreto, Os Bruzundangas

Senhora Dona Bahia, nobre e opulenta cidade, madrasta dos Naturais, E dos Estrangeiros madre. Dizei-me por vida vossa, em que fundais o ditame de exaltar, os que aí vêm, e abater, os que ali nascem?

131.  (Unesp) Almeida Garrett (1799-1854), que pertenceu à primeira fase do romantismo português, é poeta, prosador e dramaturgo dos mais importantes da Literatura portuguesa. Em Viagens na minha terra (1846), mistura, em prosa rica, variada e espirituosa, o relato jornalístico, a literatura de viagens, as divagações sobre temas da época e os comentários críticos, muitas vezes mordazes, sobre a literatura em voga, no período. Releia o texto que lhe apresentamos e, a seguir, responda:

Gregório de Matos, Poesias selecionadas

Lima Barreto e Gregório de Matos estão distantes, cronologicamente, na Literatura brasileira. Mas os autores podem ser aproximados pelo teor satírico que imprimiram às suas obras. Tome os fragmentos citados para responder às questões seguintes. a) Fale sobre o tema que aproxima os dois textos. b) Destaque do texto de Gregório de Matos um par de versos que tenha “uma figura de oposição” muito comum ao Barroco, classificando-a. c) Aponte na prosa de Lima Barreto “uma figura de efeito sonoro” que seja comum ao gênero lírico, classificando-a.

a) a que gêneros literários se refere Almeida Garrett? b) quais os principais defeitos, segundo Garrett, dos escritores que elaboravam obras de tais gêneros? Texto para a próxima questão João, o telegrafista João telegrafista. Nunca mais que isso, estaçãozinha pobre havia mais árvores pássaros que pessoas.

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telegráfico adj. 1 relativo a telégrafo ou à telegrafia 2 transmitido ou recebido pelo telégrafo 3 relativo a telegrama; semelhante a um telegrama 4 fig. Muito conciso, condensado, muito lacônico (...)”. Código Morse: primeiro estágio das comunicações digitais; uma forma de código binário em que todos os caracteres estão codificados como pontos e traços. HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Sales. Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Só tinha coração urgente. Embora sem nenhuma promoção. A bater a bater sua única tecla. Elíptico, como todo telegrafista. Cortando flores preposições para encurtar palavras, para ser breve na necessidade. Conheceu Dalva uma Dalva não alva sequer matutina mas jambo, morena. Que um dia fugiu – único dia em que foi matutina – para ir morar cidade grande cheia luzes joias. História viva, urgente.

132.  (UFRJ) O projeto estético modernista caracteriza-se pela experimentação da linguagem. Uma das consequências do experimentalismo da estética modernista é a dissolução de fronteiras entre gêneros literários ou não literários e tipologias textuais. Explique como essa dissolução se revela no poema de Cassiano Ricardo. Texto para a próxima questão

Ah, inutilidade alfabeto Morse nas mãos João telegrafista procurar procurar Dalva todo mundo servido telégrafo. Ah, quando envelhece, como é dolorosa urgência! João telegrafista nunca mais que isso, urgente.

Nina Chico Buarque

Nina diz que tem a pele cor de neve E dois olhos negros como o breu Nina diz que, embora nova Por amores já chorou Que nem viúva Mas acabou, esqueceu

II Por suas mãos passou mundo, mundo que o fez urgente, elíptico, apressado, cifrado. Passou preço do café. Passou amor Eduardo VIII, hoje duque Windsor. Passou calma ingleses sob chuva de fogo. Passou sensação primeira bomba voadora. Passaram gafanhotos chineses, flores catástrofes. Mas, entre todas as coisas, passou notícia casamento Dalva com outro. João telegrafista o de coração urgente não disse palavra, apenas três andorinhas pretas (sem a mais mínima sensação simbólica) pousaram sobre seu soluço telegráfico. Um soluço sem endereço – Dalva – e urgente.

Nina adora viajar, mas não se atreve Num país distante como o meu Nina diz que fez meu mapa E no céu o meu destino rapta O seu Nina diz que se quiser eu posso ver na tela A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela Posso imaginar por dentro a casa A roupa que ela usa, as mechas, a tiara Posso até adivinhar a cara que ela faz Quando me escreve Nina anseia por me conhecer em breve Me levar para a noite de Moscou Sempre que esta valsa toca Fecho os olhos, bebo alguma vodca E vou Disponível em: . Acesso em: 02 ago. 2011.

RICARDO, Cassiano. Poemas murais. São Paulo: José Olympio Editora, 1950.

133.  (UFF-RJ) Assinale a alternativa que identifica corretamente procedimentos discursivos utilizados em relação às vozes dos personagens, em Nina.

Vocabulário telegrafia s. f. 1 processo de telecomunicações que transmite textos escritos (telegramas) por meio de um código de sinais (código Morse), através de fios (...).

a) A voz de Nina aparece em discurso indireto, mostrando a força do eu lírico, que não só se

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135.  (IFSP) Considere um trecho do poema O apanhador de desperdícios, de Manoel de Barros.

expressa diretamente em 1ª pessoa, mas subordina à sua própria fala o conteúdo das intervenções de Nina. b) A voz do eu lírico se sobrepõe à de Nina, que só intervém por meio de falas entrecortadas em discurso indireto livre. c) A voz de Nina se mescla à do eu lírico e todas as falas se tornam semelhantes e inexpressivas, mesmo com a projeção da 1a e da 2a pessoas do discurso, em falas diretas. d) As vozes dos personagens estão em discurso direto, criando, no texto, efeitos de vivacidade, verdade e emoção. e) A voz do eu lírico, em discurso direto marcado pelo uso da 1ª pessoa, garante a verdade dos fatos narrados e obscurece sentimentos, emoções e pontos de vista dos personagens.

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade Das tartarugas mais que a dos mísseis. PINTO, Manuel da Costa. Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006.

Pela leitura dos versos, pode-se concluir que o poeta: a) exalta a velocidade e a rapidez associadas aos avanços tecnológicos próprios do século XXI. b) usa a linguagem para expressar as angústias e frustrações que sente diante da vida. c) prefere o ambiente urbano, embora afirme precisar de momentos de silêncio e de contemplação. d) reflete sobre o papel que as palavras desempenham como veículo para a expressão do eu lírico. e) sente necessidade de educar e de informar os leitores, usando termos arcaicos e incomuns.

134.  (Insper) Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto.

Texto para a questão 136

E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía*.

O texto a seguir foi extraído de uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna, cronista e poeta mineiro. Professor universitário e jornalista, escreveu para os maiores jornais do País. Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se destaca como teórico, como poeta, como cronista, como professor, como administrador cultural e como jornalista.

Luís Vaz de Camões

*soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões. a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte. b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas. c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no postulado da imutabilidade. d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo, porque constata que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada. e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão.

Porta de colégio Passando pela porta de um colégio, me veio a sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isso, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa. Primeiro há uma diferença de 1clima entre 6aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma 2atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma 8redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. 7Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. 9Um ou outro já transou droga, e com isso deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de

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Cliente (Embaraçado, o chapéu na mão, uma gravata de corda no pescoço magro.) — Manoel Pitanga de Moraes.

pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. Onde estarão 4esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos? 5Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esporte, vai se interessar pela informática ou economia; 5aquela de cabelos louros e crespos vai ser dona de boutique; 5aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com um gerente de multinacional; 5aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e à praça e pegando-os de novo à tardinha no colégio. [...] Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava-lhes as últimas histórias da carochinha antes que o 3lobo feroz as assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo.

ANDRADE, Oswald. O rei da vela. São Paulo: Globo, 1994. p. 39.

O fragmento organiza-se segundo o modelo do gênero literário que se define por: a) ser produzido para a encenação pública. b) narrar os fatos notáveis da história de um povo. c) expressar as emoções e estados de alma do autor. d) ridicularizar os vícios e atitudes reprováveis dos seres humanos. Texto para a próxima questão Bocage no futebol Quando eu tinha 3meus cinco, meus seis anos, morava, ao lado de minha casa, um garoto que era 2tido e havido como o anticristo da rua. Sua idade regulava com a minha. E 6justiça se lhe faça: — não havia palavrão que ele não praticasse. Eu, na minha candura pânica, vivia cercado de conselhos, por todos os lados: — “Não brinca com Fulano, que ele diz nome feio!”. E o Fulano assumia, aos meus olhos, as proporções feéricas de um Drácula, de um 1Nero de fita de cinema. Mas o tempo passou. E acabei descobrindo que, afinal de contas, o anjo de boca suja estava com a razão. Sim, amigos: — cada nome feio que a vida extrai de nós é um estímulo vital irresistível. Por exemplo: — os nautas camonianos. Sem uma sólida, potente e jucunda pornografia, um Vasco da Gama, um Colombo, um Pedro Álvares Cabral não teriam sido almirantes nem de barca da Cantareira. O que os virilizava era o bom, o cálido, o inefável palavrão. Mas, se nas relações humanas em geral, o nome feio produz esse impacto criador e libertário, que dizer do futebol? Eis a verdade: — retire-se a pornografia do futebol e nenhum jogo será possível. Como jogar ou como torcer se não podemos xingar ninguém? O craque ou o torcedor é um Bocage. Não o 4Bocage fidedigno, que nunca existiu. Para mim, o 5verdadeiro Bocage é o falso, isto é, o Bocage de anedota. Pois bem: — está para nascer um jogador ou um torcedor que não seja bocagiano. O craque brasileiro não sabe ganhar partidas sem o incentivo constante dos rijos e imortais palavrões da língua. Nós, de longe, vemos os 22 homens 7correndo em campo, matando-se, agonizando, rilhando os dentes. Parecem dopados e realmente o estão: — o chamado nome feio é o seu excitante eficaz, o seu afrodisíaco insuperável.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Affonso Romano de Sant’Anna: seleção e prefácio de Letícia Malard. Coleção Melhores Crônicas. p. 64-66.

136.  (Uece) A crônica é um gênero, digamos, aberto. Dentro dessa rubrica cabem vários conceitos. As quatro opções abaixo apresentam características de crônica, mas só uma expressa as características apresentadas pelo texto de Sant’Anna. Assinale essa opção. a) Pequeno texto polêmico escrito para uma coluna de periódico, assinada, com notícias e comentários sobre cultura e política. b) Conjunto de notícias e críticas a respeito de fatos da atualidade, de cunho memorialista ou confessional. c) Texto literário breve que espelha fatos ou elementos do cotidiano, sobre os quais o enunciador reflete e opina. d) Breve narrativa literária de trama quase sempre pouco definida e sobre motivos extraídos do cotidiano imediato. 137.  (CFTMG) Leia. Abelardo I (Sentado em conversa com o Cliente. Aperta um botão, ouve-se um forte barulho de campainha.) — Vamos ver... Abelardo II (Veste botas e um completo domador de feras. Usa pastinha e enormes bigodes retorcidos. Monóculo. Um revólver à cinta.) — Pronto Seu Abelardo.

RODRIGUES, Nélson. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993.

138.  (FGV-RJ) Considere os seguintes elementos de composição textual:

Abelardo I — Traga o dossiê desse homem.

I. interação com o leitor; II. incorporação de uma fala em discurso indireto; III. procedimento intertextual; IV. mistura de gêneros discursivos.

Abelardo II — Pois não! O seu nome?

