RESENHA BIBLIOGRÁFICA

RESENHA BIBLIOGRÁFICA GHIRSHMAN (Roman). — L'Iran des origines à l'Islam. Paris. Éditions Albin Michel. (Coleção "L'Évolutions de l'Humanité"). 1976.

Author Rodrigo Figueiredo Prada

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RESENHA BIBLIOGRÁFICA GHIRSHMAN (Roman). — L'Iran des origines à l'Islam. Paris. Éditions Albin Michel. (Coleção "L'Évolutions de l'Humanité"). 1976. 140x200. 376 pp. Nesta obra o autor faz uma ampla e minuciosa exposição da arqueologia, historia e civilização dos povos que sucessivamente habitaram o Planalto do Irã desde as origens pré-históricas até o advento do Islamismo. Roman Ghirshman é abalisado especialista e profundo conhecedor da história do Irã. Consagrou mais de quarenta anos à busca e pesquisa arqueológica no Iraque, no Afganistão e sobretudo no Irã. Na composição da obra, serviu-se das mais importantes descobertas, notadamente os vestígios das civilizações do Planalto Irariano. A obra traz uma vasta documentação gráfica com 103 desenhos baseados em documentos arqueológicos originais e 5 mapas que ilustram sucessivamente cada assunto exposto. A obra contem ainda 24 fotografias que ajudam o leitor a melhor compreender a cultura milenar dos povos do Planalto. É uma obra que prima pelo espírito de clareza e de síntese. A excepcional situação geográfica fez do Irã um país herdeiro das mais ricas e valiosas civilizações de toda Antiguidade. Situado entre o mar Cáspio e o Golfo Pérsico, o Irã tem o formato de um vasto triângulo delimitado por montanhas que se elevam em volta de uma depressão central desértica. A vida desenvolveu-se nos vales das grandes cadeias de montanhas e nas planícies internas e externas. O Irã sempre foi o nó de encontro dos caminhos que ligam o Oeste e o Leste. Por aí passavam as antigas rotas comerciais como a da seda e das especiarias. A obra está dividida em 5 capítulos: I. — Pré-História. No decorrer dos séculos, inúmeros grupos técnicos invadiram a região, estabelecendo várias comunidades das quais a mais antiga é a de Sialk. Durante o III e o II milênio a.C, ali se instalaram, entre outros, os guti, os lulubi, os cassitas e os elamitas, tendo estes últimos fundado uma importante civilização, com capital em Susa. O gosto pela arte manifestou-se primeiramente na escultura em ossos e mais tarde na pintura em vasos de cerâmica com predominância dos desenhos pretos em fundo vermelho. Sabe-se relativamente pouco da religião dos primitivos habitantes do Planalto. Ligavam a origem da vida à uma deusa. Sua concepção religiosa explica o matrimônio entre irmãos e mãe e filho.

(*). — Solicitamos dos Srs. Autores e Editores a remessa de suas publicações para a competente crítica bibliográfica (Nota da Redação).

– 282 – Na metade do quarto milênio a.C. houve uma ruptura na unidade da civilização. A existência de cerâmica cinza-preta, ou não colorida e de formato diferente, como tambem objetos de adorno encontrados junto aos mortos, sepultados no interior das próprias casas, levam a crer que houve uma lenta infiltração estrangeira, inicialmente mesopotâmica e depois tambem de outros povos visinhos, no seio das comunidades autóctones em todo o Planalto. No segundo milênio a.C. o Planalto do Irã foi invadido por povos indo-europeus, especialmente euro-asiáticos do sul da Rússia. Houve dois grupos de movimentos migratórios: um tomou o rumo ocidental e formou confederação hitita e o outro, oriental, mesclou-se com a população local e formou o reino

de Mitani.

