UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO ESCOLAR NAS INSTITUI

Author Ana Luísa Viveiros Lisboa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO ESCOLAR NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO JARDIM DO SERIDÓ-RN

CLÁUDIO DIAS NUNES

CAICÓ-RN 2016

CLÁUDIO DIAS NUNES

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO JARDIM DO SERIDÓ-RN

Artigo

apresentado

ao

Curso

de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora:

Profª.

Dra.

Katiene

Symone de Brito Pessoa da Silva.

CAICÓ-RN 2016

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO ESCOLAR NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO JARDIM DO SERIDÓ-RN

Por

CLÁUDIO DIAS NUNES

Artigo

apresentado

ao

Curso

de

Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito 1 parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Pedagogia.

Aprovado em _________________________________________ com nota _____ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Dra. Katiene Symone de Brito Pessoa da Silva (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte _____________________________________________________ Ma. Ivone Priscilla de Castro Ramalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte

A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO ESCOLAR NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN

Cláudio Dias Nunes1 Resumo O Presente artigo tem como objetivo analisar, reflexivamente, sobre a organização do espaço e do tempo escolar nas instituições de Educação Infantil no município de Jardim do Seridó/RN. A discussão sobre a temática, torna-se necessária para um melhor entendimento das práticas pedagógicas e curriculares para essa etapa de ensino. Esperamos que o presente trabalho possa contribuir para que os profissionais envolvidos nessa etapa de ensino reflitam sobre essa questão e, organizem as escolas proporcionando aos que nela estudam um ambiente, acolhedor e estimulante, propiciando assim uma aprendizagem prazerosa e significativa para as crianças que dela fazem uso. A pesquisa está consolidada a partir de um estudo bibliográfico e de uma pesquisa exploratória realizada nas instituições dessa etapa de ensino no referido município; na qual, fundamentamos a partir documentos oficiais vigentes como os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para as instituições de educação Infantil (BRASIL, 2008); Os Parâmetros de Qualidade para Educação Infantil (BRASIL, 2008); As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, (BRASIL, 2010); Os Referenciais Curriculares para Educação infantil (BRASIL, 2008), bem como a contribuição de teóricos como, Barboza (2000), Oliveira, Goldschmied, Jackson (2006), HANK (2006), MELLO (2011), FRISON (2008). Palavras-Chaves: Espaço, Tempo Escolar, Educação Infantil

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Cláudio Dias Nunes. Graduado em história e Pós Graduado em Geo.- Política e História pela FIP e, Pós graduado em Gestão Escolar pelo IBRAPES/UVA e concluinte do Curso de Pedagogia EAD da UFRN CAICÓ-RN 2016

Abstract The present article aims to analyze, reflexively, on the organization of space and time in school childhood education institutions in the municipality of Jardim do Seridó / RN. The discussion on the subject, it is necessary for a better understanding of the pedagogical and curricular practices for this educational stage. We hope that this work can contribute to the professionals involved in this educational stage to reflect on this issue and organize schools providing that it study an environment, welcoming and stimulating, thus providing a pleasant and meaningful learning for children that form use. The research is consolidated from a bibliographic study and exploratory research carried out in institutions of this educational step in that municipality; on which we base from existing official documents such as the Infrastructure Basic Parameters for Children education institutions (BRAZIL, 2008); The Quality Parameters for Early Childhood Education (BRAZIL, 2008); The National Curriculum Guidelines for Early Childhood Education (BRAZIL, 2010); The Curriculum Benchmarks for Children's Education (BRAZIL, 2008), and the theoretical contribution as Barboza (2000), Oliveira, Goldschmied, Jackson (2006), HANK (2006), MELLO (2011), FRISON (2008).

Key Words: Space, School Time, Early Childhood Education

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INTRODUÇÃO O Mundo atual caminha a passos largos. Várias foram as transformações que ocorreram em nossas vidas; quase todos os setores passaram por grandes transformações, diante das inovações tecnológicas do mundo moderno. Entretanto no meio educacional brasileiro, apesar de terem ocorrido investimentos na área, principalmente nos aspectos de infraestrutura, de apoio técnico, de capacitação e de formação de professores, e até da manutenção das escolas, os avanços têm sido pouco significativos, no que diz respeito à aprendizagem dos alunos, dados esses obtidos por instrumentos de avaliação como: a Avaliação Nacional de Alfabetização - ANA, a PROVA BRASIL, PROVINHA BRASIL, Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, Exame Nacional de Desempenho de estudantes - ENADE, apontam que o desenvolvimento pedagógico não tem acompanhado o mesmo ritmo de investimentos realizados, mesmo sabendo que estes ainda estão longe do ideal. Fato este que vem acarretando sérios problemas, onde a desmotivação é um dos maiores problemas educacionais dos nossos educandos; que tem cada vez menos vontade de frequentar a escola e, os que frequentam pouco se interessam ocasionando, portanto a indisciplina, a violência, a evasão e repetência e, consequentemente, uma educação distante da qualidade que se deseja. Na verdade, o que ocorre é que a escola tornou-se um lugar pouco desafiador. No entanto, evidenciamos que nos últimos anos têm ocorrido investimentos significativos nas escolas. Atualmente existem aproximadamente 100 projetos no Ministério da Educação para beneficiar a educação, entretanto, percebemos que a escola não consegue acompanhar a modernização na forma de se fazer educação, de organizar as escolas, da utilização do tempo, e principalmente da prática pedagógica evidenciando que a educação não caminha na mesma velocidade dos outros setores da sociedade. Precisamos mudar isso, necessitamos de uma escola que “fale” a mesma linguagem dos alunos. Para tanto faz-se necessária uma ampla mobilização dos que compõem esse setor, principalmente os professores, na busca de inovações da prática pedagógica visando aprimoramento do sistema de ensino, para que assim possamos ter condições de ofertar um espaço adequado e acolhedor que possibilite uma aprendizagem prazerosa capaz de formar cidadãos críticos, reflexivos, conscientes, éticos, solidários, preparados para conviver com as constantes mudanças do mundo atual em que vivemos; e, capacitados para serem profissionais e pessoas de sucesso. Diante desse cenário, compreendemos que a discussão sobre a organização do tempo e espaço escolar realizados na instituição escolar é de fundamental importância para