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enfrentar a fila das prioridades, foi finalmente recebida pelo atendente que, em tom burocrático e ar displicente, lhe disse: “A senhora pode estar preenchendo o formulário na internet”. Confusa, dona Geralda disse que não tinha computador e nem sabia direito o que é internet. O rapaz insistiu: “É só pedir alguém para estar preenchendo para a senhora”. “Mas quem? Só tenho a minha irmã, que não mexe com essas coisas”, ela retrucou. “Então a senhora vai a um cybercafé, que lá eles fazem tudo. Tem um logo ali, na esquina.” – foi a resposta. E ela: “Sambacafé? O que é isso?”. O moço, então, despachou-a com impaciência, repetindo que o formulário tinha que ser preenchido pela internet e ponto final. A ele cabia a tarefa de fazer o cadastro, mas preferiu fazer andar a fila. Sim, algo está errado com o mundo.

É correto afirmar que, no texto, ocorre apenas o que foi indicado em: a) I e IV. b) II e IV. c) I, III e IV. d) II e III. e) I, II, e III. Texto para a próxima questão Sinal dos tempos Na semana passada, os jornais do mundo inteiro noticiaram, com alarde, o lançamento de um novo aparelho celular, desses que fazem de tudo e mais um pouco. Nas redes sociais, o assunto “bombou”, como se fosse um grande acontecimento. Os consumidores deslumbrados e os aficionados por tecnologia ficaram, é claro, ansiosos para comprar o brinquedinho – alçado (até que surja um modelo mais incrementado) a condição de preciosidade do ano. Uma frase no Twitter, entretanto, chamou-me a atenção no meio de toda essa euforia. Dizia mais ou menos o seguinte: “quando as manchetes do mundo são o lançamento de um celular, algo está errado com o mundo”. Concordo e assino embaixo. Não por ser contra o avanço tecnológico, muito pelo contrário. O que me incomoda é, sim, a submissão neurótica das pessoas a essas novidades e a tudo o que recebe o rótulo de “último lançamento”. Não deixa de ser patético, por outro lado, o descompasso entre os lançamentos tecnológicos e os serviços prestados à sociedade para o uso dessas novidades, como ocorre no Brasil. Em matéria de telefonia e acesso à internet, por exemplo, sabemos que os preços daqui são de Primeiro Mundo, enquanto os serviços são de quinta categoria. Os aparelhos estão cada vez mais sofisticados e acessíveis, o consumo atinge mais e mais pessoas de diferentes estratos sociais, mas o serviço está cada vez pior e com preços cada vez mais abusivos. Histórias de pessoas que ficam dias sem acesso à internet, por falta de assistência das operadoras, multiplicam-se. Sinais que despencam durante ligações telefônicas tornaram-se recorrentes. Agora mesmo, escrevo sem internet em casa, por causa do descaso da operadora. Isso ocorreu duas vezes em menos de um mês. Na primeira, foram três dias sem sinal e sem assistência técnica. Na segunda, o jeito foi cancelar a linha e contratar o serviço de outra empresa. Enquanto não instalam a nova linha, a internet do celular tem quebrado o galho, apesar de o sinal cair a toda hora. Um outro descompasso – este de ordem social – concerne às pessoas que não têm acesso às novas tecnologias e são obrigadas a usá-las a todo custo. É o caso de dona Geralda, que nasceu na roça e veio para a cidade trabalhar como faxineira. Hoje aposentada, vive com a irmã num bairro pobre e distante. Quando soube, no mês passado, que tinha direito a um benefício, a ser solicitado num órgão público, ela pegou dois ônibus e foi até lá. Depois de

MACIEL, Maria Esther. Estado de Minas. Belo Horizonte, 18 set. 2012. Caderno Cultura. Disponível em: . Acesso em: 18.set.2012.

139.  (CFTMG) Sinal dos tempos é exemplar do gênero textual que se caracteriza por: a) informar o leitor sobre fatos de interesse geral. b) persuadir o consumidor a adquirir certo produto. c) defender um ponto de vista por meio de estratégias argumentativas. d) expressar uma reflexão mais ampla a partir de um fato do cotidiano. Texto para as próximas 4 questões O coração roubado Eu cursava o último ano do primário e como já estava com o diplominha garantido, meu pai me deu um presente muito cobiçado: Coração, famoso livro do escritor italiano Edmondo de Amicis, bestseller mundial do gênero infantojuvenil. Na página de abertura lá estava a dedicatória do velho, com sua inconfundível letra esparramada. Como todos os garotos da época, apaixonei-me por aquela obra-prima e tanto que a levava ao grupo escolar da Barra Funda para reler trechos no recreio. Justamente no último dia de aula, o das despedidas, depois da festinha de formatura, voltei para a classe a fim de reunir meus cadernos e objetos escolares, antes do adeus. Mas onde estava o Coração? Onde? Desaparecera. Tremendo choque. Algum colega na certa o furtara. Não teria coragem de aparecer em casa sem ele. Ia informar à diretoria quando, passando pelas carteiras, vi a lombada do livro, bem escondido sob uma pasta escolar. Mas... era lá que se sentava o Plínio, não era? Plínio, o primeiro da classe em aplicação e comportamento, o exemplo para todos nós. Inclusive o mais limpinho, o mais bem penteadinho, o mais tudo. Confesso, hesitei. Desmascarar um ídolo? Podia ser até que não acreditassem em mim. Muitos invejavam o Plínio. Peguei o exemplar e o guardei em minha pasta. Caladão. Sem revelar a ninguém o acontecido. Lembro do abraço que Plínio me deu à saída. Pare199

140.  (CFTMG) “Sempre que o rumo de uma conversa levava às grandes decepções, aos enganos de falsas amizades, eu contava, a quem quisesse ouvir, o episódio do embusteiro do Grupo Escolar Conselheiro Antônio Prado, em breve desembargador ou secretário de Justiça.”

cia segurando as lágrimas. Balbuciou algumas palavras emocionadas. Mal pude retribuir, meus braços se recusavam a apertar o cínico. Chegando em casa minha mãe estranhou que eu não estivesse muito feliz. Já preocupado com o ginásio? Não, eu amargava minha primeira decepção. Afinal, Plínio era um colega que devíamos imitar pela vida afora, como costumava dizer a professora. Seria mais difícil sobreviver sem o seu exemplo. Por outro lado, considerava se não errara em não delatá -lo. “Vocês estão todos enganados, e a senhora também, sobre o caráter de Plínio. Ele roubou meu livro. E depois ainda foi me abraçar...”. Curioso, a decepção prolongou-se ao livro de Amicis, verdadeira vitrina de qualidades morais dos alunos de uma classe de escola primária. A história de um ano letivo coroado de belos gestos. Quem sabe o autor não conhecesse a fundo seus próprios personagens. Um ingênuo como nossa professora. Esqueci-o. Passados muitos anos reconheci o retrato de Plínio num jornal. Advogado, fazia rápida carreira na Justiça. Recebia cumprimentos. Brrr. Magistrado de futuro o tal que furtara meu presente de fim de ano! Que toldara muito cedo minha crença na humanidade! Decidi falar a verdade. Caso alguém se referisse a ele, o que passou a acontecer, eu garantia que se tratava de um ladrão. Se roubava já no curso primário, imaginem agora... Sempre que o rumo de uma conversa levava às grandes decepções, aos enganos de falsas amizades, eu contava, a quem quisesse ouvir, o episódio do embusteiro do Grupo Escolar Conselheiro Antônio Prado, em breve desembargador ou secretário de Justiça. − Não piche assim o homem – advertiu-me minha mulher. − Por que não? É um ladrão! − Mas quando pegou seu livro era criança. − O menino é o pai do homem – rebatia, vigorosamente. Plínio fixara-se como um marco para mim. Toda vez que o procedimento de alguém me surpreendia, a face oculta de uma pessoa era revelada, lembravame irremediavelmente dele. Limpinho. Penteadinho. E com a mão de gato se apoderando de meu livro. Certa vez tomara a sua defesa: − Plínio, um ladrão? Calúnia! Retire-se da minha presença! Quando o desembargador Plínio já estava aposentado mudei-me para meu endereço atual. Durante a mudança alguns livros despencaram de uma estante improvisada. Um deles, Coração, de Amicis. Saudades. Havia quantos anos não o abria? Quarenta ou mais? Lembrei da dedicatória de meu falecido pai. Ele tinha boa letra. Procurei-a na página de rosto. Não a encontrei. Teria a tinta se apagado? Na página seguinte havia uma dedicatória. Mas não reconheci a caligrafia paterna. “Ao meu querido filho Plínio, com todo amor e carinho de seu pai”.

Na passagem acima, o termo grifado não pode ser interpretado como: a) ardiloso. b) trapaceiro. c) mentiroso. d) cafajeste. 141.  (CFTMG) “Curioso, a decepção prolongou-se ao livro de Amicis...” O narrador faz essa observação no 4º parágrafo do texto porque, ao ler o Coração: a) julga questionável a reputação de Amicis. b) relembra experiências desagradáveis de sua infância. c) acha o conteúdo desinteressante para um homem adulto. d) considera os valores abordados incompatíveis com a realidade. 142.  (CFTMG) No 10º parágrafo, o emprego do diminutivo em “limpinho” e “penteadinho” revela que o narrador: a) intenciona depreciar seu ídolo na escola primária. b) relembra as qualidades de seu colega de forma afetuosa. c) busca minimizar os efeitos de suas considerações a respeito de Plínio. d) duvida da capacidade de sua professora primária em avaliar os alunos. 143.  (CFTMG) A passagem em que não se manifesta a voz do narrador-protagonista do texto é: a) “Mas ... era lá que se sentava o Plínio, não era?” (2º parágrafo) b) “Havia quantos anos não o abria?” (13º parágrafo) c) “Já preocupado com o ginásio?” (3º parágrafo) d) “− Por que não? É um ladrão!” (7º parágrafo) 144.  (Unicamp-SP) Leia. Noite de autógrafos Ivan Ângelo

A leitora, vistosa, usando óculos escuros num ambiente em que não eram necessários, se posta diante do autor sentado do outro lado da mesa de autógrafos e estende-lhe o livro, junto com uma pergunta: – O que é crônica? O escritor considera responder com a célebre tirada de Rubem Braga, “se não é aguda, é crônica”, mas se contém, temendo que ela não goste da brincadeira. (...) Responde com aquele jeito de quem falou disso algumas vezes:

REY, Marcos. O coração roubado. In: MACEDO, Adriano (org.). Retratos da escola. Belo Horizonte: Autêntica. 2012. p. 69-71. 200

e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.

– É um texto de escritor, necessariamente de escritor, não de jornalista, que a imprensa usa para pôr um pouco de lirismo, de leveza e de emoção no meio daquelas páginas e páginas de dados objetivos, informações, gráficos, notícias... É coisa efêmera: jornal dura um dia, revista dura uma semana. Já se prepara para escrever a dedicatória e ela volta a perguntar: – E o livro de crônicas, então? Ele olha a fila, constrangido. Escreve algo brevíssimo, assina e devolve o livro à leitora (...). Ela recebe o volume e não se vai, esperando a resposta. Ele abrevia, irônico: – É a crônica tentando escapar da reciclagem do papel. Ela fica com ambição de estante, pretensiosa, quer status literário. Ou então pretensioso é o autor, que acha que ela merece ser salva e promovida. (...) – Mais respeito. A crônica é a nossa última reserva de estilo.

