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Capítulo 13 .................. 8 Módulo 37 .............. 13 Módulo 38 .............. 16 Módulo 39 .............. 21
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1. Termos acessórios: adjunto adnominal 2. Termos acessórios: adjunto adverbial 3. Termos acessórios: aposto e vocativo 4. Organizador gráfico Módulo 37 – Termos acessórios: adjunto adnominal Módulo 38 – Termos acessórios: adjunto adverbial Módulo 39 – Termos acessórios: aposto e vocativo
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• Reconhecer as concepções referentes à formação de sujeitos, predicados e complementos verbais. • Identificar aspectos linguísticos e discursivos nas construções da variedade culta da língua. • Traduzir o que se compreende por construções sintáticas, semânticas e pragmáticas presentes em diversas situações discursivas, considerando a variedade culta e outras variedades da língua.
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Termos acessórios são importantes para complementar ou expandir as ideias em um texto, embora tais ideias, em princípio, já contenham em si mesmas seu significado completo.
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Como as palavras se expandem
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti. Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação. Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios. O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Raul Pompéia. O Ateneu.
1. Termos acessórios: adjunto adnominal É o termo que caracteriza, modifica um substantivo, apresentando função adjetiva. O adjunto adnominal está para o nome assim como o adjunto adverbial está para o verbo. Qualquer termo com valor substantivo, como sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito, quando possui mais de um elemento (expressão com mais de uma palavra), terá apenas um núcleo e todo o restante será o adjunto adnominal. Leia o exemplo a seguir: “Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.” As palavras destacadas são adjuntos adnominais, que concordam com um substantivo em gênero e número com ele. Além disso, podem aparecer sob a forma de locução adjetiva. Podem exercer a função de adjunto adnominal: artigos, pronomes adjetivos, adjetivos e numerais.
A. Diferença entre complemento nominal e adjunto adnominal
O complemento nominal acompanha substantivo abstrato, adjetivo e advérbio, indicando o alvo de uma ação. O adjunto adnominal acompanha qualquer tipo de substantivo e indica o agente de uma ação. Exemplos “O Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais.” “Dos pais” = agente (os pais preferem), portanto é adjunto adnominal. Aristarco tinha confiança nos pais. “Nos pais” = alvo (Aristarco confia nos pais), portanto é complemento nominal.
O predicativo é um termo que atribui características ao sujeito e ao objeto. Para descobrirmos se o termo é predicativo ou adjunto, basta fazer a substituição do sujeito ou do objeto por um pronome: o que for dispensável é adjunto, o que não for é predicativo. Exemplos Aristarco reformou aquele velho estabelecimento no final do ano. Aristarco reformou-o no final do ano. Note que “velho” desaparece sem alterar o sentido. Portanto, é adjunto adnominal. Aristarco considerou a ideia infeliz. Aristarco considerou-a infeliz. Note que “infeliz” não desaparece. Logo, é predicativo.
2. Termos acessórios: adjunto adverbial É o termo que modifica ou intensifica o processo expresso pelo verbo. Indica a circunstância em que tal processo se desenvolve. Os adjuntos adverbiais acrescentam detalhes à frase. Adjuntos adverbiais são termos acessórios da oração, ou seja, não são fundamentais para sua estrutura sintática, portanto, poderiam ser retirados sem prejuízo estrutural. Exemplos “Um dia, meu pai tomou-me pela mão.” Meu pai, um dia, tomou-me pela mão. Meu pai tomou-me pela mão um dia. Os adjuntos adverbiais podem ser formados apenas por uma palavra ou por uma expressão. Exemplo “[...] pintando-o jeitosamente de novidade [...]” “Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.” Eles podem expressar as mais variadas circunstâncias, como: dúvida, afirmação, tempo, lugar, modo, meio, instrumento, causa, intensidade, negação, companhia, assunto, fim, frequência etc. Entreguei-me totalmente aos estudos. (modo) “[...] mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento.” (tempo) Os alunos faziam provas a lápis. (instrumento) Naquele estabelecimento escolar, a disciplina era rígida. (lugar) Observação O adjunto adverbial pode modificar também um adjetivo e o próprio advérbio.
3. Termos acessórios: aposto e vocativo A. Aposto A ideia expressa em um termo de valor substantivo pode ser desenvolvida, esclarecida ou resumida por um termo acessório. Trata-se do aposto.
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B. Diferença entre predicativo e adjunto adnominal
Leia o texto.
Leia o texto. — Como se chama o amiguinho? – perguntou-me o diretor. — Sérgio... dei o nome todo, baixando os olhos e sem esquecer o “seu criado” da estrita cortesia. — Pois, meu caro Sr. Sérgio, o amigo há de ter a bondade de ir ao cabeleireiro deitar fora estes cachinhos... Eu tinha ainda os cabelos compridos, por um capricho amoroso de minha mãe. O conselho era visivelmente salgado de censura. O diretor, explicando a meu pai, acrescentou com o risinho nasal que sabia fazer: “Sim, senhor, os meninos bonitos não provam bem no meu colégio...”
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Raul Pompéia. O Ateneu.
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01. Leia o texto e faça o que se pede.
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APRENDER SEMPRE
O texto é uma sinopse do filme em destaque. Explique por que “meu irmão” aparece entre vírgulas no título.
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B. Vocativo
O vocativo está fora do sujeito e do predicado, não faz parte da estrutura básica da oração. Por ser um termo independente, usado para chamar, evocar o interlocutor, deve aparecer sempre separado por vírgula. “— Pois, meu caro Sr. Sérgio, o amigo há de ter a bondade de ir ao cabeleireiro deitar fora estes cachinhos.” O vocativo não deve ser confundido com o sujeito. Observe o exemplo. Sérgio, venha aqui! Nesse caso, o verbo está na terceira pessoa do singular e refere-se a “Sérgio”, mas não podemos dizer que “Sérgio” seja o sujeito. O sujeito não está explícito. “Sérgio" é vocativo e fica à parte da estrutura sintática.
Resolução No contexto, “meu irmão” é vocativo.
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A.1. Tipos de aposto • Explicativo: explica o termo a que se refere. Exemplo “O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, enchia o império com o seu renome de pedagogo.” • Recapitulativo (resumitivo): recapitula e resume os termos anteriores. Exemplo Reformas, anúncios, tradição, tudo ajudava a consolidar o nome da instituição. • Enumerativo: enumera dados relacionados ao termo a que se refere. Exemplo O Ateneu ostentava duas preciosas características: fama e tradição. • Especificativo: especifica o termo a que se refere. Exemplo O pedagogo Aristarco Argolo de Ramos dirigia com argúcia seu império escolar.
E aí, meu irmão, cadê você? (EUA, França, Reino Unido – 2000), direção de Joel Coen e Ethan Coen, é uma comédia policial que se passa em plena era da depressão americana. Três prisioneiros escapam da prisão e embarcam numa aventura a fim de conquistar a liberdade e voltar para suas casas. Só que um xerife misterioso criará problemas para os foragidos.
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Termos acessórios
Vocativo
Adjunto adnominal Aposto
Adjunto adverbial
Termo ligado diretamente ao substantivo (concreto ou abstrato)
Modo / causa/ tempo / lugar / finalidade / negação / afirmação / meio/instrumento / intensidade / companhia etc.
Explicativo / recapitulativo / enumerativo / especificativo Termo independente/ invoca o interlocutor
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4. Organizador gráfico
Tópico
Subtópico
Subtópico destaque
Apenas texto Características EMI-16-130
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Termos acessórios: adjunto adnominal
02. UERJ (adaptado) Leia o fragmento de texto de Machado de Assis e responda à questão. Mas isto é um fato incontestável, e se é verdadeiro o princípio que dele se deduz, não me parece aceitável a opinião que admite todas as alterações da linguagem, ainda aquelas que destroem as leis da sintaxe e a essencial pureza do idioma. A influência popular tem um limite; e o escritor não está obrigado a receber e a dar curso a tudo o que o abuso, o capricho e a moda inventam e fazem correr. Pelo contrário, ele exerce também uma grande parte de influência a este respeito, depurando a linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão.
Se há algum lado bom nisso, talvez seja que os inéditos não tiveram de se render ao gosto do público, e puderam construir sua obra de acordo com sua tendência pessoal. Eu morri pela beleza – a arte de Emily Dickinson. Disponível em: . Acesso em: ago. 2015.
A expressão destacada exerce a mesma função em: a. Obviamente ela sabia de tudo. b. Eu talvez decida o caso a seu favor. c. Todos eles voltaram ontem da França. d. Os jogadores expulsos não podem ficar no banco. e. Certamente havia algum erro no papel do Banco. Resolução Em A, “de tudo” é objeto indireto; em B, “a seu favor” é complemento nominal; em C, “da França” é adjunto adverbial; em D, “no banco” é adjunto adverbial. Já em E, “do Banco”é adjunto adnominal, assim como a expressão “do público”, destacada no texto. Alternativa correta: E Habilidade Identificar aspectos linguísticos e discursivos nas construções da variedade culta da língua.
A respeito do trecho “depurando a linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão”, a correta classificação sintática do pronome oblíquo é: a. adjunto adnominal de razão. b. aposto especificativo de povo. c. complemento nominal de razão. d. adjunto adverbial de aperfeiçoando. e. objeto direto preposicionado de aperfeiçoando. Resolução O pronome oblíquo “lhe”, no contexto, é possessivo, exercendo a função de adjunto adnominal de “razão”. (Aperfeiçoando sua razão) Alternativa correta: A
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Exercícios Extras 04. Assinale a alternativa em que o termo destacado funciona como agente do termo anterior e não como paciente. a. Repressão à violência. b. Picada de abelha. c. Plantio de hortaliças. d. Uso de fertilizantes. e. Necessidade de bens materiais.
05. PUC-SP Leia o poema de Mário Quintana e responda à questão. Poças d’água As poças d’água são um mundo mágico Um céu quebrado no chão Onde em vez de tristes estrelas Brilham os letreiros de gás Néon.
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Resolução a. Adjunto adnominal, o professor é agente. b. Complemento nominal, o professor é alvo.
03. Leia o fragmento de texto e responda à questão.
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01. Classifique os termos destacados a seguir em adjunto adnominal ou complemento nominal e explique a diferença de sentido entre eles. a. A resposta do professor foi correta. b. A resposta ao professor foi correta.
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Exercícios de Aplicação
Seu espaço Sobre o módulo Salientar que o adjunto adnominal, apesar de acessório, constitui um dos importantes marcadores de expansão semântica dos nomes em qualquer contexto. Estante NEVES, Maria Helena de Moura. Ensino de língua e vivência de linguagem: temas em confronto. São Paulo: Contexto, 2010. Neste livro, a professora Maria Helena de Moura Neves mostra a gramática da língua como a responsável pela produção de sentido na linguagem, pelo entrelaçamento discursivo-textual das relações estabelecidas na sociocomunicação. Ao longo de treze capítulos, a autora elucida a visão da linguagem confrontada com a realidade da língua e mostra o lugar da gramática na escola. Um equilíbrio coeso entre teoria e sua aplicação na prática. Sinopse disponível em: . Acesso em: jul. 2015.
Exercícios Propostos Da teoria, leia o item 1. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
06. Unimep-SP Em“... as empregadas das casas saem apressadas, de latas e garrafas na mão, para a pequena fila de leite”, os termos destacados são, respectivamente: a. adjunto adverbial de modo e adjunto adverbial de matéria. b. predicativo do sujeito e adjunto adnominal. c. adjunto adnominal e complemento nominal. d. adjunto adverbial de modo e adjunto adnominal. e. predicativo do objeto e complemento nominal. 07. UFSC Observe os períodos e assinale a alternativa em que o “lhe” funciona como adjunto adnominal. a. “[...] anunciou-lhe: Filho, amanhã vais comigo.” b. O peixe cai-lhe na rede. c. Ao traidor, não lhe perdoaremos jamais. d. Comuniquei-lhe o fato ontem pela manhã. e. Sim, alguém lhe propôs emprego. 08. UFSE Identifique a alternativa em que os dois termos destacados têm a função de adjunto adnominal. a. As funcionárias estavam absolutamente impossibilitadas de reagir. b. Traga-o até aqui, com todas as bagagens. c. Belíssimas gravuras foram vendidas por eles. d. Eles chegaram muito tarde e jantaram sozinhos. e. Os pareceres dos técnicos lhe foram plenamente favoráveis.
09. Leia o fragmento de Linhas tortas, de Graciliano Ramos, e responda à questão. Os grandes olhos claros e aguados boiavam na sombra nevoenta, cheios de espanto. Esfregou-os, arrastou-se pesado e entanguido, mal seguro à bengala, sentou-se num banco do jardim, fatigado, suspirando, examinou a custo os arredores. Os termos destacados são adjuntos adnominais. Pode-se afirmar que, no texto, eles exercem a função de: a. enriquecer a descrição. b. delimitar o tema. c. analisar o personagem. d. identificar o narrador. e. confundir o leitor. 10. Leia as afirmações e responda à questão. O juiz irritado deu uma advertência ao jogador. Irritado, o juiz deu uma advertência ao jogador. a. As palavras destacadas, morfologicamente, são adjetivos. Que função sintática cada uma exerce? b. Qual a diferença de sentido entre as duas afirmações? 11. UEM-PR Leia a frase e responda à questão. O Brasil jovem está “curtindo” o vestibular.
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Refletindo-se sobre a relação entre os termos da oração, pode-se afirmar que: a. o termo “d’água” complementa sintaticamente o termo “poças”. b. o termo “mundo mágico” complementa sintaticamente o termo as “poças d’água”. c. o termo “em vez de tristes estrelas” complementa o termo “brilham”. d. não há complementos verbais nem nominais. e. há simplesmente complementos nominais.
12. Enem Sobre os termos destacados, pode-se afirmar que acrescentam às palavras que acompanham, no contexto, a ideia de: a. solidão. b. incerteza. c. dúvida. d. precariedade. e. confinamento. 13. Enem Na passagem “enquanto isso pode ter desaparecido”, a palavra em destaque retoma: a. “você precisa esperar meses pelo sapato”. b. “todo mundo usa roupas velhas e sapatos gastos”. c. “A invasão está demorando”. d. “Todo mundo está faminto”. e. “poucos sapateiros fazem consertos”. 14. FGV-SP Leia o fragmento do conto “A cartomante”, de Machado de Assis, e responda à questão.
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Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante. No final do texto, pode-se ler o seguinte período: “Camilo desceu pela (Rua) da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante”. Compare esse período com o seguinte, que não está no texto: “Camilo desceu pela (Rua) da
Ele se encontrava sobre a estreita marquise do 18º andar. Tinha pulado ali a fim de limpar pelo lado externo as vidraças das salas vazias do conjunto 1801/5, a serem ocupadas em breve por uma firma de engenharia. Ele era um empregado recém-contratado da Panamericana – Serviços Gerais. O fato de haver se sentado à beira da marquise, com as pernas balançando no espaço, se devera simplesmente a uma pausa para fumar a metade de cigarro que trouxera no bolso. Ele não queria dispensar este prazer, misturando-o com o trabalho. Quando viu o ajuntamento de pessoas lá embaixo, apontando mais ou menos em sua direção, não lhe passou pela cabeça que pudesse ser ele o centro das atenções. Não estava habituado a ser este centro e olhou para baixo e para cima e até para trás, a janela às suas costas. Talvez pudesse haver um princípio de incêndio ou algum andaime em perigo ou alguém prestes a pular. Não havia nada identificável à vista, e ele, através de operações bastante lógicas, chegou à conclusão de que o único suicida em potencial era ele próprio. Não que já houvesse se cristalizado em sua mente, algum dia, tal desejo, embora como todo mundo, de vez em quando... E digamos que a pouca importância que dava a si próprio não permitia que aflorasse seriamente em seu campo de decisões a possibilidade de um gesto tão grandiloquente. E que o instinto cego de sobrevivência levava uma vantagem de uns quarenta por cento sobre seu instinto de morte, tanto é que ele viera levando a vida até aquele preciso momento sob as mais adversas condições. SANT’ANNA, Sérgio. Um discurso sobre o método. In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
15. Insper-SP Em “... não lhe passou pela cabeça que pudesse ser ele o centro das atenções”, os pronomes pessoais destacados exercem, respectivamente, a função sintática de: a. objeto indireto, sujeito. b. complemento nominal, objeto direto. c. adjunto adnominal, sujeito. d. objeto indireto, predicativo do objeto. e. adjunto adnominal, predicativo do sujeito. 16. No trecho “Talvez pudesse haver um princípio de incêndio”, o termo destacado tem qual função sintática? Explique.
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Todo mundo está faminto; a não ser pelo café falsificado, a ração alimentar para uma semana não dura dois dias. A invasão está demorando, os homens são mandados para a Alemanha, as crianças estão doentes ou desnutridas, todo mundo usa roupas velhas e sapatos gastos. [...] poucos sapateiros fazem consertos, ou quando fazem, você precisa esperar meses pelo sapato, que enquanto isso pode ter desaparecido.
Leia o texto e responda às questões 15 e 16.
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Leia o fragmento de O diário de Anne Frank e responda às questões 12 e 13.
Guarda Velha, olhando de passagem para casa”. Explique a diferença de sentido entre essas duas orações e por que essa diferença acontece.
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Os termos destacados são, respectivamente: a. adjunto adverbial e objeto direto. b. predicativo do sujeito e objeto direto. c. adjunto adnominal e complemento nominal. d. adjunto adnominal e objeto direto. e. adjunto adverbial e predicativo do sujeito
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Termos acessórios: adjunto adverbial 01. FGV-SP Com a migração dos investimentos, surgem novos desafios, onde o tempo de retorno do capital investido tem que ser o menor possível. Indique qual a circunstância expressa por “Com a migração dos investimentos”. Resolução O termo “com a migração dos investimentos” expressa circunstância de causa (provoca como efeito o surgimento de novos desafios).
03. PUC-SP Leia o texto e responda à questão. A colossal produção agrícola e industrial dos americanos voa para os mercados com a velocidade média de 100 km por hora. Os trigos e carnes argentinas afluem para os portos em autos e locomotivas que uns 50 km por hora, na certa, desenvolvem. LOBATO, Monteiro. Obras completas. São Paulo: Brasiliense, 1972.
As circunstâncias destacadas indicam, respectivamente, a ideia de: a. lugar, meio e finalidade. b. finalidade, meio e afirmação. c. finalidade, tempo e dúvida. d. lugar, meio e afirmação. e. lugar, instrumento e lugar.
02. Mackenzie-SP Na frase “Fugia-lhe, e certo, metia o papel no bolso, corria a casa, fechava-se, não abria as vidraças, chegava a fechar os olhos”, são adjuntos adverbiais: a. certo – no bolso – a casa – não b. no bolso – não c. certo – no bolso d. lhe – certo – no bolso – a casa – se – não e. certo – no bolso – não – a fechar
Resolução No contexto, “para os mercados” expressa circunstância de lugar; “em autos e locomotivas”, meio; e “na certa”, afirmação. Alternativa correta: D Habilidade Identificar aspectos linguísticos e discursivos nas construções da variedade culta da língua.
Resolução “No bolso” é adjunto adverbial de lugar e “não”, adjunto adverbial de negação. Alternativa correta: B
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Exercícios de Aplicação
05. PUC-SP Dê a função sintática do termo destacado em: “Depressa esqueci o Quincas Borba”. a. objeto direto. b. sujeito. c. agente da passiva. d. adjunto adverbial. e. aposto.
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Sobre o módulo Salientar que o adjunto adverbial, apesar de acessório, constitui um dos importantes marcadores de expansão semântica em qualquer contexto.
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intensidade, lugar, dúvida, tempo afirmação, lugar, dúvida, tempo modo, lugar, dúvida, condição modo, tempo, dúvida, tempo modo, lugar, dúvida, tempo
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a. b. c. d. e.
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04. Leia os fragmentos de texto e assinale a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as circunstâncias expressas pelos termos destacados. • Entrega-lhe um pequeno embrulho, papel muito colorido, inteiramente preenchido com minúsculos desenhos de motivos infantis. • Uma nuvem cresce em seus olhos, que não piscam, e quem passar por perto poderá suspeitar de uma estátua de cera. • Talvez espere mesmo aprender alguma coisa com ele, que é o bom aluno, que é o culto, o inteligente, o esforçado. • E quando as ondas se moviam, todas as outras se moviam também.
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Exercícios Extras
Da teoria, leia o item 2. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
06. Unimep- SP Leia as frases e responda à questão. I. Ele é muito simpático. II. Ele trabalha muito pouco. III. Há muito livro interessante. “Muito” é: a. adjunto adverbial em I e II e adjunto adnominal em III. b. adjunto adverbial em I e adjunto adnominal em II e III. c. adjunto adverbial em II e adjunto adnominal em I e III. d. adjunto adverbial em I, II e III. e. adjunto adnominal em I, II e III. 07. Fuvest-SP Assinale a alternativa que começa com um adjunto adverbial de tempo. a. Com certeza, havia um erro no papel do banco. b. No dia seguinte, Fabiano voltou à cidade. c. Na porta, [...] enganchou as rosetas das esporas. d. Não deviam tratá-lo assim. e. O que havia era safadeza. 08. FCMSC-SP Leia as frases, considere as afirmações sobre elas e assinale a alternativa correta. 1. O proprietário da farmácia saiu. 2. O proprietário saiu da farmácia. I. Na frase 1, “da farmácia” é adjunto adnominal. II. Na frase 2, “da farmácia” é adjunto adverbial. III. As duas frases têm o mesmo significado. IV. Tanto na frase 1 quanto na 2, “da farmácia” tem a mesma função sintática. a. Somente I está correta. b. Somente I e II estão corretas. c. Somente II está correta. d. Somente III está correta. e. Somente IV está correta. 09. ITA-SP Leia o fragmento de texto e responda à questão. As angústias dos brasileiros em relação ao português são de duas ordens. Para uma parte da população, a que não teve acesso a uma boa escola e, mesmo assim, conseguiu galgar posições, o problema é, sobretudo, com a gramática. É esse o público que consome avidamente os fascículos e livros do professor Pasquale, em que as regras básicas do idioma são apresentadas de forma clara e bem-humorada. Para o segmento que teve oportunidade de estudar em bons colégios, a principal dificuldade é com clareza. É para satisfazer a essa demanda que um
novo tipo de profissional surgiu: o professor de português especializado em adestrar funcionários de empresas. Antigamente, os cursos dados no escritório eram de gramática básica e destinavam-se principalmente a secretárias. De uns tempos para cá, eles passaram a atender primordialmente gente de nível superior. Em geral, os professores que atuam em firmas são acadêmicos que fazem esse tipo de trabalho esporadicamente para ganhar um dinheiro extra. “É fascinante, porque deixamos de viver a teoria para enfrentar a língua do mundo real”, diz Antônio Suárez Abreu, livre-docente pela Universidade de São Paulo. LIMA, João Gabriel de. Falar e escrever, eis a questão. Veja, 7 nov. 2001.
O adjetivo “principal” (em “a principal dificuldade é com clareza”) permite inferir que a clareza é apenas um elemento dentro de um conjunto de dificuldades, talvez o mais significativo. Semelhante inferência pode ser realizada pelos advérbios: a. avidamente, principalmente, primordialmente. b. sobretudo, avidamente, principalmente. c. avidamente, antigamente, principalmente. d. sobretudo, principalmente, primordialmente. e. principalmente, primordialmente, esporadicamente. 10. UFPE Leia o texto e responda à questão. Sobre a história do arquipélago, explicou que fora doado pelo Rei de Portugal, em 1504, a Fernão de Noronha. O primeiro nome fora ilha de São João. Naqueles tempos, era comum batizar os lugares com o nome da festa religiosa do dia da descoberta. Pode-se dizer, então, que ela foi vista pela primeira vez por olhos de navegantes europeus num dia 24 de junho, entre 1500 e 1503. Abdias Moura, O segredo da ilha.
Em que alternativa a expressão não exerce, no texto, a função de adjunto adverbial? a. “... em 1504...” b. “Naqueles tempos...” c. “... pela primeira vez...” d. “... pelo Rei de Portugal...” e. “... num dia 24 de junho...” 11. PUC-SP (adaptado) Nos trechos “ numa homenagem também aos salgueirenses que, no Carnaval de 1967, entraram pelo cano”/ “… deslumbram, saboreiam, de Madureira à Gávea, na unidade do prazer desencadeado”, assinale a alternativa que indica a circunstância expressa pelos adjuntos adverbiais, colocados entre vírgulas. a. tempo / lugar b. tempo / modo c. lugar / assunto
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Exercícios Propostos
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 6 ago. 1995.
No trecho em destaque, o adjunto adverbial “aí” seria corretamente substituído, de acordo com seu sentido no texto, por: a. nesse lugar. b. nesse instante. c. contudo. d. em consequência. e. ao contrário.
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13. Enem Diga não ao não Quem disse que alguma coisa é impossível? Olhe ao redor. O mundo está cheio de coisas que, segundo os pessimistas, nunca teriam acontecido. “Impossível”. “Impraticável”. “Não”. E ainda assim, sim. Sim, Santos Dumont foi o primeiro homem a decolar a bordo de um avião, impulsionado por um motor aeronáutico. Sim, Visconde de Mauá, um dos maiores empreendedores do Brasil, inaugurou a primeira rodovia pavimentada do país. Sim, uma empresa brasileira também inovou no país. Abasteceu o primeiro voo comercial brasileiro. Foi a primeira empresa privada a produzir petróleo na Bacia de Campos.
Jornal da ABI, n. 336, dez. 2008. Adaptado.
O texto publicitário apresenta a oposição entre “impossível”, “impraticável”, “não” e “sim”, “sim”. Essa oposição, usada como um recurso argumentativo, tem a função de: a. minimizar a importância da invenção do avião por Santos Dumont. b. mencionar os feitos de grandes empreendedores da história do Brasil. c. ressaltar a importância do pessimismo para promover transformações. d. associar os empreendimentos da empresa petrolífera a feitos históricos. e. ironizar os empreendimentos rodoviários de Visconde de Mauá no Brasil. 14. ITA-SP Leia o texto e responda à questão. O Programa Mulheres está mudando. Novo cenário, novos apresentadores, muito charme, mais informação, moda, comportamento e prestação de serviços. Assista amanhã à revista eletrônica feminina que é a referência do gênero na TV. Por que não está adequada a vírgula empregada após a palavra “amanhã”? 15. UNIFESP Leia os textos e responda à questão. Texto I Perante a Morte empalidece e treme, Treme perante a Morte, empalidece. Coroa-te de lágrimas, esquece O Mal cruel que nos abismos geme. Cruz e Sousa, Perante a morte.
Texto II Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és! Gonçalves Dias, I-Juca Pirama.
Texto III Corrente, que do peito destilada, Sois por dois belos olhos despedida; E por carmim correndo dividida, Deixais o ser, levais a cor mudada. Gregório de Matos, Aos mesmos sentimentos.
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A triste verdade é que passei as férias no calçadão do Leblon, nos intervalos do novo livro que venho penosamente perpetrando. Estou ficando cobra em calçadão, embora deva confessar que o meu momento calçadônico mais alegre é quando, já no caminho de volta, vislumbro o letreiro do hotel que marca a esquina da rua onde finalmente terminarei o programa-saúde do dia. Sou, digamos, um caminhante resignado. Depois dos 50, a gente fica igual a carro usado, todo dia tem uma coisa dando errado, é a suspensão, é a embreagem, é o radiador, é o contraplano do rolabrequim, é o contrafarto do mesocárdio epidítico, a falta de serotorpinafolimolecular, é o que mecânicos e médicos disseram. Aí, para conseguir ir segurando a barra, vou acatando os conselhos. Andar é bom para mim, digo sem muita convicção a meus entediados botões, é bom para todos.
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12. Fuvest-SP Leia o texto e responda à questão.
