CONTRIBUIÇÕES DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE E/LE Mikaely AQUINO (1); Allana SANTOS (2); Marcela SOUZA (3) (1) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Avenida Senador Salgado Filho, 1559, Tirol, Natal-RN. CEP: 59015-000, e-mail:
[email protected] (2) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), e-mail:
[email protected] (3) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), e-mail:
[email protected] *Orientador: Prof. José Rodrigues de Mesquita Neto Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), e-mail:
[email protected]
RESUMO O presente trabalho surgiu com a necessidade de mostrar aos alunos e futuros professores a importância que a disciplina fonética e fonologia tem na grade curricular de um aluno do ensino superior do curso de espanhol e sua importância no ensino de uma L2. Objetivamos assim apresentar o processo de formação do professor de E/LE e as principais competências necessárias à prática docente, apontando os caminhos necessários para a construção de um perfil profissional crítico/reflexivo e eticamente comprometido com o seu fazer profissional. Aborda como o conhecimento lingüístico de uma Língua/alvo é necessário para contribuir para o processo de ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira (LE). Elucidando conceitos da fonética e da fonologia que embasarão a prática docente e promoverão a compreensão do sistema lingüístico do idioma estudado de forma plena e consciente. Para alcançar nossos objetivos fizemos uma pesquisa bibliográfica a cerca do processo de formação do professor de LE, optamos por utilizar como referenciais teóricos como: Almeida Filho (1993), que trabalha as competências do professor de língua estrangeira e aponta um perfil desejado para tal profissional que abarca questões que vão desde o conhecimento adquirido através das experiências de vida de cada sujeito até a associação com o conhecimento cientifico adquirido na academia, fazendo sempre um paralelo entre a teoria e prática. E Mussalim (2001), Morales e Lagos (2000) que darão suporte a discussão sobre fonética e fonologia, apresentado os principais conceitos que permitirão a compreensão da importância destas disciplinas para a prática docente do professor de E/LE. Assim, para finalizar, podemos concluir que a disciplina de fonética e fonologia é de grande importância para alunos e professores de uma L2. PALAVRAS-CHAVE: Formação de professor de E/LE. Competências. Fonética e fonologia. INTRODUÇÃO Atualmente muito se tem falado a respeito da obrigatoriedade do ensino da língua espanhola nas instituições de ensino do Brasil. Com o advento da Lei nº. 11.161/2005, que versa sobre esta obrigatoriedade, esta discussão entrou em pauta na sociedade brasileira e ganhou força com a
proximidade do prazo final de adequação das escolas para o cumprimento da lei que estava previsto para o início de 2010. A necessidade de profissionais para atender as novas demandas é evidente e nos faz refletir a importância da qualificação dos profissionais que ocuparão os novos espaços de trabalho que se abrem. Como se dá o processo de formação de tais profissionais, quais competências tem fundamentado a prática docente dos mesmos e como estes profissionais tem se inserido no mercado de trabalho diante de necessidades tão urgentes são questões que devem ser observadas O ensino de uma língua estrangeira não pode ser entendido apenas como a transmissão de um conhecimento de uma determinada língua por parte de um sujeito que domina tal idioma para outro que não possui conhecimento do mesmo. Portanto o presente artigo divide-se em dois momentos o primeiro aborda as necessidades especificas para a formação de professores de espanhol como língua estrangeira e as competências necessárias para a sua prática docente e o segundo momento em que discutiremos a importância de disciplinas que dêem sustentação ao conteúdo ministrado como a fonética e a fonologia que darão suporte a prática docente e permitirão ao professor de espanhol como língua estrangeira (E/LE) compreender a estrutura da língua que está ensinando e transmitir tal conhecimento aos seus alunos que aprenderão além de uma língua falada, mas a essência, estrutura e as diversas possibilidades presentes no idioma estudado. 1 NECESSIDADES ESPECIFICAS PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE E/LE E PARA A SUA FUTURA PRÁTICA DOCENTE No processo de formação docente, se delineiam os caminhos que serão percorridos por alunos e professores durante o processo de ensino/aprendizagem de qualquer disciplina. Esta formação conduzirá as relações estabelecidas por eles dentro e fora de sala de aula, além de moldar os padrões educacionais de uma dada realidade. Portanto se faz necessário que o processo de formação de professores seja refletido e avaliado constantemente, uma vez que este processo incide diretamente na qualidade do ensino que será ministrado pelo futuro docente. A formação de professores de espanhol como língua estrangeira (E/LE), deve contribuir para o desenvolvimento de um profissional crítico/reflexivo que estabeleça ligações entre a teoria e a prática.