146.  (UFPE) O dinamismo do mundo atual, os novos recursos de comunicação, a diversidade de atividades do dia a dia exigem do homem contemporâneo maior rapidez em suas ações e corroboram com o surgimento de novos textos literários, nos quais o poder de síntese reflete a nova realidade. Neles se diz muito com pouquíssimas palavras, tal qual ocorre no texto que segue. Leia-o e analise as proposições a ele referentes. Porém igualmente É uma santa. Diziam os vizinhos. E D. Eulália apanhando. É um anjo. Diziam os parentes. E D. Eulália sangrando. Porém igualmente se surpreenderam na noite em que, mais bêbado que de costume, o marido depois de surrá-la, jogou-a pela janela, e D. Eulália rompeu em asas o voo de sua trajetória.

Veja São Paulo, São Paulo, 25 jul. 2012, p. 170.

Vocabulário efêmero: de pouca duração; passageiro, transitório.

Marina Colasanti – Um espinho de marfim e outras histórias

A certa altura do diálogo, a leitora pergunta ao escritor que dava autógrafos:

( ) “Porém igualmente” são palavras usadas pela autora para expressar a surpresa dos vizinhos e parentes que acompanharam a trajetória da protagonista, até que ela alçou voo e conseguiu libertar-se da dominação e do poder do marido. ( ) No texto, há subliminarmente uma crítica aos parentes e vizinhos de D. Eulália, os quais acompanhavam seu sofrimento e nada faziam em seu favor, embora a considerassem, metaforicamente, uma santa e um anjo. ( ) O paralelismo dos dois primeiros parágrafos e as metáforas do último dão à narrativa ritmo e melodia próprios da poesia, o que nos permite reconhecer no texto um tom poético. ( ) A liberdade de D. Eulália é consequência da última violência do marido, personagem antagonista, que lhe finalizou a trajetória de opressão. ( ) Com densidade, síntese e linguagem poética, a narrativa de Marina Colasanti constitui um relato de um só incidente. Por ser extremamente breve, recebe a designação de miniconto, gênero que se ajusta à vida contemporânea.

“– E o livro de crônicas, então?” a) A pergunta da leitora incide sobre uma das características do gênero crônica mencionadas pelo escritor. Explique que característica é esta. b) Explique o funcionamento da palavra então na pergunta em questão, considerando o sentido que esta pergunta expressa. 145.  (ENEM) A diva Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, tou podre. Outro dia a gente vamos. Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho. TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais alto, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso. Perfeita.

Texto para a próxima questão Bocage no futebol

PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.

Quando eu tinha meus cinco, meus seis anos, morava, ao lado de minha casa, um garoto que era tido e havido como o anticristo da rua. Sua idade regulava com a minha. E justiça se lhe faça: — não havia palavrão que ele não praticasse. Eu, na minha candura pânica, vivia cercado de conselhos, por todos os lados: — “Não brinca com Fulano, que ele diz nome feio!”. E o Fulano assumia, aos meus olhos, as proporções feéricas de um Drácula, de um Nero de fita de cinema. Mas o tempo passou. E acabei descobrindo que, afinal de contas, o anjo de boca suja estava com a razão. Sim, amigos: — cada nome feio que a vida

Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva: a) narra um fato real vivido por Maria José. b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético. c) relata uma experiência teatral profissional. d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.

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extrai de nós é um estímulo vital irresistível. Por exemplo: — os nautas camonianos. Sem uma sólida, potente e jucunda pornografia, um Vasco da Gama, um Colombo, um Pedro Álvares Cabral não teriam sido almirantes nem de barca da Cantareira. O que os virilizava era o bom, o cálido, o inefável palavrão. Mas, se nas relações humanas em geral, o nome feio produz esse impacto criador e libertário, que dizer do futebol? Eis a verdade: — retire-se a pornografia do futebol e nenhum jogo será possível. Como jogar ou como torcer se não podemos xingar ninguém? O craque ou o torcedor é um Bocage. Não o Bocage fidedigno, que nunca existiu. Para mim, o verdadeiro Bocage é o falso, isto é, o Bocage de anedota. Pois bem: — está para nascer um jogador ou um torcedor que não seja bocagiano. O craque brasileiro não sabe ganhar partidas sem o incentivo constante dos rijos e imortais palavrões da língua. Nós, de longe, vemos os 22 homens correndo em campo, matando-se, agonizando, rilhando os dentes. Parecem dopados e realmente o estão: — o chamado nome feio é o seu excitante eficaz, o seu afrodisíaco insuperável.

grandes jornais, são assinados pelos seus mais renomados colunistas. e) crônica – variedade ou gênero textual bastante livre, ocorrente no Brasil desde o século XIX, cuja proximidade com o cotidiano não impedia de, conforme o caso, explorar outras dimensões de sentido. Texto para a próxima questão Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha, entretanto, o aspecto tranquilo e satisfeito de quem se julga bem com a sua sorte. A casa erguia-se sobre um socalco, uma espécie de degrau, formando a subida para a maior altura de uma pequena colina que lhe corria nos fundos. Em frente, por entre os bambus da cerca, olhava uma planície a morrer nas montanhas que se viam ao longe; um regato de águas paradas e sujas cortava-as paralelamente à testada da casa; mais adiante, o trem passava vincando a planície com a fita clara de sua linha campinada [...]. BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras. p.175.

RODRIGUES, Nélson. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993.

Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou da cobiçada esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe partiu ao encalço, mas já Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada. A tarde de olhos radiosos se fez mais clara para contemplar aquele combate, enquanto os agudos gritos e imprecações em redor animavam os contendores. A uma investida de Cárdenas, o de fera catadura, o couro inquieto quase se foi depositar no arco de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma, de aladas plantas, rompe entre os adversários atônitos, e conduz sua presa até o solerte Julinho, que a transfere ao valoroso Didi, e este por sua vez a comunica ao belicoso Pinga. (...) Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre brasileiros e mexicanos, e a de todos os jogos: à maneira de Homero. Mas o estilo atual é outro, e o sentimento dramático se orna de termos técnicos.

148.  (UEG-GO) Com relação ao tempo narrativo, notase que a utilização do pretérito imperfeito: a) aproxima o material narrado do universo contemporâneo do leitor. b) confere ao texto um caráter dual, que oscila entre o lírico e o metafórico. c) faz com que o tempo da narrativa se distancie, até certo ponto, do tempo do leitor. d) torna o texto mais denso de significação, na medida em que institui lacunas temporais. Texto para a próxima questão Preto e branco Perdera o emprego, 5chegara a passar fome, sem que 6ninguém 2soubesse: por constrangimento, afastara-se da roda 7boêmia escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser o seu mais velho que antes costumava frequentar companheiro de noitadas. De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe 3oferecia um emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. E um belo dia vai seguindo com o chefe pela rua 10México, já distraído de seus passados tropeços, mas tropeçando obstinadamente no inglês com que se entendiam – quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. Era o sambista seu amigo. Ocorreu-lhe desde logo que ao americano 4poderia parecer estranha tal amizade, e mais ainda incompatível com a ética ianque a ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa

ANDRADE, Carlos Drummond de. Quando é dia de futebol. Rio: Record, 2002.

147.  (FGV-RJ) Ambos os textos – o de Nélson Rodrigues e o de Drummond – pertencem à modalidade textual conhecida como: a) colunismo social – variedade jornalística de crítica de costumes, que proliferou na imprensa de todo o Brasil, a partir dos anos de 1950. b) poema em prosa – tipo de texto em que a prosa narrativa, sem apresentar os aspectos formais exteriores do poema (rimas, métrica etc.), submete-se, no entanto, ao rigor construtivo próprio da poesia. c) paródia – uma variedade textual construída com base no paralelismo com outro texto, geralmente com intenção crítica ou jocosa. d) editorial – que consiste, modernamente, nos textos que, ocupando as primeiras páginas dos 202

muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas correspondeu ao cumprimento de seu amigo da maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessava a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. Pensou rapidamente em se esquivar – não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera – acaso jamais chegara sequer a se lembrar que se tratava de um preto? Agora, com o gringo ali a seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se 1aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele. E não era mesmo com ele. Porque antes de 9cumprimentá-lo, talvez ainda sem 8tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano – também seu amigo.

-intencionados e bem falantes. Havia a moscazinha que morava na parede de uma chaminé e voava à toa, desobedecendo às ordens maternas, e tanto voou que afinal caiu no fogo. Esses contos me intrigaram com o [livro] Barão de Macaúbas. Infelizmente um doutor, utilizando bichinhos, impunha-nos a linguagem dos doutores. — Queres tu brincar comigo? O passarinho, no galho, respondia com preceito e moral, e a mosca usava adjetivos colhidos no dicionário. A figura do barão manchava o frontispício do livro, e a gente percebia que era dele o pedantismo atribuído à mosca e ao passarinho. Ridículo um indivíduo hirsuto e grave, doutor e barão, pipilar conselhos, zumbir admoestações. RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1986 (adaptado).

Texto II Dado que a literatura, como a vida, ensina na medida em que atua com toda sua gama, é artificial querer que ela funcione como os manuais de virtude e boa conduta. E a sociedade não pode senão escolher o que em cada momento lhe parece adaptado aos seus fins, enfrentando ainda assim os mais curiosos paradoxos, pois mesmo as obras consideradas indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir. Aliás, essa espécie de inevitável contrabando é um dos meios por que o jovem entra em contato com realidades que se tenciona escamotear-lhe.

SABINO, Fernando. A mulher do vizinho. 7.ed. Rio de Janeiro: Record, 1962. p.163-4.

CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Duas Cidades. São Paulo: Ed. 34, 2002. Adaptado.

149.  (CFTSC) Quanto ao gênero e ao assunto do texto, é correto afirmar que:

Os dois textos, com enfoques diferentes, abordam um mesmo problema, que se refere, simultaneamente, ao campo literário e ao social. Considerandose a relação entre os dois textos, verifica-se que eles têm em comum o fato de que: a) tratam do mesmo tema, embora com opiniões divergentes, expressas no primeiro texto por meio da ficção e, no segundo, por análise sociológica. b) foi usada, em ambos, linguagem de caráter moralista em defesa de uma mesma tese: a literatura, muitas vezes, é nociva à formação do jovem estudante. c) são utilizadas linguagens diferentes nos dois textos, que apresentam um mesmo ponto de vista: a literatura deixa ver o que se pretende esconder. d) a linguagem figurada é predominante em ambos, embora o primeiro seja uma fábula e o segundo, um texto científico. e) o tom humorístico caracteriza a linguagem de ambos os textos, em que se defende o caráter pedagógico da literatura.

a) trata-se de um conto que mostra como alguém, por necessidade, pode agir contra os seus princípios. b) trata-se de uma fábula, cuja moral é a seguinte: “Não devemos julgar os outros por nós mesmos”. c) trata-se de uma crônica, cuja mensagem central é: “Nas horas difíceis, podemos contar com os verdadeiros amigos”. d) trata-se de uma reportagem, cujo assunto é o preconceito de classe social no Brasil. e) trata-se de uma notícia, que relata um caso de discriminação racial. 150.  (ENEM) Texto I Principiei a leitura de má vontade. E logo emperrei na história de um menino vadio que, dirigindo-se à escola, se retardava a conversar com os passarinhos e recebia deles opiniões sisudas e bons conselhos. Em seguida vinham outros irracionais, igualmente bem-