Desenvolveu um óleo combustível mais limpo, o OC Plus. O que é necessário para transformar o não em sim? Curiosidade. Mente aberta. Vontade de arriscar. E quando o problema parece insolúvel, quando o desafio é muito duro, dizer: vamos lá. Soluções de energia para um mundo real.
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d. companhia / tempo e. intensidade / lugar
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Mário de Andrade, Rito do irmão pequeno.
Texto V Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia?!... Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto...
No texto V, o sintagma no teu pranto desempenha a função sintática de adjunto adverbial. Esta mesma função vem desempenhada por: a. “perante a Morte” (em I) e “nos abismos” (em I). b. “de lágrimas” (em I) e “do forte” (em II). c. “momento da dor” (em IV) e “uma felicidade” (em IV). d. “em presença da morte” (em II) e “correndo dividida” (em III). e. “Mal cruel” (em I) e “Na presença de estranhos” (em II).
Castro Alves, O navio negreiro.
16. UEAP Leia a charge, considere as afirmações e assinale a alternativa correta.
I. O advérbio “agora” foi empregado para indicar uma sequenciação nas ações feitas por uma das personagens. II. Os elementos não verbais contribuem para a comicidade do texto. III. Pelo uso das maiúsculas, nos balões, pode-se afirmar que as duas personagens estão falando alto uma com a outra. IV. No diálogo, as personagens utilizam vocábulos característicos da linguagem informal. a. Somente I e II estão corretas. b. Somente II e III estão corretas. c. Somente III e IV estão corretas. d. Somente I, II e IV estão corretas. e. I, II, III e IV estão corretas.
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Língua Portuguesa
Texto IV Chora, irmão pequeno, chora, Porque chegou o momento da dor. A própria dor é uma felicidade...
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Módulo 39
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Termos acessórios: aposto e vocativo
HAGAR, O HORRÍVEL
Resolução O autor empregou a vírgula para separar o aposto “pássaro e lesma”, referente às características que dá a “homem”. Alternativa correta: E
02. UFMG Leia o fragmento do poema de Tomás Antônio Gonzaga e responda à questão. Minha bela Marília, tudo passa A sorte deste mundo é mal segura Se vem depois dos males a ventura Vem depois dos prazeres a desgraça Estão os mesmos deuses Sujeitos ao poder do ímpio fado: Apolo já fugiu do céu brilhante, já foi pastor de gado. “Minha bela Marília” é: a. vocativo. b. aposto. c. sujeito. d. adjunto adnominal. e. adjunto adverbial.
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Resolução A expressão destacada invoca ou chama o interlocutor, logo é vocativo. Alternativa correta: A
Assinale o trecho do diálogo que apresenta um registro informal, ou coloquial, da linguagem. a. “Tá legal, espertinho! Onde é que você esteve?!” b. “E lembre-se: se você disser uma mentira, os seus chifres cairão!” c. “Estou atrasado porque ajudei uma velhinha a atravessar a rua...” d. “... e ela me deu um anel mágico que me levou a um tesouro...” e. “... mas bandidos o roubaram e os persegui até a Etiópia, onde um dragão...” Resolução A expressão “Tá legal”, seguida do vocativo “espertinho”, configura registro coloquial da linguagem. Alternativa correta: A Habilidade Traduzir o que se compreende por construções sintáticas, semânticas e pragmáticas presentes em diversas situações discursivas, considerando a variedade culta e outras variedades da língua.
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03. Enem Dick Browne
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01. Unaerp-SP Na oração: “Pássaro e lesma, o homem oscila entre o desejo de voar e o desejo de arrastar”, Gustavo Corção empregou a vírgula: a. por tratar-se de antítese. b. para indicar a elipse do verbo. c. para separar o vocativo. d. para separar uma oração adjetiva de valor restritivo. e. para separar o aposto.
Língua Portuguesa
Exercícios de Aplicação
04. Leia o texto e responda à questão. No capricho O Adãozinho, meu cumpade, enquanto esperava pelo delegado na antessala da delegacia, olhava curiosamente para um quadro, onde figurava a pintura de uma senhora. Ao entrar a autoridade, e percebendo que o cabôco admirava tal figura na parede, perguntou: — Que tal? Gosta desse quadro? E o Adãozinho respondeu com toda sinceridade que Deus lhe dá a um cabôco da roça: — Mas pelo amor de Deus, hein, dotô! Que muié feia! Parece fiote de cruis-credo, parente dos Deus me livre, mais horríver que briga de cego no escuro. Feia, mêmo, sô! Ao que o delegado não teve como deixar de confessar, um pouco secamente... — É minha mãe. E o cabôco, em cima da bucha, ainda não perde a linha: — Inté que é uma feiura caprichada, dotô!
Nas passagens “O Adãozinho, meu cumpade...” e “Mas pelo amor de Deus, hein, dotô!”, os termos destacados são classificados, respectivamente, como: a. aposto explicativo e vocativo. b. aposto resumidor e vocativo. c. vocativo e aposto explicativo. d. aposto especificativo e vocativo. e. vocativo e aposto enumerativo. 05. UFMS Faça uma análise sintática da oração, considere as afirmações e faça a soma das corretas. A ordem, meus amigos, é a base do governo. 01. “A ordem” é sujeito simples; “é a base do governo” é predicado nominal. 02. A expressão “meus amigos” é aposto. 04. “A”, “meus”, “a”, “do governo” são adjuntos adnominais. 08. “é” é verbo transitivo direto. 16. “a base do governo” é predicativo do objeto.
BOLDRIN, R. Almanaque Brasil de cultura popular. São Paulo: Andreato Comunicação e Cultura, n. 62, 2004. Adaptado.
Seu espaço Sobre o módulo Salientar que o aposto, apesar de acessório, constitui um dos importantes marcadores de expansão semântica dos nomes em qualquer contexto. Além disso, chamar a atenção para a correta distinção entre sujeito e vocativo.
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Exercícios Extras
aprofundamento
06. Mackenzie-SP Em: “— Perdi a mala! – um diz de cara acabrunhada”, “um” tem a função sintática de: a. adjunto adnominal b. sujeito simples c. adjunto adverbial d. aposto e. numeral 07. Mackenzie-SP Leia o fragmento do soneto de Luís de Camões e responda à questão. “Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, serrana bela.” Assinale a alternativa em que aparece uma função sintática que se repete no texto. a. objeto direto. b. complemento nominal. c. sujeito. d. aposto. e. predicativo do sujeito. 08. UNESP Leia o texto e responda à questão. “Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição da família, célula da sociedade.” O trecho destacado é: a. complemento nominal. b. vocativo. c. agente da passiva. d. objeto direto. e. aposto.
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09. Leia o fragmento de O Ateneu, de Raul Pompéia, e responda à questão. A primeira vez que vi o estabelecimento, foi por uma festa de encerramento de trabalhos. Transformara-se em anfiteatro uma das grandes salas da frente do edifício, exatamente a que servia de capela; paredes estucadas de suntuosos relevos, e o teto aprofundado em largo medalhão, de magistral pintura, onde uma aberta de céu azul despenhava aos cachos deliciosos anjinhos, ostentando atrevimentos róseos de carne, agitando os minúsculos pés e as mãozinhas, desatando fitas de gaze no ar. Desarmado o oratório, construíram-se bancadas circulares, que encobriam o luxo das paredes. Os alunos ocupavam a arquibancada. Como a maior con-
corrência preferia sempre a exibição dos exercícios ginásticos, solenizada dias depois do encerramento das aulas, a acomodação deixada aos circunstantes era pouco espaçosa; e o público, pais e correspondentes em geral, porém mais numeroso do que se esperava, tinha que transbordar da sala da festa para a imediata. O narrador descreve o espaço em que será realizada uma festa de encerramento de ano no Ateneu. Pode-se afirmar que há um aposto na passagem: a. “teto aprofundado em largo medalhão” b. “Desarmado o oratório” c. “Os alunos ocupavam a arquibancada” d. “acomodação deixada aos circunstantes era pouco espaçosa” e. “pais e correspondentes em geral” 10. Assinale a alternativa em que o termo destacado é um aposto. a. São pontos de venda modestos, mal situados, pouco visitados. b. Ele está sendo, o quanto pode, verdadeiro, honesto consigo mesmo. c. O prédio, um precário labirinto, simples demais para homens como nós. d. O livro foi parar numas poucas livrarias, dois ou três exemplares em cada uma. e. Em um desses pontos, por exemplo, a estreita lombada cor de fogo se avista de longe. 11. Unaerp-SP Leia o texto e responda à questão. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio. [...] O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. REZENDE, Otto Lara, Folha de S.Paulo, 23 fev. 1992.
No trecho “Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos.”, a segunda frase, em relação à primeira, é: a. uma gradação imprópria. b. uma oração reduzida. c. um aposto. d. um adjunto adverbial. e. uma oração subordinada predicativa. 12. Assinale a alternativa que classifica corretamente o termo destacado. a. Hora do intervalo, pessoal. (aposto explicativo) b. João, Sérgio e Carlos, todos foram ao show. (aposto resumitivo) c. O político levou a mulher, Sueli, ao evento. (vocativo)
Língua Portuguesa
reforço
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de
tarefa
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Da teoria, leia o tópico 3.
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Exercícios Propostos
13. O termo destacado que tem função sintática de vocativo é: a. Saí com minha mãe hoje para comprar presentes de Natal. b. Visitamos o bebê recém-nascido da minha amiga, Janaína. c. Não sei como esse engano pôde ocorrer, senhora. d. Todos foram ao cinema, inclusive Ana e Carla. e. Isso já aconteceu com você alguma vez? 14. UFC-CE Leia o que se afirma acerca do aposto. Pode-se ampliar, explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida num termo que exerça qualquer função sintática por meio de um termo acessório a ele equivalente: o aposto. O aposto pode ser classificado, de acordo com seu valor na oração, em: explicativo, enumerativo, resumidor ou recapitulativo, comparativo e especificativo. DE NICOLA, José; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997.
Nos períodos a seguir, os trechos destacados exercem a função de aposto. Classifique-os de acordo com seu valor na oração. 1. Invisível como o vento e os encantos, a Morte apossara-se do frágil sopro do menino pagão na noite em que a porta se abrira dando-lhe passagem. 2. Quando a Velha-do-Chapéu-Grande, assim o empalhador de cangalhas para montarias chamava a fome, empoleirou-se de vez, assistindo ao padecer dos viventes, há muito haviam se apartado as águas [...]. 15. UFSCar-SP Leia o fragmento de Iracema, de José de Alencar, e responda à questão. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida. [...] A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois
Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O guerreiro falou: — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu? — Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus. — Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema. Os vocativos presentes nas falas de Iracema e do moço desconhecido permitem analisar como cada um deles concebia o outro. Transcreva esses vocativos do texto e explique a imagem que Iracema tinha do desconhecido e a imagem que ele tinha de Iracema. 16. Insper-SP (adaptado) Leia o poema de Manoel de Barros e responda à questão. Infantil O menino ia no mato e a onça comeu ele. Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino e ele foi contar para a mãe. A mãe disse: mas se a onça comeu você, como é que o caminhão passou por dentro do seu corpo? É que o caminhão só passou renteando meu corpo e eu desviei depressa. Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia. Eu não preciso de fazer razão. Considere as afirmações sobre o poema e assinale a alternativa correta. I. Nos quatro primeiros versos, apresenta-se uma situação que remete ao universo de fantasia da criança. II. No diálogo entre o menino e sua mãe, é flagrante o contraste entre a lógica do adulto e a capacidade imaginativa da criança. III. A fala final do menino permite associar o poder de livre criação comum às crianças à liberdade criativa própria do discurso poético. IV. No penúltimo verso, percebe-se a presença de um vocativo. a. Somente I está correta. b. Somente I e II estão corretas. c. Somente I e III estão corretas. d. Somente I, II e III estão corretas. e. I, II, III e IV estão corretas.
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d. Acordem, crianças. Hora da escola. (aposto especificativo) e. Pedro, taxista desde jovem, sofreu um assalto esta semana. (vocativo)
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Capítulo 32................26 Módulo 73 .............. 33 Módulo 74 .............. 37 Módulo 75 .............. 41 Capítulo 33................46 Módulo 76 .............. 52 Módulo 77 ..............56 Módulo 78 ..............60
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1. Simbolismo 2. Simbolismo em Portugal: António Nobre e Camilo Pessanha 3. Simbolismo no Brasil: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens 4. Organizador gráfico Módulo 73 – Simbolismo Módulo 74 – António Nobre e Camilo Pessanha Módulo 75 – Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens
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MUSEE DES BEAUX-ARTS, CHARTRES, FRANCE
• Identificar, em textos literários do Simbolismo, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido. • Relacionar características discursivas e ideológicas da poesia simbolista brasileira ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção. • Compreender valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias simbolistas.
A expressão literária do fim do século XIX
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O mundo capitalista e o desenvolvimento científico e tecnológico do fim do século XIX estimularam a sociedade da época na busca incessante pelos bens materiais. Entretanto, as conquistas de melhorias foram para poucos, gerando grande frustração ao homem comum, o que o levou a rejeitar os conflitos realistas e cientificistas e o fez buscar a subjetividade.
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Pierre Puvis de Chavannes, Verão, 1873.
O Simbolismo é a estética literária que se apresentou no fim do século XIX, em um momento de grande desilusão com as frustradas tentativas de se transformar a sociedade burguesa industrial. O crítico literário Alfredo Bosi evidencia isso quando afirma: Os simbolistas – como depois as vanguardas surrealistas e expressionistas – tiveram esta função relevante: dizer do mal-estar profundo que tem enervado a civilização industrial; e o fato de terem oferecido remédios inúteis, quando não perigosos, porque secretados pela própria doença, não deve servir de pretexto para tardias excomunhões. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 49. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.
Nesse contexto, nas últimas décadas dos anos 1800, já se percebia, em grande parte dos artistas realistas, uma desilusão diante da sociedade industrial. Nesse momento, inseriram-se os artistas simbolistas, que rejeitam o Realismo e o Parnasianismo, afastando-se da realidade objetiva e voltando-se para a realidade subjetiva. Não seguem, contudo, a subjetividade superficial, piegas e sentimentalista em excesso do Romantismo. A estética simbolista é considerada “importada” da França, local de seu surgimento. O Simbolismo em Portugal teve início em 1890, ano do Ultimato Inglês, o qual gerou, na sociedade portuguesa, grande pessimismo e frustração e colocou o país em uma acentuada crise econômica. Esse quadro levou o governo monarquista português ao descrédito. No Brasil, o Simbolismo surgiu em 1893, com Cruz e Sousa, no Sul do país, região onde mais se combateu a república, em sua fase inicial. O surgimento do Simbolismo ocorreu em momento de grande desilusão e consequentes revoltas. Por esse motivo, os autores dessa época literária combatem a realidade objetiva, buscando manifestações metafísicas e espirituais e valorizando o subconsciente e o inconsciente freudiano. A literatura simbolista dos dois últimos decênios do século XIX prezou tudo o que era langor, cansaço de viver, isolamento de um público que ela queria manter afastado de seus arcanos, oposição à civilização tecnológica acusada de materialista. PEYRE, Henri. A literatura simbolista. São Paulo: Cultrix/Edusp.
Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! Como já foi mencionado, os artistas simbolistas não têm interesse em expressar a realidade objetiva, e sim a realidade subjetiva. O Simbolismo representa uma maneira sublime de exprimir a oposição entre corpo e alma, matéria e espírito, optando-se pela sugestão e não pela objetividade. A linguagem é carregada de símbolos, como ocorre no poema, em que “a alma num cárcere anda presa”. Para essa linguagem simbólica, os poetas simbolistas recorrem, muitas vezes, à sinestesia e à aliteração. Sinestesia é a mistura de sensações, como se observa em: Tem cheiro a luz, a manhã nasce... Oh sonora audição colorida do aroma
Alphonsus de Guimaraens
Aliteração é a repetição de fonemas consonânticos, como em: Os sentimentos servem de atalaias Para guiar as multidões errantes Que caminham tremendo, vacilantes Pelas desertas, infinitas praias...
Cruz e Sousa
O recurso da aliteração é importante para se alcançar a musicalidade, que é também marca recorrente em obras da estética simbolista. Segundo o poeta francês Paul Verlaine, “a música [está] acima de tudo”. Na pintura, assim como na expressão linguística, a proposta do Simbolismo é de liberdade para misturar o concreto e o abstrato, o material e o ideal. Para os artistas simbolistas, definir algo de forma objetiva é eliminar o prazer do conhecimento gradativo e intuitivo da verdadeira natureza da obra. Por essa razão, as coisas não devem ser nomeadas diretamente, mas mostradas por meio de símbolos. De acordo com o crítico literário Gilberto Mendonça Teles, “o símbolo é, em si mesmo, inesgotável”.
A. Características gerais do Simbolismo Para melhor compreensão das características da escola simbolista, leia um poema de um de seus maiores representantes, o brasileiro Cruz e Sousa. Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza.
2. Simbolismo em Portugal: António Nobre e Camilo Pessanha O ano de 1890 é o marco inicial do Simbolismo em Portugal, com a publicação do livro de poemas Oaristos, de Eugênio de Castro. Contudo, em 1889, já circulavam duas revistas orientadas pelo Simbolismo francês, as quais tinham como colaboradores Eugênio de Castro e António Nobre.
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1. Simbolismo
Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais: Voltam na asa do vento os ais que a alma chora, Elas, porém, senhor, elas não voltam mais... A linguagem de António Nobre aproxima-se da oralidade, e isso se contrapõe à forma sofisticada de versos, como os alexandrinos e decassílabos. Esse poema trata do tempo que não volta mais.
António Pereira Nobre (1867-1900) não é autor de numerosas obras, tendo em vista que faleceu precocemente, aos 30 anos, de tuberculose. Contudo, sua obra Só e as póstumas Primeiros versos e Despedida são referências da literatura portuguesa. Em sua obra, há a herança romântica somada ao decadentismo e ao Simbolismo, uma vez que escreveu diferentes tipos de versos e estrofes; usou a forma clássica do soneto e também ritmos sofisticados e musicais, como propõe o Simbolismo. Ao mesmo tempo que trouxe um eu dramatizado e apresentou-o como narcísico ou dândi (herói), trabalhou o descontentamento, a decepção e o pessimismo daquele momento em Portugal. O poeta criou cenários de tempos felizes na tentativa de combater a decepção, porém mostrou a impossibilidade de retorno a esses tempos. O sujeito dos poemas de António Nobre assume a carga simbólica de herói do povo português. Na época da publicação de suas obras, elas foram consideradas nacionalistas e tradicionalistas. Hoje, no entanto, essa leitura é bastante relativizada, uma vez que esse poeta antecipou um sujeito moderno, o qual não pode voltar ao que se perdeu e, em lugar de se lamentar pela felicidade perdida, mostra-se resistente à ruína e procura uma forma de reedificação. O poema “Menino e moço” é um exemplo da obra desse poeta.
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Tombou da haste a flor da minha infância alada. Murchou na jarra de ouro o pudico jasmim: Voou aos altos céus a pomba enamorada Que dantes estendia as asas sobre mim. Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada, E que era sempre dia, e nunca tinha fim Essa visão de luar que vivia encantada,
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António Nobre
COLEÇÃO PARTICULAR
COLEÇÃO PARTICULAR
B. Camilo de Almeida Pessanha
Língua Portuguesa
Mas, hoje, as pombas de ouro, aves da minha infância, Que me enchiam de lua o coração, outrora, Partiram e no céu evolam-se à distancia!
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Num castelo com torres de marfim!
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A. António Pereira Nobre
Camilo Pessanha
Camilo Pessanha (1867-1826) é considerado o maior poeta simbolista português. Sua poesia tem marcante influência francesa: a musicalidade. O poeta acreditava que a vida era apenas uma ilusão e trabalhou muito, em sua produção poética, a noção de transitoriedade da vida, a fugacidade do tempo. Apesar de utilizar figuras do cotidiano, como o rio, não apresenta uma poesia prosaica, mas de profunda reflexão. O rio, por exemplo, transmite a ideia da passagem do tempo, havendo forte abstração em seus símbolos, característica típica do Simbolismo. Nos poemas de Camilo Pessanha, o mundo concreto adquire novo significado, proporcionando a sensação de transcendência, além de expor um pessimismo caro a esse período. É o que se vê no poema a seguir, intitulado “Inscrição”, de seu único livro, Clepsidra. O termo clepsidra significa relógio
Eu vi a luz em um país perdido. A minha alma é lânguida e inerme. Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído! No chão sumir-se, como faz um verme... Camilo Pessanha foi um dos poetas de maior influência na fase inicial do Modernismo português, na chamada geração da revista Orpheu.
3. Simbolismo no Brasil: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens Em 1893, aproximadamente três anos após o surgimento do Simbolismo em Portugal, essa estética ganhou expressão, no Brasil, com as publicações de Cruz e Sousa: Missal (prosa) e Broquéis (poesia). Esse período se estendeu até 1922, ano da Semana de Arte Moderna, movimento que marca o início do Modernismo no país. O Simbolismo não era a única estética vigente naquele momento. No fim do século XIX e início do XX, algumas tendências andavam paralelas: o Realismo e suas manifestações; o Simbolismo, à margem da literatura acadêmica da época; o Pré-Modernismo, com autores que se preocupavam em denunciar a realidade brasileira, como Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. Apenas com a Semana de Arte Moderna é que essas estéticas foram neutralizadas e novos rumos foram traçados para a literatura brasileira. Os dois maiores nomes do Simbolismo brasileiro são Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.
A. Cruz e Sousa
sa herdou da família que alforriou todos os seus familiares. Teve uma vida trágica: casou-se com Gavita, com a qual teve quatro filhos, todos mortos de forma prematura. Sua esposa enlouqueceu, e ele morreu em decorrência da tuberculose, aos 37 anos. Cruz e Sousa é o maior poeta brasileiro da estética simbolista. Na fase inicial de sua produção, tinha como tema a angústia do negro. Com o passar do tempo, começou a tratar desse sentimento de forma universal. No poema "Primeira comunhão", a seguir, Cruz e Sousa apresenta uma angústia sexual profunda, o que aparecerá também em outros poemas. Grinaldas e véus brancos, véus de neve, Véus e grinaldas purificadores, Vão as Flores carnais, as alvas Flores Do Sentimento delicado e leve. Um luar de pudor, sereno e breve, De ignotos e de prônubos pudores, Erra nos pulcros virginais brancores Por onde o Amor parábolas descreve... Luzes claras e augustas, luzes claras Douram dos templos as sagradas aras, Na comunhão das níveas hóstias frias... Quando seios pubentes estremecem, Silfos de sonhos de volúpia crescem, Ondulantes, em formas alvadias... Nos versos, é possível perceber que o poeta busca o ideal, utilizando substantivos como grinaldas, véus, flores e sentimentos, modificados por adjetivos como brancas, níveas, purificadoras etc. É recorrente, na poesia de Cruz e Sousa, o recurso estético da valorização por meio de letra maiúscula, como ocorre com “Flores”, “Sentimento” e “Amor” no poema. Na obra desse poeta, observa-se sua obsessão pela cor branca e por tudo que inspira brancura. Em sua poesia, está presente ainda a sublimação, que consiste na liberação da espiritualidade por meio da anulação da matéria, conseguida apenas com a morte. A linguagem de Cruz e Sousa é repleta de símbolos e jogos de sons, como no trecho do poema “Violões que choram”. Ah! plangentes violões dormentes, mornos, Soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, Bocas murmurejantes de lamento.
Cruz e Sousa
João da Cruz (1861-1898) era filho de escravos. Ele mesmo assim se considerava: escravo. O sobrenome Sou-
Sutis palpitações à luz da lua Anseio dos momentos mais saudosos, Quando lá choram na deserta rua As cordas vivas dos violões chorosos.
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Noites de além, remotas, que eu recordo, Noites de solidão, noites remotas Que nos azuis das Fantasias bordo, Vou constelando de visões ignotas.
COLEÇÃO PARTICULAR
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de água, referência direta ao tema da passagem do tempo, recorrente na obra desse autor.
E sons soturnos, suspiradas mágoas, Mágoas amargas e melancolias, No sussurro monótono das águas, Noturnamente, entre ramagens frias.
E o sino canta em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a benção de Jesus.
A repetição da consoante v, na última estrofe, combinada às vogais, sugere o dedilhar melancólico do violão.
B. Alphonsus de Guimaraens
E o sino clama em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a luz a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu tristonho Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem acoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu.
COLEÇÃO PARTICULAR
E o sino chora em lúgubres responsos: “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” Da produção de Alphonsus de Guimaraens, destaca-se Setenário das dores de Nossa Senhora, que evidencia o misticismo e a religiosidade do poeta, recorrente em sua obra. Alphonsus de Guimaraens
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Afonso Henriques da Costa Guimarães ou Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) escreveu poesias com os temas misticismo, amor e morte: o amor por sua noiva Constança, que faleceu prematuramente, e a morte, que parece ser a única forma de atingir a sublimação e aproximar-se de sua amada novamente.
Acesse e assista a um documentário sobre a vida e a poesia de Cruz e Sousa.
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Entre brumas, ao longe, surge a aurora, O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol.
Língua Portuguesa
Harmonias que pungem, que laceram, Dedos nervosos e ágeis que percorrem Cordas e um mundo de dolências geram, Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A linguagem do poeta é repleta de sugestões e aliterações. Em sua poesia, há também uma tendência à autocompaixão, como se observa no poema “A catedral”.
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Quando os sons dos violões vão soluçando, Quando os sons dos violões nas cordas gemem, E vão dilacerando e deliciando, Rasgando as almas que nas sombras tremem.
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01. Vunesp Assinale a alternativa em que se caracteriza a estética simbolista. a. Culto do contraste, que opõe elementos como amor e sofrimento, vida e morte, razão e fé, numa tentativa de conciliar polos antagônicos. b. Busca do equilíbrio e da simplicidade dos modelos greco-romanos, por meio, sobretudo, de uma linguagem simples, porém nobre. c. Culto do sentimento nativista, que faz do homem primitivo e sua civilização um símbolo de independência espiritual, política, social e literária. d. Exploração de ecos, assonâncias, aliterações, numa tentativa de valorizar a sonoridade da linguagem, aproximando-a da música. e. Preocupação com a perfeição formal, sobretudo com o vocabulário carregado de termos científicos, o que revela a objetividade do poeta. Resolução As poesias simbolistas utilizam recursos como assonância e aliteração para valorizar a sonoridade, já que a musicalidade é essencial. Alternativa correta: D
4. Organizador gráfico
Simbolismo fim do século XIX
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
APRENDER SEMPRE
Em Portugal
No Brasil
António Nobre
Cruz e Sousa
Camilo Pessanha
Tópico
Subtópico
Subtópico destaque
Apenas texto Características EMI-16-130
Tema
Alphonsus de Guimaraens
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Módulo 73
02. Enem Leia o poema “Cárcere das almas”, de Cruz e Sousa, e responda à questão. Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
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Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! Os elementos formais e temáticos relacionados com o contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema são: a. a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos. b. a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
c. o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais. d. a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras. e. a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano. Resolução Encontram-se, na poesia de Cruz e Sousa, o refinamento da forma e da escrita e a transcendência de temas universais, como a dor. Alternativa correta: C
03. ITA-SP Leia o fragmento do poema “Cristais”, de Cruz e Sousa, e responda à questão. Mais claro e fino do que as finas pratas O som da tua voz deliciava... Na dolência velada das sonatas Como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas Em lânguida espiral que iluminava, Brancas sonoridades de cascatas... Tanta harmonia melancolizava. Assinale a alternativa que reúne as características simbolistas presentes no texto. a. sinestesia, aliteração e sugestão b. clareza, perfeição formal e objetividade c. aliteração, objetividade e ritmo constante d. perfeição formal, clareza e sinestesia e. perfeição formal, objetividade e sinestesia Resolução Sinestesia: “Era um som feito luz”; “Brancas sonoridades de cascatas...”. Aliteração: repetição das consoantes f e s, por exemplo. Sugestão: não há objetividade nem clareza nos versos simbolistas. Alternativa correta: A Habilidade Identificar, em textos literários do Simbolismo, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
01. Esapp-SP (adaptado) Assinale a única afirmação coerente com o movimento simbolista. a. Algumas de suas obras são bastante herméticas, justificando a referência a um estilo “nefelibata”, pela obscuridade, consistindo, não poucas vezes, em uma linguagem de compreensão extremamente difícil. b. Evita radicalmente a abordagem de paisagens desoladamente esfumaçadas, de visões esgarçadas, de um estilo etéreo e de um ambiente penumbroso. c. Em suas obras, há predomínio dos fatos fisiológicos, que não são de ordem espiritual e transcendente, mas apenas manifestações da matéria. d. Prefere assuntos da época, marcadamente as questões sociais, como a abolição da escravatura. e. Apresenta exacerbado sentimentalismo em relação à natureza, que se revela especialmente na apresentação do indígena e das riquezas naturais, como florestas, rios e fauna. Resolução Muitas vezes, as obras simbolistas são herméticas, ou seja, de difícil entendimento, justamente por serem ricas em símbolos. Alternativa correta: A
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Exercícios de Aplicação
Língua Portuguesa
252
Simbolismo
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04. Fuvest-SP Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila, – Perdida voz que de entre as mais se exila, – Festões de som dissimulando a hora. Os versos anteriores são marcados pela presença e pela predominância de imagens auditivas, o que nos sugere a sua inclusão na estética . Assinale a alternativa que completa os espaços. a. da comparação – romântica b. da aliteração – simbolista c. do paralelismo – trovadoresca d. da antítese – barroca e. do polissíndeto – modernista
05. Mackenzie-SP (adaptado) Assinale a alternativa que não se refere ao Simbolismo. a. Apresenta uma linguagem colorida e musical. b. Ocorre grande interesse pelo individual e pelo metafísico. c. Há assuntos relacionados ao espiritual, místico, religioso. d. Nota-se o emprego constante de aliterações e assonâncias. e. Busca-se uma poesia formalmente perfeita, impassível e universalizante.