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que os demais aspectos pedagógicos contribuam para um maior envolvimento dos alunos na instituição, bem como possibilite uma aprendizagem prazerosa e significativa. Considerando as questões apresentadas até o momento, é no contexto da Educação Infantil referente à problemática do tempo e espaço escolar que o presente artigo se insere. O objetivo da pesquisa que culminou com a produção deste artigo, foi de investigar junto aos professores da Educação Infantil da cidade de Jardim do Seridó/RN como organizam o espaço e o tempo escolar em suas salas de aula de educação infantil, e qual a importância dessa organização para essa etapa de ensino. CONTEXUALIZANDO A EDUCAÇÃO INFANTIL A oferta do ensino em instituições de Educação infantil como um direito social e fundamental ao desenvolvimento de crianças com idade inferior ao período escolar obrigatório só foi consolidado a partir da Constituição de 1988, antes desse período os espaços educacionais para essa etapa eram vistos como instituições de guarda de crianças. Apenas com a promulgação da lei 9394/962 é que a mesma passou a ser reconhecida como primeira etapa da educação básica e de acordo com os DCNEIs3 a criança passa a ser vista como: Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (DCNEIS, 2010, p.12)

Antes desse período as instituições de Educação infantil eram tidas como um direito dos pais, onde os mesmos deixavam os filhos porque não tinham condições financeiras de criá-los ou porque precisavam trabalhar, e sobre as crianças existiam outros olhares. Tal visão decorre da concepção de criança que varia de acordo com o tempo histórico. Desde então se passou a ter esse olhar diferenciado constituído em lei, porém na prática, a mesma não se consolidou devido a uma série de fatores negativos que vão desde 2 3

Lei de Diretrizes e Base da Educação brasileira Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

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a alegação da falta de financiamento, a falta de práticas efetivas para área, assim como fala a professora Telma4: “o maior problema da falta de organização das escolas como um todo é a falta de recursos para a compra de materiais, brinquedos, bem como a falta de formação e compromisso de alguns professores que não ensinam como deveriam”.

A fala da professora caracteriza que o problema da pouca organização no espaço escolar decorre da falta de conhecimento sobre a questão do financiamento da educação e, a falta de formação e de compromisso de alguns profissionais que compõe o sistema. No que tange à formação docente e/ou acesso à informação na área da Educação Infantil observamos que, a partir de 1998 o Ministério da Educação lançou uma série de documentos oficiais como: Os - Referenciais curriculares Nacional para Educação Infantil - RCNEIS, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil - DCNEIS-, Os Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil, Os Parâmetros de Qualidade para educação Infantil, e Os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. Todos esses documentos têm como objetivo estabelecer diretrizes curriculares para Educação Infantil, bem como auxiliar os profissionais que trabalham na área. Apesar de existir há muito tempo, a Educação Infantil ainda se mostra como uma inovação em termos educacionais. Desta forma, são muitos os problemas, e, é sobre um desses problemas que iremos discorrer nesse artigo, a partir da seguinte temática: Qual a importância da organização do espaço e do tempo escolar na educação infantil? Mas afinal, como deve estar organizado o espaço e o tempo escolar numa instituição de educação infantil? E, qual a sua importância no processo educacional das crianças? Para responder a esses questionamentos iniciamos a partir do conceito do que venha ser espaço, pois muitas pessoas costumam confundir com ambiente; e, segundo Forneiro:

O termo espaço refere-se aos locais onde as atividades são realizadas e se caracterizam pelos objetos. Moveis materiais didáticos, de decoração. O termo ambiente diz respeito ao conjunto desse espaço físico e as relações que se estabelecem no mesmo; as quais envolvem os afetos e as relações interpessoais das pessoas envolvidas no processo, adultos e crianças, ou seja. Por parte do espaço temos as coisas postas em termos mais objetivos por parte do ambiente as mais subjetivas. Desse modo não se considera somente o meio físico ou material, mas também as interações que se produzem nesse meio. É um todo indissociável de objetos, odores, formas, cores, sons e pessoas que habitam e se relacionam dentro de uma estrutura física determinada que contém tudo e que ao mesmo 4

Todos os nomes de professores e escolas aqui utilizados são fictícios, preservando a identidade, a veracidade e o compromisso com a pesquisa realizada.

9 tempo, e contida por esses elementos que pulsam dentro dela como se tivesse vida. Por isso, dizemos que o ambiente “fala”, transmite sensações, evoca recordações, passa segurança ou inquietação, mas nunca, nos deixa indiferente (FORNEIRO, apud, PRO INFANTIL, 2004. p.23).

A partir do supracitado, percebemos que apesar de existir uma estreita relação entre espaço e ambiente ambos se diferem, haja vista que, enquanto o espaço está ligado às coisas materiais, o termo ambiente é mais amplo e contempla também todas as relações estabelecidas. Desta forma, surge a necessidade da organização do espaço para que tenhamos assim os ambientes promotores de aprendizagem.

No entanto, na prática

observada em nossa realidade, são poucas as instituições de Educação infantil que contam pelo menos com uma estrutura física adequada as necessidades das crianças. Observa-se que na realidade as estruturas físicas das instituições de educação infantil são locais adaptados para o funcionamento de creches e pré-escolas como casas e prédios comerciais. Acreditamos que isso decorre, dentre outros aspectos, devido a essa etapa da educação básica ser de responsabilidade dos sistemas municipais de ensino. No entanto, frequentemente observa-se que os municípios alegam dificuldades financeiras o que dificulta a construção e funcionamento de instituições que atendam a demanda, ou ainda, alguns municípios não dispõem de Sistemas Próprios de Ensino, atrelando-se ao sistema estadual como é o caso da cidade de Jardim do Seridó/RN, município foco da nossa pesquisa. Embora a educação infantil deva ser vista como prioridade dos municípios, alguns não dispõe de setor apropriado de Educação infantil que fiscalize a construção e o funcionamento dessas instituições, aspecto evidenciando em nosso município. Inclusive para se conseguirem o alvará de funcionamento são levados em consideração apenas os aspectos físicos direcionados à questão de segurança e de saúde das crianças, e dificilmente são considerados os aspectos educacionais. O mais interessante é que, através de pesquisa realizada em escolas de educação infantil da cidade de Jardim do Seridó, constatou-se que tanto nas instituições públicas como nas privadas nenhuma é credenciada, apenas estão oficialmente autorizadas a funcionarem. No entanto, para conseguir o credenciamento pelos órgãos competentes, são necessários que essas instituições cumpram com alguns critérios como os pré-estabelecidos pela lei em vigor, desta forma como a maioria não atende os requisitos básicos como: estrutura física adequada - é exigido padrões mínimos de 1,5 metros por cada crianças para a construção de salas de aula e existências de áreas externas, acessibilidade, ambientes como sala de descanso, banheiros para crianças e