Segundo Freire (1996, p.39): Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário a reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. São nítidas as mudanças que houve entre os papeis do aluno e do professor, podemos inclusive afirmar que aconteceu uma inversão de papeis, pois antes com o Método tradicional o professor era totalmente responsável por transmitir o saber, ele era o “todo poderoso” da sala de aula, o que nunca errava, era ele o responsável por todas as decisões, enquanto que o papel do aluno se resumia em um simples receptor, receptor desse conhecimento que lhe era fornecido. No entanto, com o Método comunicativo, o aluno assume um papel mais ativo no qual participa das aulas havendo interação com o professor e se levando em consideração que o aluno já tem armazenado um conhecimento prévio, ou seja, o seu conhecimento de mundo. O professor deve ser um profissional que se questiona e se qualifica constantemente, que tem em si a consciência do conhecimento inacabado, da necessidade de atualização e aprimoramento da sua prática docente. Novas demandas, novos sujeitos, novas possibilidades que surgem das mudanças que ocorrem na sociedade e nas relações por ela estabelecidas, e interferem na dinâmica de sala da aula. Exigindo do professor competência para lidar com questões que muitas vezes vão além das exploradas nas instituições de ensino durante o seu processo de formação. Portanto se faz necessário que tal profissional desenvolva competências especificas para lidar com as questões envolvidas em sala de aula, no processo de ensino e aprendizagem de E/LE. 1.1 Competências profissionais: um modelo teórico a ser seguido Almeida Filho (1993) estabelece um conjunto de competências mínimas ao professor de língua estrangeira. Competência pode ser entendida como o conjunto de habilidades que um indivíduo possui e expressa através das suas ações. Tais competências podem ser adquiridas ao longo dos anos e moldadas de acordo com as necessidades, são atributos adquiridos processualmente e consolidados através da prática consciente dos mesmos. As competências por ele apresentadas são cinco, a saber: competência implícita, competência lingüístico comunicativa, competência teórica, competência aplicada e competência profissional.
A partir dessas cinco competências, Almeida Filho irá traçar um perfil para o professor de LE, que imprima em seu fazer profissional a marca de um professor crítico/reflexivo, profissional e comprometido com o ensino ético e de qualidade. 1.1.1 Competência implícita A competência implícita “é a mais básica de todas e é constituída de intuições, crenças e experiências” (ALMEIDA FILHO, p.20, 1993), ela compreende o conjunto de características aprendidas no decorrer da vida do professor. A partir da história de vida de cada indivíduo, os valores e crenças que são absorvidos em seu próprio processo educacional, advindos das instituições em que foi formado ideologicamente como a escola, família, igreja e os aspectos absorvidos em sua personalidade. São as capacidades desenvolvidas a partir das suas experiências de vida e que podem ser transferidas à prática docente. No entanto, tal competência não pode ser considerada suficiente para o futuro docente, ela precisa estar articulada a outras competências que darão suporte ao fazer profissional consciente e que foge do senso comum. 1.1.2 Competência Lingüístico-comunicativa A competência lingüístico-comunicativa, segundo Almeida Filho, “se refere às habilidades de operar em situações de uso da língua-alvo” (1993, p.20). Tal competência compreende o uso da língua estrangeira que se ensina de forma consciente, implica ao professor detentor de tal competência o conhecimento da estrutura e o funcionamento da língua-alvo ao ponto de ter segurança e domínio do conteúdo a ser ministrado. Conhecer a língua em sua essência e aplicá-la é condição fundamental para o ensino de uma língua, neste caso em especial o espanhol. Entretanto, esta competência não pode também ser vista isoladamente como suficiente para o ensino de LE, como muitas vezes é vista. O fato de dominar um idioma não garante que o objetivo de ensinar uma língua estrangeira seja alcançado, é necessário um aparato teórico que dê suporte a esta prática docente. 1.1.3 Competência teórica Para Almeida Filho, 1993, a competência teórica:
É aquela que buscamos nos escritos, nos resultados de pesquisa de outros e que o professor já articula, de maneira que aquilo que ele faz vai ficando mais próximo daquilo que sabe, que leu e que já sabe articular. Esta competência tem por objetivo articular a teoria com a prática, romper com a visão dicotômica que preenche o imaginário social de que a teoria e a prática são dissociáveis e mais que isso, são opostas e andam distantes. Para o autor tal competência permite unir os dois extremos e oferecer uma prática profissional sólida apoiada não apenas no saber fazer do profissional, mas no conhecer e saber fazer através de metodologias adequadas a cada realidade. 1.1.4 Competência aplicada A competência aplicada consiste na articulação da teoria e da prática, ele permite que o professor, ao fazer uso das competências anteriormente citadas aplique conscientemente tais conhecimentos. [...] capacita o professor a ensinar de acordo com o que sabe conscientemente (...) permitindo a ele explicar com plausibilidade porque ensina da maneira como ensina e porque obtém os resultados que obtém. A capacidade do professor de articular teorias pessoais, informais com teorias formais estudadas é a base fundamental da competência aplicada. (ALMEIDA FILHO, 1993, p. 21) Ela abarca os aspectos subjetivos da formação profissional, os aspectos lingüísticos de domínio da linguagem e da comunicação do professor no idioma a ser ensinado e os conhecimentos teóricos que darão suporte a abordagem de ensino. 1.1.5 Competência profissional Esta competência é “[...] capaz de fazê-lo [o professor] conhecer seus deveres, potencial e importância social no exercício do magistério na área de ensino de línguas” (ALMEIDA FILHO, 1993, p.21). É a competência profissional que confere ao professor de LE a capacidade de articular as suas competências ao dever ser profissional, atuando criticamente e refletindo princípios éticos que impulsionam a sua prática de maneira a alcançar os seus objetivos pedagógicos de forma plena. 1.2 A formação de professores de LE e a competência lingüístico-comunicativa No processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, é natural elencar o domínio da língua que será ensinada como pressuposto fundamental para que o processo de ensino / aprendizagem do idioma se dê de forma plena.
Não se pode considerar que este seja o único aspecto a ser observado para o sucesso do fazer profissional do professor de língua estrangeira. Mas pode-se apontar tal característica como, uma competência básica para qualquer individuo que esteja inserido em tal processo. Reside nesta constatação a importância de determinadas disciplinas para o domínio do sistema lingüístico em que se encontra embasado a língua alvo. Conhecer a estrutura, os sons, as características que constituem uma língua se faz possível através do estudo da fonética e da fonologia. Essa disciplina subsidiará o professor na medida em que dará a este a consciência necessária da estrutura da língua que irá ministrar. Rompendo com a mística de que o falar um idioma, já é o suficiente para transferir tal conhecimento. É necessário ter em mente as inúmeras possibilidades que perpassam o ensino de uma língua estrangeira e as dificuldades que podem ser encontradas no processo de ensino, quando o professor não conhece a estrutura da língua que ensina e se apóia apenas no conhecimento adquirido a partir das suas experiências de vida. É necessário articular tais conhecimentos aos conhecimentos científicos disponíveis na academia que embasarão a abordagem no ensino de uma Língua Estrangeira (LE). 2
CONTRIBUIÇÕES DA FONÉTICA E FONOLOGIA NA APRENDIZAGEM E NO ENSINO DE E /LE Para compreender de fato, as contribuições que a disciplina fonética e fonologia promove à
formação do professor de língua estrangeira e especificamente, como sugere o título desse trabalho, ao professor de língua E/LE, é preciso compreender o objeto de estudo dessas disciplinas, e ao compreender o que estuda a fonética e a fonologia, entenderemos de que maneira elas contribuem à formação docente do professor de línguas. Por se tratar este artigo da formação de professores de E/LE, discutiremos sobre fonética e fonologia na perspectiva do espanhol, ou seja, do estudo fonético-fonológico da língua espanhola que enfatizaremos, ao destacarmos a razão pela qual o conhecimento desse estudo faz toda diferença, tanto no aprendizado como no ensino de um idioma estrangeiro. Passaremos a partir deste momento, a discorrer sobre conceitos que perpassam o estudo fonético-fonológico, com a intenção de se compreender as contribuições dessas disciplinas na prática docente do futuro professor de E/LE.