Seu espaço Sobre o módulo Ressalte para os alunos as características que diferem o Simbolismo do Romantismo: há a exploração de sentimentos, mas não o sentimentalismo idealizado e piegas do Romantismo.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Extras
Exercícios Propostos Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
06. Cescem-SP (adaptado) Na poesia simbolista, há: a. o predomínio da objetividade na tentativa de exprimir com mais clareza as ambiguidades da alma. b. a consideração do poema como um produto artístico, resultante de um processo lógico e analítico de interpretação do real. c. a visão materialista do mundo, adequadamente expressa por uma linguagem eivada de sugestões plásticas que acentuam a ideia de sensualidade. d. o direcionamento para a realidade subjetiva, expressa por uma linguagem rica em associações sensoriais. e. o abandono do soneto, forma fixa de poema que passa a ser considerada inadequada à fluidez onírica.
07. Cescem-SP O texto que segue aponta características do Simbolismo. Nem a ideia clara, nem o sentimento preciso, mas o vago do coração, o indeciso dos estados da alma. Com base nessas propostas, aponte o excerto que pertence a esse movimento estético. a. “Era um casarão sombrio, a casa da fazenda. Além de escura e abafada, recendia a um cheiro esquisito...” b. “A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol”. c. “Lá nas areias infindas, das palmeiras do país, Nasceram – crianças lindas, Viveram – moças gentis...”
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Da teoria, leia o tópico 1.
A estrofe é de Cruz e Sousa, e nela estão os seguintes elementos típicos da poesia simbolista: a. realidade urbana, linguagem coloquial, versos longos. b. erotismo, sintaxe fluente e direta, ironia. c. desprezo pela métrica, linguagem concretizante, sátira. d. filosofia materialista, linguagem rebuscada, exotismo. e. misticismo, linguagem solene, valorização do inconsciente. 09. ITA-SP Leia com atenção as duas estrofes e compare-as quanto ao conteúdo e à forma. I Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo que a imagem fique nua Rica mas sóbria, como um templo grego. II Do sonho as mais azuis diafaneidades que fuljam, que na Estrofe se levantem e as emoções, todas as castidades da alma do verso, pelos versos cantem. Comparando as duas estrofes, conclui-se que: a. I é parnasiana e II, simbolista. b. I é simbolista e II, romântica. c. I é árcade e II, parnasiana. d. I e II são parnasianas. e. I e II são simbolistas.
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10. UFPA (adaptado) Na última década do século XIX, surgiu, no Brasil, uma estética denominada: a. Parnasianismo, que reagiu violentamente contra o estilo então vigente, o Simbolismo. b. Romantismo, que se ajustou perfeitamente à alma do brasileiro, cujos anseios de liberdade política e literária passou a exprimir. c. Impressionismo, que pregava a volta à rigidez formal dos clássicos. d. Arcadismo, que pregava seu ideal de felicidade decorrente da vida em contato com a natureza. e. Simbolismo, que se contrapôs ao racionalismo e cientificismo realista.
12. Cescem-SP Leia o texto e assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. Ó Lua, triste, amargurada, fantasma de brancuras vaporosas, a tua nívea luz ciliciada faz murchecer e congelar as rosas. A luz difusa, que esbate difusa, esbatendo as linhas e diluindo as formas, produz uma transfiguração do objeto, o que caracteriza o e o faz aproximar-se do . a. Romantismo – Modernismo b. Simbolismo – Impressionismo c. Realismo – Surrealismo d. Simbolismo – Naturalismo e. Romantismo – Realismo 13. Podemos citar como traço semelhante entre o Simbolismo e o Romantismo: a. os temas como mistério, misticismo e sentimentos. b. o culto à forma e à expressão ortodoxa. c. a expressão das mazelas sociais. d. a adoção dos recursos da fala popular. e. a concepção positiva do mundo, com a expressão dos grandes feitos científicos.
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Faz descer sobre mim os brandos véus da calma, Sinfonia da Dor, ó Sinfonia muda, Voz de todo meu Sonho, ó noiva da minh’alma, Fantasma inspirador das Religiões de Buda.
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08. UEL-PR Leia o texto e responda à questão.
11. Mackenzie-SP Assinale a alternativa em que aparece um trecho de texto do Simbolismo brasileiro. a. “Vejo através da janela de meu trem os domingos das cidadezinhas, com meninas e moças, e caixeiros engomados que vêm olhar os passageiros empoeirados dos vagons.” b. “E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente se fabrica,…” c. “Ai! Se eu te visse no calor da sesta A mão tremente no calor das tuas, Amarrotado o teu vestido branco, Soltos cabelos nas espáduas nuas!… Ai! Se eu te visse, Madalena pura, Sobre o veludo reclinada a meio Olhos cerrados na volúpia doce, Os braços frouxos – palpitante o seio!” d. “Eu amo os gregos tipos de escultura: Pagãs nuas no mármore entalhadas; Não essas produções que a estufa escura Das normas cria, tortas e enfezadas.” e. “Brancuras imortais da Lua Nova, frios de nostalgia e sonolência… Sonhos brancos da Lua e viva essência dos fantasmas notívagos da Cova.”
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d. “Pois direi-me agora da grandeza, com que já me tendes ameaçado, desta província chamada Brasil, ou Terra de Santa Cruz.” e. “Vontade de dormir. Fumaça de chaminé transformada em lençol branco, cama macia de fazer água na boca.”
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, Soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, Bocas murmurejantes de lamento. [...] Sutis palpitações à luz da lua, Anseio dos momentos mais saudosos, Quando lá choram na deserta rua As cordas vivas dos violões chorosos. Quando os sons dos violões vão soluçando, Quando os sons dos violões nas cordas gemem, E vão dilacerando e deliciando, Rasgando as almas que nas sombras tremem. [...] Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. As estrofes anteriores, claramente representativas do , não apresentam . Assinale a alternativa que completa corretamente as duas lacunas anteriores. a. Romantismo – sinestesia b. Simbolismo – aliterações e assonâncias c. Romantismo – musicalidade d. Parnasianismo – metáforas e metonímias e. Simbolismo – versos brancos e livres 15. PUC-SP (adaptado) Leia o fragmento do poema “Antífona”, de Cruz e Sousa. Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádicas frescuras E dolências de lírios e de rosas... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Esse trecho do poema, que abre o livro Broquéis, é considerado uma espécie de profissão de fé simbolista. Considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. O fragmento revela a preocupação do eu lírico pelas formas caracterizadas pela cor branca, pelas cintilações, pela vaguidade, pelo diáfano e pelo transparente. II. O fragmento apresenta uma construção apoiada na justaposição de frases nominais, com o intuito de descrever os objetos com clareza. III. O fragmento mostra alguns procedimentos estilísticos do Simbolismo, como, por exemplo, a musicalidade das palavras, o uso das reticências, o emprego de letras maiúsculas e a indefinição do referente. a. Somente I e II estão corretas. b. Somente I e III estão corretas. c. Somente II e III estão corretas. d. Somente I está correta. e. I, II e III estão corretas. 16. UDESC (adaptado) Marque V para verdadeiro, F para falso e assinale a alternativa correta. ( ) Por suas características estilísticas, Cruz e Sousa insere-se no Simbolismo. ( ) O Simbolismo brasileiro apresenta conteúdo carregado de mistério, misticismo, sonoridade e espiritualidade. ( ) No Simbolismo, o lirismo é altamente objetivo, apresentando cunho político-social. a. V – F – F b. V – V – F c. V – V – F d. F – F – V e. V – F – V
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14. Mackenzie-SP Leia os fragmentos de texto e responda à questão.
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Módulo 74
Chorai, arcadas Do violoncelo! Convulsionadas Pontes aladas De pesadelo... [...] Trêmulos astros... Soidões lacustres... – Lemes e mastros... E os alabastros Dos balaústres! Vocabulário Soidões – solidões. Assinale a alternativa correta sobre o texto. a. Destaca a expressão egocêntrica do sofrimento amoroso, de nítida influência romântica. b. Recupera da lírica trovadoresca a redondilha maior, a estrutura paralelística e os versos brancos. c. A influência do futurismo italiano é comprovada pela presença de frases nominais curtas e temática onírica. d. A linguagem grandiloquente, as metáforas cósmicas e o pessimismo exacerbado comprovam o estilo condoreiro. e. A valorização de recursos estilísticos relacionados ao ritmo e à sonoridade é índice do estilo simbolista.
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Resolução No poema, percebe-se a valorização dos recursos rítmicos e sonoros, o que caracteriza a estética simbolista. Alternativa correta: E
Leia o poema “Inscrição”, de Camilo Pessanha, e responda às questões 02 e 03. Eu vi a luz em um país perdido. A minha alma é lânguida e inerme. Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído! No chão sumir-se, como faz um verme... 02. Nos versos de Camilo Pessanha, é possível perceber um tom: a. pessimista. b. saudosista. c. irônico. d. metalinguístico. e. romântico. Resolução No poema, percebe-se um tom melancólico, ao caracterizar como lânguida a alma do eu lírico e seu desejo de agir como um verme. Além disso, em “Eu vi a luz em um país perdido.”, nota-se a decepção do eu lírico com o país, restando apenas esperar pelo que virá. Alternativa correta: A 03. Assinale a alternativa que não apresenta uma leitura coerente do poema. a. O texto oscila entre o hermetismo e a vaguidão ao articular um discurso de caráter metafísico. b. O eu lírico manifesta ambiguidade quanto ao apego à vida e quanto à negação de seus desejos. c. O sujeito poético fala de um estado de espírito bastante pessoal e articula seu discurso em busca de exteriorizar sua visão de mundo. d. Um tom melancólico e dolorido perpassa o texto, que se articula como testemunho da dor de viver e da incerteza acerca do que há de vir. e. O último verso explicita o pessimismo presente no poema, mostrando a condição de verme do homem. Resolução Não há ambiguidade quanto à posição do eu lírico, que declara ter a alma lânguida e sugere a intenção de ser um verme, desistindo da vida. Alternativa correta: B Habilidade Identificar, em textos literários do Simbolismo, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
01. Mackenzie-SP Leia os fragmentos do poema de Camilo Pessanha e responda às questões.
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Exercícios de Aplicação
Língua Portuguesa
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António Nobre e Camilo Pessanha
32 252 Língua Portuguesa
Leia o soneto “Caminho”, de Camilo Pessanha, e responda às questões 04 e 05. Tenho sonhos cruéis; n’alma doente Sinto um vago receio prematuro. Vou a medo na aresta do futuro, Embebido em saudades do presente... Saudades desta dor que em vão procuro Do peito afugentar bem rudemente, Devendo, ao desmaiar sobre o poente, Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
04. É possível caracterizar esse poema como permeado de: a. harmonia e esperança. b. percepção objetiva do mundo. c. visão religiosa. d. luxúria e fantasia. e. melancolia e medo. 05. Qual a relação temporal feita pelo poeta?
Porque a dor, esta falta d’harmonia, Toda a luz desgrenhada que alumia As almas doidamente, o céu d’agora, Sem ela o coração é quase nada: Um sol onde expirasse a madrugada, Porque é só madrugada quando chora.
Seu espaço Sobre o módulo Ressalte para os alunos que não há muitas informações sobre António Nobre e Camilo Pessanha, autores do Simbolismo em Portugal.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Extras
aprofundamento
06. Fuvest-SP Em que século e em que movimento literário se situa a obra de Camilo Pessanha? 07. Fuvest-SP Dê razões que permitam situar sua obra nesse movimento. Leia o poema “Continua a tempestade”, de António Nobre, e responda às questões 08 e 09. Aqui, sobre estas águas cor de azeite, Cismo em meu Lar, na paz que lá havia: Carlota, à noite, ia ver se eu dormia E vinha, de manhã, trazer-me o leite... Aqui, não tenho um único deleite! Talvez... baixando, em breve, à Água fria, Sem um beijo, sem uma Ave-Maria, Sem uma flor, sem o menor enfeite... Ah! pudesse eu voltar à minha infância! Lar adorado, em fumos, a distância, Ao pé de minha Irmã, vendo-a bordar... Minha velha aia! conta-me essa história Que principiava, tenho-a na memória, “Era uma vez...” Ah deixem-me chorar! 08. Quais sentimentos dominam o eu lírico do poema? 09. Os termos aqui e lá, presentes na primeira estrofe, estabelecem relação: a. temporal, de presente e futuro. b. de lugar, de onde o eu lírico vive e de onde viverá. c. temporal, de passado e futuro. d. temporal, de presente e passado. e. de lugar, de onde o eu lírico gosta de viver e de onde encontra sofrimento. Leia o poema “Ao longe os barcos de flores”, de Camilo Pessanha, e responda às questões 10 e 11.
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Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila, – Perdida voz que de entre as mais se exila, – Festões de som dissimulando a hora. Na orgia, ao longe, que em clarões cintila E os lábios, branca, do carmim desflora... Só, incessante, um som de flauta chora, Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora Cauta, detém. Só modulada trila A flauta flébil... Quem há-de remi-la? Quem sabe a dor que sem razão deplora? Só, incessante, um som de flauta chora... Vocabulário Flébil – chorosa. 10. Que sujeito ganha destaque na primeira estrofe do poema? Como é caracterizado? a. A flauta, que é triste e melancólica. b. A voz, que é tranquila e mansa como um sonífero. c. A viúva, que é graciosa e solitária na noite. d. O choro, que é incessante e persistente. e. A música, que é som incessante, “perdida voz” e “festões de som”. 11. A poesia simbolista apresenta como importante recurso estilístico a aliteração, que consiste na repetição de um som consonantal. Identifique a aliteração presente na primeira estrofe do poema. Justifique sua resposta. Leia o poema de Camilo Pessanha e responda às questões 12 e 13. Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho, Onde esperei morrer, – meus tão castos lençóis? Do meu jardim exíguo os altos girassóis Quem foi que os arrancou e lançou no caminho? Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!) A mesa de eu cear, – tábua tosca, de pinho? E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho? – Da minha vinha o vinho acidulado e fresco... Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova. Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova... Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve. Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais, Alma da minha mãe... Não andes mais à neve, De noite a mendigar às portas dos casais. 12. Nos versos de Camilo Pessanha, o que acontece com os lençóis, com os girassóis, com a mesa, com a lenha denota que o sujeito poético se sente: a. bem por ter tantas posses. b. feliz por receber amigos. c. indignado, como se tivesse sido agredido. d. mal por não poder oferecer vinho a um amigo. e. chateado por não ter mais um jardim.
Língua Portuguesa
reforço
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de
tarefa
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Da teoria, leia o tópico 2.
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Exercícios Propostos
32 252 Língua Portuguesa
Leia o poema de Camilo Pessanha e responda às questões de 14 a 16. Passou o outono já, já torna o frio... – Outono de seu riso magoado. Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado... – O sol, e as águas límpidas do rio. Águas claras do rio! Águas do rio, Fugindo sob o meu olhar cansado, Para onde me levais meu vão cuidado? Aonde vais, meu coração vazio?
Ficai, cabelos dela, flutuando, E, debaixo das águas fugidias, Os seus olhos abertos e cismando... Onde ides a correr, melancolias? – E, refratadas, longamente ondeando, As suas mãos translúcidas e frias... 14. Não há ambiguidade quanto à posição do eu lírico, que declara ter a alma lânguida e sugere a intenção de ser um verme, desistindo da vida. 15. Que lembrança o fluir das águas límpidas do rio, refletindo os raios oblíquos do sol, traz ao eu lírico? 16. Em quais versos há a sugestão de que é essa a lembrança do eu lírico?
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
13. É marca expressiva do Simbolismo presente no poema: a. a linguagem coloquial. b. a utilização de metáforas. c. os versos livres. d. a objetividade e a clareza da linguagem. e. a temática crítica à política.
Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens
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Módulo 75
Uma das linhas temáticas da poesia de Alphonsus de Guimaraens, como se observa no exemplo, é a: a. amada morta. b. religiosidade profunda. c. transfiguração do amor. d. atmosfera litúrgica. e. paisagem mariana. Resolução Um dos temas abordados por Alphonsus de Guimaraens que pode ser observado no exemplo é o da amada morta. Alternativa correta: A
02. FEM-PA Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. Seus poemas sugerem um clima de mistério, por meio de uma linguagem rica em adjetivos semanticamente vagos e imprecisos. Trata-se de , que escreveu , como poeta vinculado ao . a. Vinicius de Moraes – Sonetos e baladas – Modernismo b. Álvares de Azevedo – Lira dos vinte anos – Romantismo c. Cruz e Sousa – Faróis – Simbolismo d. Olavo Bilac – O caçador de esmeraldas – Parnasianismo e. Cecília Meireles – Vaga música – Modernismo
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Resolução Completam corretamente as lacunas os termos da alternativa C. Alternativa correta: C
Resolução O transcendental e o místico são características recorrentes nas obras simbolistas, mas para explorar as questões humanas, sem qualquer tentativa de superação. Alternativa correta: E Habilidade Compreender valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias simbolistas.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Hão de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tomar do dia Dos laranjais hão de cair os pomos Lembrando-se daquela que os colhia.
03. UCMG Das características da obra de Cruz e Sousa indicadas, a única que foge aos modelos simbolistas é: a. culto da imprecisão, do misterioso e do vago. b. exploração consciente da musicalidade das palavras. c. lirismo impregnado de tom dramático e humanitário. d. presença de vocabulário com palavras raras e expressivas. e. tentativa de superação no transcendental e no místico.
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01. PUC-RS Leia o texto e responda à questão.
Língua Portuguesa
Exercícios de Aplicação
32 252 Língua Portuguesa
04. Mackenzie-SP Leia o texto e responda à questão. Dentre as atitudes mais comuns à sua poesia, no plano temático, destacam-se: a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca. E, no plano específico da expressão, têm destaque as sinestesias, as imagens insólitas, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e a utilização de maiúsculas, com a finalidade de dar valor absoluto a certos termos.
05. Unid-SP Não corresponde ao Simbolismo a afirmativa: a. No Brasil, o Simbolismo começou em 1893, com a publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa. b. Olavo Bilac, um dos poetas mais festejados do período, escreveu o poema formal “Profissão de fé”. c. Os versos “Vozes veladas, veludosas vozes,/ Volúpias dos violões, vozes veladas...” fazem parte do poema “Violões que choram”. d. O autor mais representativo desse movimento – Cruz e Sousa – também é chamado de Cisne Negro. e. Alphonsus de Guimarães é o autor de Ismália.
O trecho se refere a: a. Cruz e Sousa. b. Cecília Meireles. c. Alphonsus de Guimaraens. d. Gregório de Matos. e. Augusto dos Anjos.
Seu espaço Sobre o módulo Evidencie para os alunos as características simbolistas das poesias de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. Ressalte a musicalidade, o misticismo e a transcendência espiritual.
Na web É possível encontrar vários poemas de Cruz e Sousa no site: .
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Extras
reforço
aprofundamento
06. PUC-SP Leia o fragmento do poema “Antífona”, de Cruz e Sousa, e responda ao que se pede. Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Formas do Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádicas frescuras E dolências de lírios e de rosas... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... No poema, ocorre o predomínio das seguintes características: a. Invocações, simultaneidades de traços, dinamicidade, ausência de sequência temporal e descritor observador. b. Explicações, sequência de traços, estaticidade, sequência temporal e narrador personagem. c. Explicações, sequência de traços, dinamicidade, ausência de conflito narrativo e ausência de narrador. d. Invocações, concomitância de traços, estaticidade, ausência de conflito narrativo e ausência de narrador. e. Invocações, concomitância de traços, estaticidade, sequência temporal e descritor observador.
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07. PUC-SP Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens são poetas identificados com um movimento artístico cujas características são: a. o jogo de contrastes, o tema da fugacidade da vida e fortes inversões sintáticas. b. a busca da transcendência, a preponderância, o simbolismo entre as figuras e o cultivo de um vocabulário ligado às sensações. c. a espontaneidade coloquial, os temas do cotidiano e o verso livre. d. o perfeccionismo formalista, a recuperação dos ideais clássicos e o vocabulário preciso. e. o jogo dos sentimentos exacerbados, o alargamento da subjetividade e a ênfase na adjetivação.
Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Nessa famosa estrofe do simbolista Cruz e Sousa, a musicalidade se expressa pelas: a. metáforas. b. sinestesias. c. aliterações. d. metonímias. e. repetições das palavras vozes e violões. 09. Mackenzie-SP Alphonsus de Guimaraens é um poeta identificado com um período literário cujas características são: a. mitologia pagã e busca da natureza. b. simbologia matemática e musical. c. análise social de grupos humanos marginalizados e valorização do coletivo. d. exaltação da natureza, da pátria e do índio. e. misticismo, amor e morte. 10. PUC-RS Leia o soneto de Alphonsus de Guimaraens e assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna. Ninguém anda com Deus mais do que eu ando, Ninguém segue os seus passos como eu sigo, Não bendigo a ninguém e nem maldigo: Tudo é morte num peito miserando. Vejo o sol, vejo a luz e todo bando Das estrelas no olímpico jazigo. A misteriosa mão de Deus o trigo Que ela plantou aos poucos vai ceifando. E vão-se as horas em completa calma. Um dia (já vem longe ou já vem perto?) Tudo que sofro e que sofri se acalma. Ah se chegasse em breve o dia incerto! Far-se-á luz dentro de mim, pois a minh’alma Será trigo de Deus no céu aberto... Um dos temas marcantes da poesia simbolista de Alphonsus de Guimaraens é a profunda e pessoal, como ilustra o poema. a. delicadeza b. melancolia c. religiosidade d. ternura e. evasão
Língua Portuguesa
tarefa
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de
08. CEAP Leia o texto e responda à questão.
43
Da teoria, leia o tópico 3.
252
32
Exercícios Propostos
12. Não corresponde a uma característica do Simbolismo: a. o uso frequente de aliterações e assonâncias. b. a musicalidade dos versos. c. o uso de rimas pobres. d. a presença de assonâncias. e. a apreensão dos modelos greco-romanos. 13. Mackenzie-SP Leia as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Misticismo, amor e morte caracterizam a obra de Alphonsus de Guimaraens. II. A poesia de Cruz e Sousa apresenta aspectos ligados ao subjetivismo e à angústia pessoal, evoluindo para posições mais universalizantes. III. O Simbolismo nega o cientificismo, valorizando as manifestações metafísicas e espirituais. a. Somente I e III estão corretas. b. Somente I está correta. c. I, II e III estão corretas. d. I, II e III estão incorretas. e. Somente III está correta. 14. UFV-MG (adaptado) Considere as afirmações sobre o Simbolismo e assinale a alternativa correta. I. No plano temático, o Simbolismo foi marcado pelo mistério e pela inquietação mística com problemas transcendentais. No plano formal, caracterizou-se pela musicalidade e por certa quebra no ritmo do verso, precursora do verso livre do Modernismo. II. O Simbolismo, contemporâneo do materialismo cientificista, não se ocupou de questões sociais da época. Já a literatura realista-naturalista acompanhou fielmente os modos de pensar das gerações que fizeram e viveram a Primeira República. III. O Simbolismo, com Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, nossos maiores poetas do período, legou-nos uma produção poética que se caracterizou pela busca da “arte em arte”, isto é, uma preocupação com o verso artesanal, friamente moldado. Em razão dessa tendência à objetividade na composição, o movimento também se denominou decadentista.
a. Somente II e III estão corretas. b. I, II e III estão corretas. c. Somente I está correta. d. Somente I e II estão corretas. e. Somente II está correta. 15. PUC-RS Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. Morte e são temas presentes tanto na poesia de quanto na de , considerados as duas principais matrizes do no Brasil, movimento do fim do século XIX, de inspiração francesa. a. mitologia – Cruz e Sousa – Eduardo Guimaraens – Parnasianismo b. melancolia – Alphonsus de Guimaraens – Raimundo Correia – Simbolismo c. religiosidade – Cruz e Sousa – Alphonsus de Guimaraens – Simbolismo d. amor – Olavo Bilac – Raimundo Correia – Parnasianismo e. natureza – Cruz e Sousa – Eduardo Guimaraens – Simbolismo 16. UEG-GO Leia o fragmento do poema “Últimos versos”, de Alphonsus de Guimaraens, e responda à questão. Na tristeza do céu, na tristeza do mar, eu vi a lua cintilar. Como seguia tranquilamente por entre nuvens divinais! Seguia tranquilamente como se fora a minh’Alma, silente, calma, cheia de ais. A abóboda celeste, que se reveste de astros tão belos, era um país repleto de castelos. E a alva lua, formosa castelã, seguia envolta num sudário alvíssimo de lã, como se fosse a mais que pura Virgem Maria... Lua serena, tão suave e doce, do meu eterno cismar, anda dentro de ti a mágoa imensa do meu olhar! Entre as características poéticas de Alphonsus de Guimaraens, predomina no poema apresentado: a. o diálogo com a amada. b. o poema-profanação. c. as imagens de morte. d. o poema-oração.
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11. UFSCar-SP Aponte a alternativa correta. a. Em Cruz e Sousa, a forma guarda o apuro parnasiano. b. A poesia de Cruz e Sousa é predominantemente otimista e superficial. c. Em Cruz e Sousa, encontramos poesia desleixada, sem apuro formal. d. O Simbolismo tem seu início em 1893, com a publicação de duas obras de Alphonsus de Guimaraens. e. Cruz e Sousa, por sua forte espiritualidade, nunca abordou a angústia sexual.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Língua Portuguesa
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Anotações
1. Pré-Modernismo 2. Organizador gráfico Módulo 76 – Pré-Modernismo: Euclides da Cunha Módulo 77 – Lima Barreto e Monteiro Lobato Módulo 78 – Augusto dos Anjos
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ACERVO ARTISTICO -CULTURAL DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, SÃO PAULO, SP
• Identificar características discursivas e ideológicas de obras do Pré-Modernismo no contexto histórico de sua produção, circulação e recepção, estabelecendo relações entre as condições histórico-sociais (políticas, religiosas, morais, artísticas, científicas, estéticas, econômicas etc.) de produção de um texto literário e fatores linguísticos de sua produção (escolha de gêneros, temas, assuntos, estruturas, finalidades, recursos). • Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário do Pré-Modernismo com os contextos de produção, para atribuir significados de leituras críticas em diferentes situações. • Analisar criticamente as diversas produções artísticas do Pré-Modernismo como meio de compreender diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos artísticos.