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Português capítulo 5

Exercícios propostos

Texto para a próxima questão O pobre é pop. A periferia é o centro do mundo. E a música popular brasileira nunca mereceu tanto ser chamada assim — embora esteja cada vez mais distante 1de um certo totem conhecido como MPB. A expansão da classe média tem impacto evidente sobre os padrões de consumo no Brasil, inclusive cultural. Mas o protagonismo das classes C, D e E nos novos fluxos de produção e circulação de música não é efeito colateral de um aumento da renda familiar, simplesmente. A periferia (cultural, social ou econômica) do Brasil cansou 2de esperar o seu lugar ao sol. E tomou pra si o direito de dizer e fazer o que quer, do jeito que pode, sabe e gosta. É uma mudança de paradigmas. Um processo cumulativo, iniciado, ainda, nos idos dos anos 90 [do século passado], que se acentua e ganha relevo, sobretudo na última década. Uma força irrefreável, que arde em fogo brando. Ainda que só deixe a sombra da invisibilidade 3(para ocupar espaços de validação pública, como já foi a dita grande mídia) quando o caldo já ferve há tanto, 6que só lhe resta entrar em erupção. Por seus próprios méritos. E, não raro, seus próprios meios. Foi o que se deu, em boa medida, com fenômenos da “periferia do bom gosto” como o sertanejo (no Brasil Central), o axé (na Bahia), o rap (em São Paulo), o funk carioca (no Rio de Janeiro), o pagode (em São Paulo), o forró (no Ceará) e, mais recentemente, o tecnobrega (no Pará). Em comum, uma música de “gosto duvidoso”, 4que geralmente destoa da chamada “linha evolutiva da MPB”. E que, na sua incontinência habitual, se alastra pelo país — com ou sem o suporte das grandes corporações da indústria fonográfica e da mídia. 5É a emergência do pobre-star. Que viceja pelos grotões, nos quatro cantos do país, como sintoma de que as coisas (há tempos...) já não estão mais tão “sob controle”, como se supõe que um dia estiveram, do ponto de vista da agenda estética da elite cultural. O espanto com que o tecnobrega foi recebido no Sudeste, há pouco mais de um ano, como algo “esquisito”, que “brotou do nada”, ilustra bem a crônica da vida na bolha de um mundo globalizado que, em certos segmentos da sociedade brasileira, ainda não voltou o olhar (e a escuta) para além do próprio umbigo.

c) a cultura da periferia ainda tenta hoje transpor barreiras para a sua inserção na vida cultural brasileira. d) os diferentes gêneros musicais cultivados pela periferia vêm, cada vez mais, fazendo frente às demandas políticas do país. e) a aceitação da produção cultural da periferia pelas classes A e B decorre fundamentalmente da redução da desigualdade social. 152.  (UFPE – modificado) Fernando Pessoa, considerado o maior poeta do Modernismo português, produziu uma obra literária esteticamente variada. No Brasil, na mesma década em que morre Pessoa, Carlos Drummond de Andrade avulta como uma das principais expressões literárias nacionais. A produção de ambos apresenta um forte questionamento existencial do homem diante do mundo, como se percebe nos dois textos abaixo. Leia-os e analise as afirmativas apresentadas. Texto I Não sei quem sou, que alma tenho Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros). Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço. Fernando Pessoa

Texto II Verbo ser

VALE, Israel do. Tecnobrega, ditadura da felicidade e a erupção do pobre-star. CULT, São Paulo: Bregantini, n. 183, p. 35, set. 2013.

Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro [nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.

151.  (Uneb) Na ótica do autor: a) o “pobre-star” deve ser visto sob uma perspectiva antropológica. b) a produção cultural da periferia é pouco compreendida por aqueles que a olham de forma convencional. 204

153.  (Unesp) No último período do texto, a discrepância dos possessivos teu e tua (segunda pessoa do singular) com relação ao pronome de tratamento você (terceira pessoa do singular) justifica-se como:

Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser Esquecer.

a) possibilidade permitida pelo novo sistema ortográfico da língua portuguesa. b) um modo de escrever característico da linguagem jornalística. c) emprego perfeitamente correto, segundo a gramática normativa. d) aproveitamento estilístico de um uso do discurso coloquial. e) intenção de agredir com mau discurso os donos da comunicação.

Carlos Drummond de Andrade

( ) O texto de Fernando Pessoa reflete sobre as várias formas que um “eu” pode assumir, gerando diversas identidades. Com ele, podemos compreender melhor o projeto poético do autor português. ( ) No poema de Drummond, o sujeito poético questiona a própria identidade, através de uma reflexão sobre o verbo “ser”, anunciado já no título. Os versos “Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.” demonstram a impossibilidade de se definir a própria identidade de forma absoluta. ( ) Em Pessoa, o sujeito do discurso, após vários questionamentos, chega à conclusão de que os “não-eus” são criações imaginárias de um “eu” verdadeiro. Contrariamente, o poema de Drummond nos faz ver que o “eu” se multiplica em diversos “eus”. ( ) Os dois poetas refletem, cada qual a seu modo, sobre a impossibilidade de o homem se definir, com palavras, de forma única e absoluta. A linguagem não consegue ter o alcance do sujeito em sua complexidade.

Texto para a próxima questão A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base uma passagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional. Curupira Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andante, espírito andejo ou vagabundo, destinava-se a proteger a caça do campo. Era imaginado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um veado branco, com olhos de fogo. Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme coberto de pelos negros por todo o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça do mato. Tristonho e taciturno, anda sempre montado em um porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito para impelir a vara. Quem o encontra adquire logo a certeza de ficar infeliz e de ser malsucedido em tudo que intentar. Dele se originaram as expressões portuguesas caipora e caiporismo, como sinônimo de má sorte, infelicidade, desdita nos negócios. Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajores; à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”. Ambos representam um só mito com diferente configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O Curupira ou Currupira, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em uma infinidade de lendas tanto no norte como no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros dizem que é o Curupira que está batendo nas sapupe-

Texto para a próxima questão A questão toma por base um texto de Millôr Fernandes (1924-2012). Os donos da comunicação Os presidentes, os ditadores e os reis da Espanha que se cuidem porque os donos da comunicação duram muito mais. Os ditadores abrem e fecham a imprensa, os presidentes xingam a TV e os reis da Espanha cassam o rádio, mas, quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda tão por cima. Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e mandam no society que morre se o nome não aparecer nas colunas. Todo mundo fala mal dos donos da comunicação, mas só de longe. E ninguém fala mal deles por escrito porque quem fala mal deles por escrito nunca mais vê seu nome e sua cara nos “veículos” deles. Isso é assim aqui, na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Parece que é a lei. O que também é muito justo porque os donos da comunicação são seres lá em cima. Basta ver o seguinte: nós, pra sabermos umas coisinhas, só sabemos delas pela mídia deles, não é mesmo? Agora vocês já imaginaram o que sabem os donos da comunicação que só deixam sair 10% do que sabem? Pois é; tem gente que faz greve, faz revolução, faz terrorismo, todas essas besteiras. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de comunicação. Aí tua revolução fica xinfrim, teu terrorismo sai em corpo e se você morre vai lá pro fundo do jornal em quatro linhas. Millôr Fernandes. Que país é este? 1978. 205

mas, a ver se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é proteger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a pena de errar tempos imensos pelos bosques, sem poder atinar com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”. Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só mito em regiões e circunstâncias diferentes.

Basta!... Eu sei que a mocidade É o Moisés no Sinai; Das mãos do Eterno recebe As tábuas da lei! marchai! Quem cai na luta com glória, Tomba nos braços da História, No coração do Brasil! Moços, do topo dos Andes, Pirâmides vastas, grandes, Vos contemplam séculos mil!

O Brasil no folclore, 1970.

Castro Alves. O século. Agosto de 1865.

(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística relativa ao nascimento dos deuses e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo. 2.Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso dum povo politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI).

Na(s) questão(ões) a seguir assinale os itens corretos e os itens errados. 156.  (UnB-DF) Castro Alves, poeta da terceira fase do Romantismo brasileiro, há mais de cem anos compôs o poema do qual duas das estrofes finais estão transcritas anteriormente. A partir delas, julgue os itens que se seguem.

154.  (Unesp) Tomando por base as informações do texto, as ações de Anhangá, Caapora e Curupira seriam consideradas, na atualidade:

( ) texto é uma conclamação aos jovens no sentido de que corrijam os erros que vêm sendo cometidos ao longo dos séculos. ( ) Os versos 1 e 2 apresentam construções metafóricas associadas à mocidade. ( ) Percebe-se, nos versos 15, 16 e 17, um sentimento de desesperança na capacidade que os moços têm de mudar os rumos da história do Brasil. ( ) Na história da literatura brasileira contemporânea, a geração VIOLÃO DE RUA, da qual fizeram parte Ferreira Gullar, na poesia, e Geraldo Vandré, na música popular, assumiu uma postura político-literária, no início da década de sessenta, semelhante à de Castro Alves, um século antes.

a) poéticas. b) ecológicas. c) comerciais. d) estéticas. e) esportivas. Texto para a próxima questão Lídio Corró, um sentimental, sente um aperto no peito, ainda há de morrer numa hora dessas, de emoção. Pedro Archanjo mantém-se sério por um momento; distante, grave, quase solene. De repente se transforma e ri, seu riso alto, claro e bom, sua infinita e livre gargalhada: pensa na cara do professor Argolo, na do doutor Fontes, dois luminares, dois sabidórios que da vida nada sabem. São mestiças a nossa face e a vossa face: é mestiça a nossa cultura, MAS a vossa é importada, é merda em pó. Iam morrer de congestão. Seu riso acendeu a aurora e iluminou a terra da Bahia.

Texto para a próxima questão Jardim da pensãozinha burguesa. Gatos espapaçados ao sol. A tiririca sitia os canteiros chatos. O sol acaba de crestar as boninas que murcharam. Os girassóis amarelo! resistem.

AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres. São Paulo, Martins, s/d: p.163.

155.  (UFRJ) Transcreva integralmente o período do texto em que o autor faz uso de um recurso estilístico através do qual a natureza reflete o estado de espírito do personagem.

E as dálias, rechonchudas, plebeias, dominicais. Um gatinho faz pipi. Com gestos de garçom de restaurant-Palace Encobre cuidadosamente a mijadinha. Sai vibrando com elegância a patinha direita: – É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.

Texto para a próxima questão O século

Manuel Bandeira. Libertinagem. In: Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 126 e 127.

E vós, arcas do futuro, Crisálidas do porvir, Quando vosso braço ousado Legislações construir Levantai um templo novo, Porém não que esmague o povo, Mas lhe seja pedestal. Que ao menino dê escola, Ao veterano – uma esmola... A todos – luz e fanal.

157.  (UPE – modificado) Com base no poema anterior, analise as afirmativas a seguir e conclua. ( ) O elemento humano está ausente, mas se pode perceber a prosopopeia logo no primeiro verso. ( ) O poeta está falando de sua vida, pois já morou em pensão. ( ) Morfologicamente, “gatinho” e “pensãozinha” têm em comum o sufixo diminutivo, que os apequena, 206

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta piedade me despido, Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado.

porém, semanticamente, esse sufixo opera em sentido diverso para gato e pensão: para esta, conota o amesquinhamento da vida; para aquele, a espontaneidade graciosa das crianças. ( ) O poeta faz uma abordagem temática das coisas simples e banais que compõem o cotidiano.

Gregório de Matos. A Jesus Cristo Nosso Senhor.