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funcionários; formação dos professores, número de crianças por professores, proposta pedagógica compatível, documentação exigida - documentos como regimento, PPP, proposta curricular, livro de pontos do professor, livros de ponto do funcionários, acervo bibliográfico compatível e adequado a quantidade e faixa etária das crianças, relação dos bens pedagógicos, livro de tombo, entre outros. Diante dos requisitos solicitados e as dificuldade em atendê-los, os municípios não conseguem tal credenciamento, como é o caso das instituições de Educação Infantil da cidade de Jardim do Seridó/RN. A partir da constatação desses dados, que apresentam-se como preocupantes, percebemos que os princípios norteadores para essa etapa de ensino, apesar de terem sido contemplados pela legislação vigente, e demais documentos orientadores, na prática a Educação Infantil continua atrelada aos resquícios do passado, onde a maioria dessas instituições de educação infantil funcionam como espaços para guardar crianças e, a prática do assistencialismo se perpetua de forma camuflada na maioria das propostas educacionais, haja vista que, as próprias condições físicas e materiais não oferecem muitas opções as crianças e aos profissionais que nelas atuam. A Organização do espaço escolar O Pro Infantil5,(2006), ao tratar da organização de espaço na educação infantil afirma:” que o espaço é uma construção social que tem estreita relação com as atividades desempenhadas por pessoas nas instituições” (PRO INFANTIL, 2006, p 15). Desta forma, antes de organizá-lo é necessário conhecer bem a realidade social, ambiental e econômica da comunidade escolar, bem como a proposta da instituição, de forma que a mesma venha a contemplar todas as necessidades educacionais dos alunos e dos profissionais que nela trabalham. Outro aspecto importante que devemos ter ciência é que espaço pode segundo Forneiro (apud PROINFANTIL, 1998) ser definido em quatro aspectos dimensionais: O físico6, o funcional7, o temporal8 e o relacional9. Sendo assim é necessário ampliar o conceito de espaço além das noções de estrutura física e contemplar em todas as suas dimensões. Nesse sentido, o DCNEIS (2013) afirma que 5

O Pro infantil é um programa do governo federal que visa capacitar os professores que atuam em creche e pré-escolas não tem formação superior. 6 O aspecto físico refere-se ao aspecto material do ambiente. É o espaço físico, suas condições estruturais, objetos e toda sua organização. 7 O funcional relaciona-se com a forma de utilização dos espaços, sua polivalência e o tipo de atividade ao qual se destinam. 8 O temporal, trata-se da organização do tempo, e portanto, dos momentos em que serão utilizados os diferentes espaços. 9 O Relacional refere-se às diferentes relações que se estabelecem dentro da sala de aula.

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As instituições de Educação Infantil devem tanto oferecer espaço limpo, seguro e voltado para garantir a saúde infantil quanto se organizar como ambientes acolhedores desafiadores e inclusivos, plenos de interações, explorações e descobertas partilhadas com outras crianças e com o professor. Elas ainda devem criar contextos que articulem diferentes linguagens e que permitam a participação, expressão, criação, manifestação e consideração de seus interesses DCNEIS,2013, p.91)

De acordo com a citação, percebemos que para termos uma instituição de educação infantil que contemple as necessidades das crianças, são necessários além dos requisitos voltados para saúde e segurança como as questões de higiene, ventilação, ausência de degraus e ambientes que coloquem a segurança das crianças em risco como tomadas elétricas ao alcance das crianças, móveis soltos possíveis de causar acidentes, entre outros, necessitamos transformar os espaços físicos em ambientes de aprendizagem, que possibilitem a interação dos mesmos aos mais diversificados contextos pedagógicos. E é sobre esses contextos que devemos ficar atentos, pois: “Quanto mais desafiador for o espaço e o ambiente, mais interações serão possíveis entre as crianças, construindo-se nesse processo aprendizagens significativas”. (PRO INFANTIL, 2006, p.16). No entanto não é isso que acontece, na prática as instituições de educação infantil funcionam em espaços que não oferecem muitas possibilidades as crianças, pois ainda estamos atrelados às concepções equivocadas sobre a educação infantil em creches e pré-escolas. Infelizmente, ainda existem instituições que funcionam como locais de guarda das crianças enquanto seus pais trabalham, e transparece não existir uma preocupação relacionada a organização dos espaços e do tempo nessas instituições de modo a atender as especificidades dessa faixa etária, mas geralmente leva-se em consideração apenas como um local que proporcione a segurança e a saúde das crianças. Na pesquisa ao questionar os professores sobre a organização de suas salas, os mesmos afirmaram que as salas em que trabalham não estão organizadas adequadamente; e, quando questionados sobre o porquê dessa desorganização a professora Maria da instituição A, respondeu que: “a desorganização é decorrente de fatores governamentais”. A partir da citação, percebemos que a professora exime-se de qualquer responsabilidade sobre a desorganização da sala, onde na verdade sabemos que a organização das escolas como um todo, não dependem apenas do poder público, ou do gestor educacional mais de todos os profissionais que trabalham no espaço educacional, principalmente dos