Período de transição entre o Simbolismo e o Modernismo
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Na tela de Tarsila do Amaral tem-se um recorte da sociedade brasileira, que passava por um avanço tecnológico e industrial. Essa realidade socioeconômica, no Brasil, serviu de cenário e ponto de partida para os escritores pré-modernistas.
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Tarsila do Amaral, Operários, 1933.
O Pré-Modernismo não deve ser considerado um estilo literário, ele é na verdade um período de transição entre o Simbolismo (do fim do século XIX) e o Modernismo (com marco inicial em 1922). Apesar de, nesse período de transição, diferentes estéticas literárias ainda estarem vigentes (Realismo, Parnasianismo e Simbolismo), a inovação trazida pelos autores considerados pré-modernistas é a que amadurecerá, mais tarde, com o Modernismo. O Pré-Modernismo inicia: a ruptura com o passado academicista e com a linguagem parnasiana; as produções com linguagem coloquial; a exposição da realidade social e econômica brasileira a partir de temas que envolvem fatos históricos, políticos, econômicos e sociais. Alfredo Bosi diz: Creio que se pode chamar Pré-Modernismo (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século [XX], problematiza a nossa realidade social e cultural.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2013.
Como engenheiro e colaborador do jornal O Estado de S. Paulo, Euclides da Cunha cobriu parte da Guerra de Canudos, em 1887. Com base nessa vivência, escreveu Os sertões (1902), que trata do conflito entre o movimento popular e o exército da república. O autor tinha a intenção de apresentar um romance de relatos, mostrando sua visão daquele episódio. O romance mostra como Antônio Conselheiro liderou a Guerra de Canudos e, por fim, como a cidade de Canudos virou cinzas. Em Os sertões, Euclides da Cunha detalhou a terra, o homem e a luta, termos que intitulam as três partes em que se divide a obra. O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que o despem da primitiva grandeza afastando-o consideravelmente para o interior.
Nessas primeiras décadas do século XX, o Brasil vivia sob a chamada “política do café com leite”, a Primeira República, em que São Paulo e Minas Gerais tinham o poder, e apenas políticos desses dois estados podiam ser eleitos à presidência. Foi um período de muitas revoltas e conflitos, como Revolta da Armada, Guerra de Canudos, Cangaço, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, Guerra do Contestado etc. Essas revoltas foram material de várias produções de autores pré-modernistas.
O autor retratou o conflito entre o Brasil do litoral e o Brasil do sertão nordestino. Outras de suas obras publicadas são Contrastes e confrontos (1907); Peru versus Bolívia (1907) e À margem da História (1909 – obra póstuma). Faleceu em 1909, assassinado pelo amante de sua esposa.
A. Euclides da Cunha
B. Lima Barreto
Euclides da Cunha (1866-1909) é autor de uma das principais obras pré-modernistas: Os sertões.
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) publicou Triste fim de Policarpo Quaresma, em 1911. Essa obra mistura análise, crítica e humor com o nacionalismo absurdo e exagerado do personagem principal. Ele exalta o País, e todos sabem que ele o ama. Entretanto, por questões políticas e mãos manipuladoras, como as do marechal Floriano, Policarpo acaba preso. Assim, ele ficará pelo resto de sua vida, no país que amava tanto.
Cena do filme Policarpo Quaresma – herói do Brasil.
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COLLECTION CINEMA / PHOTO12/AFP
EDIOURO
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1. Pré-Modernismo
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Leia o trecho, que exemplifica as intenções de Lima Barreto.
Nesse trecho, no fim do livro, o autor mostra claramente a decepção da personagem com relação ao País, afinal “Como é que não viu nitidamente a realidade [...]”. Assim se desfaz sua ilusão sobre o nacionalismo.
C. Monteiro Lobato José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) é o maior nome da literatura infantil brasileira. Sua obra Sítio do pica-pau amarelo foi transposta para a televisão e ganhou milhares de fãs e leitores. Além disso, escreveu para o público adulto: Urupês (1918), Cidades mortas (1919) e Negrinha (1920). A obra literária de Monteiro Lobato tem o objetivo de retratar a realidade brasileira e procurar caminhos para a construção do futuro. Criou personagens marcantes, como Jeca Tatu, Emília e Narizinho.
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EDITORA GLOBO
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Paulus, 2005.
Língua Portuguesa
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Mas, como é que ele tão sereno, tão lúcido, empregara sua vida, gastara o seu tempo, envelhecera atrás de tal quimera? Como é que não viu nitidamente a realidade, não a pressentiu logo e se deixou enganar por um falaz ídolo, absorver-se nele, dar-lhe em holocausto toda a sua existência? Foi o seu isolamento, o seu esquecimento de si mesmo; e assim é que ia para a cova, sem deixar traço seu, sem um filho, sem um amor, sem um beijo mais quente, sem nenhum mesmo, e sem sequer uma asneira!
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D. Augusto dos Anjos
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1814-1914) viveu na época de escritores parnasianos e simbolistas, como Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Cruz e Sousa etc. Sua única obra, entitulada Eu e outras poesias, apresentou inovações na forma de escrever, com ideias modernas e temáticas influenciadas por sua multiplicidade intelectual. Por esse motivo e pela abordagem temática, diferente da de autores da época, é que se encaixa no Pré-Modernismo, período de transição para o Modernismo.
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A temática da morte está visível também nestes versos.
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Tempos idos
Ai! Não me arranques d’alma este conforto! – Quero abraçar o meu passado morto, – Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!
L&PM
Deixa ao menos que eu suba à Eternidade Velado pelo círio da Saudade, Ao dobre funeral dos tempos idos!
A única obra de Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos tinha a morte, a negação da vida e a decomposição dos corpos como temas recorrentes em sua poesia. Tornou-se conhecido como “poeta da morte”. Leia o poema. Versos íntimos Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Esse poema traz como tema a fragilidade das relações humanas, mostrando o fim de vida solitário de uma pessoa que foi, em algum outro momento da existência, rodeada de “amigos” (“feras”).
Assista ao filme Policarpo Quaresma – herói do Brasil, baseado na obra de Lima Barreto, retrata, com crítica e humor, a “destruição” de um ideal de país construído no imaginário de Policarpo Quaresma.
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Não, não quero o meu sonho sepultado No cemitério da Desilusão, Que não se enterra assim sem compaixão Os escombros benditos de um Passado!
VITORIA PRODUCOES CINEMATOGRAFICAS LTDA
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Língua Portuguesa
Não enterres, coveiro, o meu Passado, Tem pena dessas cinzas que ficaram; Eu vivo dessas crenças que passaram, e quero sempre tê-las ao meu lado!
Resolução No final do romance, Policarpo decepciona-se com as pessoas a sua volta, que pareciam ser amigas e boas, e terá de viver o resto de sua vida sozinho. Nos versos de Augusto dos Anjos, há também o fim de vida solitário.
2. Organizador gráfico
Pré-Modernismo: primeiras décadas do século XX
Prosa
Poesia
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Monteiro Lobato
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Augusto dos Anjos
Euclides da Cunha Lima Barreto
Tema
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01. Tomando por base o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e o poema “Versos íntimos”, de Augusto dos Anjos, estabeleça uma relação temática entre essas obras pré-modernistas.
Língua Portuguesa
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APRENDER SEMPRE
Tópico
Subtópico
Subtópico destaque
Apenas texto Características
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Módulo 76
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Pré-Modernismo: Euclides da Cunha 01. FCC-BA Obra pré-modernista eivada de informações históricas e científicas, primeira grande interpretação da realidade brasileira, que, buscando compreender o meio áspero em que vivia o jagunço nordestino, denunciava uma campanha militar que investia contra o fanatismo religioso advindo da miséria e do abandono do homem do sertão. Trata-se de: a. O sertanejo, de José de Alencar. b. Pelo sertão, de Afonso Arinos. c. Os sertões, de Euclides da Cunha. d. Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. e. Sertão, de Coelho Neto. Resolução O texto faz referência à obra pré-modernista de Euclides da Cunha, Os sertões. Alternativa correta: C
02. A expressão Pré-Modernismo traz implícita uma significação peculiar, uma vez que o termo “pré” remete a uma situação de anterioridade. O que o uso dessa expressão buscava mostrar?
03. UFRGS-RS Uma atitude comum caracteriza a postura literária de autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Pode ela ser definida como: a. a necessidade de superar, em termos de um programa definido, as estéticas românticas e realistas. b. pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa literatura, que julgavam por demais europeizada. c. uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade brasileira. d. a necessidade de fazer crítica social, já que o Realismo havia sido ineficaz nessa matéria. e. aproveitamento estético do que havia de melhor na herança literária brasileira, desde suas primeiras manifestações. Resolução A preocupação com a observação e o estudo da realidade brasileira estava presente em todos os autores pré-modernistas. Alternativa correta: C Habilidade Identificar características discursivas e ideológicas de obras do Pré-Modernismo no contexto histórico de sua produção, circulação e recepção, estabelecendo relações entre as condições histórico-sociais (políticas, religiosas, morais, artísticas, científicas, estéticas, econômicas etc.) de produção de um texto literário e fatores linguísticos de sua produção (escolha de gêneros, temas, assuntos, estruturas, finalidades, recursos).
Resolução Ao usar o termo “Pré-Modernismo” buscava-se mostrar as várias correntes que ora se distinguiam umas das outras ora se contemplavam, até que chegasse um momento em que um novo modo de fazer literário se consolidasse, o Modernismo. Vale lembrar que o Pré-Modernismo marca um período de transição literária.
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Língua Portuguesa
Exercícios de Aplicação
Estão corretas: a. apenas I e II. b. apenas I e III. c. apenas I e IV. d. apenas I, II e III. e. apenas I, III e IV
Seu espaço
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Sobre o módulo É importante deixar claro para o aluno que o pré-modernismo não é considerado uma estética literária propriamente dita, já que vigorou em meio a outras estéticas, como Parnasianismo e Simbolismo. Recebe esse nome por ser o período de transição entre Simbolismo e a próxima estética, o Modernismo. Os autores pré-modernistas foram assim classificados por terem trazido inovações literárias, aspectos diferentes dos que eram abordados pelas outras estéticas, que seriam amadurecidas, mais tarde, no Modernismo.
Língua Portuguesa
05. Analise as considerações feitas sobre o Pré-Modernismo. I. É um momento cultural diversificado em termos estéticos, daí sua impossível compreensão como um estilo de época ou movimento literário. II. Seu grande poeta foi Augusto dos Anjos, autor de linhagem predominantemente parnasiana. III. Preconizou aspectos que seriam mais bem desenvolvidos no Modernismo, em especial a temática social e o olhar para o popular, o folclórico e o rural. IV. Tem como tendência mais marcante, na prosa de seus principais autores, o desenvolvimento da cidade, do meio urbano, e de seus “tipos sociais”.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. UFRGS-RS Os sertões, de Euclides da Cunha, é uma obra que: a. narra um episódio de messianismo ocorrido em vilarejos do interior de Pernambuco e do Sergipe, no início do século XX. b. narra a formação e a destruição de um povoado sertanejo liderado por Antônio Conselheiro, na segunda metade do século XIX. c. denuncia a ocupação de um povoado sertanejo por forças armadas de Pernambuco e do Sergipe aliadas a jagunços locais. d. expõe a liderança carismática de Antônio Conselheiro em seu esforço para converter sertanejos monarquistas em republicanos. e. denuncia a campanha difamatória contra o exército brasileiro promovida por jornais e políticos interessados em restaurar a monarquia.
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Exercícios Extras
Da teoria, leia os tópicos 1 e 1A. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
06. Entre as afirmativas, assinale a que não caracteriza o Pré-Modernismo. a. Os escritores pré-modernistas preocupavam-se em buscar uma linguagem mais simples e coloquial. b. O Pré-Modernismo coexistiu com outras tendências artísticas. c. Caracteriza toda obra que retrata a realidade do Brasil nas primeiras décadas do século XX. d. O Pré-Modernismo sobrepôs-se ao Parnasianismo. e. A literatura pré-modernista recebe essa denominação por antecipar inovações mais bem aproveitadas no Modernismo. 07. PUC-SP Leia o texto e responda à questão. Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condenava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara. Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disto tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma! Nenhuma!
Lima Barreto
As obras do autor desse trecho integram o período literário chamado Pré-Modernismo. Tal designação para esse período se justifica, porque: a. desenvolve temas do nacionalismo e se liga às vanguardas europeias. b. engloba toda a produção literária que se fez antes do Modernismo. c. antecipa temática e formalmente as manifestações modernistas. d. se preocupa com o estudo das raças e das culturas formadoras do nordestino brasileiro. e. prepara, pela irreverência de sua linguagem, as conquistas estilísticas do Modernismo.
08. Em Os sertões, de Euclides da Cunha, qual é a função da natureza? 09. PUC-RS A obra pré-modernista de Euclides da Cunha situa-se entre a ea . a. História – Psicologia b. Geografia – Economia c. Literatura – Sociologia d. Arte – Filosofia e. Teologia – Geologia 10. A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, foi desenvolvida em três partes distintas. Apresente essas partes na ordem em que aparecem na obra. 11. UESPI A respeito da produção literária brasileira considerada pré-modernista, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. 1. Trata-se de um período de transição, em que os escritores, apesar de ainda guardarem traços das estéticas realista, naturalista ou parnasiana, expressam um viés crítico que será explorado pelos modernistas. 2. O nacionalismo pré-modernista identificava-se com o da primeira geração romântica, em que autores como Gonçalves Dias e José de Alencar idealizavam as origens e a constituição do povo brasileiro. 3. Na poesia, Augusto dos Anjos foi uma das expressões mais relevantes, representando uma poética de caráter mais objetivo e concreto, como será, décadas após, a produção de João Cabral de Melo Neto. a. Somente I e II estão corretas. b. Somente III está correta. c. Somente I está correta. d. I, II e III estão corretas e. Somente II e III estão corretas. 12. UFRGS-RS Marque V (Verdadeiro) ou F (Falso) as afirmações sobre a obra Os sertões, de Euclides da Cunha. ( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o requinte da linguagem, a intenção científica e o propósito jornalístico. ( ) A obra euclidiana insere-se em uma tradição da literatura brasileira que tematiza o povoamento do sertão, iniciada ainda no Romantismo com Bernardo Guimarães. ( ) Euclides da Cunha escreveu Os sertões com base nas reportagens que realizou como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. ( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia criada pelo imaginário do autor. ( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de protesto surgidos logo após a proclamação da Independência do Brasil.
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Exercícios Propostos
14. Mackenzie-SP Leia o texto e responda à questão. E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apoia o passo tardo dos peregrinos. É desconhecida a sua existência durante tão longo período. Um velho caboclo, preso em Canudos nos últimos dias da campanha, disse-me algo a respeito, mas vagamente, sem precisar datas, sem pormenores característicos. Conhecera-o nos sertões de Pernambuco, um ou dois anos depois da partida do Crato.
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Com relação à obra da qual o fragmento foi extraído, é incorreto afirmar que: a. apresenta cenário e paisagem idealizados por se tratar de um texto de cunho romântico.
Isoladas a princípio, estas turmas adunavamse pelos caminhos, aliando-se a outras, chegando, afinal, conjuntas a Canudos. O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas. A edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia; – e, à medida que se formava, a tapera colossal parecia estereografar a feição moral da sociedade ali acoutada. Era a objetivação daquela insânia imensa. Documento iniludível permitindo o corpo de delito direto sobre os desmandos de um povo. Aquilo se fazia a esmo, adoudadamente. A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro. O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômoros, atulhando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto. 15. Fuvest-SP Por uma questão de estilo, o autor refere-se a Canudos empregando diversos termos sinonímicos. Cite quatro desses termos. 16. Fuvest-SP O texto de Euclides da Cunha foi extraído de sua obra-prima. a. Cite o título dessa obra. b. Em qual gênero textual ela se enquadra?
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Leia o texto e responda às questões 15 e 16.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
13. PUC-RS A viagem de Euclides da Cunha à região de Canudos, onde ocorre a revolta dos seguidores de Antônio Conselheiro: a. ratifica sua posição em relação aos fanáticos rebeldes, expressa em seu artigo "A Nossa Vendeia". b. impulsiona-o a produzir Os sertões, baseando-se somente no que realmente pôde presenciar. c. demove-o da concepção determinista vigente na época, que concebe o homem como um cruzamento de condicionamentos. d. retifica a opinião vigente, passando a considerar a revolta como resultante do atraso da nação. e. influencia a prosa do autor, antes impregnada de cientificismo e reacionarismo.
b. trata da campanha de Canudos e dos contrastes entre o Brasil à beira do Atlântico e um outro, do sertão nordestino. c. denuncia o extermínio de milhares de pessoas no interior baiano pelo exército nacional. d. contém uma visão de mundo determinista, influenciada pelas ideias de Hippolyte Taine. e. constrói um grande painel do sertão nordestino, dividindo-se em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”.
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A sequência correta de preenchimento dos parênteses é: a. V – F – V – F – F b. V – V – V – F – F c. F – F – V – V – F d. F – V – F – F – V e. V – V – F – F – F
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Lima Barreto e Monteiro Lobato Exercícios de Aplicação 01. Crítico feroz do Modernismo, grande incentivador da disseminação da cultura, defensor dos valores e riquezas nacionais; conhecido, particularmente, por sua grande obra infantil, em que se destacam as personagens do Sítio do pica-pau amarelo. A que autor faz referência a afirmativa? Resolução Monteiro Lobato é autor das personagens do Sítio do pica-pau amarelo e o maior nome da literatura infantil brasileira.
02. Fatec-SP Por que a obra de Lima Barreto é considerada pré-modernista? Resolução A obra de Lima Barreto reflete o forte sentimento nacional, como se vê em Policarpo Quaresma, e a consciência crítica dos problemas brasileiros.
03. Fatec-SP Assinale a alternativa incorreta. Nos primeiros vinte anos deste século, a produção literária brasileira é marcada por diversidades, abrangendo, ao mesmo tempo, obras que questionam a realidade social e obras voltadas para os lugares-comuns herdados de autores anteriores. a. Pode-se afirmar que um dos traços modernos de Euclides da Cunha é o compromisso com os problemas de seu tempo. b. A importância da obra de Lima Barreto situa-se no plano do conteúdo, a partir do qual se revela seu caráter polêmico; a linguagem descuidada, porém, revela pouca consciência estética, em virtude de sua formação literária precária. c. O estilo parnasiano permanece influenciando autores e caracterizando boa parte da obra poética escrita durante o período pré-modernista. d. Graça Aranha faz parte do conjunto mais significativo de escritores do Pré-Modernismo. Nos anos anteriores à Semana de Arte Moderna, Graça Aranha interveio a favor da renovação artística a que se propunham os escritores modernistas. Resolução Lima Barreto utiliza linguagem coloquial, não uma linguagem descuidada. Alternativa correta: C Habilidade Identificar características discursivas e ideológicas de obras do Pré-Modernismo no contexto histórico de sua produção, circulação e recepção, estabelecendo relações entre as condições histórico-sociais (políticas, religiosas, morais, artísticas, científicas, estéticas, econômicas etc.) de produção de um texto literário e fatores linguísticos de sua produção (escolha de gêneros, temas, assuntos, estruturas, finalidades, recursos).
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Língua Portuguesa
Módulo 77
Seu espaço
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Sobre o módulo É essencial deixar claro para o aluno que a prosa pré-modernista de Lima Barreto e Monteiro Lobato foram inovações importantes para a literatura do Modernismo, trazendo críticas a aspectos sociais e questões políticas do país sem nada idealizado.
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05. UFTM-MG Com relação às características do período histórico e cultural do Pré-Modernismo, em que se insere Lima Barreto, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Contraste entre um Brasil arcaico – representado principalmente pelo tradicionalismo agrário – e outro, com novos centros urbanos marcados pelo início da industrialização e pela emergência de novas classes socioeconômicas. II. Problematização da realidade social e cultural, pela revelação das tensões da vida nacional. III. Primeira Guerra Mundial e crise da República Velha. IV. Modernidade estilística e negação do estilo da Belle Époque. a. Somente I e II estão corretas. b. Somente II e III estão corretas. c. Somente I, II e III estão corretas. d. Somente II, III e IV estão corretas. e. I, II, III e IV estão corretas.
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04. Assinale a alternativa incorreta sobre Monteiro Lobato. a. Traz a paisagem do Vale do Paraíba paulista, denunciando a devastação da natureza pela prática agrícola da queimada. b. Explora os aspectos visíveis do ser humano; seus contos têm quase sempre finais trágicos e deprimentes. c. Vale-se das tradições orais do caipira, personificado pelo Jeca Tatu, valendo-se do coloquialismo do “contador de casos”. d. Nos romance Urupês e Cidades mortas aborda a decadência da agricultura no Vale do Paraíba, após o “ciclo” do café. e. Ficou muito conhecido por sua obra infantil Sítio do pica-pau amarelo.
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Exercícios Extras
Da teoria, leia o tópico 2. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
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Leia o texto e responda às questões 06 e 07. Morreu Peri, incomparável realização de um homem natural como sonhava Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas que no romance, ombro e ombro com altos tipos civilizados, a todos sobreleva em beleza de alma e corpo... [...] O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismou-se de "caboclismo". 06. Fuvest-SP No artigo “Urupês” (do qual se extraiu o trecho), Lobato chamou a atenção para um grave problema brasileiro. Explique resumidamente a natureza desse problema. 07. Fuvest-SP Identifique Peri, citado no mesmo texto. 08. UEL-PR Assinale a alternativa incorreta sobre o Pré-Modernismo. a. Não se caracterizou como uma escola literária com princípios estéticos bem delimitados, mas como um período de prefiguração das inovações temáticas e linguísticas do Modernismo. b. Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram grande influência sobre nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia. c. Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes significativos da literatura pré-modernista produzida nos primeiros anos do século XX, pois problematizam a realidade cultural e social do Brasil. d. Euclides da Cunha, com a obra Os sertões, ultrapassa o relato meramente documental da batalha de Canudos para fixar-se em problemas humanos e revelar a face trágica da nação brasileira. e. Nos romances de Lima Barreto observa-se, além da crítica social, a crítica ao academicismo e à linguagem empolada e vazia dos parnasianos, traço que revela a postura moderna do escritor. 09. UEL-PR Nas duas primeiras décadas do século XX, as obras de Euclides da Cunha e de Lima Barreto, tão diferentes entre si, têm como elemento comum: a. a intenção de retratar o Brasil de modo otimista e idealizante. b. a adoção de linguagem coloquial das camadas populares do sertão. c. a expressão de aspectos até então negligenciados da realidade brasileira. d. a prática de um experimento linguístico radical. e. o estilo conservador do antigo regionalismo romântico.
10. UFU-MG Nos primeiros parágrafos de "Urupês", Monteiro Lobato posiciona-se em relação às principais tendências da literatura brasileira. Assinale a alternativa em que a posição de Lobato é apresentada incorretamente. a. Assim como os modernistas, Lobato critica a visão idealizada que os românticos tinham do índio; para ele, o Romantismo brasileiro havia sido mera imitação da escola francesa, tendo apenas adaptado ao cenário dos trópicos as ideias de Rousseau. b. Para Lobato, o realismo naturalista irá acertar o tom da literatura brasileira, fugindo à caricatura para revelar outras deficiências do caboclo nacional, cuja índole ele investiga com apoio da ciência evolucionista; por isso, o naturalismo projeta-se como a literatura do futuro, por associar ao cientificismo alta dosagem de qualidade poética. c. A fraqueza moral e muscular do selvagem brasileiro – que Lobato julgava capaz de "moquear a linda menina" Ceci "num bom braseiro", em vez de amá-la perdidamente, como fez Peri – corresponde à mesma visão que Mário de Andrade adota na construção do herói Macunaíma. d. Para Lobato, a substituição do selvagem pelo caboclo como tipo brasileiro, no período pré-modernista, dando a este atributos de integridade moral, repete o mesmo equívoco de idealização que marcou o indianismo romântico. 11. A produção literária de Lima Barreto foi marcada pela investigação das desigualdades sociais. Houve, por parte do escritor, uma leitura crítica sobre os homens e suas relações em uma sociedade provinciana e hipócrita. De acordo com essas afirmações, é correto dizer que Lima Barreto filiou-se a que corrente literária? Caracterize-a. 12. PUC-RS A literatura do Pré-Modernismo brasileiro, nas obras de Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, caracteriza-se pela: a. descrição e romantização da sociedade rural. b. interpretação e polêmica voltadas para a problemática social. c. análise e idealização da sociedade urbana. d. restauração e mitificação da temática histórica. e. reconstrução e fabulação da sociedade indígena. 13. PUC-MG O que determina a vida do protagonista Policarpo Quaresma, da obra de Lima Barreto, é: a. o gosto pelo trabalho. b. a postura ufanista. c. a aversão à vilania. d. o apego à religião. e. a excessiva fixação pelo material. EMI-16-130
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Exercícios Propostos
( ) “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram.” ( ) “Foi assim e por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então de boitatá cobra de fogo, boitatá, a boitatá!” ( ) “Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. [...] estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política.” a. b. c. d. e.
II – III – I III – II – I I – II – III II – I – III I – III – II
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I. Triste fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto) II. Os sertões (Euclides da Cunha) III. Lendas do sul (Simões Lopes Neto)
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15. UNESP Volume contendo doze histórias tiradas do sertão paulista, foi citado por Rui Barbosa, em discurso no Senado, apontando o personagem Jeca Tatu como o protótipo do camponês brasileiro. Aponte o autor e sua obra: a. Monteiro Lobato – Urupês. b. Lima Barreto – Cemitério dos vivos. c. Monteiro Lobato – Cidades mortas. d. Coelho Neto – Fogo fátuo. e. Euclides da Cunha – Contrastes e confrontos.
16. PUC-SP Associe as obras pré-modernistas aos respectivos fragmentos a elas pertencentes e assinale a alternativa que apresenta a sequência correta..
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14. Assinale a alternativa incorreta sobre a obra de Monteiro Lobato. a. A obra literária de Lobato, um dos intelectuais mais importantes da sua época, insere-se no regionalismo pré-modernista. b. O artigo "Urupês", que dá título ao primeiro livro do autor, nasceu de um panfleto em que Lobato criou a figura típica do Jeca Tatu. c. As denúncias de Lobato sobre as queimadas nos campos e sobre o caboclo miserável, indiferente e preguiçoso ajudaram a projetá-lo como ficcionista. d. Além de contos, crônicas e ensaios variados, a obra de Lobato compreende vários textos de literatura infantil. e. A prosa de Lobato é marcada pelo gosto documental naturalista e pelo uso de uma linguagem ornamentada, como pode ser comprovado nas obras Fruto proibido, de 1895, Sertão, de 1896, e Canaã, de 1902.
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Augusto dos Anjos Exercícios de Aplicação 01. Enem Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco.
02. a. Por que se pode afirmar que Augusto dos Anjos é um pré-modernista? Resolução Augusto dos Anjos destacou-se na poesia pré-modernista, porque promoveu inovações na poética, diferenciando-se dos autores da época em que viveu.
Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como: a. a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo. b. o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “Influência má dos signos do zodíaco”. c. a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênese da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem. d. a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética e o desconcerto existencial. e. a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas. Resolução No Pré-Modernismo, a inovação da expressividade poética e o desconcerto existencial modificam o que era usado nas estéticas parnasianas e simbolistas. Alternativa correta: D
03. UFPE Tendo em vista a poesia de Augusto dos Anjos, é correto afirmar que: a. a família é um dos grandes centros geradores de sua poesia. b. um tema recorrente é a angústia do ser humano. c. o poeta é um dos representantes da poesia romântica brasileira. d. sua obra poética é marcada pelo experimentalismo formal. e. o poeta apresenta uma poesia comprometida com a realidade social do país. Resolução Um dos temas recorrentes na poesia de Augusto dos Anjos é a angústia. Alternativa correta: B Habilidade Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário do Pré-Modernismo com os contextos de produção, para atribuir significados de leituras críticas em diferentes situações.