Observação: hei pecado = tenho pecado delinquido = agido de modo errado

158.  (UFPR) Leia o texto a seguir. EURICÃO: Você não está entendendo nada! E como ficaria eu? Você casa com Dodô, Benona com Eudoro, Caroba com Pinhão. Não vê que eu fico só? No meio disso tudo, com quem casaria eu? CAROBA: Com a porca. E, se ela não serve mais, com Santo Antônio! EURICÃO: Estão me ouvindo? É a voz da sabedoria, da justiça popular. Tomem seus destinos, eu quero ficar só. Aqui hei de ficar até tomar uma decisão. Mas agora sei novamente que posso morrer, estou novamente colocado diante da morte e de todos os absurdos, nesta terra a que cheguei como estrangeiro e como estrangeiro vou deixar. Mas minha condição não é pior nem melhor do que a de vocês. Se isso aconteceu comigo pode acontecer com todos, e se aconteceu uma vez pode acontecer a qualquer instante. Um golpe do acaso abriu meus olhos, vocês continuam cegos! Agora vão, quero ficar só!

159.  (Mackenzie-SP) É traço relevante na caracterização do estilo de época a que pertence o texto: a) a progressão temática que constrói forças de tensão entre pecado e salvação. b) a linguagem musical que sugere os enigmas do mundo onírico do poeta. c) os aspectos formais, como métrica, cadência e esquema rímico, que refletem o desequilíbrio emocional do eu lírico. d) a fé incondicional nos desígnios de Deus, única via para o conhecimento verdadeiro e redentor. e) a força argumentativa de uma poesia com marcas exclusivas de ideais antropocêntricos. Texto para as próximas 4 questões As questões a seguir tomam por base um fragmento do livro Comunicação e folclore, de Luiz Beltrão (1918-1986).

SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.

O bumba meu boi

Esse trecho é de O santo e a porca, de Ariano Suassuna, e mostra Euricão quando, já ao final da peça, descobre que todo o dinheiro que guardou em sua porca de madeira não valia mais nada por causa das mudanças de moeda. Sobre o texto, é correto afirmar: 01. Ao falar em “voz da sabedoria” e em “justiça popular”, a personagem reflete uma das referências principais da peça, que une um enredo recorrente na história da literatura ocidental a situações de uma comédia de costumes centrada em valores e figuras da cultura regional. 02. Os tratos e destratos feitos com Santo Antônio são um bom exemplo da praticidade da religiosidade popular, e as negociações com o santo de devoção criam espaço na peça para muito do seu resultado cômico e crítico. 04. Coerentemente com o regionalismo brasileiro, a peça valoriza a transformação e modernização dos costumes; daí o papel de Caroba e seu esforço para modificar a vida das outras personagens. 08. Apesar do tema humorístico, das cenas rápidas, da celeridade dos quiproquós, há, no fundo temático, um conflito entre os bens materiais e os espirituais, encarnado na figura de Euricão. 16. Euricão é uma personagem-tipo da literatura: ele tem uma característica principal, a avareza, e é sobre essa característica que toda sua ação na peça se sustenta.

Entre os autos populares conhecidos e praticados no Brasil – pastoril, fandango, chegança, reisado, congada etc. – aquele em que melhor o povo exprime a sua crítica, aquele que tem maior conteúdo jornalístico é, realmente, o bumba meu boi, ou simplesmente boi. Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do Brasil, o folguedo brasileiro de maior significação estética e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu turno, observou a sua superioridade porque “enquanto os outros autos cristalizaram, imóveis, no elenco de outrora, o bumba meu boi é sempre atual, incluindo soluções modernas, figuras de agora, vocabulário, sensação, percepção contemporânea. Na época da escravidão mostrava os vaqueiros escravos vencendo pela inteligência, astúcia e cinismo. Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram confissões estertóricas. O capitãodo-mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da morte do Boi, e em vez de trazê-los é trazido amarrado, humilhado, tremendo de medo. O valentão mestiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos padres, os padres do interior, vinha arrastada com a violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, metido a entender de

Texto para a próxima questão

207

a) a perseguição aos escravos que fugiram das fazendas. b) a vingança dos escravos contra o capitão-do-mato. c) a morte e a ressurreição do boi. d) o castigo dos valentões, que acabam se mostrando covardes. e) a crítica aos padres e religiosos em geral pela sensualidade.

tudo, o delegado autoritário, valente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoetes, olhada por uma assistência onde estavam muitas vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela virulência do desabafo”. Como algumas outras manifestações folclóricas, o bumba meu boi utiliza uma forma antiga, tradicional; entretanto, fá-la revestir-se de novos aspectos, atualiza o entrecho, recompõe a trama. Daí “o interesse do tipo solidário que desperta nas camadas populares”, como o assinala Édison Carneiro. Interesse que só pode manter-se porque o que no auto se apresenta não reflete apenas situações do passado, “mas porque tem importância para o futuro”. Com efeito, tendo por tema central a morte e a ressurreição do boi, “cerca-se de episódios acessórios, não essenciais, muito desligados da ação principal, que variam de região para região... em cada lugar, novos personagens são enxertados, aparentemente sem outro objetivo senão o de prolongar e variar a brincadeira”. Contudo, dentre esses personagens, os que representam as classes superiores são caricaturados, cobrindose de ridículo, o que torna “o folguedo, em si mesmo, uma reivindicação”. Sílvio Romero recolheu os versos de um bumba meu boi, através dos quais se constata a intenção caricaturesca nos personagens do folguedo. Como o Padre, que recita:

161.  (Unesp) “Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram confissões estertóricas.” Nesta passagem, Luís da Câmara Cascudo, mencionado pelo autor, explica que, em apresentações do bumba meu boi da época da escravidão: a) as pessoas da plateia eram convidadas a participar do bumba meu boi para declamar versinhos ridículos. b) o auto era uma forma de fazer as pessoas presentes confessarem estertoricamente os seus pecados. c) havia uma personagem que usava uma chibata para agredir pessoas da plateia, enquanto apontava seus defeitos. d) todos os presentes participavam do auto, improvisando falas e declamações. e) o bumba meu boi satirizava em seu enredo personagens que apresentavam os mesmos defeitos de pessoas reais.

Não sou padre, não sou nada “Quem me ver estar dançando Não julgue que estou louco; Secular sou como os outros”. Ou como o Capitão-do-Mato que, dando com o negro Fidélis, vai prendê-lo:

162.  (Unesp) Aponte a alternativa que indica, entre os quatro termos relacionados a seguir, apenas os que, no fragmento apresentado, são empregados pelos folcloristas para referir-se ao bumba meu boi. I. Bailado. II. Ritual.

“CAPITÃO – Eu te atiro, negro Eu te amarro, ladrão, Eu te acabo, cão.” Mas, ao contrário, quem vai sobre o Capitão e o amarra é o Fidélis:

III. Brincadeira. IV. Folguedo.

a) I e II. b) II e III.

c) I, II e III. d) I, III e IV. e) II, III e IV.

“CORO – Capitão de campo Veja que o mundo virou Foi ao mato pegar negro Mas o negro lhe amarrou.

163.  (Unesp) “O capitão-do-mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram (...)”

CAPITÃO – Sou valente afamado Como eu não pode haver Qualquer susto que me fazem Logo me ponho a correr”.

Nesta passagem, levando-se em conta o contexto, a função sintática e o significado, verifica-se que fazsono é: a) substantivo. b) adjetivo. c) verbo. d) advérbio. e) interjeição.

Luiz Beltrão. Comunicação e folclore. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1971.

160.  (Unesp) O fragmento apresentado focaliza, por meio da opinião do autor e de outros folcloristas mencionados, o bumba meu boi, auto popular brasileiro bastante conhecido. A leitura do fragmento, como um todo, deixa claro que o núcleo temático do bumba meu boi é sempre:

Texto para a próxima questão

208

E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? Simples, leitor, nada mais simples. O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que se passou é só fantasiar. O certo é que se eu quiser dar uma descrição verídica da tourada de domingo passado, não poderei, porque não a vi. [...]

(...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino. Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos. Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

Joaquim Maria Machado de Assis, História de Quinze Dias. In: Crônicas

165.  (Unesp) O “quiasmo” é um procedimento estilístico que consiste na construção de frases ou de expressões segundo um princípio de retomada que pode ser representado como “abba”, ou seja, os elementos retomados se repetem em ordem inversa, como neste exemplar de Olavo Bilac: “Vinhas fatigada e triste, e triste e fatigado eu vinha”. a) Demonstre que o segundo período do segundo parágrafo do texto de Machado de Assis foi escrito de acordo com o princípio do “quiasmo”; b) Explique o que quer significar o cronista com esse período aparentemente contraditório. 166.  Qual a importância da divisão do estudo da história da literatura de Língua Portuguesa em “estilos de época” (ou escolas literárias)? 167.  Em que século se iniciam os estudos da Literatura de Língua Portuguesa?

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.

164.  (Unifesp) Para reforçar a caracterização do “menino diabo” atribuída ao narrador, é utilizado principalmente o seguinte recurso estilístico:

168.  Descreva as três eras com que se costuma dividir a Literatura de Língua Portuguesa.

a) Amplo uso de metáforas que se reportam aos comportamentos negativos do menino. b) Seleção lexical que emprega muitos vocábulos raros à época, particularmente os adjetivos. c) Recurso frequente ao discurso direto para exemplificar as traquinagens do garoto. d) Utilização recorrente de orações coordenadas sindéticas aditivas. e) Emprego significativo de orações subordinadas adjetivas restritivas.

169.  Em que século se inicia a literatura nacional (do Brasil)? 170.  Qual é a escola literária que não pertence ao período conhecido como Era Romântica? a) Romantismo b) Realismo c) Parnasianismo d) Arcadismo e) Simbolismo

Texto para a próxima questão

171.  (Fuvest-SP) Com relação às estéticas do Barroco, Arcadismo, Trovadorismo, Simbolismo e Romantismo:

Crônica (15.03.1877) Mais dia menos dia, demito-me deste lugar. Um historiador de quinzena, que passa os dias no fundo de um gabinete escuro e solitário, que não vai às touradas, às câmaras, à rua do Ouvidor, um historiador assim é um puro contador de histórias.

a) coloque-as em ordem cronológica. b) indique uma que ocorreu em Portugal e não no Brasil.

209

Texto para a questão 172

Assinale: a) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. b) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. c) se somente a afirmativa II estiver correta. d) se somente a afirmativa III estiver correta. e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

Apolo e as nove Musas, discantando com a dourada lira, me influíam na suave harmonia que faziam, quando tomei a pena, começando: “Ditoso seja o dia e hora, quando tão delicados olhos me feriam! Ditosos os sentidos que sentiam estar-se em seu desejo traspassando”...

175.  (UFRGS-RS) Leia as estrofes abaixo, extraídas do poema O mito de Carlos Drummond de Andrade.

Camões

(...) 01 Mas eu sei quanto me custa 02 manter esse gelo digno, 03 essa indiferença gaia 04 e não gritar: Vem, Fulana!

172.  Nos tercetos desse famoso soneto de Camões, identifica-se o seguinte traço de referência clássica: a) a noção de herói b) a exaltação do belo c) a filosofia d) o racionalismo e) a mitologia

05 Como deixar de invadir 06 sua casa de mil fechos 07 e sua veste arrancando 08 mostrá-la depois ao povo

173.  (PUC-RS) A renovação literária que se verifica no norte da Itália no século XIV, com as obras de Dante Alighieri (1265-1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovani Boccaccio (1313-1375), é considerada um marco para o chamado Renascimento Cultural. Produzindo obras de transição para a cultura renascentista, esses autores não:

09 tal como é ou deve ser: 10 branca, intata, neutra, rara, 11 feita de pedra translúcida, 12 de ausência e ruivos ornatos. (...)

a) glorificavam as conquistas humanas. b) utilizavam uma linguagem popular. c) ironizavam a moral corrente. d) criticavam a cultura medieval. e) ignoravam a temática religiosa.