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professores. No entanto, percebemos que existe uma transferência de responsabilidades sobre a problemática que envolve essas instituições, o que não deveria acontecer, pois, como já mencionado apesar da educação infantil caracterizar-se como algo recente em nosso país, nos últimos anos o governo tem investido no setor, tanto no que diz respeito ao apoio técnico, como no financeiro. Desta forma, apesar de sabermos que ainda os investimentos estão aquém das necessidades reais, a realidade das instituições é bem caótica em relação aos investimentos que se tem repassado a esse setor. Portanto, percebemos que o problema não é apenas de ordem financeira, mas de gestão dos recursos e das ações desenvolvidas para o setor. Para caracterizarmos assim essa problemática, devemos mencionar aqui que em relação as estruturas físicas das instituições de Educação Infantil, em 24 de abril de 2007 o governo federal criou o Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para Rede Escolar Pública de Educação Infantil denominado Pro infância. Esse programa tem como intuito prestar assistência técnica e transferir recursos financeiros a municípios e ao Distrito federal para construir creches e adquirir equipamentos e mobiliários para educação infantil. Em relação a manutenção de gastos com o setor, em 20 de junho de 2007, sancionou a Lei Nº 11.494, Lei do FUNDEB que passou a financiar alguns gastos com a educação infantil. Antes desta data, as referidas instituições eram custeadas com recursos das secretarias de Ação social e não existia um controle de acompanhamento e de fiscalização dos recursos repassados. A partir de 2010, todas as instituições de educação infantil também passaram a receber em conta própria os recursos do PDDE; e por último em 2013, o Governo Federal instituiu o Programa Brasil Carinhoso, Programa que consiste na transferência automática de recursos financeiros, sem necessidade de convênio ou outro instrumento, para custear despesas com manutenção e desenvolvimento da Educação Infantil, contribuir com as ações de cuidado integral, segurança alimentar e nutricional, para garantir o acesso e a permanência da criança na Educação Infantil.

Como devem estar organizados os espaços na Educação Infantil

Os espaços devem ser organizados de forma a desafiar a criança nos campos: cognitivo, social e motor, Oportunizando a criança de andar, subir, descer e pular, através de várias tentativas, assim a criança estará aprendendo a controlar o próprio corpo, um ambiente que estimule os sentidos das crianças, que permitam a elas receber estimulação do ambiente externo, como cheiro de flores, de alimentos sendo ´reparados. Sentindo a brisa do vento, o calor do sol, o ruído

13 da chuva. Experimentando também diferentes texturas: liso, áspero, duro, macio, quente, frio. (CARVALHO E RUBIANO, apud HANK,2006. p.5)

Percebemos pela citação de Carvalho e Rubiano (2006) que a composição do espaço na Educação Infantil, deve estar bem organizados e em harmonia com o ambiente e com as pessoas que delas fazem uso como: o tamanho da salas, as cores das paredes, a disposição dos objetos e materiais utilizados pelas crianças e pelos professores, a questão da luminosidade, ventilação etc. de forma que as crianças sintam-se, seguras e estimuladas sensorialmente pelo ambiente em que frequentam. Quanto ao material pedagógico este deve estar ao alcance das crianças, objetivando desenvolver a autonomia de pegá-los quando assim desejarem, ou necessitarem, haja vista que, o processo de aprendizagem deve ser centrado nas crianças e não nos adultos. A esse respeito, Lourdes (2008) destaca que a estruturação do espaço físico, a forma como os materiais estão dispostos e organizados influenciam os processos de ensino e de aprendizagem das crianças, além de auxiliarem na construção da autonomia, da estabilidade e da segurança emocional das mesmas. Mas como organizar esses espaços, quando na maioria dos casos as instituições de Educação Infantil não dispõem de estrutura física e de materiais adequados a faixa etária das crianças? Esse é um problema que atinge a maioria das instituições de Educação Infantil do nosso país, principalmente, as instituições públicas. Diante do que já foi exposto até o momento, visando contribuir para discussão e reflexão sobre a Educação Infantil e a problemática da organização do espaço e tempo escolar, acreditamos que um dos primeiros passos nesse sentido, é o de conhecer a realidade educacional de cada município, fazer parte dos conselhos10 municipais e institucionais, procurar se inteirar dos recursos que estão sendo disponibilizados para o setor, como estão sendo gastos e, fazer as cobranças necessárias aos setores competentes para atender as necessidades demandadas em cada instituição. Embora a estrutura física das instituições de Educação Infantil e a organização do espaço e tempo escolar estejam longe do ideal, precisamos agir; não podemos nos eximir de nossas responsabilidades; temos que nos capacitarmos para atuar com destreza na área. Para isso, são necessários que os profissionais da educação, e em especial da Educação Infantil, conheçam os seus direitos e deveres, e também os direitos das crianças, e os deveres da família e do estado. Mas enquanto esses problemas estruturais não são 10

Atualmente existem vários conselhos que acompanham e fiscalizam os gastos públicos. Um deles é o conselho do FUNDEB

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solucionados pelos governantes, podemos organizar as instituições de Educação Infantil, de acordo com a realidade local de espaço físico e de materiais. Uma solução economicamente viável e pedagogicamente correta e importante no processo de aprendizagem das crianças é a organização das salas em cantinhos lúdicos. A esse respeito Paolillo (2011, p.50) destaca que Em cada área, é possível organizar cantos de atividades que provoquem situações de aprendizagem. É interessante por exemplo criar espaços temáticos, limitados pelos próprios como caixas com brinquedos, linhas coloridas no chão e até mesmo, paredes que permitam a visualização de outros ambientes (PAOLILLO, 2011, p.50).