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Módulo 78
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Sobre o módulo Mostre ao aluno como Augusto dos Anjos foge aos moldes das estéticas de seu tempo e, por esse motivo, acaba sendo classificado como poeta pré-modernista, uma vez que já antecipa questões e críticas que serão desenvolvidas pelo Modernismo.
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05. Augusto dos Anjos é autor de um único livro, , editado pela primeira vez em 1912. Outras poesias acrescentaram-se às edições posteriores. Considerando a produção literária desse poeta, pode-se dizer que traduz sua subjetividade em relação ao homem e ao cosmos, por meio de um vocabulário técnico – – poético. Assinale a alternativa cujos termos completam corretamente o texto. a. Cidades mortas – amorosa – informacional b. Eu – pessimista – científico c. Urupês – realista – científico d. Eu – pessimista – lírico e. Nós – pessimista – científico
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04. Ufop-MG (adaptado) A respeito de Eu, de Augusto dos Anjos, é correto afirmar que, sendo uma obra: a. eminentemente barroca, representa com perfeição as dualidades céu/terra, pecado/graça, treva/luz. b. eminentemente romântica, apresenta um subjetivismo exacerbado, que extrapola todos os limites. c. eminentemente parnasiana, prima pela perfeição formal, desprezando quaisquer outras preocupações. d. eminentemente simbolista, usa e abusa dos meios tons que tanto caracterizam essa poesia nefelibata. e. de difícil classificação, reserva, mesmo assim, um lugar de destaque na poesia brasileira como um caso à parte.
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Exercícios Extras
Da teoria, leia o tópico 3. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
06. PUC-RS Leia o texto e responda à questão. Triste a escutar, pancada por pancada, A sucessividade dos segundos, Ouço em sons subterrâneos, do orbe oriundos, O choro da energia abandonada. A crítica reconhece na poesia de Augusto dos Anjos, como exemplifica a estrofe, a forte presença de uma dimensão: a. niilista. b. patológica. c. cósmica. d. estética. e. metafísica. 07. Ufop-MG Leia o o poema de Augusto dos Anjos e responda à questão. Os doentes Como uma cascavel que se enroscava, A cidade dos lázaros dormia... Somente, na metrópole vazia, Minha cabeça autônoma pensava! Mordia-me a obsessão má de que havia, Sob os meus pés, na terra onde eu pisava, Um fígado doente que sangrava E uma garganta de órfã que gemia! Tentava compreender com as conceptivas Funções do encéfalo as substâncias vivas Que nem Spencer, nem Haeckel compreenderam... E via em mim, coberto de desgraças, O resultado de bilhões de raças Que há muitos anos desapareceram! Assinale a alternativa incorreta. a. É possível observar, na construção desse texto, tal concentração no conteúdo que faz com que a forma fique bastante negligenciada. b. Observa-se uma tendência bastante forte para a exploração de temas mórbidos e patológicos como nos demais poemas de Augusto dos Anjos. c. Apresenta o poema um pendor para a representação de um cientificismo, mesmo que o impulso lírico seja uma constante presença. d. Faz-se notar um pessimismo que, em sua exacerbação, acaba caminhando para um quase total aniquilamento. e. Justificando a obra a que pertence, há, no poema, um individualismo bem nítido.
08. Mackenzie-SP A estrofe que não apresenta elementos típicos da produção poética de Augusto dos Anjos é: a. Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. b. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! c. Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. d. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo. Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! e. Agregado infeliz de sangue e cal, Fruto rubro de carne agonizante, Filho da grande força fecundante De minha brônzea trama neuronial. 09. Unopar-PR A linguagem de seus poemas é marcada por um vocabulário antipoético: escarro, verme, morcego etc. Seus temas preferidos são a ingratidão do ser humano, a putrefação dos cadáveres. É dele o famoso verso: “a mão que afaga é a mesma que apedreja”. Trata-se de: a. Vicente de Carvalho. b. Lima Barreto. c. Augusto dos Anjos. d. Vinicius de Moraes. e. Monteiro Lobato. Leia o poema de Augusto dos Anjos e responda às questões 10 e 11. Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!
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Exercícios Propostos
12. UFPB Leia o fragmento de poema de Augusto dos Anjos e responda à questão. Tristezas de um quarto minguante Do observatório em que eu estou situado A lua magra, quando a noite cresce, Vista, através do vidro azul, parece Um paralelepípedo quebrado! O sono esmaga o encéfalo do povo. Tenho trezentos quilos no epigastro... Dói-me a cabeça. Agora a cara do astro Lembra a metade de uma casca de ovo.
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Diabo! Não ser mais tempo de milagre! Para que esta opressão desapareça Vou amarrar um pano na cabeça, Molhar a minha fronte com vinagre. Com base nesse trecho, é possível dizer que: a. a referência confessional e sentimental vincula o poeta ao estilo romântico. b. a referência a partes do corpo configura um determinismo que inclui o poeta na escola parnasiana. c. a incidência de vocábulos sonoros e sublimes vincula o poeta à corrente simbolista. d. o teor prosaico e coloquial do discurso sugere que o poeta antecipa a modernidade poética. e. o rigor descritivo e o gosto pelo detalhe filiam o poeta ao estilo clássico.
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Noite em João Pessoa A noite de ontem, ostentando uma cenografia muito lúgubre, nos deu a impressão de que a justiça, na Paraíba do Norte, havia aberto falência. Afigurou-se-nos, então, que nosso areópago forense, tornar-se-ia d'ora em diante um núcleo tristíssimo de bacharéis escaveirados com a faculdade prosódica obstruída por uma alalia incurável, arrastando desconsoladamente pela sala das audiências as fósseis togas hipotecadas. O largo da Catedral de N. S. das Neves oferecia sem nenhum exagero, uma perspectiva inteiramente desalentadora. A iluminação elétrica, de um efeito intensivo péssimo, iluminava com reflexos mortiços toda aquela decadência sintomática que bem equivalia à justiça mundial agonizante, festejando com alguns círios e com o Cinema Halley a véspera de sua desintegração absoluta. Pouquíssimos circunstantes. Alguns, exibindo hiatos de desilusão mal contida, regressavam aos lares, com o atabalhoamento nervoso e a diminuição concomitante da verticalidade dorsal de quem está sendo vaiado publicamente [...] Ah! certamente, a noite da Justiça, com sua treva e os “films” magríssimos de seu cinema plebeu, foi apenas o prelúdio incoerente e mal definido dos deslumbramentos futuros que as outras noites hão de trazer, como uma compensação muito carinhosa, ao nosso espírito decepcionado.
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11. FEI-SP A linguagem orgânica, cientificista, com termos advindos da química, causou estranhamento na crítica da época. O estilo de Augusto dos Anjos não se enquadrou nem mesmo dentro das escolas às quais ele era contemporâneo, a saber: a. Romantismo e Barroco. b. Naturalismo e Arcadismo. c. Barroco e Parnasianismo. d. Simbolismo e Parnasianismo. e. Realismo e Barroco.
Leia o texto e responda às questões 13 e 14.
Trecho da crônica inédita de Augusto dos Anjos. Jornal O Globo.
13. Cesgranrio Na crônica de Augusto dos Anjos, percebem-se características de diferentes estéticas literárias. Assinale a opção em que o exemplo está em desacordo com a respectiva característica. a. "lúgubre" (parágrafo 1), "escaveirados" (parágrafo 2), "desintegração absoluta" (parágrafo 4) – Presença de vocábulos de cunho pessimista de uso frequente entre os ultrarromânticos, sugerindo a angústia diante da fatalidade. b. "a iluminação elétrica, de um efeito intensivo péssimo" (parágrafo 4) – Descrição revigorada e apoiada no conceito de verossimilhança do Realismo. c. "a Justiça [...] falência" (parágrafo 1) – Preocupação com os fatos contemporâneos; visão realista frequente no Modernismo. d. "alalia incurável" (parágrafo 2) – Uso de vocábulos com preocupação cientificista, característica do Naturalismo. e. "areópago" (parágrafo 2), "circunstantes" (parágrafo 5) – Uso de vocábulos eruditos como exemplo da preocupação formal, própria da prosa do Realismo. 14. Cesgranrio-RJ Em relação ao texto, só não foi intenção do autor mostrar: a. a decadência da justiça no panorama mundial. b. a inoperância da iluminação elétrica.
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10. FEI-SP Considere as afirmações, marque V para verdadeiro, F para falso e assinale a alternativa com a sequência correta. I. As imagens do corpo em decomposição sugerem a degradação moral dos homens. II. A linguagem contradiz a tradição poética sentimentalista. III. As influências do Naturalismo e do Simbolismo se estabelecem em torno do cientificismo e da decadência do eu. IV. Os críticos do único livro de Augusto dos Anjos observam sua militância político-ideológica, que o coloca entre os principais poetas brasileiros de inclinação socialista. a. F – V – V – V b. V – V – V – F c. F – V – V – F d. V – F – V – F e. V – F – F – F
15. UFSM-RS Leia o soneto de Augusto dos Anjos e responda à questão. Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Com base nesse soneto, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o eu lírico desce ao limite inferior da materialidade biológica pois, pensando em termos de átomos (carbono) e moléculas (amoníaco), que são estudados pela Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício de alma ou de espírito. II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o eu lírico, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco) e, no fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma (inorgânica) mantém-se intacta.
III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável. a. Somente II está correta. b. Somente III está correta. c. Somente I e II estão corretas. d. Somente I e III estão corretas. e. Somente II e III estão corretas. 16. Vunesp Leia os versos e responda à questão. Como quem esmigalha protozoários Meti todos os dedos mercenários... Na consciência daquela multidão... E, em vez de achar a luz que os céus inflama, Somente achei moléculas de lama E a mosca alegre da putrefação! Esses versos apresentam em conjunto características relativas a ritmo, métrica, vocabulário, sintaxe e figuras de linguagem, tornando possível a identificação de um estilo mesclado de dois estilos artísticos diferentes. Esse estilo foi marca inconfundível de um autor brasileiro que os críticos em geral consideram de difícil enquadramento histórico-literário. Tendo em vista tais informações, assinale a alternativa correta. a. O autor é Machado de Assis, e os estilos mesclados são Realismo e Modernismo. b. O autor é José de Alencar da última fase, e os estilos mesclados são Romantismo e Realismo. c. O autor é Augusto dos Anjos, e os estilos mesclados são Simbolismo e Naturalismo. d. O autor é Castro Alves, e os estilos mesclados são Romantismo e Realismo. e. O autor é Lima Barreto, e os estilos mesclados são Romantismo e Modernismo.
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c. a esperança no futuro, apesar das decepções. d. o desinteresse pelas sessões de justiça, através do número reduzido de assistentes. e. a identificação entre o aspecto soturno da noite e a prostração dos bacharéis.
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Capítulo 13 ................66 Módulo 37 ............. 74 Módulo 38 .............82 Módulo 39 ..............90
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1. Entrevista 2. Carta argumentativa 3. Organizador gráfico Módulo 37 – Entrevista: caminho feito de perguntas Módulo 38 – Carta argumentativa: emissores em busca de destinatários Módulo 39 – Produção de texto 3
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WARCHI / ISTOCK
• Observar as pessoas do discurso e identificar aspectos linguísticos e discursivos nas composições estruturais do texto e as funções que ele apresenta. • Avaliar criticamente os discursos e confrontar opiniões em diferentes textos.
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Vivemos buscando respostas. É exatamente para atender essa nossa condição que a linguagem é desenvolvida. Por mais que tenhamos uma atividade de reflexão intensa procurando chegar a uma verdade, essa busca não cessa, trazendo-nos, muitas vezes, angústia. Contra essa angústia, exercitamos nossa comunicação: perguntar, escutar, ler... Reconhecendo o quanto ainda podemos saber, a vida fica mais interessante.
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Buscando respostas
É nítida a necessidade do ser humano de expressar-se e de fazer-se compreender pelo outro. Precisamos disso até mesmo para garantir uma possibilidade, por pequena que seja, de entender a nós mesmos. Muitas vezes, falta-nos a “palavra certa”. É preciso, então, encontrá-la para garantir a comunicação. Um gênero que registra, especificamente, a interação entre dois interlocutores é a entrevista. Para ela, em geral, preparamos o que será dito em função da imagem que temos de quem nos escuta. Às vezes, suavizamos algumas expressões, outras vezes, somos mais incisivos ou agressivos, evidenciando que a forma como nos manifestamos no momento em que somos entrevistados mantém profunda relação com nossos interesses. Existem muitos programas de televisão famosos justamente pelos quadros de entrevista, o que prova a repercussão e o sucesso do gênero. Buscamos saber, ouvir o outro até como forma de ouvir também o que nós mesmos pensamos do mundo. Quando concordamos ou quando discordamos de algo ou de alguém, estamos colocando em prática nossa representação de mundo. De início, podemos dizer que a entrevista é profundamente marcada por um diálogo. Este deve ser explícito, ou seja, devem estar bem delimitadas as vozes que estão em interlocução. Na escrita, essa marcação pode ser feita por meio de recursos gráficos, como travessões, por indicações de quem está falando em cada momento do texto etc. Quando produzimos uma entrevista, devemos ficar muito atentos a alguns detalhes. • É comum e importante que a entrevista seja antecedida por um texto que apresente não só o entrevistado, mas também que justifique a relevância dele para determinado assunto a ser tratado. Esse “pré-texto” localiza o leitor, além de instigá-lo a “querer saber/ler mais”. • É importante indicar o nome da pessoa à frente de cada fala, principalmente se o texto for manuscrito, quando os recursos gráficos (escrita em negrito ou itálico, por exemplo) para identificar as falas não estão à nossa disposição. • O que entrevistador e entrevistado afirmam em uma entrevista, bem como a linguagem empregada, devem ser coerentes com a máscara social assumida por cada um deles. Ou seja, numa entrevista, diversos elementos devem ajudar a criar a verossimilhança do texto, como a variante linguística empregada e os argumentos utilizados, por exemplo. • A interlocução e o diálogo são muito importantes para se construir uma entrevista. Isso deve estar bem marcado no texto. • Por tratar-se de um gênero em que se faz presente a argumentação, a opinião é sempre esperada em uma entrevista. A relação entre o gênero feminino e o masculino, por exemplo, é assunto muito debatido em nosso cotidiano. A seguir, fornecemos uma entrevista entre o site “Papo íntimo” e a escritora e filósofa Márcia Tiburi sobre o assunto. Márcia é uma pensadora muito atuante no que diz respeito à condição social e filosófica da mulher. O texto a seguir vale a pena pelas reflexões feitas e porque, nele, observamos todas as características que uma entrevista bem escrita deve ter. Talvez, essa gaúcha seja a filósofa contemporânea mais popular entre as brasileiras devido à sua presença semanal no pro-
grama Saia Justa, do canal GNT, mas, antes de integrar o elenco do programa, ela já era conhecida no meio acadêmico. Graduada em Filosofia e Artes e mestre e doutora em Filosofia pela UFRGS, publicou livros de filosofia. Entre eles, a antologia As mulheres e a filosofia e Magnólia, que foi finalista do Jabuti em 2006. É professora da FAAP, do curso de formação de escritores da Academia Internacional de Cinema, colunista de revistas, além de conferencista. Toda essa atividade prova que seu perfil, de fato, não corresponde aos padrões televisivos mais superficiais. Seu comportamento e seu conhecimento compõem uma personalidade muito singular. Dona de opiniões contundentes, Márcia vez por outra deixa transparecer muita delicadeza, seja na voz branda que faz todos pararem para ouvir ou nos detalhes dos gestos. Feminista, não se incomoda de expor sua opinião original ao criticar a sensualidade e a feminilidade, assim como você vai conferir nesta entrevista concedida com exclusividade ao Papo Íntimo. Com vocês, Márcia Tiburi. Papo Íntimo: Historicamente, a mulher viveu diversos tipos de agressão. Não tinha voz, dignidade ou direitos (ainda é assim em determinadas regiões do globo). Nos dias de hoje, a mulher sofre uma grande pressão social. Para ser bem-sucedida, ela precisa dar conta de muitas tarefas em casa, no trabalho, no casamento, entre os filhos, além de ser inteligente, bem formada, gentil e de estar dentro dos padrões de beleza. Em sua opinião, em que momento da história a vida da mulher vai ser menos penosa? Márcia Tiburi: Talvez quando houver uma justiça real, o que envolve a mudança da mentalidade em escala social e, sobretudo, familiar. Sabemos que mulheres que convivem com homens éticos neste caso, ou seja, não machistas, são mais felizes, pois têm um cotidiano com mais acolhimento, mais divisão de tarefas, mais companheirismo. Mulheres que vivem sós muitas vezes também são mais felizes. Portanto, a vida menos penosa à qual você se refere depende da liberdade e da autoaceitação que as mulheres devem desenvolver sobre sua solidão ou sobre a partilha ética e justa de suas vidas. PI: A mulher é diferente do homem e tem necessidades diferentes das do homem. Ainda é correto desejar igualdade entre homens e mulheres ou, mesmo, igualdade de direitos entre homens e mulheres? MT: Igualdade de direitos, em princípio, sim. Na verdade, quando se fala de igualdade de direitos, ninguém pode imaginar uma igualdade matemática, mas uma igualdade que se pauta por um princípio. Não é difícil entender isso. Os direitos das pessoas devem sempre ser adaptados a circunstâncias, mas valem como princípios. A própria igualdade é um princípio que pode valer como direito. Mesmo sendo impossível a matemática, considero necessário buscar a maior aproximação dos direitos: salários iguais, por exemplo. E não considero que “direitos das mulheres” num futuro ideal signifique qualquer protecionismo, porém, hoje, é preciso muita atenção, pois as mulheres são aviltadas e sofrem muita violência física ou simbólica e, por enquanto, é preciso ainda buscar direitos que retirem muitas do fundo do poço da falta de direitos. PI: Você conquistou destaque. Sua voz representa em algum aspecto a voz de muitas outras mulheres. Você se sente privilegiada por ter formação e disposição para ocupar esse espaço? MT: Não consigo pensar na lógica do privilégio. Também não gosto da lógica do mérito. Para mim, a questão da voz é um fato
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1. Entrevista
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Se você gostou das ideias de Márcia Tiburi, não perca a coleção Diálogo, publicada pela editora Senac. Para a construção de cada volume, um convidado é chamado pela filósofa para, juntos, refletir a respeito de diferentes assuntos. Além disso, os livros são compostos por cartas. Vale a pena você descobrir essa série!
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que, no futuro, nós nos importemos mais com a condição singular de cada pessoa e menos com seu sexo. E que haja mais esclarecimento sobre sexo e ele seja menos uma armadilha como foi até hoje.
Toda carta, assim como a entrevista, é elaborada com base em uma interlocução, ou seja, a carta é sempre escrita para um interlocutor. Dessa forma, nesse tipo de texto, a imagem do emissor que será construída deve estar muito bem representada. Idade, profissão, história de vida, por exemplo, são elementos que não só constroem a máscara de quem escreve a carta, como também dão autoridade aos argumentos utilizados. Imagine, por exemplo, que você tenha que elaborar uma carta argumentativa endereçada ao prefeito ou prefeita de sua cidade, pedindo melhor atendimento às mulheres grávidas na rede pública de saúde. Nesse caso, você pode optar por um emissor que seja uma médica obstetra, mãe de dois filhos e que mantém experiência de quase vinte anos de atendimento a grávidas na saúde pública, um emissor, portanto, que possui experiência pessoal e profissional no assunto. Deve-se, então, explorar adequadamente a imagem que o escritor da carta assumirá, não se esquecendo de que a linguagem empregada deve ser coerente com a identidade dele, com a situação proposta e com a preocupação de se fazer entender pelo receptor do texto. Fique atento também à imagem que o destinatário da carta possui. O autor da carta argumenta tendo sempre em vista quem ele pretende convencer. Lembrete importante A estrutura da carta argumentativa é a mesma que propusemos na carta do leitor. A seguir, destacamos novamente os elementos que não podem faltar, caracterizando o gênero. • Local e data: é importante que a carta seja iniciada por locativo e data, que comumente caracterizam esse tipo de portador textual. • Vocativo: palavra ou expressão que segue o locativo e a data. O leitor é constantemente convocado a se fazer presente na argumentação, daí a importância dessa expressão de chamamento logo no início. • O corpo da carta. Seguindo o vocativo, cabe ao autor começar seu texto, que deve ser desenvolvido de forma a deixar bem clara a sua linha de raciocínio, expressa, geralmente, com base na progressão a seguir: a. Introdução: quando se apresenta a intenção do produtor da carta, a situação que o motivou a escrever e, geralmente, seu posicionamento (a chamada tese) diante do problema. b. Desenvolvimento: parte em que se prova, por meio de argumentos, que o posicionamento é válido.
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2. Carta argumentativa
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teórico e prático ao qual temos que ter atenção. Não falo da minha voz, mas da voz em geral, como ideia, e das vozes que devem participar do diálogo na construção de uma sociedade mais democrática, justa. Mas sei muito bem que sou mulher e que, neste aspecto, minha voz humana tem uma função como terá a de qualquer ser humano que se pronuncie buscando sentido no que diz. PI: Que valores sociais você conseguiu alcançar para si e o que pretende alcançar para as mulheres contemporâneas a você? MT: Para mim, o maior valor é a ética. Que não é uma característica ou apenas um potencial, mas uma busca, uma labuta diária e difícil diante das paixões humanas. Nossas relações em todos os níveis dependem da introdução da ética em nossas vidas, em cada detalhe. E o que chamo ética? A capacidade de refletir sobre o que faço, o que sinto, o que posso ser e o que posso gerar no mundo no qual estabeleço relações de afeto, profissionais, privadas ou públicas. PI: Você tem uma filha. O que as meninas de agora devem aprender para viver uma vida plena como mulher? O que as mães devem garantir na educação de suas filhas? MT: Um pensamento livre e, a meu ver, alegria de viver independentemente dos padrões corporais e dos modismos em geral. Para isso, é preciso falar sobre tudo buscando esclarecimento, mas, sobretudo, experiências humanas ricas. PI: E para quem tem filhos homens? Não é estranho que um ser educado por uma mulher saiba tão pouco sobre o universo feminino e tenha tão pouca habilidade para tratar a mulher com seu devido valor no mercado de trabalho, na vida amorosa...? MT: Os meninos devem ser educados como as meninas. Eu repito aqui a minha resposta à questão anterior. PI: Mulheres brasileiras são estigmatizadas pela sensualidade. Apesar de algumas se vangloriarem disso, essa definição é pejorativa, principalmente para quem nos vê do exterior. Como manter a feminilidade sem ser olhada como objeto? MT: No mundo inteiro, em todos os países, existem preconceitos contra as mulheres e, em grande parte, defendidos pelas próprias mulheres. O olhar do exterior é predador em todos os sentidos. Veja o alto índice de estrangeiros devorando a sensualidade e sexualidade de crianças e adolescentes no litoral do nordeste brasileiro. Podemos fechar os olhos para isso? Fingimos que não é problema nosso. Pergunto: se a feminilidade é uma construção patriarcal, de que ela nos vale? Foram os homens europeus, sobretudo, que inventaram a mulher objeto. Infelizmente, as mulheres mesmas são muito ignorantes sobre sua própria história para terem liberdade de ação sobre o que elas mesmas se tornaram. Para mim, trata-se hoje de deixar de lado a sensualidade, porque ela é uma armadilha. Mas é claro que, se alguém quiser usá-la, use-a. Não se trata de tolher o uso consciente de ninguém. PI: Quais as principais diferenças entre um homem e uma mulher em posição de poder? MT: A diferença não pode, a meu ver, ser avaliada “entre homem e mulher”, mas de pessoa para pessoa. PI: Qual o futuro da mulher? MT: Se você me permite a brincadeira, poderíamos chamar uma vidente para responder. Mas falando sério, a meu ver, sem vidência alguma, o futuro é o da luta entre lucidez e covardia, entre liberdade e impotência. Creio que a ausência de liberdade que é comum a homens e mulheres será sempre uma constante histórica. Minha esperança é
A seguir, um exemplo de carta argumentativa elaborada por Mia Couto, escritor moçambicano, ao então presidente estadunidense George Bush. Além de ficar atento aos argumentos utilizados pelo autor africano, observe as características gerais do gênero. Moçambique, março de 2003 Senhor Presidente: Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria... Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam-se da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho – a África do Sul do apartheid – violava de forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas, fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o regime do apartheid mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado “envolvimento positivo”. O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!". Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamados de freedomfighters por estratégias norte-americanas. Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem, mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis fatos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva. Por razão desses terríveis perigos, eu exigia mais: que inspetores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspirava? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram fatos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns: – Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atômicas sobre outras nações;
– O seu país foi a única nação a ser condenada por “uso ilegítimo da força” pelo Tribunal Internacional de Justiça; – Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão; – O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998); – Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça, o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídrico; – Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal desse zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992; – A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade"; – O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant um dos líderes mais sanguinários do Taiti cujas forças paramilitares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido; – Em agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam; – Em dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países; – Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irã na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa; – Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietnã (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irã(1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999);
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c. Conclusão: retomada do posicionamento, mostrando que ele foi comprovado. • Seguem-se as despedidas e a assinatura. A maneira de assinar uma carta dependerá das instruções que costumam aparecer nas propostas de redação, já que os vestibulares proíbem a identificação do candidato em processos seletivos.
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-lhe no final do ano passado uma carta intitulada “Por que é que o mundo odeia os EUA?” O bispo da Igreja Católica da Flórida é um ex-combatente na guerra do Vietnã. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: “O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana... Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais?" E o bispo conclui: "O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadenses norueguesas, ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados, porque nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais.” Senhor Presidente: Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Quioto para conter o efeito estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo. Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo. O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos. Eu gostaria de poder festejar a queda de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar.
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– Ações de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietnã, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país; – O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 mil crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas; Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados. Senhor Presidente: O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas se esquece dos horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens... O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: “Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral”. Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas. Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja, 30 vezes mais do que o usado no Kosovo). Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que despende 270 000 000 000 de dólares (duzentos e setenta bilhões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres. O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu-
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A respeito da carta escrita por Mia Couto, responda ao que se pede. a. Que contexto levou Mia Couto a escrever essa carta ao presidente dos EUA? Resolução A invasão empreendida pelo EUA contra o Iraque. b. Que função o primeiro parágrafo desempenha em relação a uma carta argumentativa? Resolução Todo primeiro parágrafo cumpre a função de apresentação. Isso significa que, nesse momento da carta, o emissor apresenta-se diante do receptor, com base em dados que julga importantes para sua identificação e sua argumentação. c. Por que a imagem do autor da carta e do país em que nasceu são importantes para o início da argumentação contra a invasão do Iraque? Resolução No caso da carta de Mia Couto, especificamente, fica claro que o autor busca se apresentar não só de forma individual, mas também como pertencente a uma coletividade na qual se sente incluído. Sua origem é importante à medida que ajuda a determinar seu posicionamento, seu ponto de vista, diante das atitudes tomadas pelo presidente estadunidense. d. A carta realiza uma intertextualidade com um texto outrora produzido por Martin Luther King: “Eu tenho um sonho! Eu tenho um sonho no qual um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro princípio do seu credo: nós acreditamos que esta verdade é autoevidente, que todos os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho de que algum dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos escravos e os filhos dos senhores se sentarão juntos na mesa da fraternidade. Esta é a nossa esperança.” Qual é o sentido da referência intertextual feita por Mia Couto ao sonho de Luther King? O sonho de Mia Couto tem uma função argumentativa clara. Qual é ela? Resolução Mia Couto cita justamente Martin Luther King pelo papel altamente relevante deste na luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos negros nos EUA. Dessa maneira, a citação é uma referência não só a uma luta social, mas também a um episódio ocorrido em solo estadunidense. Além disso, ao dizer que teve um sonho, Mia Couto chama a atenção para dois fatos: por um lado, ele idealiza mudanças; mas, por outro, parece reconhecer que elas estão um pouco distantes de serem alcançadas.