Assinale com V (Verdadeiro) ou com F (Falso) as afirmações abaixo sobre as estrofes citadas. ( ) As estrofes, de tendência lírica, expressam os impulsos e as contradições do amor, o que constitui uma inovação na tradição da poesia em língua portuguesa. ( ) Ao designar a mulher como Fulana, Drummond afasta-se da tradição clássica, que idealizava a figura feminina; mas, ao compará-la a uma estátua, recupera uma antiga forma de culto e veneração. ( ) No verso 04, a possibilidade do grito e do chamamento a Fulana simboliza o predomínio de um olhar machista e de uma atitude protetora em relação à mulher anônima. ( ) A leitura dos versos citados permite constatar que o poema tematiza o sentimento amoroso e o desejo de posse, através de vários recursos poéticos, como a comparação entre a casa e o corpo da mulher. ( ) As aproximações entre uma mulher real e a sua idealização irônica ficam expressas pela indecisão de mostrá-la ao povo vestida ou despida, o que é confirmado pelo título do poema. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) F – V – F – V – F b) V – V – F – F – V c) F – F – V – V – F d) F – V – V – F – F e) V – F – V – F – V

Texto para a próxima questão Texto Eu queria querer-te amar o amor, Construir-nos 1dulcíssima prisão; Encontrar a mais 2justa adequação: Tudo métrica e rima e nunca dor! 3Mas a vida é real e de viés, E vê só que cilada o amor me armou: Eu te quero e não queres como sou; Não te quero e não queres como és... Ah, Bruta flor do querer... Ah, Bruta flor, bruta flor!

Caetano Veloso

174.  (Mackenzie-SP) O texto exemplifica a relação entre a canção popular brasileira e a tradição portuguesa clássica, na medida em que se vale: I. da regularidade métrica decassilábica, típica da Renascença. II. do jogo de paradoxos na expressão do conflito amoroso. III. da mitologia greco-romana para concretizar o aspecto sublime do amor.

210

Português capítulo 6

Exercícios propostos

176.  (Espcex/Aman) É correto afirmar sobre o Trovadorismo que:

mas não o posso mais e decidi que saibam todos o meu grande amor, a tristeza que tenho, a imensa dor que sofro desde o dia em que vos vi.

a) os poemas são produzidos para ser encenados. b) as cantigas de escárnio e maldizer têm temáticas amorosas. c) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre feminino. d) as cantigas de amigo têm estrutura poética complicada. e) as cantigas de amor são de origem nitidamente popular.

Já que assim é, eu venho-vos rogar que queirais pelo menos consentir que passe a minha vida a vos servir (...) Disponível em: . Adaptado.

Texto para as próximas 2 questões

179.  (IFSP) Observando-se a última estrofe, é possível afirmar que o apaixonado:

No português, encontramos variedades históricas, tais como a representada na cantiga trovadoresca de João Garcia de Guilhade, ilustrada a seguir.

a) se sente inseguro quanto aos próprios sentimentos. b) se sente confiante em conquistar a mulher amada. c) se declara surpreso com o amor que lhe dedica a mulher amada. d) possui o claro objetivo de servir sua amada. e) conclui que a mulher amada não é tão poderosa quanto parecia a princípio.

Non chegou, madre, o meu amigo, e oje est o prazo saido! Ai, madre, moiro d’amor! Non chegou, madre, o meu amado, e oje est o prazo passado! Ai, madre, moiro d’amor!

Textos para as próximas 2 questões

E oje est o prazo saido! Por que mentiu o desmentido? Ai, madre, moiro d’amor!

Cantiga Bailemos nós já todas três, ai amigas, So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas) E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa) Se amigo amar, So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas) Verrá bailar. (verrá = virá)

E oje, est o prazo passado! Por que mentiu o perjurado? Ai, madre, moiro d’amor! 177.  (IFSP) No verso “Ai, madre, moiro d’amor!”, a função sintática do termo madre é a seguinte: a) sujeito. b) objeto direto. c) adjunto adnominal. d) vocativo. e) aposto.

Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs) So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este) E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa) Se amigo amar, So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras) Verrá bailar.

178.  (IFSP) Considerando a terceira estrofe, assinale a alternativa que apresenta uma palavra formada por parassíntese. a) desmentido b) prazo c) saido d) d’amor e) moiro

Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos, (mentr’al = enquanto outras coisas) So aqueste ramo frolido bailemos, E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)

Texto para a próxima questão

Se amigo amar, So aqueste ramo so lo que bailemos Verrá bailar.

Cantiga de amor Afonso Fernandes

Airas Nunes, de Santiago. In: SPINA, Segismundo. Presença da Literatura Portuguesa I. Era Medieval. 2. ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.

Senhora minha, desde que vos vi, lutei para ocultar esta paixão que me tomou inteiro o coração; 211

Confessor medieval

Textos para a próxima questão Texto I

(1960)

Irias à bailia com teu amigo, Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda)

Ao longo do sereno Tejo, suave e brando, Num vale de altas árvores sombrio, Estava o triste Almeno Suspiros espalhando Ao vento, e doces lágrimas ao rio.

Se te dera apenas um anel de vidro Irias com ele por sombra e perigo? Irias à bailia sem teu amigo, Se ele não pudesse ir bailar contigo?

Luís de Camões, Ao longo do sereno.

Texto II

Irias com ele se te houvessem dito Que o amigo que amavas é teu inimigo?

Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas, so aqueste ramo destas auelanas e quen for louçana, como nós, louçanas, se amigo amar, so aqueste ramo destas auelanas uerrá baylar.

Sem a flor no peito, sem saia de sirgo, Irias sem ele, e sem anel de vidro? Irias à bailia, já sem teu amigo, E sem nenhum suspiro?

Aires Nunes. In: Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.

Texto III

Cecília Meireles. Poesias completas de Cecília Meireles. v. 8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

Tão cedo passa tudo quanto passa! morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.

180.  (Unesp) A leitura da cantiga de Airas Nunes e do poema Confessor medieval, de Cecília Meireles, revela que este poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta intencionalmente algumas características da poesia trovadoresca, como o tipo de verso e a construção baseada na repetição e no paralelismo.

Fernando Pessoa, Obra poética.

Texto IV Os privilégios que os Reis Não podem dar, pode Amor, Que faz qualquer amador Livre das humanas leis. mortes e guerras cruéis, Ferro, frio, fogo e neve, Tudo sofre quem o serve.

Releia com atenção os dois textos e, em seguida: a) considerando que o efeito de paralelismo em cada poema se torna possível a partir da retomada, estrofe a estrofe, do mesmo tipo de frase adotado na estrofe inicial (no poema de Airas Nunes, por exemplo, a retomada da frase imperativa), aponte o tipo de frase que Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe para possibilitar tal efeito. b) estabeleça as identidades que há entre o terceiro verso da cantiga de Airas Nunes e o terceiro verso do poema de Cecília Meireles no que diz respeito ao número de sílabas e às posições dos acentos.

Luís de Camões, Obra completa.

Texto V As minhas grandes saudades São do que nunca enlacei. Ai, como eu tenho saudades Dos sonhos que não sonhei!...

181.  (Unesp) As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu poemático representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigo”, em que o eu poemático representa a figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã etc.). De posse desta informação:

Mário de Sá Carneiro, Poesias.

182.  (Unifesp) A alternativa que indica o texto que faz parte da poesia medieval da fase trovadoresca é: a) I. b) II.

c) III. d) IV.

e) V.

183.  (Mackenzie-SP) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é incorreto afirmar que:

a) classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta. b) identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu poemático do poema de Cecília Meireles representa.

a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, pelo feudalismo e por valores altamente moralistas. b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais baixos da sociedade.

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c) pode ser dividida em lírica e satírica. d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal. e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, expressam o eu lírico feminino.

Texto para a questão 186 Dizia la bem talhada: “Agora viss’eu, penada, ond’eu amor hei”.

184.  (Mackenzie-SP) Assinale a alternativa incorreta a respeito das cantigas de amor.

A bem talhada dizia: “Penada, viss’eu um dia ond’eu amor hei.

a) O ambiente é rural ou familiar. b) O trovador assume o eu lírico masculino: é o homem quem fala. c) Têm origem provençal. d) Expressam a “coita” amorosa do trovador, por amar uma dama inacessível. e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a uma categoria social mais elevada que a do trovador.

Ca, se o viss’eu, penada, nom seria tam coitada ond’eu amor hei. Penada, se o eu visse, nom há mal que eu sentisse ond’eu amor hei.

Texto para a próxima questão

Quem lh’hoje por mi rogasse que nom tardass’e chegasse ond’eu amor hei.

Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

Quem lh’hoje por mi dissesse que nom tardass’e veesse ond’eu amor hei. Vocabulário Bem talhada: bem feita; elegante Penada: angustiada ond’eu amor hei: aquele que eu amo que nom tardass’: que não demorasse vesse: visse (verbo ver)

De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente

186.  Complete com V (Verdadeiro) e F (Falso) as lacunas relacionadas às afirmações sobre a cantiga acima e assinale a alternativa correta.

Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.

( ) Trata-se de uma cantiga medieval composta em latim vulgar. ( ) Do ponto de vista métrico, apresenta traços da poesia tradicional e folclórica. ( ) Apresenta paralelismo, refrão: trata-se de uma cantiga de amigo. ( ) Apresenta a “coita” amorosa: trata-se de uma cantiga de amor. a) V – V– F – V b) V – V – V – F c) F – F – V – F d) F – V – V – F e) V – F – V – F

Vinicius de Moraes

185.  (Faap-SP) Releia com atenção a última estrofe: “Fez-se de amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente”. Tomemos a palavra AMIGO. Todos conhecem o sentido com que esta forma linguística é usualmente empregada no falar atual. Contudo, na Idade Média, como se observa nas cantigas medievais, a palavra AMIGO significou:

Textos para as questões 187 e 188. Fragmento I

a) colega. b) companheiro. c) namorado. d) simpático. e) acolhedor.

Senhor, que mal vos nembrades¹ de quanto mal por vós levey e levo, ben o creades, que par Deus poder non ey² de tan grave coyta sofrer! Mays Deus vos leyxe part’aver³ da muy gran coyta que mi dades.

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Vocabulário 1- nem vos lembrais 2- por Deus, já não poderei 3- Deus vos faça saber

Os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assí. Pero non devia a perder homen, que ja o sén non há4, de con sandece dizer; e con sandece digu’eu ja: Os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assí.

Fragmento II — Vedes, senhor, quero-vos eu tal ben qual mayor posso no meu coraçon, e non diredes vós por ende non¹. — Non, amigo, mays direy m’outre ren²: Non me queredes vós a mi melhor do que vos eu quer’³, amigu’e senhor.