Liderados por uma aristocracia governante constituida por membros dessas tribos invasoras, os cassitas conquistaram Babilônia dominando-a por cerca de seiscentos anos. É possível que tenham tambem ocupado o Elam entre o século XVI e o século XIV a.C. Os elamitas, entretanto, a partir do século XIII a.C. rebelaram-se contra o domínio cassita e iniciaram uma política de conquistas, invadindo Babilônia e estendendo seu controle até Persépolis. São, porem, novamente dominados por Nabucodonosor I. Daí em diante os povos do Planalto viram sua influência declinar, sobretudo por motivo do crescente poderio assírio. I. — A vinda dos Arianos. Dois acontecimentos de capital importância e sem conexão um com o outro marcaram a primeira metade do primeiro milênio a.C. os povos da Ásia ocidental: nova onde de invasões vindas da mesma região e pelos caminhos que a precedente e o uso largamente difundido do ferro. Este movimento migratório trouxe ao Planalto os povos da raça irariana. Durante aproximadamente cinco séculos, por um processo de afirmação política e de absorção da população aborígene, os irarianos formaram sua própria civilização. Desenhos em vasos e outros objetos mostram seus costumes e preocupações da vida cotidiana. Sob o império da possante classe social dos cavaleiros, a pré-histórica cidade de Sialk transformou-se em cidade fortificada. Pequenos e grandes reinos visinhos foram gradativamente conquistados a anexados. A forte centralização do poder deu origem à formação de grupos sociais: o rei, os nobres, os livres e os escravos. Sobre um fundo asiânico mais ou menos absorvido pelas tribos iranianas, veio a enxertar-se esse povo de cavaleiros e de guerreiros, povo que na sua migração e nos seus raids de pilhagem e devastação, percorreu vastas regiões da Ásia ocidental, vindo a constituir o precioso elemento para o jovem Estado meda em plena expansão. O período de instalação dos iranianos foi longo e laborioso. A morosidade da unificação explica-se pela índole da população e pelas condições físicas, geográficas e climáticas. III. — Leste contra oeste. No curso do segundo terço do primeiro milênio a.C. desenvolveu-se essencialmente a história do Império que

– 283 – os Aquemênidas formaram pelo sucesso de suas armas. Outros povos continuaram subsistindo, mas o Império ocupou o primeiro plano e em torno dele gravitaram os grandes acontecimentos. O Irã deve aos Aquemênidas sua concepção de Estado e sua formação. Sua perenidade e sua independência são um legado que deram à posteridade. Medos e persas pertenciam à mesma raça iraniana e suas línguas eram quase idênticas. A ascençao de Ciro foi apenas uma revolução na dinastia meda reinante e que de modo algum afetou o Império. Enquanto os medos consolidaram seu domínio no norte do Planalto, os persas se estabeleceram no sul, em Parsa e Anshan. O esgotamento do Elam na luta contra Assurbanipal deu aos persas a oportunidade de estender seus domínios para o ocidente. Susa, antiga capital elamita, caiu em poder de Ciro que a transformou em capital do oriente. O império formado pelos dois reinos exerceu o papel de intermediário e de agente de ligação entre as civiliações ocidentais e extremo-orientais. Havia duas preocupações na política externa aquemênida: no ocidente eram as bases marítimas dos gregos e no oriente a ameaça dos povos do mundo não civilizado ao longo de uma vasta fronteira. Ciro morreu combatendo os nômades do Irã oriental, passando a coroa a seu filho Cambises. Este, era homem de Estado experimentado e de uma natureza bem diferente do pai. Preparou-se imediatamente para a conquista do Egito, levada a cabo após a derrota de Psamético III na batalha de Pelusa. Com essas conquistas, o império aquemênida se estendia do Mediterrâneo até o rio Indo. Dario, o sucessor de Cambises, consolidou a organização do vasto império. Impôs uma sábia política, não de violência mas de respeito para com a língua, as particularidades, as instituições, a religião e a arte de cada povo. O autor da obra, Roman Ghirshman, descreve longa e minuciosamente a vida política, religiosa, literária, artística, econômica e social dos persas na sua fase de apogeu com tambem os feitos e empreendimentos dos soberanos sucessores de Dario até o reinado de Artaxerxes. Nessa época o mundo estava dividido em dois blocos muito diferentes: o Império Aquemênida e a Grécia, cada um com sua força militar e economia equilibrada, cada um com a tendência de estender sua forma de vida ao resto do mundo. IV. — Oeste contra leste e a reação do oriente. O advento de Filipe da Macedônia e de seu filho Alexandre, o grande, converteu o antigo rival grego na grande potência do Mediterrâneo oriental. Na primeira parte do capítulo o autor descreve detalhadamente o itinerário de Alexandre na conquista do império Persa. O imenso império que Alexandre havia conquistado e posto as bases, não sobreviveu. Após a sua morte, em junho de 323 a.C. em Babilônia, o império foi dividido entre seus generais. A organização política do mundo