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Entrevista
Carta argumentativa
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– Texto de opinião – Escrita, geralmente, na 1ª pessoa do singular – É assinada (exceção, em vestibulares) – Estrutura: presença de locativo e data, introdução, desenvolvimento e conclusão
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Busca por entender e convencer um interlocutor
– Texto de opinião – Forte interlocução – É assinado
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Tópico
Subtópico
Subtópico destaque
Apenas texto Características
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Entrevista: caminho feito de perguntas Exercícios de Aplicação
Resolução a. Notamos o uso de um paradoxo no emprego do adjetivo “terrível” ao substantivo “prenda”, cujo significado remete a algo que é bom, pois é um presente dado a alguém como um agrado. Outro recurso é a metáfora, pois faz uma relação entre “madureza” (maturidade) e “terrível prenda”. b. Há um verso de Drummond que afirma: “A madureza, essa horrível prenda”. Não sei, Clarice: nós nos tornamos mais capazes, porém mais exigentes.
02. Acafe-SC Leia o texto e responda à questão. “Nenhum país do mundo faz o que o Brasil está fazendo: leiloar aos poucos o acesso da produção de petróleo de campos cujo total é desconhecido”, adverte Ildo Sauer, em entrevista concedida à IHU On-Line, ao comentar o leilão do Campo de Libra, anunciado para 21 de outubro deste ano. Na avaliação dele, a iniciativa da Presidência da República é equivocada, porque “não faz sentido” colocar em leilão o Campo de Libra, que, “segundo a Agência Nacional do Petróleo – ANP, pode ter entre 8 e 12 bilhões de barris, apesar de haver estimativas de que possa chegar a 15 bilhões de barris. Se os dados forem esses, trata-se da maior descoberta do país”. De acordo com ele, o “Brasil não sabe se tem 50 bilhões, 100 bilhões ou 300 bilhões de barris. Se o país tiver 100 bilhões, estará no grupo de países de grandes reservas; se tiver 300 bilhões, será o dono da maior reserva do mundo, porque 264 bilhões é o volume de barris da Arábia Saudita”. Disponível em: . Acesso em: out. 2013. Adaptado.
De acordo com o texto, assinale a alternativa correta. a. A Agência Nacional do Petróleo estima que a Petrobrás poderá extrair da reserva do Campo de Libra cerca de 15 bilhões de barris. b. De acordo com o entrevistado, o Brasil terá em breve a maior reserva de petróleo do mundo. c. Ildo Sauer manifesta-se claramente contra o leilão do Campo de Libra porque é a maior reserva de petróleo do Brasil. d. As estimativas atuais ainda não permitem afirmar, com certeza, que o Brasil está entre os países que detêm grandes reservas de petróleo. Resolução São incorretas as afirmações A, B e C. a. ANP estima extrair do Campo de Libra de 8 a 12 bilhões de barris de petróleo e não 15. b. Ildo Sauer afirma que não é conhecido o potencial da reserva do Campo de Libra. c. Ildo Sauer declara-se contra o leilão do Campo de Libra por não ser conhecido ainda o potencial dessa reserva. Alternativa correta: D Leia a entrevista de Maria Esther Maciel, concedida a Roberto B. de Carvalho, da Ciência hoje, e responda às questões 03 e 04. No mundo dos animais As relações entre os humanos e as demais espécies viventes têm merecido a atenção de escritores, artistas e intelectuais. Essas relações, que não primam pela ética, são o objeto de estudo da professora e escritora mineira Maria Esther Maciel. Ciência hoje: Quando os estudos sobre “animais e literatura” passaram a ser feitos de modo sistemático no Brasil? Maria Esther Maciel: Só recentemente; antes, havia trabalhos esparsos. Além disso, a abordagem circunscrevia-se à visão do animal como símbolo, metáfora ou alegoria do humano, mais restrita à análise textual. Hoje, percebe-se uma ampliação desse enfoque, que deixa os limites do texto literário para ganhar um viés transdisciplinar, em diálogo com a filosofia, biologia, antropologia, psicologia. Aliás, esse entrelaçamento de saberes em torno da questão animal cresceu em várias partes do mundo, propiciando a difusão de um novo campo de investigação crítica denominado 'estudos animais'. A literatura tem conquistado
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01. Fuvest-SP Entrevistado por Clarice Lispector, para a pergunta “Como você encara o problema da maturidade?”, Tom Jobim deu a seguinte resposta: “Tem um verso do Drummond que diz: ‘A madureza, esta horrível prenda...’ Não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente”. Nota: O verso citado por Tom Jobim é o início do poema “A ingaia ciência”, de Carlos Drummond de Andrade, e sua versão correta é: “A madureza, essa terrível prenda”. a. Aponte dois recursos expressivos empregados pelo poeta na expressão “terrível prenda”. b. Reescreva a resposta de Tom Jobim, eliminando as marcas de coloquialidade que ela apresenta e fazendo as alterações necessárias.
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MACIEL, Maria Esther. No mundo dos animais. Ciência hoje, 21 nov. 2012. Disponível em:. Acesso em: nov. 2013. Adaptado.
03. Cefet-MG A passagem do texto que possui carácter opinativo é: a. “A isso se soma a tentativa, por parte dos humanos, de recuperar sua própria animalidade [...]” b. “Meu projeto de vida, certamente influenciado por meus estudos, é parar de consumir também carne de peixe.”
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CH: Como a senhora vê o futuro dos animais? MEM: Pelo jeito como as coisas andam, preocupo-me com a possibilidade de os animais livres desaparecerem da face da Terra. Ficariam apenas os bichos criados em reservas e cativeiros, os expostos em zoológicos, os ‘produzidos’ em granjas e fazendas industriais para viver uma vida infernal e morrer logo depois, além dos animais domésticos, adestrados e humanizados ao extremo. Há quem diga que até mesmo estes estão fadados a desaparecer, dando lugar a animais-robôs, que já existem no Japão. A humanidade tem destruído florestas, dizimado povos indígenas, exterminado espécies animais. Apesar da preocupação de ativistas com o destino do planeta, falta empenho político dos governos para frear essa destruição generalizada. Minha utopia é que a humanidade possa um dia fazer mea-culpa em relação aos crimes já cometidos contra os índios, os animais, a natureza. Mas, pelo que vejo, essa questão continuará a ser um grande desafio ético e político para a nossa civilização. CH: Seus estudos sobre animalidade a influenciaram em seu modo de vida? MEM: Não consigo desvincular o trabalho do meu modo de vida. Se cheguei ao tema dos animais, foi por causa do meu apreço por eles. Há anos não como carne, por causa da memória do tempo em que passava temporadas na fazenda do meu pai, no interior de Minas Gerais. Vivia perto de vacas, porcos, aves, cavalos, cachorros. Toda vez que via carne de vaca na mesa, eu me lembrava do olhar bovino. Já a visão da carne de porco me trazia a imagem dos porquinhos espertos e afetuosos com que eu brincava. Foi assim também com as aves, os coelhos e outros bichos. Como fui sempre muito tocada pelo olhar animal, decidi não comê-los mais. Ainda mantive peixes e frutos do mar, mas deixei de comer várias espécies ao saber de seus hábitos. Recuso também ovos de granja, em repúdio à situação absurda das aves nos espaços de confinamento das fazendas industriais. Meu projeto de vida, certamente influenciado por meus estudos, é parar de consumir também carne de peixe. Chegarei lá.
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espaço importante nesse campo, graças, sobretudo, a escritores/pensadores, como John M. Coetzee, John Berger e Jacques Derrida, que souberam aliar, de modo criativo, literatura, ética e política no trato da questão animal. CH: Como a senhora explica esse interesse crescente pelo tema? MEM: Há um conjunto de fatores. Impossível não considerar as preocupações de ordem ecológica, que movem a sociedade contemporânea. Há também uma tomada de consciência mais explícita por parte de escritores, artistas e intelectuais dos problemas éticos que envolvem nossa relação com os animais e com o próprio conceito de humano. Além disso, a noção de espécie e a divisão hierárquica dos viventes têm provocado discussões ético-políticas relevantes, que acabam por contaminar as artes e a literatura. A isso se soma a tentativa, por parte dos humanos, de recuperar sua própria animalidade, que por muito tempo foi reprimida em nome da razão e do antropocentrismo. CH: Por que é importante para a humanidade refletir sobre a animalidade? MEM: Ao refletir sobre a animalidade, a humanidade pode repensar o próprio conceito de humano e reconfigurar a noção de vida. Por muito tempo, nosso lado animal foi recalcado em nome da razão e de outros atributos tidos como próprios do homem. Quem ler os tratados de filosofia e teologia escritos ao longo dos séculos verá que a definição de humano e humanidade se forjou à custa da negação da animalidade humana e da exclusão/marginalização dos demais seres que compartilham conosco o que chamamos de vida. Acho que os humanos precisam se reconhecer animais para se tornarem verdadeiramente humanos. CH: É possível identificar modos diferentes de “explorar” a figura do animal na produção literária? MEM: Na literatura brasileira, podemos falar de três momentos incisivos. No primeiro, está Machado de Assis, que escreveu no auge do racionalismo cientificista do século XIX, quando os princípios cartesianos já tinham legitimado no Ocidente a cisão entre humanos e não humanos, e os animais eram vistos como máquinas. No século XX, a partir dos anos 1930, autores como Graciliano Ramos, João Alphonsus, Guimarães Rosa e Clarice Lispector marcam um novo momento, ao lidar, cada um a seu modo, com as relações entre homens e animais sob um enfoque libertário, manifestando cumplicidade com esses outros viventes e a recusa da violência contra humanos e não humanos. Já os escritores do final do século XX e início do XXI lidam com a questão dos animais sob o peso de uma realidade marcada por catástrofes ambientais, extinção de espécies, experiências biotecnológicas, expansão das granjas e fazendas industriais etc.
Resolução O caráter opinativo de um texto manifesta-se quando apresenta fatos, enquadrando-os no respectivo contexto, ao mesmo tempo em que os relaciona por meio de uma interpretação pessoal, elaborando um juízo de valor sobre eles. A autora reconhece o interesse de determinados grupos com o destino do planeta, mas considera que não existe grande comprometimento político para impedir a destruição generalizada das espécies. Alternativa correta: D Habilidade Observar as pessoas do discurso e identificar aspectos linguísticos e discursivos nas composições estruturais do texto e as funções que ele apresenta.
Exercícios Extras 04. Cefet-MG Em seu conjunto, as perguntas feitas pelo entrevistador têm como principal objetivo levar a entrevistada a: a. defender medidas de proteção às diferentes espécies vivas. b. revelar reminiscências de seu convívio com animais domésticos. c. discorrer sobre as relações da Literatura com outras disciplinas. d. descrever as fases em que se divide a produção literária brasileira. e. divulgar informações sobre um novo campo de investigação crítica. 05. ITA-SP Leia os textos e responda à questão. Texto 1 Escravos da tecnologia Não, não vou falar das fábricas que atraem trabalhadores honestos e os tratam de forma desumana. Cada vez que um produto informa orgulhoso que foi desenhado na Califórnia e fabricado na China, sinto um arrepio na espinha. Conheço e amo essas duas partes do mundo. Também conheço a capacidade de a tecnologia eliminar empregos. Parece o sonho de todo patrão: muita margem de lucro e poucos empregados. Se possível, nenhum! Tudo terceiro! Conheço ainda como a tecnologia é capaz de criar empregos. Vivo há 15 anos num meio que disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares. O que acontece aí no Brasil, nessa área, acontece igualzinho no Vale do Silício: empresas tentando arrancar talentos umas das outras. Aqui, muitos decidem tentar a sorte
abrindo sua própria start-up, em vez de encher o bolso do patrão. Estou rodeada também de investidores querendo fazer apostas para... voltar a encher os bolsos ainda mais. Mas queria falar hoje de outro tipo de escravidão tecnológica. Não dos que dormiram na rua sob chuva para comprar o novo iPhone 4S... Quero reclamar de quanto nós estamos tendo de trabalhar de graça para os sistemas, cada vez que tentamos nos mover na Internet. Isso é escravidão – e odeio isso. Outro dia, fiz aniversário e fui reservar uma mesa num restaurante bacana da cidade. Achei o site do restaurante, lindo, e pareceu fácil de reservar on-line. CallonOpenTable, sistema bastante usado e eficaz por aqui. Escolhi dia, hora, informei número de pessoas e, claro, tive de dar meu nome, e-mail e telefone. Dois dias antes da data marcada, precisei mudar o número de participantes, pois tive confirmação de mais pessoas. Entrei no site, mas aí nem o site nem o OpenTable podiam modificar a reserva on-line, pela proximidade do jantar. A recomendação era... telefonar ao restaurante! Humm... Telefonei. Secretária eletrônica. Deixei recado. No dia seguinte, um funcionário do restaurante me ligou, confirmando ter ouvido o recado e tudo certo com o novo tamanho da mesa. Incrível! Que felicidade ouvir um ser humano de verdade me dando a resposta que eu queria ouvir! Hoje, tentando dar conta da leitura dos vários e-mails que recebo, tentando arduamente não perder os relevantes, os imprescindíveis, os dos amigos, os da família e os dos leitores, recebi um do OpenTable. Queriam que avaliasse minha experiência no restaurante. Tudo bem, concordo que ranking
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c. “Não consigo desvincular o trabalho do meu modo de vida. Se cheguei ao tema dos animais, foi por causa do meu apreço por eles.” d. “Apesar da preocupação de ativistas com o destino do planeta, falta empenho político dos governos para frear essa destruição generalizada.” e. “A literatura tem conquistado espaço importante nesse campo, graças sobretudo a escritores/pensadores como John M. Coetzee, John Berger e Jacques Derrida [...]”
Marion Strecker. Folha de S.Paulo, 20 out. 2011. Adaptado.
Vocabulário Start-up: Empresa com baixo custo de manutenção, que consegue crescer rapidamente e gerar grandes e crescentes lucros em condições de extrema incerteza. Texto 2
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Trecho de uma entrevista com o escritor canadense Don Tapscott Jornalista: ... Don Tapscott: Quando falamos em informação livre, em transparência, falamos de governos, de empresas, não do ser humano comum. As pessoas não têm obrigação de expor seus dados, seus gostos. Ao contrário, elas têm a obrigação de manter a privacidade. Porque a garantia da privacidade é um dos pilares de nossa sociedade. Mas vivemos num mundo em que as informações pessoais circulam, e essas
Folha de S.Paulo, 12 jul. 2012. Adaptado.
Os textos têm em comum: a. a crítica à exposição da privacidade dos usuários da Internet pelas empresas. b. as avaliações da autora (texto 1) e do entrevistado (texto 2) em relação ao uso atual da Internet. c. o apontamento de mais aspectos positivos que negativos no uso da Internet. d. a crítica ao fornecimento voluntário de dados por usuários da Internet para as empresas. e. a ingenuidade dos internautas quanto ao fornecimento de informações.
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informações formam um ser virtual. Muitas vezes, esse ser virtual tem mais dados sobre você do que você mesmo. Exemplo: você pode não lembrar o que comprou há um ano, o que comeu ou que filme viu há um ano. Mas a empresa de cartão de crédito sabe, o Facebook pode saber. Muitas pessoas defendem toda essa abertura, mas isso pode ser muito perigoso por uma série de razões. Há muitos agentes do mal por aí, pessoas que podem coletar informações a seu respeito para prejudicá-lo. Muitas vezes somos nós que oferecemos essa informação. Por exemplo, 20% dos adolescentes nos Estados Unidos enviam para as namoradas ou namorados fotos em que aparecem nus. Quando uma menina de 14 anos faz isso, ela não tem ideia de onde vai parar essa imagem. O namorado pode estar mal-intencionado ou ser ingênuo e compartilhar a foto. J: E as informações que não fornecemos, mas que coletam sobre nós por meio da visita a websites ou pelo consumo? DT: Há dois grandes problemas. Um é o que chamo de Big Brother 2.0, que é diferente daquela ideia de ser filmado o tempo todo por um governo. Esse Big Brother 2.0 é a coleta sistemática de informações feita pelos governos. O segundo problema é o littlebrother – as empresas que também coletam informações a nosso respeito por razões econômicas, para definir nosso perfil e nos bombardear com publicidade. Muitas empresas, como o Facebook, querem é que a gente forneça mais e mais informações sobre nós mesmos porque isso tem valor. Às vezes, isso pode até ser vantajoso. Se eu, de fato, estiver procurando um carro, seria ótimo receber publicidade de carros diretamente. Mas e se essas empresas tentarem manipulá-lo? Podem usar sofisticados instrumentos de psicologia para motivá-lo a fazer alguma coisa sobre a qual você nem estava pensando. J: O que podemos fazer para evitar isso? DT: Precisamos de mais leis sobre como essas informações são usadas. É necessário ficar claro que os dados coletados serão usados apenas para um propósito específico e que esse conjunto de dados não pode ser vendido para outros sem a sua permissão.
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de público é coisa legal. Mas posso dizer outra coisa? Não tenho tempo de ficar entrando em sites e preenchendo questionários de avaliação de cada refeição, produto e serviço que usufruo na vida! Simples assim! Sem falar que é chato! Ainda mais agora que os crescentes intermediários eletrônicos se metem no jogo entre o cliente e o fornecedor. Quando o garçom ou o maitre perguntam se a comida está boa, você fica contente em responder, até porque eles podem substituir o prato se você não estiver gostando. Mas quando um terceiro se mete nessa relação sem ser chamado, pode ser excessivo e desagradável. Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir informações cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas automáticos de atendimento, tenho agora de preencher fichas pós-venda eletronicamente, de modo que as estatísticas saiam prontas e baratinhas para eles do outro lado da tela, à custa do meu precioso tempo! Por que o OpenTable tem de perguntar de novo o que achei da comida? Eu sei. Porque para o OpenTable essa informação tem um valor diferente. Não contente em fazer reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista e traz avaliações dos clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos restaurantes. O Yelp, por sua vez, invadiu a praia do Zagat (recém-comprado pelo Google), tradicionalíssimo guia (em papel) e restaurantes, que, por décadas, foi alimentado pelas avaliações dos leitores, via correio. As relações cliente-fornecedor estão mudando. Não faltarão “redutores” de custos e atravessadores on-line.
Sobre o módulo A entrevista é um gênero que pode ser explorado pelo professor com o objetivo de apresentar aos alunos diversas formas de linguagem, além da norma-padrão escrita. Por meio da escolha de alguns vídeos, por exemplo, do YouTube, o docente pode explorar o gênero e chamar a atenção para pontos como: estrutura, temática abordada, variações linguísticas, oralidade etc. Lembramos: as mídias que trabalham com entrevistas são muito diversas e usam suportes linguísticos também diversos; logo, isso pode ser produtivamente explorado. Além disso, a entrevista traz a riqueza das diferentes opiniões que os sujeitos podem ter a respeito dos mais variados assuntos. Os alunos também podem ser estimulados a trazer entrevistas à sala de aula e apresentá-las aos colegas. Na web Em sites, como YouTube, existe uma riqueza muito grande de entrevistas que podem ser aproveitadas em sala de aula para que o aluno aprofunde sua visão sobre conteúdo e sobre a estrutura de entrevistas. Um exemplo interessante são as entrevistas realizadas pela jornalista Marília Gabriela em programas como “De frente com Gabi”. Essa profissional usa exatamente a estrutura apontada neste livro como ideal para uma entrevista: texto de apresentação, uso rico de interlocução etc. Vale a pena, talvez, escolher algum vídeo em que ela entreviste alguém que possa interessar os alunos.
Exercícios Propostos Da teoria, leia o item 1. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
Releia o texto 2 da questão 05 (trecho de uma entrevista com o escritor canadense Don Tapscott) e responda às questões 06 e 07. 06. ITA-SP Assinale a opção que apresenta a melhor pergunta do jornalista (1a linha do texto) para a resposta do entrevistado. a. Qual sua opinião sobre o uso que as empresas fazem da Internet? b. O senhor vê grandes mudanças na comunicação hoje, após o advento da Internet? c. Qual sua opinião sobre o comportamento dos jovens hoje na Internet? d. Hoje, quando tanto se fala de troca de informações on-line, como fica a questão da privacidade? e. Atualmente, por que os governos precisam de tantas informações sobre as pessoas comuns? 07. ITA-SP Considere as afirmações e assinale a alternativa correta. Para o entrevistado, a coleta de informações: I. por indivíduos pode ser prejudicial às pessoas. II. pelo littlebrother é mais danosa do que a pelo Big Brother 2.0. III. por empresas pode ser danosa se as pessoas não souberem para que são usadas. a. Somente I está correta. b. Somente I e III estão corretas. c. Somente II está correta. d. Somente II e III estão corretas. e. Somente III está correta.
Leia a entrevista de Mark Weston, concedida à revista Época, e responda à questão. A tecnologia serve como mediadora O especialista na área de tecnologia na educação diz que trocar o caderno por artefatos modernos é ineficiente se o jeito de ensinar não mudar. O consultor Mark Weston, estrategista educacional da Dell, dedicou os últimos 36 anos de sua vida a melhorar o ensino usando inovações tecnológicas. Depois de participar de projetos promovidos pelo governo dos Estados Unidos, em vários Estados americanos e em outros países, chegou a algumas conclusões sobre como a tecnologia pode ser usada na sala de aula para melhorar o aprendizado dos alunos. Nesta entrevista, Weston revela o potencial pedagógico da tecnologia e alerta para as suas limitações. Época: Por que o senhor diz que a tecnologia foi reprovada na educação? Mark Weston: Depois de mais de 15 anos de experiência em reforma na educação, cheguei à conclusão de que mais do mesmo esforço não daria resultado. Em geral, o sistema educacional atual funciona, na melhor das hipóteses, para duas em cada três crianças. Uma parte desse esforço tem sido a entrada de tecnologia nas escolas, mas é evidente que nem o uso de tecnologia conseguiu mudar a estatística principal de que o sistema falha com a maioria. Época: Há alguma certeza sobre como usar a tecnologia na educação? MW: Se o objetivo é educar melhor todas as crianças, e a pergunta é se isso é possível, a resposta é sim. Há evidências de práticas pedagógicas que conduzem todas as crianças a aprender mais. A questão é como fazer. Uma das dificuldades tem
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Seu espaço
08. UFLA-MG De acordo com a entrevista de Mark Weston, sobre o tema educação e tecnologia, é possível concluir que: a. o autor se mostra contrário em relação ao uso das tecnologias na educação. b. o autor defende que tablets e outros recursos tecnológicos podem substituir os livros tradicionais. c. o autor argumenta que o uso de tecnologias no ensino deve estar associado a outras mudanças. d. o autor atribui o insucesso escolar à falta de planejamento para o uso de equipamentos tecnológicos.
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09. Enem Leia a entrevista de Almir Suruí, concedida à revista Época, e responda à questão. Não temos o direito de ficar isolados Soa contraditório, mas a mesma modernidade que quase dizimou os suruís nos tempos do primeiro contato promete salvar a cultura e preservar o território desse povo. Em 2007, o líder Almir Suruí, de 37 anos, fechou uma parceria inédita com o Google e levou a tecnologia às tribos. Os índios passaram a valorizar a história dos anciãos e a resguardar, em vídeos e fotos on-line, as tradições da aldeia. Ainda se valeram de smartphones e GPS para delimitar suas terras e identificar os desmatamentos ilegais. Em 2011, Almir Suruí foi eleito pela revista americana FastCompanyum dos 100 líderes mais criativos do mundo dos negócios. Época: Quando o senhor percebeu que a Internet poderia ser urna aliada do povo suruí? Almir Suruí: Meu povo acredita no diálogo. Para nós, é uma ferramenta muito importante. Sem a tecnologia, não teríamos como dialogar suficientemente para propor e discutir os direitos e territórios de nosso povo. Nós, povos indígenas, não temos mais o direito de ficar isolados. Ao usar a tecnologia, valorizamos a floresta e criamos um
As tecnologias da comunicação e informação podem ser consideradas como artefatos culturais. No fragmento de entrevista, Almir Suruí argumenta com base no pressuposto de que: a. as tecnologias da informação presentes nas aldeias revelam-se contraditórias com a memória coletiva baseada na oralidade. b. as tradições culturais e os modos de transmiti-Ias não são afetados pelas tecnologias da informação. c. as tecnologias da informação inviabilizam o desenvolvimento sustentável nas aldeias. d. as tecnologias da informação trazem novas possibilidades para a preservação de uma cultura. e. as tecnologias da informação permitem que os povos indígenas se mantenham isolados em suas comunidades. 10. Enem Leia o texto e responda à questão. Cantora afirma que não faz questão de lançar moda, mas gosta de estar “bonitona” e de se vestir bem Em entrevista concedida a um jornal televisivo, a cantora Adele disse que gosta de estar bonitona quando se veste, mas é profissional: “Não faço questão de lançar moda. Música é para os ouvidos, não para os olhos. Vocês nunca vão me ver cantando de biquíni”. Com edição de imagens rápidas, cujos trechos da entrevista exclusiva se mesclavam com os de clipes, e texto cheio de adjetivos, o jornal disse que a fuga de Adele para o sofrimento é colocar na partitura das músicas todo seu rancor. O rompimento de dois namoros deu origem aos álbuns 19 (2008) e 21 (2010): “é o meu jeito de superar a dor... funcionou.” Disponível em: . Acesso em: set. 2011. Adaptado.
As declarações da cantora ao jornal expressam sua opinião a respeito do comportamento dos artistas. Suas palavras sugerem que: a. a mídia rejeita uma imagem artística elaborada para atender às cobranças do público e para explorar a sensualidade. b. uma cantora competente constrói sua carreira pelo desempenho vocal, sendo pouco relevante o figurino usado em apresentações. c. uma pessoa pública está atenta às últimas tendências do mundo fashion, pois o vestuário de grife agrega valor à sua personalidade. d. uma plateia exigente despreza o exibicionismo e valoriza o ídolo comedido e desligado das tendências da moda. e. a artista oculta o seu estado de espírito valendo- se de regras ditadas por um grupo e de um figurino excêntrico.
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RIBEIRO, A. Época, 20 fev. 2012.
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WESTON, Mark. A tecnologia serve como mediadora. Revista Época. Disponível em: . Acesso em: jan. 2013. Fragmento.
novo modelo de desenvolvimento. Se a gente usasse a tecnologia de qualquer jeito, seria um risco. Mas hoje temos a pretensão de usar a ferramenta para valorizar nosso povo, buscar nossa autonomia e ajudar na implementação das políticas públicas a favor do meio ambiente e das pessoas.
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a ver com a forma como concebemos o papel da tecnologia na educação. Ainda tendemos a pensar na tecnologia como algo a que o aluno quer ter acesso. Você dá um computador, ele tem acesso e isso muda as coisas. Mas está bem claro que não é o acesso que assegura os resultados, mas as práticas das quais as tecnologias fazem parte. Época: Os tablets ou as lousas interativas substituem antigas práticas de ensino ou podem de fato mudá-las? MW: Se um livro não funciona para um aluno, trocá-lo por um livro digital não vai resolver o problema. Está havendo um nível de automatização ou refinamento, mas o problema fundamental do aprendizado não é atacado. A tecnologia tem de servir como mediadora para estilos de aprendizado, estudantes, professores, pais e conteúdos.