Segundo o supracitado, o autor sugere a possibilidade da divisão da sala de aula em espaços temáticos, sem serem necessários gastos financeiros, apenas utilizando recursos de baixo custo ou custo zero como, caixas, linhas entre outros objetos que chamem a atenção dos alunos e que provoquem no aluno, o estimulo a aprendizagem. Para organização desses espaços a participação das crianças nessa organização, contribuirá para que a sala apresente características infantis, além de contribuir para a construção da autonomia das crianças, e possibilitar o acesso de forma mais independente aos materiais. Além disso, você pode buscar, na comunidade, recursos para melhor estruturar o espaço. Sucatas, móveis, roupas, pedaços de madeira etc. podem ser reaproveitados e utilizados na organização do ambiente: caixas de papelão viram armário, local para guardar material, casa de bonecas ou elementos para teatro; caixotes de feira ou de transporte de mercadoria em madeira podem transformarse em mesas ou potes de armazenamento de materiais menores; as caixas de leite transformam-se em tijolos resistentes. A partir de sua realidade e da disponibilidade de sua comunidade, você pode montar uma espécie de ‘espaço de criação que abrigue e fomente as expressões artístico-culturais das crianças. Os pais e demais pessoas da comunidade podem ser parceiros na empreitada de construção e organização deste espaço. (PRO INFANTIL, 2006, p. 61)

Segundo o indicado na citação, podemos buscar apoio na própria comunidade. É interessante convidar os pais, os comerciantes e as outras instituições presentes na localidade a participarem dessa organização. A ajuda pode ser tanto financeira como a doação de materiais novos ou de refugo como caixas de papelão, restos de madeira da construção civil, moveis que não são mais utilizados, entre outros. Após a aquisição do material, cabe ao professor transformar sua sala de aula num espaço desafiador e estimulante para as crianças. No entanto, vale destacar que a responsabilidade constitucional pela educação é dos gestores públicos em suas diferentes esferas.

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Ao organizar esses espaços é necessário levar em consideração alguns aspectos, tais como: a faixa etária das crianças que, utilizarão esses espaços; atenção em relação a seleção e limpeza dos objetos que irão povoar cada ambiente da sala de modo a garantir a segurança e a saúde das crianças; os mesmos precisam atender a propostos para cada grupo de crianças assim como estão descritos nos Parâmetros de Infraestrutura para educação infantil: Espaço para crianças de 0 a 1 ano: Assim como os demais espaços da instituição, o espaço destinado a esta faixa etária deve ser concebido como local voltado para cuidar e educar crianças pequenas, incentivando o seu pleno desenvolvimento; As crianças de 0 a 1 ano, com seus ritmos próprios necessitam de espaço para engatinhar, rolar, ensaiar os primeiros passos, explorar materiais diversos, observar, brincar, tocar o outro, alimentar-se, tomar banho, repousar, dormir, satisfazendo, assim suas necessidades essenciais. Recomenda-se que o espaço e eles destinado esteja situado em local silencioso, preservado das áreas de grande movimentação e proporcione conforto técnico e acústico. (BRASIL, 2006. P11) O espaço físico para crianças de 1 a 6 anos deve ser visto como um suporte que possibilita e contribui para a vivencia e a expressão das culturas infantis- jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade do olhar infantil. Assim deve se organizar um ambiente adequado a proposta pedagógica da instituição que possibilite à criação a realização de explorações e brincadeiras, garantindo-lhe identidade segurança, confiança, interações socioeducativas e privacidade, promovendo oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, (BRASIL, 2006. P 16)

Existe uma infinidade de objetos que o professor poderá utilizar sem maiores gastos, aqui destacamos os naturais, que segundo Paolillo (2011, p.55)

Os objetos naturais, como conchas, caroços de abacate, pedras, pedaços de esponja, entre outros proporcionam a descoberta e a experimentação dos cinco sentidos. Diferentes objetos como castanholas, pregadores de roupa, tambores, chocalhos, carretéis de linha, cones, colheres, forminhas, espelhos, sinos, latinhas, bolas de lã, novelos, pinceis, bambus, cestos, bolas de borracha, golfo, tênis, decoradas com contas, bolsas, bonequinhas de retalhos, saquinhos, ursinhos e, é claro deferentes tipos de papel que favorecem as construções e as descobertas. (PAOLILLO, 2011, p.55)

Percebemos pelo exposto acima que não é difícil organizar a sala de educação Infantil e deixá-la de forma atraente as crianças. Uma dessas alternativas é a utilização de material reciclado – garrafas pet, caixas, entre outros - objetivando proporcionar ambiente de aprendizagem para as crianças, fazendo com que as mesmas sintam-se em um lugar mais aconchegante e prazeroso.

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A organização do Tempo Escolar No meio escolar, costumamos designar como tempo escolar, o tempo em que o aluno vivencia suas atividades estudantis na instituição, ou seja, o tempo que ele passa na escola. Desta forma, esse tempo gasto com as atividades realizadas, precisa ser distribuído em horário específico pré-determinados por cada instituição de acordo com sua realidade de espaço, de materiais e proposta pedagógica. A organização do tempo pedagógico na educação infantil é chamada de rotinas. De acordo com BARBOSA a rotina é considerada: Uma categoria pedagógica que os responsáveis pela educação infantil estruturam para, a partir dela desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições de educação infantil. As denominações dadas a essas rotinas são diversas: o horário, o emprego do tempo, a sequência de ações, o trabalho dos adultos e das crianças, o plano diário, a rotina diária, a jornada, etc. (BARBOSA, 2000, p. 40)

Percebemos pela citação, que as rotinas são práticas comuns na educação infantil e que elas se estabelecem por meio de atividades diferenciadas e distribuídas ao longo de um determinado período, que se configuram em diárias ou semanais e são planejadas com o intuito de organizar as atividades a serem desenvolvidas com as crianças. Ainda segundo BARBOSA

As rotinas podem variar sua duração de tempo, isto é, a sua periodicidade. Existem rotinas nas instituições educativas que são anuais, como as datas comemorativas, o período inicial da adaptação, os períodos de entrega de avaliação, as férias e outros. Além dessas atividades anuais, podem ser encontradas atividades que acontecem de acordo com as estações do ano, como o uso da piscina, os horários de uso do pátio, a aprendizagem de canções e os conteúdos sociais que variam durante o ano. Outras são mensais, como a comemoração coletiva dos aniversariante do mês, e também se pode verificar rotinas semanais, como aquelas das instituições que tem professores especializados na Educação Infantil, como segunda-feira é dia de música, ou ainda então o tão institucionalizado dia de trazer o brinquedo de casa. ( ibid., 2000.p.164)

Percebemos pela citação que cada instituição tem uma Forma de organizar suas rotinas, principalmente no que diz respeito ao tempo. Elas são organizadas para serem desenvolvidas ao longo do ano, mês ou semanas; porém existem instituições que preferem