Vocabulário 1 – louco 2– Porém, quem quiser, entenderá esses olhos quais são 3 – Mas eu, quer morra, quer não 4 – que já o senso não possui

Vocabulário 1- E não podereis dizer não 2- outra coisa ouvi, porém 3- não podeis me querer mais e melhor do que eu a vós

189.  As cantigas surgiram em Portugal num momento em que a Europa vivia a transição da Alta Idade Média (séculos V a X) para a Baixa Idade Média (séculos XI a XV). A língua falada na região que se conhece hoje como Portugal, evidenciada no texto em análise é o:

187.  Observe as análises acerca das cantigas lidas e assinale a alternativa correta. I. Verifica-se dois usos da palavra “senhor” nos fragmentos. Em I, significa Deus; em II, significa Senhora. II. Em ambos os textos, verifica-se o sofrimento amoroso como tema principal e razão da execução da cantiga. III. No texto I, o interlocutor não responde ao eu lírico e no texto II há a resposta do interlocutor na cantiga.

a) latim vulgar. b) castelhano. c) português provençal. d) moçárabe-português. e) galego-portugês. 190.  Observe as afirmações feitas acerca do texto em análise e assinale a alternativa correta. I. “andar assi”, presente no último verso da primeira estrofe, refere-se à palavra “sandeu” e a razão pela qual o eu lírico ficou “sandeu” são os olhos que viu. II. A cantiga é composta de quatro estrofes com seis versos de oito sílabas poéticas e apresenta refrão. III. A julgar pelo tema e pelos sentimentos expressados, trata-se de uma cantiga de amor trovadoresca.

a) Todas estão corretas. b) Somente I está correta. c) Está correto o que se afirma apenas em I e II. d) Está correto o que se afirma apenas em I e III. e) Somente III está correta. 188.  Assinale a alternativa em que se faz uma afirmativa correta acerca das cantigas lidas. a) Ambas pertencem ao mesmo gênero poético: o gênero lírico. b) Ambas possuem a mesma quantidade de versos na estrofe. c) Ambas possuem o mesmo número de sílabas poéticas. d) Ambas possuem o mesmo esquema de rimas. e) Ambas apresentam críticas a comportamentos sociais.

a) Apenas I está correta. b) Apenas II está correta. c) Estão corretas apenas I e II. d) Estão corretas apenas II e III. e) Estão corretas I, II e III. Leia os seguintes textos para a questão 191, ambos pertencentes ao trovadorismo português.

Texto para as questões 189 e 190

I

Amigos, non poss’eu negar a gran coita que d’amor hei, ca me vejo sandeu¹ andar, e con sandece o direi: Os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assí.

Senhor, cuytad’ é o meu coraçon Por vós e moyro, se Deus mi person, Porque sabede que, des que enton Vos vi, des y Nunca coyta perdi. II

Pero quen-quer x’entenderá aquestes olhos quaes son²; e dest’alguén se queixará; mais eu, ja quer moira³, quer non:

Que coita tamanha ei a sofrer Por amar amigu’ e não o veer! E pousarei sol o avelãal.

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191.  Assinale a alternativa correta.

Mas você não vem Nem leva com você Toda essa saudade Nem sei mais de mim Aonde vou assim, Fugindo da verdade? Abandonada por você Apaixonada por você Sem outro porto ou outro cais Sobrevivendo aos temporais Essa paixão ainda me guia...

a) O texto I é uma cantiga de amor e o texto II é uma cantiga de amigo. b) O texto II é uma cantiga de amor é o texto I é uma cantiga de amigo. c) Ambos são cantigas de amigo. d) Ambos são cantigas de amor. e) Ambos são cantigas de gesta. Texto para a questão 192 Senhor fremosa, des aquel dia em que vos vi primeiro, des ento nunca dormi com’ante dormia nen ar fui led’e vedes porque non[1]: cuidand’em vós e non en outra ren[2] e desejando sempr’o vosso bem.

Fafá de Belém

Texto II Vi eu, madr’, andar as barcas eno mar: e moiro-me d’amor. Fui eu, madre, veer as barcas eno ler: e moiro-me d’amor. As barcas eno mar: e foi-las aguardar: e moiro-me d’amor. As barcas eno ler e foi-las atender: e moiro-me d’amor. E foi-las aguardar e non o pud’achar: e moiro-me d’amor. E foi-las atender e non o pude veer: e moiro-me d’amor.

Vocabulário 1 – nem fui feliz, vede por que não. 2 – eu só penso em você e em nada além. O texto, escrito em português arcaico, traz as marcas do gênero lírico trovadoresco. 192.  Explique como é conhecido este tipo de texto, dando suas principais características (eu lírico, língua, regras seguidas e o tema abordado). O texto a seguir é letra de canção do álbum Pássaro sonhador, de autoria de Fafá de Belém, cantora e atriz brasileira. Leia-o e compare-o à seguinte cantiga medieval para responder às questões 193 a 195. Texto I

Nuno Fernandes Torneol

Abandonada Abandonada por você Tenho tentado te esquecer No fim da tarde uma paixão No fim da noite a solidão No fim de tudo a ilusão... Apaixonada por você Tenho tentado não sofrer Lendo antigas poesias Rindo em novas companhias E chorando por você... Mas você não vem Nem leva com você Toda essa saudade Nem sei mais de mim Onde vou assim, Fugindo da verdade? Abandonada por você Apaixonada por você Sem outro porto ou outro cais Sobrevivendo aos temporais Essa paixão ainda me guia... Abandonada por você Apaixonada por você Eu vejo o vento te levar Mas tenho estrelas pra sonhar E ainda te espero todo dia...

193.  O texto I é a letra de canção do álbum Pássaro sonhador, de autoria de Fafá de Belém, cantora e atriz brasileira. Observe as seguintes afirmações sobre ele e assinale a alternativa correta. I. Trata-se de uma manifestação típica do gênero lírico textual. II. Do ponto de vista temático, pode ser comparada às cantigas de amigo medievais. III. Apresenta um recurso estilístico típico da poesia amorosa trovadoresca, enfatizando uma ideia central e repetindo-o em forma de estribilho. a) Todas as afirmativas estão corretas. b) Todas as afirmativas estão erradas. c) Está correto o que se afirma em I e II. d) Está correto o que se afirma em I e III. e) Está correto o que se afirma em II e III. 194.  A comparação dos dois textos permite afirmar: a) Ambos trabalham com imagens de mar e navegação, mas com uma diferença significativa: o primeiro usa o mar como metáfora, enquanto o segundo trata o mar como uma referência objetiva a uma realidade vivida pelo sujeito lírico.

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b) Os dois textos podem ser considerados contemporâneos já que apresentam as mesmas características estilísticas. c) As escolhas sonoras, métrica, rimas e refrão aproximam os dois textos, já que ambos se constroem da mesma forma. d) Ambos os textos se dirigem a um mesmo tipo de interlocutor: o amado que abandonou uma mulher (e enunciante do texto) e que está distante. e) A afirmação da penúltima estrofe do texto I (“Aonde vou assim,/Fugindo da verdade?”) sintetiza o problema dos dois textos: as mentiras do amigo que deixam o sujeito lírico desconsolado.

Vocabulário 1- em troca de; 2- como se diz; 3- dinheiro suficiente; 4-sairei; 5- antes me algo; 6-pois; 7-hei, há; 8- de graça; 9- como se estivesse; 10- vestido e calçado; 11- novamente; 12- na; 13- vossa casa; 14- tendes; 15- nenhum; 16- graças; 17- salvo . 196.  Assinale a alternativa incorreta. a) Trata-se de uma cantiga de maldizer, que se distingue das de escárnio por apresentar sátira direta. b) O eu lírico da canção é um homem, que se dirige a uma mulher, Maria Garcia, revelando seu sofrimento amoroso segundo as regras do amor cortês. c) Pertence ao gênero satírico das cantigas medievais, em cujos temas há críticas que se referem a comportamentos políticos, sexuais, a nobres traidores, a compositores incapazes, a rivais amorosos, a mulheres de hábitos feios ou imorais, a pessoas, profissionais ou proprietários pretensiosos. d) A crítica, nesta canção, é contundente e clara, usa o baixo calão (palavrão) e dá nome à pessoa criticada. e) Pertence ao gênero medieval de importância histórica bastante razoável, pelo registro social que é feito.

195.  Assinale a alternativa que contém a explicação correta da situação do poema II. a) A moça procura o namorado que deveria ter voltado nas barcas e se decepciona porque não o vê. b) A moça lamenta porque o namorado mentiu a respeito da sua volta nas barcas. c) A moça se lamenta para a mãe que foi procurar seu amigo nas barcas e não o achou. d) A moça se lamenta para o amigo que não consegue conversar com sua mãe. e) A moça se lamenta com o mar que seu amigo mentiu sobre a volta marcada. Observe o texto que segue para responder à questão 196.

Leia o texto a seguir, o qual é a letra de um funk escrito pelo grupo Os caçadores e responda às questões de 197 a 200.

Ben me cuidei eu, Maria Garcia, en outro dia , quando vos fodi, que me non partiss’eu de vós assi como me parti já, mão vazia, vel (1) por serviço muito que vos fiz; que me non deste , como x’omen diz (2), sequer um soldo que ceass’(3) um dia .

Dona Gigi E aí, Big Mix? Mulher feia, tudo bem, né? Agora: feia, fedorenta e mentirosa? Aí não, neguinho! Aí eu vou ter que zoar!

Mais detsa seerei (4) eu escarmentado de nunca foder já outra tal molher, se m’ant’algo (5) na mão non poser, ca (6) non ei (7) porque foda endoado (8); sabedes como : ide-o fazer con quen teverdes (9) vistid’e (10) calçado. Ca me non vistides nem me clçades nem ar (1) sel’eu eno ( 12 ) vosso casal (13 ), nen avedes (14) sobre min non pagades; ante mui ben e mais vos en direi: nulho (15) medo , grad’a (16) Deus , e a el-Rei, non ei de força que me vós façades.

“Eu sou a Dona Gigi. Esse aqui é o meu esposo” “Esse aí é o seu esposo?” “É sim!” Se me vê agarrado com ela Separa que é briga, ‘tá ligado!? Ela quer um carinho gostoso: Um bico, dois soco e três cruzados! ‘tá com pena leva ela pra casa Porque nem de graça eu quero essa mulher! Caçadores estão na pista pra dizer como ela é...

E , mia dona , quen pregunta non erra; e vós , por Deus , mandade preguntar polos naturaes deste logar se foderan nunca en paz nen en guerra, ergo (17) se foi por alg’ou por amor. Id’adubar vossa prol , ai , senhor, c’avedes , grad’a Deus , renda na terra.

Caolha, nariz de tomada, sem bunda, perneta, Corpo de minhoca, banguela, orelhuda, tem unha encravada, Com peito caído e um caroço nas costas... Ih gente! Capina, despenca, Cai fora, vai embora, Se não vai dançar, Chamei dois guerreiros,

Afondo Eanes do Coton

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202.  As cantigas medievais são classificadas segundo o gênero. Explique a que gênero pertence a cantiga transcrita explicando detalhadamente o seu conteúdo.

Bispo Macedo, com Padre Quevedo pra te exorcizar... Oi, vaza! Fede mais que um urubu, Canhão! Vou falar bem curto e grosso contigo, hein... Já falei pra vazar! Coisa igual nunca se viu... Oh vai pra... Puxa! Tu é feia!

Texto para as questões 203 a 205 A dentadura de Teresa Vamos tomar cerveja. Vamos tomar cerveja. Tomar cerveja, tem razão, Tem a inauguração da dentadura de Teresa.

197.  O funk carioca é um estilo musical bastante controverso e criticado por intelectuais e por parte da população, geralmente por ter pouca criatividade lírica e instrumental e por fazer, geralmente por meio de uma linguagem obscena e vulgar, apologia ao crime, ao sexo e às drogas. Os elementos dessa descrição se encaixam na canção transcrita? Justifique com uma resposta completa.

