CONTROLE QUÍMICO DO BICUDO DO ALGODOEIRO Ricardo Barros1, Rodrigo Nogueira2, Miguel F. Soria3, Paulo E. Degrande4. (1) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Departamento de Ciências Agrárias (DCA). Dourados, MS. (2) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Departamento de Ciências Agrárias (DCA). Dourados, MS.(3) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Departamento de Ciências Agrárias (DCA). Dourados, MS. (4) Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Departamento de Ciências Agrárias (DCA). Rodovia Dourados-Itahum, km 12. Caixa Postal 533. Bairro Aeroporto. 79804-970. Dourados, MS. e-mail
[email protected] RESUMO Foi conduzido um experimento, a campo, em Dourados, MS, para avaliar a eficiência de inseticidas no controle do bicudo. Os tratamentos foram: Thiodan 350 CE (2,0 l/ha); Malathion 1000 CE (1,0 l/ha); Malathion 1000 CE (1,5 l/ha); Bulldock 125 SC (0,08 l/ha); Nexide 150 CS (0,1 l/ha) e Testemunha. Apesar do experimento ter sido instalado sob alta infestação média inicial (27,67% de botões florais atacados), todos os inseticidas apresentaram bons resultados para o controle do bicudo, mantendo a infestação próxima a 10% de botões atacados com puncturas de alimentação e/ou oviposição, após três aplicações seqüenciais espaçadas a cada 5 dias uma da outra. O inseticida Bulldock 125 SC (0,08 l/ha) foi o que demonstrou melhor desempenho para o controle do inseto com 86,84% de eficiência, seguido por Nexide 150 CS (0,1 l/ha) com 76,32%. Os inseticidas Malathion 1000 CE (1,5 l/ha) e Thiodan 350 CE (2,0 l/ha) apresentaram eficiências idênticas de 71,05%, Malathion 1000 CE (1,0 l/ha) apresentou apenas 68,42% de controle, inferiores aos 80% mínimos e desejáveis. O tratamento Malathion 1000 CE (1,0 l/ha) proporcionou uma redução da infestação inicial de 38% para 12%. É importante respeitar o intervalo máximo de 5 dias entre uma aplicação e outra. INTRODUÇÃO O bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) é uma praga de difícil controle sob altas infestações, apresentando alto poder destrutivo e pode causar perdas superiores a 85% na produção de fibras. No Brasil, o bicudo foi registrado em fevereiro de 1983, pela primeira vez, no município de Campinas, SP (Habib & Fernandez, 1983). Chegou ao Mato Grosso do Sul em 1991, causando grandes perdas econômicas, principalmente na região Sul do Estado. Os adultos perfuram os botões florais para se alimentar ou colocar seus ovos. As brácteas ficam amarelas, bem abertas e caem no solo. Depois da eclosão as larvas se alimentam do interior dos botões florais e maçãs, ficando protegidas da ação dos inseticidas durante este período.No Brasil, o controle do bicudo é feito através de uma congregação de métodos (MIP), onde o controle químico destáca-se sobre os demais. Vários trabalhos têm relatado o sucesso deste tipo de controle com diferentes inseticidas sobre o bicudo do algodoeiro (Bellettini et al, 1999; Scarpellini et al, 1999; Bellettini et al, 2001). Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de diferentes inseticidas no controle do bicudo-do-algodoeiro em condições de campo.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em condições de campo na área experimental do Núcleo de Ciências Agrárias (NCA) da UFMS, município de Dourados (22º14’ de Latitude Sul, 54º44’ de Longitude Oeste, e Altitude de 452 m), Estado de Mato Grosso do Sul, em um latossolo vermelho distroférrico. A variedade utilizada foi a Fibermax 986, com espaçamento de 0,90 metro entre linhas. O experimento foi instalado no dia 21/03/2003 data da realização da avaliação prévia. Cada parcela foi constituída de 10 linhas de algodão de 10 m de comprimento totalizando 90 m2 por parcela. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições. A avaliação prévia foi feita contando-se o número de botões florais atacados pelo bicudo em 25 botões por parcela nas cinco linhas centrais (um botão por planta no terço superior), totalizando 100 botões florais por tratamento, o que facilitou o cálculo da porcentagem de botões atacados. Os tratamentos e dosagens, encontram-se na Tabela 1. Foram feitas três aplicações seqüenciais de cada tratamento com intervalos de cinco dias uma da outra nos dias 22 e 27 de março e 01 de abril de 2003. Utilizou-se para isto um pulverizador costal de pressão constante, dotado de um cilindro de CO2 e um conjunto para aplicação em linha composto de quatro bicos cone vazio (J2, preto), com pressão constante de 40 lbf/pol2 o que proporcionou uma diluição de 110 l de calda por ha. Dois dias após a terceira aplicação foi feita uma avaliação para verificar o efeito dos tratamentos sobre o bicudo, utilizando-se o mesmo procedimento descrito para a avaliação prévia. Para a análise estatística, os dados das avaliações foram transformados para x + 0,5 , aplicou-se os testes F e Tukey, conforme Gomes(1987). A avaliação da porcentagem de eficiência, foi calculada através dos dados originais pela forma de Abbott (1925).
RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os dados da avaliação prévia (Tabela 1), a infestação de bicudo na área experimental era estatisticamente uniforme, pois apresentou valor de F calculado para tratamentos não significativo a 5% de probabilidade (1,61). Isto permitiu a utilização da fórmula de Abbott (1925) para os cálculos das porcentagens de eficiência. A porcentagem média de botões florais atacados na prévia era de 27,67%. Na avaliação realizada aos 2 dias após a terceira aplicação (Tabela 2), podemos observar que os tratamentos com inseticidas proporcionaram a redução da porcentagem de botões atacados em relação à prévia, mantendo a infestação próxima a 10% de botões atacados com puncturas de alimentação e/ou oviposição. Em contrapartida o ataque no tratamento testemunha aumentou de 25% (prévia) para 38% de botões florais atacados. O melhor resultado foi obtido pelo inseticida Bulldock 125 SC (0,08 l/ha), que ocasionou redução do ataque de 27 para 5%, proporcionando eficiência de controle de 86,84%, o que diferenciou estatisticamente o tratamento dos demais (Tabela 2). O inseticida Nexide 150 CS (0,1 l/ha) apresentou a segunda melhor eficiência com 76,32% de controle, reduzindo a infestação de 29 para 9% depois de três aplicações, no entanto este tratamento foi estatisticamente semelhante aos tratamentos 1, 2 e 3 (Tabela 2). Os inseticidas Thiodan 350 CE (2,0 l/ha) e Malathion 1000 CE (1,5 l/ha) foram idênticos com relação à porcentagem de eficiência (71,05%), no entanto o inseticida Thiodan reduziu a infestação de 29 para 11% enquanto que a infestação para Malathion 1000 CE (1,5 l/ha), na prévia foi de 18% caindo para 11% na avaliação 2 dias após a aplicação. Da mesma forma o inseticida Malathion que em sua menor dosagem (1,0 l/ha) apresentou a mais baixa porcentagem de eficiência (68,42%), foi o tratamento que ocasionou a maior redução em termos de porcentagem de ataque, proporcionado a queda da infestação de 38 para 12% (diferença de 26%) (Tabela 3). Um fato importante a ser relatado foi uma alta proliferação de ácaro rajado Tetranychus urticae nas parcelas onde foi feito o tratamento com os inseticidas piretróides, fato não ocorrido nas parcelas tratadas com Thiodan e Malathion. Segundo Soares et al (1994), tais fatos, principalmente em relação ao endosulfan, podem estar relacionados com alguma ação acaricida desse inseticida. Desta forma como foi observado um surto do ácaro rajado, em nosso experimento, justamente nas parcelas tratadas com betacyfluthrin e gamacyhalotrin, podemos fazer a mesma observação acima no caso de uso desses produtos para o controle do bicudo, já que suas eficiências foram comprovadamente as melhores no controle desta praga.
CONCLUSÕES 9 O inseticida Betacyfluthrin (Bulldock 125SC) a 10 gi.a/ha foi eficiênte no controle sobre o bicudo do algodoeiro, seguido por (Gamacyhathrin Nexide 100 CS), a 10 gi.a/ha. 9 Os inseticidas (Malathion Cheminova 1000 CE) e (Endosulfan Thiodan 350 CE) a 700 g.i a/ha foram estatisticamente semelhantes entre si quanto ao controle do bicudo; 9 Os inseticidas (Malathion Cheminova 1000 CE) e (Endosulfan Thiodan 350 CE) nas dosagens utilizadas, apresentaram menor desfolha (dano) provocada pelo ácaro rajado.