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organizar de acordo com o calendário escolar contemplando assim as datas comemorativas ou estações do ano. Não sabemos ao certo como elas passaram a fazer parte integrante das práticas pedagógicas na educação infantil, apenas que ao longo dos anos foram instituídas pelos profissionais. Barbosa (2000) destaca que “A presença significativa das rotinas, nas práticas da Educação Infantil, acabou por constituí-la como uma categoria pedagógica central, mas muito pouco estudada e explicitada” (p.41) Apesar de pouco estudada, a rotina tornou-se uma constante nas creches e préescolas, que utilizam a mesma para organizar o seu fazer pedagógico. No entanto, é preciso que a elaboração das rotinas não considere apenas como uma forma de organizar o tempo institucional, nem tampouco como instrumento disciplinador, mas, prioritariamente atente para o tempo e ritmo das crianças. É sobre as crianças em seus aspectos sociais e biológicos que precisamos direcionar as atividades ou ações que farão parte da rotina a ser estabelecidas por cada instituição. Um desses cuidados se diz respeito a faixa etária das crianças e as condições ambientais. Em pesquisa realizada por Barbosa (2000, p.164), a autora evidencia que geralmente “a rotina que está fixada na sala de aula é igual para todos, não importando se faz sol, chove canivetes, é inverno, verão, se são crianças de três ou de cinco anos”. A fala da autora deixa claro que os professores geralmente não propõem atividades diferenciadas entre as crianças e não diferenciam também ao longo do ano, comumente são estáticas. Desta forma, faz-se necessário contemplar as crianças em todos os seus aspectos e organizar uma rotina que não seja estática, ou seja, que se diferencie de acordo com estações do ano e que englobe atividades diferenciadas e prazerosas, para que não se tornem, uma sequência de ações repetitivas. Barbosa (2000) afirma que “(...) as regularidades das rotinas fazem com que elas constituam-se de uma série de ações que se repetem, com um padrão estrutural característico, o qual possui uma certa invariância e é reconhecível por todos aqueles que pertencem a área.” Geralmente na construção das rotinas é comum ser determinados a hora do calendário, a janelinha do tempo, da música, do lanche, do recreio, da historinha, do almoço, do jantar, da escovação, do brinquedo, da saída etc. Um fator preponderante para construção das rotinas diz respeito aos aspectos de estruturação física e de matérias disponíveis na realização das ações propostas pela rotina. Esse parece ser um dos problemas enfrentados pelas instituições de Educação infantil, pois nem todas elas dispõem disso para, usufruírem. Neste sentido, podemos convir que

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dependendo da realidade de cada instituição podemos assim ter rotinas diferenciadas, mas possíveis de serem colocadas em prática. Por isso, como já foi mencionado, uma das melhores opções para um melhor aproveitamento do tempo e do espaço é a organização dos cantinhos temáticos e da utilização dos espaços externos, além dos muros da instituição, como a utilização dos espaços existentes no entorno da escola como: A biblioteca do bairro, uma praça, um parquinho, um balneário, uma área verde, uma quadra poliesportiva etc. Percebemos que a organização do tempo estruturado na forma de rotinas, pode contribuir para o desenvolvimento das crianças dependendo da forma e da finalidade com que a mesma foi constituída. Desta forma, é imprescindível que ao se optar por esse instrumento pedagógico de estruturação do tempo escolar, o professor da educação infantil leve em consideração a criança em todos os seus aspectos sociais e biológicos, e a relação de mundo dos envolvidos para que a mesma não se torne um instrumento mecânico de alienação, através de ações repetitivas e indiferentes a sua realidade. Relato da pesquisa Visando conhecer como o tempo e espaço da sala de aula da Educação Infantil estão organizados no município de Jardim do Seridó, localizado no estado do Rio Grande do Norte, realizamos um processo de investigação da temática em seis instituições do município da região do Seridó, sendo três pertencentes a esfera privada, e as demais pertencentes ao sistema público de ensino. Para obtenção dos dados do processo de investigação optamos por realizá-lo através da aplicação de questionário envolvendo 18 professores e de contato com representantes da secretaria municipal de educação objetivando ter acesso às informações referentes as instituições de educação infantil existentes no município. O questionário aplicado aos professores contemplou questões sobre a organização do espaço e do tempo escolar em suas respectivas salas de aula. A partir das informações fornecidas através de técnicos da secretaria de educação, o município de Jardim do Seridó conta atualmente com seis instituições de educação infantil na área urbana da cidade, e duas na zona rural. Destas, três são privadas e cinco pertencem ao sistema público. E, de acordo com os dados do senso escolar 2015 nessas instituições estavam matriculados em 2015: 270 alunos na creche, compreendendo crianças com idade de 0 a 3 anos e 11 meses, e 198 na pré-escola, crianças com idade entre 4 a 6 anos e 11 meses.

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Em relação a estrutura física das instituições onde realizamos a pesquisa as mesmas apresentam-se da seguinte maneira: das três instituições privadas, todas foram construídas para essa finalidade, apenas uma, apresenta uma estrutura física pequena. Enquanto que, das três instituições públicas, apenas uma, construída mais recentemente, tem uma estrutura física ampla e adequada a proposta de educação infantil, enquanto que as demais foram construídas na década de 1980, pelo então Projeto casulo11 da LBA12. Embora estas tenham sido reformadas recentemente, ainda

apresentam algumas deficiências em sua estrutura física. Recentemente o município foi contemplado com uma das creches do Pro infância, modelo B13, que foi inaugurada no último dia 15 de maio de 2016, e já está em funcionamento na qual substituiu uma das instituições existentes, proporcionando um atendimento mais adequado as crianças, bem como terá condições de cumprir com a meta 01 do PNE-Plano Nacional de Educação, antes do termino de sua vigência. A meta 01 do Plano Nacional de Educação que promete ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 100% das crianças de até três anos até o final da vigência de 2026. A partir desta realidade intensificamos nossa pesquisa priorizando a organização do espaço e do tempo escolar exclusivamente nas salas de aula, para assim podemos compreender melhor como os professores organizam suas respectivas salas de acordo com a sua realidade de estrutura física, de materiais e de conhecimento da criança como sujeito histórico e de direitos. Quanto ao perfil dos 18 professores entrevistados, apenas um não tem curso de graduação, e destes 11 têm pós-graduação em cursos de especialização, totalizado um percentual de 70% de professores especialistas.