No entanto, abordaremos esse estudo em dois momentos, no primeiro será discutida a fonética e no segundo a fonologia. Todavia, sempre fazendo uma relação de uma disciplina com a outra, uma vez que ambas tem pontos em comum, pois tratam de aspectos que concernem a linguagem humana, isto é, língua e fala. 2.1 A Fonética A fonética é uma ciência de suma importância para o estudo de uma língua (seja ela estrangeira ou materna), pois ela possui como unidade de estudo o som (fone), que é a concretização do fonema (unidade de estudo da fonologia). O fone, ou som (como conhecemos melhor) é tudo aquilo que realizamos ao falar, ao sussurrar ou até mesmo ao gemer. Podemos constatar então que a fonética é uma disciplina viva e que está presente no nosso cotidiano. Segundo Morales e Lagos (2000), compreende-se que a fonética é uma disciplina que estuda os sons produzidos através da fala, abordando os aspectos da produção, estrutura e percepção desses sons. A fonética (...) estuda os sons da linguagem (...) que compreende o aspecto articulatório (produção fisiológica do som humano), acústico (estrutura física do som) e auditivo (percepção do som). (p. 12, tradução nossa). Podemos, assim, considerar a fonética como a ciência do aspecto material dos sons da linguagem humana (MUSSALIM, 2001, p. 141). No que se refere à fonética articulatória, ou seja, como os sons são produzidos, o professor de Língua estrangeira ao ensinar o novo idioma se utilizará desse conceito para explicar aos seus alunos como os sons são articulados no ato da fala. Segundo Quilis (2003) a articulação consiste em movimentos produzidos pelos órgãos da boca. O professor de línguas na prática oral auxiliará os seus alunos para que eles possam compreender de que maneira os sons dos segmentos fônicos são produzidos no ato de fala, com isso os alunos não serão meros repetidores, mas serão utilizadores conscientes do processo de produção dos sons da fala do novo idioma. Mussalim (2001) aborda também que a fonética não estuda a função que esses sons executam numa determinada linguagem, a disciplina que estuda o aspecto funcional do som da linguagem é a fonologia. “As unidades básicas da fonética são os fones, transcritos entre colchetes
[p], [t], [r].” (MUSSALIM, 2001, p. 149). O autor coloca os fones como sendo sinônimo de som. A fonética contribui para o ensino - aprendizagem no sentido de que, ao estudar os aspectos inerentes ao som, assim o aluno terá a possibilidade de entender melhor os aspectos fônicos do novo idioma. 2.2 A Fonologia É difícil pensar na fonologia sem pensar em fonética e isso é totalmente natural, visto que ambas estudam o som, mas em vertentes diferentes. Como dito anteriormente a fonologia tem como unidade de estudo o fonema que é a realização mental do fone. Assim, podemos dizer que uma ciência complementa a outra, ou seja, uma é a teoria e a outra a prática. Fonologia é: […] a disciplina lingüística que se ocupa do estudo da função dos elementos fônicos das línguas, ou seja, que estuda os sons desde o ponto de vista da sua utilização para formar signos lingüísticos. (LLORACH, 1965, p.25 – tradução nossa). Esta disciplina auxiliará o aluno no conhecimento do sistema da língua estrangeira. “A fonologia estuda os elementos fônicos de uma língua, desde o ponto de vista de sua função no sistema da comunicação lingüística”. (QUILIS, 2003, p. 8, tradução nossa). Segundo Mussalim (2001), o objeto de estudo dessa disciplina é o fonema, que se apresenta entre barras enclinadas, /p/, /t/, /k/. Llorach (1965), define o fonema como uma unidade indivisível, pequeno e simples. Segundo Torrego (2005), os fonemas possuem características fônicas capazes de diferenciar significados. Um exemplo dado por Torrego é o fonema /p/, bilabial, oclusivo e surdo, isto porque as cordas vocais não vibram ao pronunciá-lo; já o fonema /b/ é bilabial, oclusivo e sonoro, pois as cordas vocais vibram ao proncunciá-lo. O aluno percebe que ao trocar os fonemas, troca-se, por conseqüência, o significado das palavras. Exemplificando, pode-se citar a palavra "bata", ao trocar o fonema /b/ por /p/, tem-se a palavra "pata". O estudo das variantes lingüísticas, também abordado pela fonética, pode ser considerado na prática docente do professor de E/LE e do aluno que esta em processo de formação. O professor tendo o conhecimento destas variantes auxiliará o estudante, no sentido de expor para ele as