Teresa há muito tempo não comia. Teresa dava pena, dava dó. Teresa não comprava, nem vendia. Não chorava, nem sorria, Mas agora tá melhor. Teresa agora está muito feliz. Teresa está contente, ora veja: Quem quiser ver como é boa a dentadura Leve coco e rapadura lá pra casa de Teresa.

198.  Ao retratar musicalmente um ambiente desconhecido da realidade brasileira, as favelas do Rio de Janeiro, o funk faz uso de uma variante linguística adequada a esta realidade. Explique, apoiando-se em passagens da canção.

Falcão Marcondes Falcão Maia, mais conhecido como Falcão, é um cantor, compositor, apresentador do estilo brega muito conhecido na atualidade por sua irreverência, sarcasmo e comicidade.

199.  O eu lírico da canção parece empenhado em fazer uma “homenagem” a Dona Gigi, por meio de uma canção. a) Explique o que o levou a fazer essa homenagem. b) Destaque do texto um exemplo de ironia. Explique-a.

sar•cas•mo (grego sarkasmós, -ou) substantivo masculino 1. Ironia amarga e dura, por vezes considerada insultuosa. 2. Escárnio

200.  As cantigas trovadorescas também apresentam, em certas composições, letras menos presas a modelos e convenções. Explique que gênero medieval se aproxima do funk anteriormente transcrito, concluindo sobre a importância desse estilo como registro social.

“sarcasmo”. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em: . Acesso em: consultado em 10 abr. 2014.

Texto para as questões 201 e 202

203.  Na canção anterior, o sujeito lírico parece convidar as pessoas para uma comemoração.

A ũa velha quisera trobar quand’em Toledo fiquei desta vez; e veo-me Orraca López rogar e disso-m’assi: — Por Deus que vos fez, nom trobedes a nulha velh’aqui ca cuidarám que trobades a mim.

a) Por que podemos afirmar que há certo sarcasmo em seu convite? b) Que argumentação o sujeito lírico apresenta para comprovar que a nova aquisição de Teresa é de qualidade?

Vocabulário ũa – uma veo-me – veio-me roga – pedir disso-‘massi – e me disse a ssim nulha – nenhuma cuidarám – pensarão

204.  A exemplo do que faz o músico Falcão atualmente, na Idade Média havia um gênero poético que retratava de modo irônico os indivíduos e os fatos da época de modo a provocar o riso dos ouvintes. Qual era ele? 205.  Como a música se classificaria se fosse uma cantiga medieval? Em que idioma estaria escrita?

201.  O texto anterior transcrito é exemplo de uma das primeiras manifestações literárias em língua portuguesa. É possível reconhecermos uma referência ao nome da primeira escola literária em uma palavra encontrada na cantiga. Explique que palavra é essa, o que ela significa e que referência ela faz à escola literária a que pertence a cantiga.

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Gabarito

121.  B 122.  a) Demonstra a hibridização dos gêneros dramático e lírico. b) Espécie de lagarto que, quando é cortado em dois, três, mil pedaços, facilmente se refaz. Então, metaforiza que as ideias de Calabar não morreram, pelo contrário, multiplicaram-se. c) “Seu, seus, suas”, a Calabar. “Tua, teu”, ao leitor/espectador. Aproxima Calabar dos ideais do leitor/espectador, visando à sua sensibilização ou à adesão a seus ideais. 123.  A 124.  A 125.  B 126.  B 127.  C 128.  52 129.  a) Os pronomes “ele” e “eles” referem-se, respectivamente, ao poeta e aos leitores do poema, “os que leem”. b) A dor para o poeta é, paradoxalmente, fingida e sentida (“que chega a fingir que é dor” / “A dor que deveras sente”). Já os leitores concebem outras dores ao ler o texto, eles têm experiência inusitada, ampliam os horizontes ao fruir o texto. 130.  a) Ambos fazem crítica à realidade do país: a exaltação do estrangeirismo em detrimento do nacionalismo. b) Em “exaltar” e “abater”, temse a antítese. c) Pobre teRRa de BRuzundanga – (variante brasileira) de “burundanga” – É a aliteração. 131.  a) Dramático – teatro e Épico – romance b) Imitação, pelos escritores portugueses, dos escritores franceses. Artificialismo na criação literária. 132.  A dissolução revela-se no fato de haver, num poema que pertence ao gênero lírico, a mescla de elementos de diferentes níveis: no que diz respeito ao gênero literário, está presente o épico; no

que se refere à tipologia textual, há elementos da narrativa, para a qual também colabora a descrição; no que tange ao gênero textual, sobressai a configuração de um texto telegráfico. 133.  A 134.  D 135.  D 136.  C 137.  A 138.  C 139.  D 140.  D 141.  D 142.  A 143.  C 144.  a) Ivan Ângelo definiu o gênero crônica como texto que explora a função poética para imprimir emotividade ao relato e que, por ser normalmente publicado em jornais e revistas, tem caráter transitório, passageiro. A pergunta da leitora incide sobre esta última característica, a efemeridade (“É coisa efêmera: jornal dura um dia, revista dura uma semana”). b) A palavra “então” que encerra a pergunta da leitora funciona como contestação ao que havia sido explicado anteriormente, pois o fato de os livros terem existência duradoura contrariava uma das características citadas pelo autor. 145.  B 146.  V – V – V – V – V 147.  E 148.  C 149.  A 150.  C 151.  B 152.  V – V – F – V 153.  D 154.  B 155.  Seu riso acendeu a aurora e iluminou a terra da Bahia. 156.  V – V – F – V 157.  F – F – V – V 158.  27 (01 + 02 + 08 + 16) 159.  A 160.  C 161.  E 162.  D 163.  A 164.  D 165.  a) Os elementos que formam o “quiasmo”, no período em questão, 218

são os que se encontram destacados: “Um CONTADOR DE HISTÓRIAS é justamente o contrário de HISTORIADOR, não sendo um HISTORIADOR, afinal de contas, mais do que um CONTADOR DE HISTÓRIAS”. Logo, os elementos podem ser assim esquematizados: (a) “contador de histórias”, (b) “historiador”, (b) “historiador” e (a) “contador de histórias”. b) No trecho de Machado de Assis, o “contador de histórias” relata o que não viu, ou seja, o que ele faz “é só fantasiar”. O historiador, embora também conte histórias, só as conta se forem verídicas, como seria a descrição da “tourada de domingo passado”, caso fosse feita por quem a tivesse visto. 166.  A divisão ajuda a compreendemos as relações entre um estilo literário e o momento histórico em que está inserido, muito embora possa existir certo distanciamento entre um e outro. 167.  Os primeiros manuscritos de que se tem registro em galego-português datam do século XII d.C. 168.  Costuma-se dividir a Literatura de Língua Portuguesa em três espaços de tempo: Era Medieval, Era Clássica e Era Romântica ou Moderna. 169.  A Era Nacional da literatura de Língua Portuguesa se inicia no século XVI, com o Quinhentismo. 170.  D 171.  a) A ordem cronológica das escolas em questão é: Trovadorismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo e Simbolismo. b) Trovadorismo é uma tendência exclusiva de Portugal, visto que ocorre durante a Idade Média, período em que o Brasil ainda não havia sido alcançado pela cultura europeia. 172.  E 173.  E 174.  A 175.  A 176.  C 177.  D 178.  A 179.  D

180.  a) Cecília Meireles retomou, de estrofe a estrofe, a oração subordinada adverbial condicional. Essas orações aparecem no 2º verso da 1a estrofe e, de corpo inteiro, na 2a e na 3a estrofe. Também aparece na penúltima estrofe, numa estrutura mais simples, em que a condição é veiculada por meio da preposição “sem”. b) Com relação à metrificação, os versos indicados nos dois textos são idênticos, ou seja, são hendecassílabos, com acentos nas quintas e nas décimas primeiras sílabas. 181.  a) A cantiga pode ser classificada como um tipo de “cantiga de amigo” conhecido como “Bailia ou Bailada das Avelaneiras”. As características que evidenciam essa classificação são: presença do eu lírico feminino, insinuação de sensualidade, paralelismo e refrão. b) O eu poemático do texto pode ser representado pela mãe ou por uma amiga da moça, interpelando-a com relação ao namorado. O enunciado ajuda na resolução do problema e faz com que o título colabore na identificação, pois, por meio dele, pode-se perceber no eu poemático a figura de um confidente ou de um religioso que auxilia a moça no que diz respeito ao seu envolvimento amoroso, mostrando a ela os perigos do amor. 182.  B 183.  B 184.  A 185.  C 186.  D 187.  E 188.  A 189.  E 190.  E

191.  A 192.  O texto é conhecido como cantiga de amor. Apresenta eu lírico masculino, linguagem trabalhada, não contém paralelismos nem refrão. Seu tema, o sofrimento amoroso, é trabalhado com obediência às regras do amor cortês. 193.  C 194.  A 195.  C 196.  B 197.  A canção em questão não se encaixa em grande parte das características descritas no enunciado. Embora apresente certa vulgaridade (bunda, orelhuda, peito caído) e violência (um bico, dois socos e três cruzados), faz isso com humor e muita criatividade. 198.  Para realizar a canção, o grupo utiliza a variante linguística popular, que não se preocupa com regras gramaticais – a canção contém diversos problemas de concordância (como em “tu é feia), mistura pessoas do discurso (“tu” e “você”), além de utilizar expressões simples e cotidianas, como gírias (já falei pra vazar e “tá ligado”). Embora desobedeça às normas gramaticais, está perfeitamente adequada ao cenário e ao discurso em que se encontra. 199.  a) Inicialmente, a “homenagem” decorre da ideia de que Gigi é fedorenta e mentirosa. Segundo o cantor, esses atributos associados à feiura são imperdoáveis. b) A ironia consiste no fato de que, em uma homenagem, destacam-se as qualidades de um indivíduo, e o que a voz da canção apresenta de Gigi são somente seus defeitos. Além do mais, frequentemente premia-se o homenageado,

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ao contrário do que acontece na canção, que sugere que a mulher apanhe e seja afastada do sujeito lírico. 200.  O funk transcrito se aproxima das cantigas do gênero satírico, especialmente as cantigas de maldizer, que também fazem uma crítica direta, expõem o nome da pessoa e utilizam-se de linguagem chula. 201.  Trata-se da palavra “trobar” ou “trovar”, que se refere a cantar em rimas. É ela que dá nome ao estilo de época conhecido como trovadorismo. 202.  A cantiga em análise pertence ao gênero satírico, pois tem como propósito criticar e satirizar costumes e atitudes. Na canção, o alvo é Orraca López, que supostamente teria pedido ao trovador que não cantasse sobre uma velha em Toledo, alegando que pensariam que a canção era sua. 203.  a) Porque a voz da canção convida as pessoas para uma comemoração no mínimo inusitada, que é a inauguração da dentadura de uma mulher. A canção supõe que Teresa estava havia muito tempo sem a peça. b) O sujeito lírico instiga os convidados a levar comidas duras, como coco e rapadura, para comprovar a qualidade da dentadura de Teresa. 204.  Trata-se das cantigas do gênero satírico. 205.  Se fosse uma cantiga medieval, seria uma cantiga de maldizer, por mencionar o nome do alvo (muito embora a sutileza do convite pudesse permitir interpretá-la como contendo traços da cantiga de escárnio). Se fosse escrita na Idade Média, estaria em galego-português.

Anotações

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