Em relação ao tempo de serviço em

sala de aula os resultados foram os seguintes: 6 professores têm entre 1 e 5 anos; 6 professores têm entre 5 e 6 anos; 5 professores têm entre 10 e 20 anos; e 01 professor tem 32 anos de atuação. Esses dados nos possibilitam entender que a falta de organização do espaço e do tempo escolar não está associado à carência de formação e de experiência profissional, pois a maioria dos professores apresenta especialização e contam com mais de 5 anos de experiência.

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Esse projeto foi instituído a partir de 1975 com a finalidade de atender crianças carentes em creches. Legião Brasileira de Assistência 13 As creches do projeto pro infância apresentam 3 modelos, A, B e C e se diferem pela sua estrutura física e pela quantidade de alunos a serem atendidos. 12

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No tocante a questão central da nossa investigação que trata sobre a organização do espaço e do tempo escolar, as respostas dos professores quando questionados sobre como deve ser organizada a sala de aula foram unânimes em suas respostas, o que traduzimos aqui na fala da professora Francisca: “A sala de aula na educação infantil deve ser ampla, arejada, com paredes pintadas com cores claras, pois além de clarear o ambiente, passam tranquilidade às crianças e deve conter estímulos apropriados ao desenvolvimento integral das crianças”.

Mas como já mencionado, nem todas as escolas dispõe de uma estrutura física ampla e adequada, desta forma a organização através de cantinhos é uma sugestão viável para a realidade das instituições que lidam diariamente com a ausência de espaço. Em relação à questão do espaço escolar os professores participantes atribuíram a falta de organização das suas salas principalmente a falta de espaço físico e de materiais; aspecto evidenciado na fala da professora Vitória: “A minha sala de aula não está organizada corretamente pois é muito pequena e falta material escolar para os alunos e educativo para os professores”. A esse respeito Barbosa (ano e página) afirma que: Umas das ideias interessantes é dividi-la em ”cantinhos”- Um canto para livros (podem ser confeccionados pelas crianças); um canto com material de teatro (podem fazer fantasias com roupas usadas, criar enfeite com contas e cerâmicas, fantoches, bonecos etc.);um canto com som e instrumentos(que podem também ser confeccionados pelas crianças com paus, latas, sementes, arames tec.); um canto para os trabalhos em artes visuais que contenha uma parte para atividades tridimensionais (com argila, pequenos, objetos, sementes, pauzinhos etc.) e sucatas para a construção e outra para atividades bidimensionais ( PROI NFANTIL, 2006.p.61)

Pelo exposto, percebe-se que os professores até conhecem a sugestão de Barbosa (2000) de organizar sua sala em cantinhos, mas não o fazem, justificando que falta espaço e material adequado para isso. Entretanto, destacamos que podemos utilizar sucatas na construção desses materiais e reaproveitar materiais usados e até elementos da natureza. Com o estudo, observamos que apesar da falta de organização, os professores não fazem muito para mudar a realidade e preferem transferir a responsabilidade para outros ou criar desculpas como o da professora Joice: “Gostaria que minha sala tivesse cantinhos lúdicos, mas não faço porque tenho um aluno que rasga tudo das paredes”. A partir da citação da professora, percebemos que ela utiliza a desculpa do aluno de rasgar os trabalhos, para não organizar a sua sala.

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Um aspecto que nos chamou atenção, durante a nossa pesquisa, foi em relação as escolas particulares, pois enquanto todos os professores das escolas públicas afirmaram que suas salas de aula não estariam organizadas corretamente, os professores das escolas privadas entrevistados, mesmo afirmando que algumas escolas são pequenas, afirmaram o contrário, que suas salas estavam organizadas corretamente. No entanto, a professora Marcia que leciona numa dessas instituições afirmou que: “os materiais são guardados em armários fechados, tudo com o nome da criança”. Desta forma estando em armários fechados, esses materiais não estão acessíveis as crianças. Podemos constatar que nesse caso, esta sala não está organizada corretamente, pois não podemos resumir a organização apenas a questão espacial, mas a todos os aspectos que dizem respeito ao espaço utilizado pelas crianças como: a questão do mobiliário, da decoração dos brinquedos e, que os materiais a serem utilizados pelos alunos devem ser adequados a sua idade e, estar ao alcance das mesmas, favorecendo assim, a sua autonomia. Desta forma, os materiais não devem estar em armários fechados ou em estantes fora do alcance da criança, como no caso acima citado. Apesar de não terem sido citadas pelos nossos entrevistados, percebemos quando estávamos nessas instituições, na ocasião da aplicação dosc questionários, que essas escolas que, apesar de terem sidas consideradas pelos professores como organizada, na nossa observação percebemos a ausência na escola de ambientes como: brinquedoteca, sala de descanso, parquinhos, caixa de areia etc. Como também a adequação dos ambientes, onde por exemplo as janelas não estão à altura das crianças dando a oportunidade de visualizarem os espaços externos. Em relação ao tempo escolar as escolas seguem as tendências das demais escolas brasileiras, ou seja, adotam a rotina como prática de organizar o tempo escolar. Segundo a professora Tereza “O tempo está organizado numa rotina estabelecida pelos professores e supervisores”. Ou seja, sem a participação dos alunos. Desta forma, torna-se evidente que a maioria das rotinas estabelecidas pelas instituições de educação infantil são constituídas para organizar o tempo dos adultos, o tempo institucional; mas no entanto, isso não é uma constante em todas as escolas, pois apesar de nenhuma das escolas afirmarem que as crianças participam da elaboração da rotina, alguns professores organizam seu espaço e tempo escolar pensando realmente nas crianças como afirma a professora Sandra:

22 O Tempo de realização das atividades não pode ser demorada para não desmotivar as crianças. Havendo a necessidade de usar da criatividade e planejar diversificadas atividades que proporcione principalmente o lúdico e as brincadeira