diversas formas que os nativos da língua espanhola utilizam para se comunicar e dessa maneira incentivará o estudante a escolher uma das variações na sua prática oral e dessa forma o professor possibilitará a compreensão do seu aluno que não existe variante superior. Essa escolha não pode ser inconsciente, ela se torna inconsciente quando o aluno reproduz a variação do professor por não conhecer as demais. 2.3 O conhecimento da fonética e da fonologia como auxílio no processo de ensino Uma necessidade indispensável no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, nesse caso o espanhol, e no processo de ensino dessa língua é o conhecimento de fonética e fonologia. Mussalim (2001) afirma que no processo de aprendizagem de uma segunda língua, é comum a utilização dos sons da língua materna na pronúncia do idioma estrangeiro. Tal associação ocasionará interferência no aprendizado da língua estrangeira se o aluno não ultrapassar os limites de conhecimento da sua língua materna. Reproduzindo sons que apenas são semelhantes ao que já conhece, sem conhecer de fato os sons do novo idioma estudado. Essa interferência pode representar um problema que comprometerá o aprendizado, no que se refere à prática oral da língua estrangeira. Essas interferências podem ser positivas, quando o aluno se utiliza de um som que existe no seu idioma para pronunciar determinado fonema da L2 cujo som é semelhante na sua L1, porém essas interferências também podem ser negativas, quando no lugar de ajudar, ela atrapalha na aprendizagem do aluno. Esse tipo de interferência também é chamada de interlíngua1. O domínio dos assuntos que concernem à disciplina fonética e fonologia auxiliará no processo de ensino da língua estrangeira, no sentido de que essas disciplinas fornecem ao docente um conhecimento dos aspectos da linguagem intrínsecos ao sistema da língua que se está ensinando. Aspectos esses, que estão relacionados à fala e a língua. Para um aluno de língua estrangeira, pode lhe parecer desnecessário saber que determinado fonema é palatal ou velar, porém é de grande que os professores desse idioma tenham esses conhecimentos básicos de fonética e fonologia para uma melhor explicação. A fonética e a fonologia estudam os sons produzidos através da fala analisando as variações 1
Interlíngua é a influência da língua materna ou de uma L3 na língua estrangeira ou da L2 na língua materna.
fônicas que um determinado som, de um determinado segmento da língua que está inserido. Por exemplo, no português a vogal "e" tem dois sons, um mais aberto, como na palavra "fé" e outro fechado, como na palavra "ver". Por sua vez no espanhol, a letra "e" tem apenas um som, que é mais fechado. Arias (2010, p. 10) coloca que "ainda que as letras sejam as mesmas, os sons podem variar de um idioma para outro.". No processo da aprendizagem, o aluno não conhecendo essas peculiaridades fonéticas da língua estrangeira, não fará distinção entre um som e outro, prejudicando, sua pronúncia. Para perceber essas e outras variações fonéticas é preciso que o professor auxilie o aluno através dos conceitos específicos da fonética. Como vimos, a fonética é responsável por estudar os sons e com isso suas diferentes variações. Portanto, podemos dizer que essa ciência nos ajuda a compreender como os nativos de determinado idioma falam, assim ajudando-nos a compreendê-los, pois se desconhecemos determinada variante ao nos depararmos com ela podemos não identificar a qual grafema determinado som representa, assim interrompendo a comunicação. A fonologia auxiliará o professor uma vez que esta disciplina estuda os sons da língua, ou seja, o som relacionado ao sistema da língua, analisando o aspecto funcional de um determinado segmento. Segundo Mussalim (2001, p.149) "A fonologia estuda as diferenças fônicas correlacionadas com as diferenças de significado.", por exemplo, na palavra "gata" ao ser trocada a letra "g" pela letra "p", "gata" se converte em "pata". Os segmentos "g" e "p" promovem mudança tanto na sonoridade, quanto no significado. Portanto, o futuro professor de língua estrangeira, necessita dos conhecimentos da fonética e da fonologia no auxílio da sua aprendizagem, bem como, posteriormente, no ensino dessa língua que está aprendendo. Se o professor de línguas não possui tal conhecimento, indispensável à sua formação, certamente terá dificuldades na sua prática docente, no que se refere à teoria e à prática oral do idioma estrangeiro ministrado. O ensino - aprendizagem de uma língua estrangeira exige uma compreensão específica do sistema lingüístico do idioma que se está ensinando e/ou aprendendo. Partindo do pressuposto de que o aluno de línguas precisa entender o idioma estrangeiro na sua essência, é o conhecimento fonético - fonológico que proporcionará a esse aluno a compreensão necessária do sistema