Tabela 1. Inseticidas utilizados para o controle do bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis. Descrição dos produtos (nome comum, nome comercial, dosagem, grupo químico, modo de ação e formulação). Dosagem (g i. a./ha), ou Nome comercial g i. a./ 100 kg de Grupo químico sementes. Thiodan® 350 CE 700 Éster do Ácido Sulfuroso
Tratamentos Nome comum 1.Endosulfan
2. Malathion
Malathion Cheminova® 1000 CE 3. Malathion Malathion Cheminova® 1000CE 4. Betacyfluthrin Bulldock® 125 SC 5. Gamacyhalotrin Nexide® 100 CS
Modo de ação
Formulação
Antagonistas dos canais de íons Cl¯ mediados pelo ácido gamaminobutírico Organofosforado Inibe a enzima acetilcolinesterase
1000 1500
Concentrado emulsionável Concentrado emulsionável
Organofosforado Inibe a enzima acetil- Concentrado colinesterase emulsionável
10
Piretróide
10
Piretróide
Moduladores canais de sódio Moduladores canais de sódio
de Solução aquosa concentrada de
Tabela 2 – Número e porcentagem de botões atacados (Bt. At. e % Bt. At.) pelo bicudo do algodoeiro em Dourados (MS) – 2003. Tratamentos 1 - Thiodan 2 l/ha. 2 - Malathion 1 l/ha. 3 - Malathion 1,5 l/ha. 4 - Bulldock 0,08 l/ha. 5 - Nexide 0,1 l/ha 6 – Testemunha
A Bt. % Bt. At. At. 5 20 8 32 6 24 9 36 10 40 7 28
B Bt. At. 11 9 7 5 11 8
% Bt. At. 44 36 28 20 44 32
Bt. At. 7 10 5 11 4 5
C % Bt. At. 28 40 20 44 16 20
D Bt. % Bt. At. At. 6 24 11 44 0 0 2 8 4 16 5 20
% Total de Ataque 29 38 18 27 29 25
Média 7,25 9,5 4,5 6,75 7,25 6,25
Para a análise de variância os dados foram transformados em raiz quadrada de√ X + 0,5. F calculado igual a 1,61 (teste não significativo a 5% de probabilidade).
Tabela 3– Número e porcentagem de botões atacados (Bt. At. e % Bt. At.) pelo bicudo do algodoeiro e porcentagem de eficiência (%Ef) em Dourados (MS) – 2003. A Tratamentos 1 – Thiodan 2 l/ha. 2 - Malathion 1 l/ha. 3 - Malathion 1,5 l/ha. 4 - Bulldock 0,08 l/ha. 5 - Nexide 0,1 l/ha 6 - Testemunha
% Bt. Bt. At. At. 2 8 3 12 1 4 1 4 6 24 16 64
B Bt. At. 2 4 8 2 2 12
C % Bt. At. 8 16 32 8 8 48
Bt. At. 4 2 2 2 0 2
D % Bt. At. 16 8 8 8 0 8
Bt. At. 3 3 0 0 1 8
% Bt. % Total de Ataque At. 12 11 b 12 12 b 0 11 b 0 5 c 4 9 b 32 38 a
Média
Para a análise de variância os dados foram transformados em raiz quadrada de√ X + 0,5. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de comparação de médias SNK (P ≤ 0,05).
2,75 3 2,75 1,25 2,25 9,5
% Ef. 71,05 68,42 71,05 86,84 76,32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOTT, W. S.; A method of computing the effectiveness of inseticide. J. Econ. Entomol., v.18, p. 255-257,1925. BELLETTINI, S.; BELLETTINI, N. M. T.; SALVADOR, G.; SILVA, W. G. da; BIANCHINI, S. A.; MANHOLER, C. T. Controle químico do bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis Boheman, 1843 com diferentes inseticidas doses e formulações. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 3., 2001, Campo Grande. Anais... Campina Grande: EMBRAPA - CNPA, 2001 p. 180-182 BELLETTINI, S.; BRLLETTINI, N. M. T.; SALVADOR, G.; BIANCHINI, S. A.; GARCIA, E. C.; SILVA, W. G. da. Diferentes inseticidas doses e formulações no controle do bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis Boh. 1843. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais... Campina Grande: EMBRAPA - CNPA, 1999 p. 172-174. GOMES, F. P. Curso de estatística experimental. Nobel: São Paulo, 12 ed. 1987. 467 p. HABIB, M. E. M.; FERNANDEZ, W. D. Anthonomus grandis Boheman (curculionidae) já está na lavoura algodoeira do Brasil. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 58, n. 1-2, p. 74, 1983. SCARPELLINI, J. R.; SANTOS, J. C. C. dos; PRETO, D. R. Controle do bicudo Anthonomus grandis Boh. 1843 (Coleóptera: Curculionidae) na cultura do açgodoeiro Gossypium hirssutum L. com fipronil e ethiprol. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais... Campina Grande: EMBRAPA - CNPA, 1999 p. 341-344. SOARES, J. J.; BUSOLI, A. C.; BELTRÃO, N. E. de M. Eficiência de inseticidas sobre o bicudo Anthonomus grandis Boh. 1843 (Coleóptera: Curculionidae) e seus efeitos sobre o algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 29, n. 12, p. 1855-1860, dez. 1994.