Pensando nessa questão da existência do tempo institucional e do tempo das crianças, questionamos, aos professores no que eles levavam em consideração para organizarem as rotinas, e a maioria respondeu que organizam de acordo com tempo disponível e as atividades a serem desenvolvidas, buscando conciliar a questão do cuidado com o brincar, assim como cita a professora MARIANE: “eu organizo de forma que atenda às necessidades dos meus alunos e seja suficiente para realizar as atividades planejadas”. Dá-se a entender pelo que detectamos em algumas escolas que as rotinas são organizadas a partir do tempo cronológico disponível para organizar o trabalho dos professores e das crianças, algo comum; mas, no entanto, percebemos que dentro das rotinas alguns professores priorizam atividades de cuidado como: comer, escovar os dentes, lavar as mão, dormir, almoçar, assistir dvd; em outras no entanto, tentam antecipar o processo de alfabetização e priorizam atividades do tipo: a leitura do alfabeto, dos números, atividade escrita de matemática, atividade escrita de português ,a construção de textos, de poesias e ainda outros professores utilizam-se de atividades mecânicas e repetitivas que caracterizam disciplinamento como: pintar desenhos prontos, cobrir pontilhados, responder várias atividades escritas para não deixar o aluno ocioso. Porém, foi possível detectar também a existência da prática do assistencialismo contida em algumas rotinas, a prova disso é que ao serem questionados se existia algumas coisas que os professores desejariam fazer, mas que fazem porque dependiam de outras pessoas a professora Mariane respondeu:

“O rompimento do assistencialismo, a antecipação do ensino fundamental, a valorização da infância. Criança é criança; ‘conscientização do papel da escola infantil para as famílias. A infância é uma fase de descobertas que passa rápido, elas estão perdendo o que há de mais puro e belo na vida”

Essa citação da professora Mariane confirma a existência da prática assistencialista, bem como a prática da antecipação do processo de alfabetização nas escolas de educação infantil. Dessa forma, fica explicito que no tocante a questão da organização do espaço e do tempo escolar de educação infantil só será uma realidade quando houver um consenso da verdadeira função dessa etapa de escolarização na vida das crianças, e que sejam

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quebradas as barreiras para uma verdadeira gestão democrática do nosso sistema educacional. Nesse sentido, a educação deve ser concretizada assim como define o art. 205 de CF de 1988, e o art. 08 da Lei 9394/96 em regime colaboração, e em colaboração todos possam garantir um futuro melhor para as nossas crianças, através de uma educação de qualidade, onde cada nível ou modalidade de ensino assuma realmente a sua verdadeira função. Atualmente, no que diz respeito a educação infantil existe uma dicotomia onde ora, concretizam as práticas do cuidado, onde as instituições funcionam como locais de guarda enquanto os pais descansam ou trabalham. Ora, como uma etapa de preparação ou de antecipação do ensino fundamental, mas, dificilmente, essa primeira etapa da educação básica é percebida como um direito instituído e construído historicamente ao longo dos anos, como algo inerente as necessidades dessa etapa. No entanto, também encontramos muitos professores desempenhando seu papel corretamente. Através da pesquisa constatamos que as instituições de educação infantil de Jardim do Seridó tem passado por grandes transformações, devido a alguns investimentos realizados no setor, porém ainda distante do ideal. Em relação a organização do espaço e do tempo não estão totalmente condizentes com a realidade educacional demandadas pelo setor. Foi possível ainda encontrar traços de antecipação do processo de alfabetização, através de salas com carteiras enfileiradas, quadro, giz, atividades e desenhos impressos, livros didático, e alunos de frente para um quadro, ou ainda rotinas com traços de disciplinamento, caracterizado pela figura central do professor, bem como posturas de intuições de cuidados. Considerações Finais A questão do espaço e do tempo escolar nas instituições de educação infantil da cidade de Jardim do Seridó-RN, está atrelado a um conjunto de concepções edificadas ao longo do tempo. Muitas delas fortalecidas nas práticas assistencialistas do “bondoso político,” outras, porém, no famoso discurso da atualidade; o da falta de recursos para compra disso ou daquilo. Ainda podemos dizer, especialmente na falta de gestão sobre as políticas públicas, na resistência de alguns profissionais, as orientações pedagógicas, bem como na falta de compromisso, de formação, e de conhecimento da realidade educacional por parte dos profissionais e das famílias que atuam diariamente com as crianças.

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Observamos que muitos profissionais atuam na área, mas desconhecem as competências a serem adquiridas na educação infantil, não conhecem os recursos existentes para área. Mas como discorremos anteriormente, fica evidente a existência de uma transferência de responsabilidades por parte de todos os envolvidos, pois especificamente no que diz respeito a organização do espaço e do tempo não há necessidade de muitos recursos para que tenhamos escolas com espaços e rotinas bem elaboras e condizentes com a infância Portanto, partindo de uma análise global, podemos constatar que encontramos em jardim do Seridó/RN, espaços e rotinas com as mais diversificas formas de organização: umas coerentes, planejadas e pensadas com a infância tão defendida na atualidade, outras com traços de antecipação do processo de alfabetização ou práticas de disciplinamento. Ao concluirmos esse artigo nossa intenção é de suscitar uma reflexão crítica sobre o processo de organização do espaço e tempo nas escolas de educação infantil, para que assim, tenhamos condições de propiciar uma escola aconchegante e prazerosa onde as nossas crianças não corram o risco de terem suas infâncias decepadas. A partir dos dados coletados, chegamos à conclusão que a Educação infantil no município de Jardim do Seridó, não difere da realidade brasileira em relação a problemática da falta da organização do espaço e do tempo escolar nas instituições de educação Infantil. A organização do espaço educativo na instituição de Educação Infantil requer, antes de tudo, o entendimento da concepção da criança como um sujeito histórico de direitos e a sua oferta, como um direito fundamental ao seu desenvolvimento e não um direito aos pais como num passado remoto. Essa concepção de organização deveria estar presente, como algo inerente ao processo de aprendizagem, proporcionando as crianças um ambiente propício ao estímulos sensoriais, de forma que as mesmas sintam-se estimuladas, confortáveis e tenham prazer ao frequentarem uma destas instituições.

Referências BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e força: rotinas na educação Infantil. Campinas, SP, 2000 BRASIL. Maria Ghisleny de Paiva. A organização do espaço na Educação Infantil: concepções nas políticas nacionais. UERJ. Disponível em

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