lingüístico do idioma estudado. Nesse sentido, as disciplinas que serão ministradas em sala de aula contribuirão para o aprendizado mais eficaz da língua estrangeira, promovendo, dessa forma, uma utilização correta do novo idioma. Sendo assim, no que se refere ao processo de ensino - aprendizagem de um outro idioma, consideramos ser a fonética e a fonologia disciplinas indispensáveis a esse processo, especificamente no que diz respeito ao aluno que está no processo de formação docente, isto é, aquele aluno que num futuro próximo ensinará a língua estrangeira que ele está aprendendo. Observando os sistemas fonológicos das línguas envolvidas, o professor de língua estrangeira pode resolver os problemas de interferência, desenvolvendo estratégias que auxiliem o estudante a superar a tendência de transpor o sistema fônico de sua língua materna para a língua estrangeira. Se o professor desconhece os sistemas fonológicos da língua estrangeira e daquela do estudante, então o ensino desse professor será pouco proveitoso (MUSSALIM, 2001, p. 151). Portanto, fica claro que o professor de língua estrangeira necessita tanto dos conhecimentos fonológicos da sua língua, quanto da língua que está ensinando para poder ajudar os seus alunos a entenderem o idioma que eles estão estudando. É nessa perspectiva que o aluno e futuro professor de língua estrangeira devem trabalhar sua formação docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira requer algumas competências que são necessárias a este processo. O professor utilizará estas competências, a fim de que seus alunos compreendam um novo idioma. Tais competências são moldadas ao longo da vida do futuro docente e perpassam desde o conhecimento de mundo, adquirido a partir das experiências de vida do mesmo e as suas subjetividades, bem como as competências adquiridas durante o processo de formação profissional. Aliando ao conhecimento cientifico e articulando a teoria com a prática. Diante do que já foi explicitado, percebemos que o conhecimento fonético e fonológico contribui na formação do professor de língua estrangeira e mais especificamente, do professor de língua espanhola como língua estrangeira que é o foco do presente artigo. No sentido de que são estas disciplinas que oferecem ao aluno, e futuro professor, a compreensão de conceitos fundamentais que se referem não apenas aos atos de fala, mas também a estrutura do sistema da
língua que se pretende ensinar. Portanto concluímos que as habilidades lingüísticas e de conhecimentos específicos inerentes ao ensino/aprendizagem de um idioma estrangeiro são indispensáveis à formação docente do professor de língua estrangeira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA FILHO, J. C. P. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. Campinas: Pontes, 1993. ______ O professor de Língua Estrangeira sabe a língua que ensina? A questão da instrumentalização lingüística. In Revista Contexturas, vol. 01 No. 01 (p. 77-85), São Paulo: APLIESP, 1992. ARIAS, Sandra di Lullo. Aprimorando seu espanhol. Como escapar das semelhanças enganosas. Rio de janeiro: Elsevier, 2010. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à Prática Educativa.São Paulo: Paz e Terra. 1996. LLORACH, Emílio Alarcos. Fonología española. 4 ed. Madrid: Editora Credos, 1965. MORALES, Félix; LAGOS, Daniel. Manual de Fonología Española. 4ª Ed. Chile: Editorial Puntángeles de la Universidad de Playa Ancha, 2000. MUSSALIM e Anna Christina Bentes (orgs.) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. vol. I. São Paulo: Cortez, 2001. QUILIS, Antônio. Princípios de fonología y fonética españolas. 5ª ed. Madrid: Editora Arco/Libros S.L., 2003. TORREGO, Leonardo Gómez. Gramática didácta del español. São Paulo: edições SM, 2005.