Entrevistador: O protagonismo do STF dos últimos tempos tem usurpado as funções do Congresso? Joaquim Barbosa: Temos uma Constituição muito boa, mas excessivamente detalhista, com um número imenso de dispositivos e, por isso, suscetível a fomentar interpretações e toda sorte de litígios. Também temos um sistema de jurisdição constitucional, talvez único no mundo, com um rol enorme de agentes e instituições dotadas da prerrogativa ou de competência para trazer questões ao Supremo. É um leque considerável de interesses, de visões, que acaba causando a intervenção do STF nas mais diversas questões, nas mais diferentes áreas, inclusive dando margem a esse tipo de acusação. Nossas decisões não deveriam passar de duzentas, trezentas por ano. Hoje, são analisados cinquenta mil, sessenta mil processos. É uma insanidade. Veja, 15 jun. 2011.
11. Fuvest-SP No trecho “dotadas da prerrogativa ou de competência”, a presença de artigo antes do primeiro substantivo e a sua ausência antes do segundo fazem que o sentido de cada um desses substantivos seja, respectivamente: a. figurado e próprio. b. abstrato e concreto. c. específico e genérico. d. técnico e comum. e. lato e estrito. 12. Fuvest-SP Tendo em vista o contexto, a palavra que sintetiza o teor da acusação referida na entrevista é: a. “usurpado”. b. “detalhista”. c. “fomentar”. d. “litígios”. e. “insanidade”. Leia a entrevista de Luis Fernando Verissimo sobre seu novo romance policial, Os espiões, concedida a Pereira Junior, da revista Língua Portuguesa, o texto de Luiz Antonio Aguiar e responda às questões de 13 a 16. Texto 1 Muito além do gênero Língua Portuguesa: Há algo ainda a ser tentado em romances policiais que já não o foi? Luis Fernando Verissimo: Quem escreve um romance policial escreve um gênero antigo, tentando sempre encontrar uma maneira nova de escrever. Quando fiz Clube dos anjos, tentei algo. O leitor sabe, desde a primeira página,
quem é o assassino; então o ponto de desenvolvimento do livro foi desvendar o motivo. Mas não há muito o que ser inventado desde que (o romancista Edgar Allan Poe) inventou o gênero. Ao inventá-lo, ele também já esgotou todas as variações. A que mais me encanta é a do narrador não confiável, aquele que conta a história, mas mente o tempo inteiro para o leitor. LP: Além de um crime, é claro, o que necessariamente um romance deve conter para ser considerado policial? LFV: Na verdade, todo romance é uma espécie de investigação, é um desvendar por meio de uma história, há sempre um mistério, que pode estar todo contido numa mesma personalidade. Todos os livros são policiais, alguns com crime, outros não. A distinção do gênero é apenas conter o policial e a vítima, a investigação e a solução. LP: Mas você não vê algum tipo de evolução no jeito de escrever romances policiais desde Poe? LFV: Há as maneiras humorísticas, por exemplo, e muitas das tentativas de romances policiais são paródias. Há também as mais pretensiosas, que tentam transformar o gênero em algo maior. Esses tipos de variações dialogam com as duas tradições clássicas. A europeia, em particular a inglesa, ambienta suas histórias muitas vezes numa cidade do interior com um crime desvendado pela capacidade dedutiva do investigador. A americana já traz o detetive particular, é mais violenta e ácida que a europeia e o investigador chega à solução do crime por meio da ação. LP: Você reconhece em sua obra policial alguma influência decisiva de outros autores? LFV: A tradição europeia, em especial. Criei um personagem que é uma sátira a essa linha europeia, que é o Ed Mort. Parodiar o estilo europeu por meio dele foi uma homenagem que me deu prazer. Disponível em: . Acesso em: set. 2011.
Texto 2 Trecho do livro Quem matou o livro policial? [...] Assim, seguem aqui as explicações necessárias para a compreensão da trama. (Trama, ou seja, a maneira como a história está sendo contada. No caso, de como as pistas estão sendo dosadas, oferecidas aos leitores, distribuídas entre os sucessivos episódios e outras aprontações cunhadas pela habilidade do autor). Vamos começar pelos detetives citados. Sam Spade é o tal que desvenda o mistério de O falcão maltês, um livro muito importante na literatura policial americana, porque introduz um tipo novo de detetive. Edgar Allan Poe criou no século XIX Auguste Dupin, que por sua vez inspirou e foi aperfeiçoado por Conan Doyle, com o maior de
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Leia o trecho de uma entrevista concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e responda às questões 11 e 12.
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AGUIAR, Luiz Antonio. Quem matou o livro policial?. Rio de Janeiro: Galera Record, 2010.
15. Cefet-MG Não há marcas da linguagem coloquial em: a. “Ora, Dashiell Hammett, criador de Sam Spade, achava tudo isso meio que bobagem, que nenhum desses detetives estava sequer próximo do que, na realidade, era o trabalho de um detetive.” b. “Sam Spade é bem isso. Recusa qualquer charme, qualquer romantismo, qualquer glamour. É frio, e trata a investigação como um processo de farejamento. É um sabujo”. c. “Tem outro ingrediente importante nesse novo tipo de policial criado por Hammett, que seria a gostosa fatal [...]”. d. “Ou seja, se é para ter charme, bota o cara no Velho Continente e estamos conversados”. 16. Cefet-MG Da leitura dos textos, pode-se afirmar, corretamente, que ambos: a. reconhecem a importância de Poe para a consagração do romance policial. b. apontam a veracidade das ações como o fator determinante para a construção da trama. c. caracterizam o protagonista do romance policial americano como um detetive caricatural. d. consideram o enredo como o elemento responsável pela atualização desse gênero tão antigo.
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14. Cefet-MG Em “Vamos começar pelos detetives citados”, o uso da forma verbal de primeira pessoa do plural justifica-se pelo fato de ela: a. retomar elementos do parágrafo anterior. b. estabelecer coesão entre os termos do período. c. referir-se a um sujeito coletivo expresso no texto. d. caracterizar-se como uma estratégia de engajamento do leitor.
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13. Cefet-MG Não se identifica circunstância temporal em: a. “Mas não há muito o que ser inventado desde que (o romancista Edgar Allan Poe) inventou o gênero”. b. “Edgar Allan Poe criou no século XIX Auguste Dupin, que por sua vez inspirou e foi aperfeiçoado por Conan Doyle [...]”. c. “E ao descobrir o que era a mentira, ou o que estava sendo encoberto, o mistério se desvendaria – e o criminoso era desmascarado”. d. “A europeia, em particular a inglesa, ambienta suas histórias muitas vezes numa cidade do interior com um crime desvendado pela capacidade dedutiva do investigador”.
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todos os detetives dos policiais, Sherlock Holmes, que por sua vez é ancestral de Hercule Poirot, o detetive-astro de Agatha Christie. Todos esses detetives, menos Spade, são excêntricos, detetives-espetáculo. Desses que resolvem os mistérios graças à sua inteligência poderosa, seu imbatível poder de observação, capacidade de organização das pistas, discernimento sobre o que é e o que não é relevante e dedução. Ora, Dashiell Hammett, criador de Sam Spade, achava tudo isso meio que bobagem, que nenhum desses detetives estava sequer próximo do que, na realidade, era o trabalho de um detetive. Ele tinha sido um detetive particular, e achava que um detetive de novela policial deveria ser mais realista, ou seja, que o detetive deveria era sair por aí seguindo pessoas, interrogando, confrontando versões, álibis, testemunhos. Até começar a pegar quem estava mentindo. E ao descobrir o que era a mentira, ou o que estava sendo encoberto, o mistério se desvendaria – e o criminoso era desmascarado. Era o detetive sem querer fazer charme (e, em muitas das histórias de Hammett, também sem nome, chamado de Continental Op, ou o detetive-operador da agência Continental). Sam Spade é bem isso. Recusa qualquer charme, qualquer romantismo, qualquer glamour. É frio, e trata a investigação como um processo de farejamento. É um sabujo. (Tem outro ingrediente importante nesse novo tipo de policial criado por Hammett, que seria a gostosa fatal, ou seja, uma mulher linda que é uma besta-fera-dissimulada, cujo modelo pode ser a Milady, de Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, um folhetim romântico, grande clássico da literatura do século XIX. Mas ainda não chegou o momento de falar disso.) A imaginação americana para policiais ficou muito marcada pelo Falcão maltês. Dele tivemos filhotes excelentes, como o detetive Phillipe Marlowe, de Raymond Chandler. O caso é que é difícil para um americano imaginar-se um detetive-espetáculo, como os ingleses. Piorando esse trauma, há o fato de Auguste Dupin, do escritor americano Edgar Allan Poe, ser um personagem que vivia em Paris. Ou seja, se é para ter charme, bota o cara no Velho Continente e estamos conversados. Vamos combinar, não existe realismo em literatura, e muito menos em literatura policial. Existe sempre enredo, uma maneira de ocultar os culpados e as pistas essenciais, de apresentar o crime, de pôr o detetive na caça do criminoso, e, muito, muito, muito importante, de criar um tipo de detetive: um personagem.
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Carta argumentativa: emissores em busca de destinatários Exercícios de Aplicação Leia o texto e responda à questão. Funk é cultura?! Algumas semanas atrás, estava folheando o jornal antes de começar mais uma jornada de trabalho quando me deparei com uma notícia que me deixou estupefato: “Tati Quebra Barraco faz turnê na Europa representando a cultura (e o feminismo) brasileiro”. De acordo com o jornal, [...] Tati e Cabbet Araújo, produtor da turnê, tiveram que gastar um bom tempo tentando convencer o Ministério da Cultura, que pagou as passagens da cantora, de que o funk também é cultura. [...] Afinal, esse funk de hoje é cultura?! [...] Quero deixar bem claro que eu não tenho nada contra a cantora e o tipo de som que ela faz, até porque cada um ganha dinheiro com aquilo que sabe fazer e sabe criar. Só acho que o Brasil tem muitos gêneros que representariam dignamente a cultura de um povo como o nosso sem precisar recorrer ao funk e abrir essa polêmica toda na sociedade. O funk de hoje é moda ou tendência, mas cultura brasileira é Bossa Nova, Samba, Chorinho, Forró. É só abrir a página da história da música brasileira, que veremos compositores como Pixinguinha, Cartola, Vinícius, Tom Jobim, Ari Barroso, Chico Buarque etc. Com certeza, poderia demorar horas aqui citando nomes fabulosos, que, estes sim, representam a boa música e a cultura do nosso país. Patrocinar as passagens da Tati Quebra Barraco foi demais para deixar passar em branco. O Governo não poderia ter encarado o funk ao pé da letra. Ele pode até ser cultura, mas o que é feito aqui no Brasil, na atualidade, não passa nem perto disso. Esse estilo de música, originado nos Estados Unidos, é uma mistura de jazz, blues e soul e caracterizado pelo ritmo pesado e repetitivas batidas graves. Trata-se de um movimento elitista e o movimento das favelas, dos grotões. Porém, o dito funk dos palavrões, das letras sexistas, dos insultos, que não passa mensagem alguma, não creio que isso represente o movimento funk original, aquele da realidade das favelas, da marginalização, enfim, o cunho social do movimento. Na minha opinião, o Brasil poderia ter um representante à altura lá fora, não com as migalhas do que se tornou o funk atualmente. Uma disritmia pornográfica que, através das letras, faz com que as mulheres voltem às bases do tempo medieval. Vulgar seria a expressão mais adequada. Você, mulher brasileira, se sentiria honrada em se ver diminuída, inferiorizada como pessoa, em formas de versos de música ainda mais como re-
presentante lá no exterior dessa grande nação brasileira? Acho que nem precisa ser mulher pra responder isso. Basta ser coerente. Marcus Vinicius Jacobson Disponível em: . Acesso: set. 2012. Adaptado.
01. Ufla-MG Em relação à tipologia, o texto, tomado em sua totalidade, configura-se predominantemente como: a. argumentativo: objetiva promover uma reflexão sobre o estilo funk. b. injuntivo: aconselha o leitor a desprezar o estilo funk como gênero musical. c. descritivo: apresenta as características do funk como estilo musical questionável. d. narrativo: conta o episódio da concessão de patrocínio, por parte do governo brasileiro. Resolução O texto tem por objetivo fazer o leitor refletir sobre o estilo funk. Alternativa correta: A
02. Enem Leia o texto e responda à questão. Nós, brasileiros, estamos acostumados a ver juras de amor, feitas diante de Deus, serem quebradas por traição, interesses financeiros e sexuais. Casais se separam como inimigos, quando poderiam ser bons amigos, sem traumas. Bastante interessante a reportagem sobre separação. Mas acho que os advogados consultados, por sua competência, estão acostumados a tratar de grandes separações. Será que a maioria dos leitores da revista tem obras de arte que precisam ser fotografadas antes da separação? Não seria mais útil dar conselhos mais básicos? Não seria interessante mostrar que a separação amigável não interfere no modo de partilha dos bens? Que, seja qual for o tipo de separação, ela não vai prejudicar o direito à pensão dos filhos? Que acordo amigável deve ser assinado com atenção, pois é bastante complicado mudar suas cláusulas? Acho que essas são dicas que podem interessar ao leitor médio. Disponível em: . Acesso em: fev. 2012. Adaptado.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Língua Portuguesa
Módulo 38
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Leia o trecho do romance Casa de pensão, de Aluísio Azevedo, e responda às questões 03 e 04. Às oito horas, quando entrou em casa, tinha já resolvido não ficar ali nem mais um dia. – Era fazer as malas e bater quanto antes a bela plumagem! Mas também, se por um lado não lhe convinha ficar em companhia do Campos, por outro, a ideia de se meter na república do Paiva não o seduzia absolutamente. Aquela miséria e aquela desordem lhe causavam repugnância. Queria liberdade, a boêmia, a pândega – sim senhor! Tudo isso, porém, com um certo ar, com uma certa distinção aristocrática. Não admitia uma cama sem travesseiros, um almoço sem talheres e uma alcova sem espelhos. Desejava a bela crápula, – por Deus que desejava! mas não bebendo pela garrafa e dormindo pelo chão de águas-furtadas! – Que diabo! − não podia ser tão difícil conciliar as duas coisas!...
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Resolução O autor da carta considera que o artigo publicado não atende aos interesses dos leitores da revista por abordar a temática da separação conjugal em altas rodas sociais. Através de sucessivas interrogações, sugere outras abordagens mais proveitosas às reais necessidades do público leitor, como se afirma em E. Alternativa correta: E
Pensando desse modo, subiu ao quarto. Sobre a cômoda estava uma carta que lhe era dirigida; abriu-a logo: “Querido Amâncio. Desculpe tratá-lo com esta liberdade; como, porém, já sou seu amigo, não encontro jeito de lhe falar doutro modo. Ontem, quando combinamos no Hotel dos Príncipes a sua visita para domingo, não me passava pela cabeça que hoje era dia santo e que fazíamos melhor em aproveitá-lo; por conseguinte, se o amigo não tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que nos dará com isso grande prazer. Minha família, depois que lhe falei a seu respeito, está impaciente para conhecê-lo e desde já fica à sua espera.” Assinava “João Coqueiro” e havia o seguinte post-scriptum:“Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha.". Amâncio hesitou em se devia ir ou não. O Coqueiro, com a sua figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o seu todo seco egoísta, desenganado da vida, não era das coisas que mais o atraíssem. No entanto, bem podia ser que ali estivesse o que ele procurava, − um cômodo limpo, confortável, um pouquinho de luxo, e plena liberdade. Talvez aceitasse o convite. — Esta gente onde está? perguntou, indicando o andar de cima a um caixeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca. — Foram passear ao Jardim Botânico, respondeu aquele, descendo as escadas. — Todos? ainda interrogou Amâncio. — Sim, disse o outro entre os dentes, sem voltar o rosto. E saiu. — Está resolvido! pensou o estudante. — Vou à casa do Coqueiro. Ao menos estarei entretido durante esse tempo! E voltando ao quarto: — Não! É que tudo ali em casa do Campos já lhe cheirava mal!... Olhassem para o ar impertinente com que aquele galeguinho lhe havia falado!... E tudo mais era pelo mesmo teor. — Uma súcia d’asnos! Começou a vestir-se de mau humor, arremessando a roupa, atirando com as gavetas. O jarro vazio causou-lhe febre, sentiu venetas de arrojá-lo pela janela; ao tomar uma toalha do cabide, porque ela se não desprendesse logo, deu-lhe tal empuxão que a fez em tiras. — Um horror! resmungava, a vestir-se furioso, sem saber de quê. — Um horror! E, quando passou pela porta da rua, teve ímpetos de esbordoar o caixeiro, que nesse dia estava de plantão.
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O texto foi publicado em uma revista de grande circulação na seção de carta do leitor. Nele, um dos leitores se manifesta acerca de uma reportagem publicada na edição anterior. Ao fazer sua argumentação, o autor do texto: a. faz uma síntese do que foi abordado na reportagem. b. discute problemas conjugais que conduzem à separação. c. aborda a importância dos advogados em processos de separação. d. oferece dicas para orientar as pessoas em processos de separação. e. rebate o enfoque dado ao tema pela reportagem, lançando novas ideias.
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Resolução São incorretas as opções A, B, C e E. Em A, o diminutivo em “palavrinha” atenua o tom da frase, transformando a ordem em pedido. Em B, o emissor desculpa-se pela intimidade com que trata o receptor, o que demonstra respeito, mas também intenção de proximidade. Em C, o local para o encontro era a pensão do Coqueiro e não o Hotel dos Príncipes. Em E, a expressão “não me passava pela cabeça” sugere linguagem informal, pertinente com o tom de intimidade com que Coqueiro quer tratar o seu convidado. Alternativa correta: D Habilidade Observar as pessoas do discurso e identificar aspectos linguísticos e discursivos nas composições estruturais do texto e as funções que ele apresenta.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
03. UFPB Considerando a carta escrita por João Coqueiro para Amâncio, é correto afirmar: a. O emissor da carta, no fragmento “Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha.”, assume uma postura autoritária, ao expressar uma ordem. b. O emissor, ao escrever “Desculpe tratá-lo com esta liberdade.”, deseja manter um distanciamento do receptor da carta. c. A principal finalidade da carta é fazer um convite a Amâncio, para passar a tarde do domingo no Hotel dos Príncipes. d. O uso do vocativo “Querido Amâncio” revela que o emissor deseja construir uma relação de intimidade com esse destinatário. e. O uso da expressão “[...] não me passava pela cabeça [...]” sugere uma atitude ríspida de João Coqueiro.
04. UFPB No fragmento “— Esta gente onde está? perguntou, indicando o andar de cima a um caixeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca.”, ocorrem sequências textuais: a. narrativas e descritivas. b. dissertativas e narrativas. c. argumentativas e descritivas. d. injuntivas e argumentativas. e. dissertativas e injuntivas. Leia o texto e responda à questão. Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S.Paulo que a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com a inexistência de transporte público de massa por ali. Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder
público não fez a sua parte em desmentir que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana. Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas. Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em determinada cidade. Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa. A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área, não destruí-la. Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica, quase bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus sem dar
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Exercícios Extras
Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo. 7 out. 2010. Adaptado.
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Vocabulário Minhocão: nome pelo qual é conhecido o elevado Presidente Costa e Silva, via expressa que liga o Centro à Zona Oeste da cidade de São Paulo.
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05. ITA-SP A possível instalação de uma estação do metrô na avenida Angélica e a reação por parte de moradores de Higienópolis gerou muita polêmica e manifestações, que foram veiculadas na mídia impressa e virtual. Assinale a opção, cuja manifestação não constitui uma ironia. a. “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” (cartaz que integrava uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu). b. “Nós queremos o metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto, exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália.” (frase de um participante de uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu). c. “É tão fácil resolver problema, gente: faz uma entrada social e uma de serviço.” (Luísa Tieppo, no Twitter) d. “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada.” (moradora de Higienópolis, em reportagem da Folha, 13 ago. 2010). e. “Não se esqueçam dos sacos de lixo. Somos diferenciados, mas somos limpinhos” (convite virtual divulgado no Facebook para o “Churrascão da gente diferenciada”, uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu).
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vazão a desembarques, a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas. Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte público. Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, parecerem-se com um Minhocão, o Godzilla do centro de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como os antigos bondes, ótimo. Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa circular por São Paulo.
Seu espaço Sobre o módulo Os dois textos usados para exemplificação dos dois gêneros podem ser aproveitados de forma aprofundada em sala uma vez que sinalizam temas muito profícuos e importantes em nosso contexto contemporâneo. A proposta de redação que consta no módulo 3, inclusive, pode ter sua abordagem enriquecida com as ideias de Márcia Tiburi.
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Estante Márcia Tiburi escreve uma coleção chamada Diálogo em que se discutem diferentes aspectos de nossa realidade,
sendo cada volume dedicado a um assunto: educação, desenho, dança, fotografia etc. São livros compostos por cartas. Em cada obra, um convidado é chamado a dialogar com a filósofa por meio de cartas, sendo que todas elas conservam a estrutura aqui apresentada como ideal. Vale a pena a leitura e, talvez, o uso de alguns textos em atividades interdisciplinares, por exemplo.
Da teoria, leia o tópico 2. Exercícios de
tarefa
reforço
aprofundamento
Leia o texto de Cynara Menezes, publicado na Carta Capital, e responda às questões 06 e 07. Gosto de olhar as capas das revistas populares no supermercado nestes tempos de corrida do ouro da classe C. A classe C é uma versão sem neve e de biquíni do Yukon do tio Patinhas quando jovem pato. Lembro o futuro milionário disneyano enfrentando a nevasca para obter suas primeiras patacas. Era preciso conquistar aquele território com a mesma sofreguidão com que se busca, agora, fincar a bandeira do consumo no seio dos emergentes brasileiros. Em termos jornalísticos, é sempre aquela concepção de não oferecer o biscoito fino para a massa. É preciso dar o que a classe C quer ler – ou o que se convencionou a pensar que ela quer ler. Daí as políticas de didatismo nas redações, com o objetivo de deixar o texto mastigado para o leitor e tornar estanque a informação dada ali. Como se não fosse interessante que, ao não compreender algo, ele fosse beber em outras fontes. Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de quase todo mundo. Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que dizem as pesquisas na hora de confeccionar uma revista popular. Tomemos como exemplo a pesquisa feita por uma grande editora sobre “a mulher da classe C” ou “nova classe média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher da classe C vai consumir cada vez mais artigos de decoração e vai investir na reforma de casa; que ela gasta muito com beleza, sobretudo o cabelo; que está preocupada com a alimentação; e que quer ascender social e profissionalmente. É com base nestes números que a editora oferece o produto – a revista – ao mercado de anunciantes. Normal. Mas no que se transformam, para o leitor, estes dados? Preocupação com alimentação? Dietas amalucadas? A principal chamada de capa destas revistas é alguma coisa esdrúxula como: “perdi 30 kg com fibras naturais”, “sequei 22 quilos com cápsulas de centelha asiática”, “emagreci 27 kg com florais de Bach e colágeno”, “fiquei magra com a dieta da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo linhaça”. Pelo amor de Deus, quem é que vai passar o dia comendo linhaça? Estão confundindo a classe C com passarinho, só pode. Quer reformar a casa? Nada de dicas de decoração baratas e de bom gosto. O objetivo é ensinar como tomar empréstimo e comprar móveis em parcelas. Ou então alguma coisa “criativa” que ninguém vai fazer, tipo uma parede toda de filtros de café usados. Juro que li isso. A parte de ascensão profissional vem em matérias como “fiquei famosa vendendo bombons de chocolate feitos
em casa” ou “lucro 2500 reais por mês com meus doces”. Falar das possibilidades de voltar a estudar, de ter uma carreira ou se especializar para ser promovido no trabalho? Nada. Dicas culturais de leitura, filmes, música, então, nem pensar. Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a mídia impressa está em baixa penso nestas revistas. A Internet oferece grátis à classe C um cardápio ainda pobre, mas bem mais farto. Será que a nova classe média quer realmente ler estas revistas? A vendagem delas é razoável, mas nada impressionante. São todas inspiradas nas revistas populares inglesas, cuja campeã é a Take a Break. A fórmula é a mesma de uma Sou + Eu: dietas, histórias reais de sucesso ou escabrosas e distribuição de prêmios. Além deste tipo de abordagem, também fazem sucesso as publicações de fofocas de celebridades ou sobre programas de TV – aqui, as novelas. Sei que deve ser utopia, mas gostaria de ver publicações para a classe C que ensinassem as pessoas a se alimentar melhor, que mostrassem como a obesidade anda perigosa no Brasil porque se come mal. Atacando, inclusive, refrigerantes, redes de fast-food e guloseimas, sem se preocupar em perder anunciantes. Que priorizassem não as dietas, mas a educação alimentar e a importância de fazer exercícios e de levar uma vida saudável. Gostaria de ver reportagens ensinando as mulheres da classe C a se sentirem bem com seu próprio cabelo, muitas vezes cacheado, em vez de simplesmente copiarem as famosas. Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando pouco, sem se importar com marcas. Gostaria de ler reportagens nas revistas para a classe C alertando os pais para que vejam menos televisão e convivam mais com os filhos. Que falassem da necessidade de tirar as crianças do computador e de levá-las para passear ao ar livre. Que tivessem dicas de livros, notícias sobre o mundo, ciências, artes – é possível transformar tudo isso em informação acessível e não apenas para conhecedores, como se a cultura fosse patrimônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de ver revistas populares que fossem feitas para ler de verdade, e que fizessem refletir. Mas a quem interessa que a classe C tenha suas próprias ideias? Disponível em: . Acesso em: jul. 2015.
06. ITA-SP Considere as afirmações e assinale a alternativa correta. Para a autora, um bom texto é aquele que: I. explicita ao máximo as informações para o leitor. II. leva o leitor a procurar outras fontes de informação. III. possibilita a reflexão do leitor. IV. necessita de pouco tempo para ser lido e compreendido. a. Somente I e II estão corretas. b. Somente I e III estão corretas.
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Exercícios Propostos
08. Fuvest-SP Leia o texto e responda à questão. Belo Horizonte, 28 de julho de 1942. Meu caro Mário, Estou te escrevendo rapidamente, se bem que haja muitíssima coisa que eu quero te falar (a respeito da Conferência, que acabei de ler agora). Vem-me uma vontade imensa de desabafar com você tudo o que ela me fez sentir. Mas é longo, não tenho o direito de tomar seu tempo e te chatear. Fernando Sabino Nesse trecho de uma carta de Fernando Sabino a Mário de Andrade, o emprego de linguagem informal é bem evidente em: a. “se bem que haja”. b. “que acabei de ler agora”. c. “Vem-me uma vontade”. d. “tudo o que ela me fez sentir”. e. “tomar seu tempo e te chatear”.
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09. Mackenzie-SP Leia o texto e responda à questão. A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. [...] E domingo, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau [...]. E assim seguimos nosso caminho por este mar de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril, estando da dita ilha obra de 660 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho [...]. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos. Nesse dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo [...]; ao monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal, e à terra, A Terra de Vera Cruz. Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.
10. Unicamp-SP Leia o texto e responda à questão. “Os turistas que visitam as favelas do Rio se dizem transformados, capazes de dar valor ao que realmente importa”, observa a socióloga Bianca Freire-Medeiros, autora da pesquisa “Para ver os pobres: a construção da favela carioca como destino turístico”. “Ao mesmo tempo, as vantagens, os confortos e os benefícios do lar são reforçados por meio da exposição à diferença e à escassez. Em um interessante paradoxo, o contato em primeira mão com aqueles a quem vários bens de consumo ainda são inacessíveis garante aos turistas seu aperfeiçoamento como consumidores.” No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, invasivo, pouco interessado na vida da comunidade, preferindo visitar o espaço como se visita um zoológico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo. Conforme relata um guia, “O turismo na favela é um pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas apertadas e as pessoas deixam as janelas abertas. E tem turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão dentro da casa das pessoas! Isso é realmente desagradável. Já aconteceu com outro guia. A moradora estava cozinhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da panela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.” Carlos Haag, Laje cheia de turista. Como funcionam os tours pelas favelas cariocas. Pesquisa FAPESP n. 165, 2009. Adaptado.
a. Explique o que o autor identifica como “um interessante paradoxo”. b. O trecho que reproduz em discurso direto a fala do guia contém marcas típicas da linguagem coloquial oral. Reescreva a passagem em discurso indireto, adequando-a à linguagem escrita formal.