– 284 – se estabilizou com três reinos: uma monarquia macedônia na Europa; uma monarquia lágida no Egito; uma monarquia selêucida na Asia. O vasto território dominado por Selêuco era difícil de conservar. Alem das guerras constantes com os Ptolomeus do Egito, os sucessivos reis da Pérsia viram-se a braços com revoltas frequentes. Em 247, os Partas fundaram um reino independente enquanto os gregos da Báctria estabeleciam ali um estado autônomo. Em vão os selêucidas tentaram manter seu controle efetivo sobre o conjunto do império. Antíoco III sufocou rebeliões na Média e em Pérside, obtendo inclusive, algumas vitórias contra os partas e a Bactriana. Reconheceu, porem, ser impossível conservar aquelas regiões longínguas sob permanente domínio e assinou tratados de paz com seus súditos rebeldes. A derrota militar dos selêucidas pelos exércitos romanos tornou seu poder ainda mais precário e causou a defecção da Armênia e a extensão do domínio da Bactriana sobre várias províncias orientais do império. Antíoco IV foi o último grande rei selêucida. Conseguiu, de certo modo, restabelecer a influência da dinastia reinante na fronteira leste mas morreu sem realizar seu projeto de reincorporar a Pártia e a Bactriana ao império selêucida. A arte do período que se estende sobre dois séculos entre a queda da dinastia aquemênida e a reconquista do Irã pelos Partas é ainda mal conhecida. As obras carecem de coesão como todo o país e, refletindo a profunda perturbação que afetou a civilização irariana, podem ser agrupadas em três categorias: 1. — arte irariana propriamente dita; 2. — arte grecoirariana; 3. — arte helênica. O período selêucida está mercado por uma grande expansão da cultura em direção da Europa do sul, especialmente Itália. Fraate I e Mitridates I da Pártia haviam anexado várias regiões na fronteira leste e em seguida conquistado a Média e Babilônia. Em 130, Antíoco VII atacou os partos mas foi vencido com o que os selêucidas perderam todos os seus domínios a leste do rio Eufrates. A Pártia se estendia do Eufrates até quase o rio Indo e compreendia ao sul numerosos reinos vassalos. Vivia em permanente estado de alerta contra as incursões de povos nômades vindos do oriente, e dos romanos, através da fronteira ocidental do império. Desde o tempo de Pompeu, Roma tencionava apodeiar-se da herança de Alexandre-o-Grande. As tentativas de Crasso e Marco Antônio foram desastrosas para os romanos, resultando na tomada da Síria pelos Partas. O imperador Augusto preferiu adotar uma política pacífica no que se refere à Partia. Daí por diante, os seguintes imperadores romanos invadiram a Partia, chegando muitas vezes à capital inimiga. Tais invasões debilitaram consideravelmente a dinastia arsácida. Esta acabou derrubada, cerca de quatrocentos anos depois de seu advento, por um monarca de Pérside o qual fundou a nova dinastia dos sassânidas, que reinou na Pártia até 636.

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V. — Expansão da civilização Irariana. A renascença do Irã, obra de uma nova dinastia, teve como foco, a província de Fars, no sudoeste onde se haviam fixado as primeiras tribos do povo persa. Criaram um estado nacional que se apoiava numa religião nacional e numa civilização que foi a mais iraniana de todas aquelas que os Persas haviam criado no curso de sua longa história. A constituição de um forte poder central, a formação de um exército regular bem treinado, uma organização interior minuciosa confiada a uma administração controlada, permitiu ao Irã regenerado, seguir o caminho que os últimos arsácidas haviam traçado, e alcançar um poder tal que o mundo civilizado parecia estar partilhado entre ele e Roma. No plano exterior, os Sassânidas sustentaram incansavelmente e com sucessos intermitentes, a luta em três fronts: contra Roma no oeste, contra os Kushans no leste , e os nômades ao norte. A espinhosa questão com a Armênia absorveu grande parte de suas forças sem nenhum resultado definitivo. Esta luta de quatro séculos com o país visinho sangrou gravemente o povo iraniano sem que a stiuação interior do império pudesse trazer um remédio para o restabelecimento do equilíbrio. As prolongadas hostilidades internas e externas haviam enfraquecido os Sassânidas, que não puderam resistir a investida de um novo poder emergente, o dos árabes. Unificados sob a bandeira do Islam, os árabes desafiaram e venceram pelas armas os dois impérios mais poderosos da época: o bizantino e o persa. Após a conquista da Síria, os exércitos muçulmanos derrotaram as forças persas e entraram em Ctesifonte (637). O rei Yezdegerd III figiu para a Média, onde tentou reorganizar suas tropas. A batalha de Hahavand, travada em 641, deu a vitória aos árabes e o último sassânida, buscando refúgio em várias províncias, foi assassinado em 651, perto de Merv. Embora vencidos militarmente, numa longa luta pacífica, no entanto, a civilização iraniana milenar, ganhou a causa. O Irã de hoje, ainda que bastante transformado pela influência do ocidente, mas, fiel às suas tradições, reocupa o centro político, econômico e cultural dos povos dessa parte da Ásia. Seu lugar geográfico, suas imensas riquesas naturais, sua população laboriosa nutrida das tradições de uma das mais antigas culturas do mundo, lhe asseguram, para o futuro, no concerto dos povos, um lugar digno de seu passado.

VALBERTO DIRKSEN

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