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07. ITA-SP Assinale a alternativa que não apresenta linguagem informal. a. “Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de quase todo mundo.” b. “[...] a editora oferece o produto – a revista – ao mercado de anunciantes. Normal.” c. “Estão confundindo a classe C com passarinho, só pode.” d. “[...] tipo uma parede toda de filtros de café usados.” e. “Dicas culturais de leitura, filmes, música, então, nem pensar.”
Assinale a alternativa correta acerca do texto. a. No contexto em que se inserem, as expressões “topamos alguns sinais de terra” e “houvemos vista de terra” têm o mesmo sentido que: “enxergamos o continente americano”. b. As nomeações referidas na carta –“O Monte Pascoal” e “A Terra de Vera Cruz”– refletem valores ideológicos da cultura portuguesa. c. “Os mareantes”, por influência da cultura indígena, apelidaram as “ervas compridas” de botelho e as aves de fura-buxos. d. A expressão “dita ilha” indica que os navegantes portugueses confundiram a Ilha de S.Nicolau com o Brasil. e. Embora se apresente em linguagem objetiva, o trecho da carta revela, devido ao excesso de adjetivações, a euforia dos portugueses ao descobrirem o tão sonhado “Eldorado”.
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c. Somente II e III estão corretas. d. Somente II e IV estão corretas. e. Somente III e IV estão corretas.
Carta aberta ao Presidente da República Brasília, 04 de junho de 2009. Exmo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva DD Presidente da República Sr. Presidente, Vivemos ontem um dia histórico para o país e um marco para a Amazônia, com aprovação final, pelo Senado Federal, da Medida Provisória 458/09, que trata sobre a regularização fundiária da região. Os objetivos de estabelecer direitos, promover justiça e inclusão social, aumentar a governança pública e combater a criminalidade, que sei terem sido sua motivação, foram distorcidos e acabaram servindo para reafirmar privilégios e o execrável viés patrimonialista que não perde ocasião de tomar de assalto o bem público, de maneira abusiva e incompatível com as necessidades do país e os interesses da maioria de sua população. Os especialistas que acompanham a questão fundiária na Amazônia afirmam categoricamente que a MP 458, tal como foi aprovada ontem, configura grave retrocesso, como aponta o Procurador Federal do Estado do Pará, Dr. Felício Pontes. Sendo assim, Senhor Presidente, está em suas mãos evitar um erro de grandes proporções, não condizente com o resgate social promovido pelo seu governo e com o respeito devido a tantos companheiros que deram a vida pela floresta e pelo povo da Amazônia. Permita-me também, Senhor Presidente, e com a mesma ênfase, lhe pedir cuidados especiais na regulamentação da Medida Provisória. Por tudo isso, Sr. Presidente, peço que Vossa Excelência vete os incisos II e IV do artigo 2º; o artigo 7º e o artigo 13. Com respeito e a fraternidade que tem nos unido, atenciosamente, Senadora Marina Silva Disponível em: . Acesso em: jul. 2015. Adaptado.
c. participar aos órgãos ou às autoridades competentes uma ação coletiva; por isso, a carta aberta é também conhecida e denominada de carta reivindicatória. d. estimular e induzir o seu leitor a ponderar criticamente sobre diversos aspectos da sociedade onde vive, por meio de uma linguagem acessível a todos. Leia o texto e responda à questão. Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico das suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte, também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja, 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães, que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes. Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010.
12. Enem O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada, em abril de 1940, ao então presidente da República Getúlio Vargas. As opções linguísticas de Fuzeira mostram que seu texto foi elaborado em linguagem: a. regional, adequada à troca de informações na situação apresentada. b. jurídica, exigida pelo tema relacionado ao domínio do futebol. c. coloquial, considerando-se que ele era um cidadão brasileiro comum. d. culta, adequando-se ao seu interlocutor e à situação de comunicação. e. informal, pressupondo o grau de escolaridade de seu interlocutor. Leia o texto e responda à questão.
O texto apresentado é uma carta aberta, gênero textual de extrema importância na vida social contemporânea, sobretudo em sociedades democráticas. Ao ser amplamente divulgada, a carta aberta tem como meta: a. informar e conscientizar as pessoas em geral sobre um problema social ou político; assim, a carta aberta instiga o seu leitor a sustentar o apelo que compõe o conteúdo apresentado pelo seu produtor. b. constituir o seu produtor como representante legítimo da população, tendo em vista ser ele o único credenciado a formalizar os reclames da sociedade perante a autoridade.
Estamos em plena “Idade Mídia” desde os anos de 1990, plugados durante muitas horas semanais (jovens entre 13 e 24 anos passam 3h30 diárias na Internet, garante pesquisa Studio Ideias para o núcleo Jovem da Editora Abril), substituímos as cartas pelos e-mails, os diários íntimos pelos blogs, os telegramas pelo Twitter, a enciclopédia pela Wikipédia, o álbum de fotos pelo Flickr. O YouTube é mais atraente do que a TV. PERISSÉ, G. A escrita na Internet. Especial Sala de Aula. São Paulo, 2010.
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11. UEMG Leia o texto e responda à questão.
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Carta ao FHC Presidente: Tenho certeza de que se alguém lhe perguntar quem sou eu, o senhor responderá: o escritor. [...] Pois é, meu querido presidente [...], eu estou aproveitando aqui o meu espaço no Estadão e os seus últimos meses aí no comando para lhe pedir um favor. [...] O que eu quero, meu presidente, é que antes de o senhor deixar o governo, me reconheça como escritor. Não apenas eu. O Verissimo, o Ubaldo, o Loyola, o Mateus, o Jorge Amado, o Machado de Assis, também estão na mesma situação minha. Como está o meu filho Antonio. Resumindo, meu caro: não existe a profissão de escritor no Brasil. Vou repetir: não existe. Quando declaro meu Imposto de Renda (não existimos, mas pagamos), tenho de me dizer ou jornalista ou assemelhado. É duro, meu presidente, depois de 42 anos escrevendo (e vivendo disto) ainda seja apenas um elemento assemelhado. Não é nem semelhante, é assemelhado mesmo! Minha profissão não existe, presidente. Não posso me aposentar... Não tenho um sindicato que me represente. [...] Dá um jeito aí, Fernando. Oficializa a coisa. Nos dê uma profissão, com direito a uma cidadania digna. [...]
14. Unicamp-SP Embora o conteúdo da carta seja sério, o autor também faz uso de humor. a. Transcreva duas passagens em que o humor esteja presente. b. Explique como a linguagem empregada pelo autor gera humor nas duas passagens transcritas na questão anterior. 15. Unicamp-SP O texto de Mário Prata foi publicado no jornal O Estado de S.Paulo, quando Fernando Henrique Cardoso era presidente do Brasil. a. O autor da carta deixa bem clara sua intenção ao escrevê-la. Explique-a. b. Para convencer seu interlocutor a respeito do ponto de vista que defende, o autor cita alguns problemas que vive. Transcreva dois desses problemas e explique que transtornos eles causam ao autor. 16. Unicamp-SP Analisando as informações textuais, responda às questões. a. Qual é o sentido implícito contido nas frases entre parênteses do quarto parágrafo? b. Qual é a situação profissional do escritor na Inglaterra? Ela se aproxima ou se distancia da concepção brasileira? Por quê?
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Mário Prata. O Estado de S.Paulo, 3 jul. 2002. Adaptado.
Leia o fragmento de texto e responda às questões de 14 a 16.
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Só para lhe dar um exemplo de um país onde o escritor é um profissional reconhecido pelas leis, e amparado por elas, cito a Inglaterra, onde toda editora a publicar um livro, tem que mandar um exemplar para cada biblioteca pública do país. Claro que os 40 mil exemplares são comprados pelo governo. Quem ganha? Em primeiro lugar, o público. Ganha a editora, ganha o escritor. Ganha o país. Ganha a profissão. [...] Quebra essa pra gente, FHC. Mesmo porque você vai sair aí do Planalto Central e vai passar o resto da sua vida a escrever uns livros. E não vai querer que na sua biografia para o século seguinte alguém leia: “Ex-presidente da República, no fim da vida tornou-se importante assemelhado.”
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13. Enem Cada sistema de comunicação tem suas especificidades. No ciberespaço, os textos virtuais são produzidos combinando-se características de gêneros tradicionais. Essa combinação representa: a. na redação do e-mail, o abandono da formalidade e do rigor gramatical. b. no uso do Twitter, a presença da concisão, que aproxima os textos às manchetes jornalísticas. c. na produção de um blog, há perda da privacidade, pois o blog identifica-se com o diário íntimo. d. no uso do Twitter, a falta de coerência nas mensagens ali veiculadas, provocada pela economia de palavras. e. na produção de textos em geral, a soberania da autoria colaborativa no ciberespaço.
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Produção de texto 3
A seguir, oferecemos duas possibilidades de propostas. Bom trabalho! 01. UFG-GO O texto deve ser redigido em prosa. A fuga do tema anula a redação. A leitura da coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos ou frases sem que essa transcrição esteja a serviço do seu texto. O seu texto não deve ser assinado. Tema: Sociedade contemporânea: gêneros em complementação e/ou em competição? Texto 1
Texto 2 Homens e mulheres Mário Eugênio Saturno
Homens e mulheres são diferentes? Alguns afirmam que, além das diferenças óbvias, homens são muito diferentes de mulheres. E mostram, como veremos a seguir. Defendem que tudo começou com os homens das cavernas. Das mulheres das cavernas também. Enquanto os homens eram caçadores, as mulheres eram coletoras. Essas tarefas eram muito distintas. E persistem até hoje, lá no fundo. O coletor, ou melhor, a coletora repara em tudo, anda e observa as frutas maduras e boas para, então, coletá-las. Ou seja, faz compras. E quanto mais observadoras, mais eficientes. Mi-
lhões de anos depois, estão aí nossas mulheres, coletando muitas coisas em supermercados, lojas, feiras... E como elas são boas nisso! O caçador concentra-se em uma presa, esquecendo-se do que está à volta, em profundo silêncio, até que a presa esteja morta. Por isso, o homem pergunta: “mulher, cadê a minha caneta?”. Está em sua frente, no canto direito da mesa. Ah, é... Explica, também, por que quando os homens se perdem no trânsito exigem silêncio para se concentrar na solução da bobagem que fizeram. Psiu! Fiquem quietos para eu continuar a escrever meu artigo! Será que explica por que os homens são tão fanáticos por sexo? Enquanto se concentravam e ficavam em silêncio, os homens aprenderam a esquecer tudo o mais, como o dia do início do namoro, do casamento, do aniversário, além dos recados da esposa. E como os homens são péssimos nesse aspecto! Não é desatenção, nem é desprezo, é simplesmente condicionamento milenar. Portanto, mulheres, percam as esperanças. As mulheres das cavernas, por sua vez, ficavam juntas, também com seus filhos, enquanto coletavam, conversavam, falavam, contavam, parlavam, parlavam, parlavam... Por isso, talvez, as mulheres utilizam os dois lados do cérebro para falar, enquanto os homens, apenas o lado esquerdo. Pergunte algo a uma mulher e ela tem mil palavras para descrever. Pergunte algo a um homem e ele não tem (literalmente) palavras para se exprimir. Calcula-se que os homens falem 2 mil palavras por dia, enquanto as mulheres têm um arsenal de 7 mil palavras. Por isso, ao chegar em casa, os homens ficam calados, quietos, mudos. As mulheres pensam que é indiferença, mau humor, mas não. Simplesmente acabou o estoque de palavras para aquele dia, enquanto elas ainda têm 5 mil de sobra. Esses pesquisadores acreditam que somos descendentes dos melhores caçadores e das melhores coletoras. Assim, continuamos a repetir o comportamento que tínhamos há milhares de anos. Por exemplo: ao chegar em casa, o homem apropria-se do controle remoto e muda de canal sem parar. Dá tempo para perceber o programa? Claro que não. O que importa é mudar os canais. Ter controle sobre a televisão. Também foi descoberto que os homens têm 1 bilhão de neurônios a mais que as
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Texto 3 O mundo é feminino “O ponto de vista machista talvez seja interessante”, escreve Philippe Starck na Harvard Design Magazine, “caso a pessoa pretenda enfrentar dinossauros. Atualmente, porém, garantimos nossa sobrevivência graças à inteligência, não ao poder da agressividade. E a inteligência moderna implica intuição – que, por sua vez, é um atributo tipicamente feminino”. Sou um feminista que não se envergonha de enfatizar as diferenças. Não tenho a menor dúvida de que homens e mulheres são iguais. Mas tampouco hesito em afirmar que homens e mulheres são... diferentes. E as diferenças são enormes. No que diz respeito ao meu métier, o da excelência empresarial, essas diferenças têm implicações profundas na maneira como criamos e distribuímos produtos, serviços e experiências. Em Como as mulheres compram, Martha Barletta apresenta evidências que revelam como tais diferenças estão inscritas em nosso âmago: Visão: a dos homens é focada. A das mulheres é periférica. Audição: o nível de desconforto auditivo das mulheres é metade do dos homens. Olfato: as mulheres são sensíveis. Os homens são relativamente insensíveis. Tato: o mais sensível dos homens é menos sensível ao toque do que a menos sensível das mulheres (sem exagero). Tom Peters EXAME. Você S/A. São Paulo: Abril, ed. 65.
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Como representantes do corpo editorial do Jornal de psicanálise, tivemos um instigante encontro com Sonia, que nos recebeu afetivamente em sua casa. JP: Antes de mais nada, agradecemos muito a oportunidade desta entrevista, que iniciamos a partir da seguinte questão: em sua opinião, as teorizações psicanalíticas clássicas sobre o masculino e o feminino ainda contemplam as problemáticas de sexo e gênero da contemporaneidade? Sonia: Gostaria de responder essa primeira questão não pensando nas muitas teorizações feitas pela psicanálise desde Freud. É mais estimulante conversar com vocês a partir de alguns filmes que vi, de alguns livros que tenho lido ultimamente e, eventualmente, lembrar até de algumas leituras ou experiências clínicas. Assisti há poucos dias a um filme que teve muitas ressonâncias em mim: Foi apenas um sonho. Ele me remeteu aos anos 50 (o filme se passa em 1955). Então, eu própria era uma adolescente, fazendo o curso colegial, e algumas questões se impunham: quem eu era, o que faria da minha vida? Eu era uma mulher. Voltando ao filme que me inspirou para essa entrevista, Foi apenas um sonho, o que se vê é a solidão dos personagens: um homem e uma mulher, casados. Na verdade, eles não puderam expandir seus sonhos porque estavam profundamente sós, não puderam sonhar juntos. A cultura da época os separava inexoravelmente. Sabemos hoje que, logo após a Segunda Guerra, os homens, em seu regresso, foram convocados a reocupar o mercado de trabalho. As mulheres, que até então estavam se expandindo naquele mercado, foram remanejadas para uma volta ao lar. Surgiu, assim, toda uma publicidade, veiculada no cinema e nos meios de comunicação, de que a mulher em casa, cuidando tão somente dos filhos e das lides domésticas, seria muito feliz e tornaria sua família muito feliz. Na mesma trilha, lembro também do filme As horas, em que uma das personagens vai se psicotizando, pois só tem a companhia de um filho ainda muito pequeno, que só a olha com angústia, percebendo o sofrimento da mãe, que acaba por abandoná-lo. Na verdade, o título original do
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Texto 5 Entrevista com Sonia Azambuja – Masculino/feminino: uma questão intrigante Cândida Sé Holovko, Miriam Malzyner e Silvia Lobo
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Disponível em: . Acesso em: nov. 2011.
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mulheres. Dizem alguns que esses neurônios a mais estão localizados numa área do cérebro exclusiva dos homens: o CCG, ou centro de controle dos gastos. Mentira. As mulheres são econômicas, pelo menos quando jovens: já observaram as moças de 16 a 20 anos usarem as mesmas roupas que tinham quando mal completavam 12 anos? Essas coitadinhas mal cabem nas roupinhas... Por outro lado, descobriu-se que as mulheres têm os dois hemisférios cerebrais melhor conectados que os dos homens. Por isso, quando um homem vai tomar uma ação, ela tem que percorrer o cérebro todo, congestionando a ligação entre os hemisférios, a ponto de muitos homens começarem a babar diante de alguma dificuldade. Já as mulheres são zás-trás. Mas nem todos concordam com essas teorias. Argumentam que não temos registros e nem fósseis dos homens das cavernas que possam sustentar essas ideias incríveis. Muitos acreditam que a diferença de tratamento e educação dos meninos e das meninas, desde cedo, produzam as diferenças nos cérebros adultos. De qualquer forma, porém, que essa teoria explica muita coisa, isso explica...
e novas gestaltsse criam, deixando na periferia combates que antes eram centrais. Existem situações e culturas em que podem estar sendo feridos os direitos universais das pessoas. Como respeitar isso? Como dizer “isso é problema deles”? Disponível em: . Acesso em: nov. 2011.
Texto 6 O mundo é masculino? O mundo socialmente construído tem sido essencialmente masculino. Mesmo que não se possa reconhecer uma sociedade masculina, singular, contudo tem sido assim o sistema de vida humano. Boaventura de Souza Santos (2001) aborda o caráter sexista adotado pela ciência moderna. E ela é disseminadora de conhecimentos e formas de viver, contaminando as formas de organização das sociedades. O autor citado reforça essa análise ao afirmar que os "Estudos feministas, sobretudo os dos últimos 20 anos, tornaram claro que, nas concepções dominantes das diferentes ciências, a natureza é um mundo de homens, organizado segundo princípios socialmente construídos, ocidentais e masculinos, como os da guerra, do individualismo, da concorrência, da agressividade, da descontinuidade com o meio ambiente." Essa forma autoritária de reconhecer o mundo e o que nele acontece ignora o próprio movimento da criação. A mulher, o feminino é essencialmente criador e gerador. E as relações humanas devem ser amorosas e, portanto, não há como dissociá-las da existência e da valoração de feminino e masculino. Repensar a ciência moderna e as bases da própria organização social implica na reconstrução de valores. Diante da complexidade da vida haverá necessidade de serem revistas as formas de conviver com os outros e com nós mesmos. Esse é um bom caminho para nos ajudar nos processos de construção da cidadania. Todas essas mudanças nas práticas sociais devem ser estimuladas pelas políticas de governos que atuem direta e indiretamente nos processos que discriminam as mulheres. A valorização do feminino e o ataque formal e informal sobre as práticas discriminatórias será mais efetivo, no dizer de Tatau Godinho (2001): "quanto mais se construir em bases democráticas... Sem se confundir com o movimento ou substituir o seu papel, os organismos de governo necessitam criar um diálogo com os movimentos de mulheres, em suas bases mais amplas". Em outras palavras, o trabalho pela igualdade de gênero não pode se fundamentar exclusivamente na vontade expressa pelos discursos. Mas tornam-se indispensáveis atitudes práticas que permitam o treinamento e a ca-
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filme Foi apenas um sonho é Revolutionaryroad. Por que a revolução não foi possível? Porque o desejo da mulher de sair daquele padrão era tomado pelo marido, a princípio, com entusiasmo e, a seguir, com medo. Achei muitíssimo interessante a questão de gênero que aí se expõe. Na minha percepção, o homem personagem – um homem sensível e que claramente ama a sua mulher – não pode realizar os desejos que ela investe nele, pois em sua identidade masculina estão inscritos os fados pelos quais ele deve realizar os desejos de seu patrão, originalmente, de seu pai. Desejos estes implicados com o mundo dos negócios, das vendas, onde ilusoriamente é depositado o poder. Sabemos, nós analistas, como esse universo pode trazer sofrimento a homens e mulheres, indistintamente. Sabemos, por outro lado, que o advento desses valores é historicamente ligado ao desenvolvimento da sociedade industrial. Na vida dos burgos, no início do capitalismo, as casas e as oficinas de trabalho estavam muito próximas. O interno do doméstico era ainda íntimo do externo do trabalho. As crianças não eram então criadas e cuidadas apenas por suas mães. Nesse filme, o que vemos é a total separação do mundo doméstico do mundo do trabalho e, particularmente, como essa divisão deleta qualquer sonho comunitário entre homens e mulheres. Como é possível o homem e a mulher sonharem juntos? Há muitos anos essa questão me intriga. A mente humana é limitada. Criamos para nossas vidas poucos temas, que se repetem e que constituem o nosso percurso identitário. No meu próprio percurso, um tema que volta e meia se repete, dependendo dos meus fados, é a questão do corpo masculino e do corpo feminino e das ressonâncias que eles têm em nossas almas. São dois universos, como se fossem dois sistemas estelares, mas que tentam desesperadamente se comunicar. Como a chegada enigmática do outro é vivida por nós na tentativa de comunicação? O que ele traz de abalo para a nossa unidade narcísica, que é constitutivo do nosso eu mais profundo? Já me dediquei, no trabalho “Laio ou a fertilidade impossível”, a essa questão. E às vezes me canso dessas repetições. E temo que elas se tornem uma “compulsão à repetição”. Assim é que estou tentando colocar a questão de outra maneira, para não morrer de tédio de mim mesma. Voltando à pergunta que me foi feita: se as teorias psicanalíticas sobre o masculino e o feminino contemplam as problemáticas de sexo e gênero da contemporaneidade? Acredito que não é o caso, porque contemplar traz a ideia de aplacar, explicar, apaziguar – e o ser humano não se apazigua nunca. Podemos tangenciar, mas novas configurações se colocam
02. Unicamp-SP Leia a matéria, publicada na revista acadêmica Pesquisa Rio. Imagine que um diretor de uma escola se entusiasmou com o projeto e decidiu divulgá-lo no site de sua instituição. Para isso, fez uma pequena entrevista com a coordenadora da Oficina de Experimentação Corporal mencionada na matéria. Crie essa entrevista, marcada pelo discurso oral formal, na qual deverão constar, necessariamente: • três perguntas que explorem dados importantes da matéria; e • as respectivas respostas, também com base na matéria.
Cláudio Antônio de Mauro Disponível em: . Acesso em: out. 2011.
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Carta argumentativa A carta argumentativa é um gênero discursivo em que o autor do texto dirige-se a um interlocutor específico com o objetivo de defender um ponto de vista e convencê-lo a mudar de opinião sobre alguma questão polêmica. Apresenta, de forma articulada, informações, fatos e argumentos que caracterizam claramente um ponto de vista sobre determinada questão. Geralmente, esse
Lembre-se de que não deverá recorrer à mera colagem de trechos do texto. Perceber sem ver Imagine não conseguir ver o mundo que nos cerca e, mesmo assim, ter que aprender a viver nele. Esse desafio é uma realidade para mais de 1 milhão de cegos e 4 milhões de pessoas com deficiência visual que vivem no Brasil. No Instituto Benjamim Constant (IBC), a Oficina de Experimentação Corporal, coordenada pela professora Márcia Moraes, procura promover e ampliar os modos pelos quais as pessoas com deficiência visual experimentam e conhecem o próprio corpo e o mundo à sua volta. O trabalho, que contou com o apoio da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), é realizado por meio de uma parceria entre a UFF (Universidade Federal Fluminense) e o IBC, e conta com nove jovens – graduandos e mestrandos de psicologia da UFF e estudantes de dança da pós- graduação da Faculdade Escola Angel Vianna – que organizam as oficinas. Nelas, procura-se trabalhar a percepção do corpo, os movimentos, a noção de espaço e as diferentes texturas dos objetos. A finalidade é que, por meio dessas experimentações e sensibilizações corporais, os integrantes do grupo possam conhecer melhor
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a. Sonia Azambuja, se você considera que na sociedade contemporânea os gêneros masculino e feminino estão em competição. Ou para b. Cláudio Antônio de Mauro, se você acha que na sociedade contemporânea os gêneros masculino e feminino são complementares. Independentemente de sua escolha, utilize dados, informações e argumentos vinculados ao tema para defender seu ponto de vista e convencer seu interlocutor a mudar de opinião. Não identifique o remetente da carta.
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ponto de vista é diferente daquele defendido pelo interlocutor a quem a carta foi dirigida. Diante dos diferentes pontos de vista relativos ao tema Sociedade contemporânea: gêneros em complementação e/ou em competição?,escreva uma carta argumentativa para:
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pacitação do pessoal envolvido, bem como um esforço contínuo para revolucionar e/ou aperfeiçoar os sistemas de administração. As transformações necessárias, tanto na ordem do gênero quanto das etnias e da religiosidade, passam obrigatoriamente pelo desenvolvimento da tolerância, do reconhecimento do valor da(o) outra(o) e das(os) outras(os). O reconhecimento e o respeito das diversidades são características indispensáveis da construção da democracia. O modelo da globalização vigente tem procurado homogeneizar as paisagens naturais e arquitetônicas, as culturas, expressas por suas vestimentas, religiosidade, idiomas, alimentos, música, comércio; enfim os estilos de vida e até mesmo os valores que se diferenciam nos tempos e nos espaços estão sendo afetados pelos interesses das corporações globalizantes. E isso não é bom para o mundo. A vida é mais saudável e mais rica quando se expressa através das diversidades biológicas, sociais, econômicas e culturais. As ideias dominantes de uma época são sempre as ideias da classe que domina. Quando podemos identificar ideias que se diferenciam daquelas que dominam, que poderão revolucionar uma sociedade inteira, isto quer dizer que no seio da velha sociedade se formam os elementos de uma nova sociedade. Quer dizer que a dissolução das velhas ideias também acompanha a dissolução das carcomidas e esgarçadas condições de existência.
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Pesquisa Rio, março de 2010, ano III, n. 10. Adaptado.
Seu espaço Sobre o módulo Neste módulo, oferecemos duas possibilidades de temas que requerem do aluno conhecimentos sobre gêneros textuais diferentes. Dessa forma, é muito aconselhável que os dois sejam produzidos pelos estudantes. Neste livro de redação, os textos usados como exemplo na entrevista e na carta abordam um tema em comum: as diversas formas de se construir exclusão social. Não por acaso, as duas propostas também dialogam com esse eixo temático. Dessa maneira, o professor pode articular uma discussão ampla sobre o assunto: ao passo que existem formas diferentes de exclusão (de gêneros, econômica, social etc.), existem, concomitantemente, diferentes formas de se falar sobre elas por meio de mais de um gênero. O docente, se preferir, pode partir dos dois textos – a entrevista e a carta – discutindo os temas, para, em um segundo momento, comparar os dois gêneros e apresentar a estrutura textual aos estudantes.
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o espaço à sua volta, o outro e a si mesmos, o que contribui para uma maior autonomia e independência do grupo. Os encontros, que ocorrem duas vezes por semana, têm duas horas de duração. Em 2008, o grupo deixou de trabalhar com crianças e passou a fazer oficinas com jovens e adultos com cegueira adquirida ou com baixa visão. Os exemplos bem-sucedidos têm sido muitos. “Quando você perde a visão, você morre e nasce de novo”, fala Camila Araújo Alves, de 18 anos, cega desde os 14, por conta de uma doença congênita. Da revolta à aceitação, Camila passou por várias fases difíceis enquanto perdia gradativamente a visão. A determinação para ingressar na universidade a levou a estudar com enorme afinco. O resultado compensou: dos seis vestibulares que prestou, passou em quatro e acabou optando pelo curso de psicologia da UFF, onde conheceu a coordenadora da oficina. Camila não só começou a participar das oficinas de experimentação corporal como também é membro da equipe de pesquisa. Além disso, passou pelos cursos de reabilitação no instituto. “Nas aulas de Atividades da Vida Diária e de Orientação e Mobilidade, reaprendi a fazer uma série de atividades cotidianas e pude reconquistar certa autonomia. Hoje moro com minha prima e me viro sozinha.”
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Ficha de autoavaliação
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Competências avaliadas
Adequado(a) Sim
Não
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Tema Gênero Coesão/coerência Norma-padrão Registro formal
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