CONTEXTUALIZAÇÃO
Toda infecção ocasionada por um microrganismo será totalmente eliminada pelas células do sistema imune denominadas “leucócitos”. O nosso sistema imune é influenciado pelo tipo de parto e inclusive microbiota de origem materna. Nos casos onde o parto seja realizado com um período menor que 38 semanas, o sistema imune do neonato não se encontra totalmente “maduro”. Diante disso, vários microrganismos podem infectar o organismo do neonato e causar severas infecções que promovem a quebra da homeostasia, resultando em alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, febre, inflamação e alterações no metabolismo glicolítico. Neste cenário, os profissionais que atuam na linha de frente em hospitais especializados em serviços pediátricos, possuem um importante papel tanto no diagnóstico quanto manejo clínico, a realização de exames bioquímicos e metabólicos evidenciando dados precisos são fundamentais nas primeiras 48 horas de infeção.
CASO CLÍNICO
A.A.T. 2 meses, sexo masculino, branco. Deu entrada no pronto atendimento de um hospital público no Paraná com vômitos incoercíveis, desidratação e distúrbio metabólico grave. Nascido pré-termo com peso de 2.890g e estatura de 46 cm, de parto cesariana decorrente de acidente automobilístico. Não havia relato de intercorrência durante a gestação. Na quinta semana de vida, começou a apresentar, regurgitações às mamadas e febre, foi atendido pelo setor pediátrico, após a realização de exames e foi identificado uma infecção bacteriana. Durante a internação, o bebê apresentou vômitos constantes e teve, como diagnóstico, infecção do trato urinário. Após 5 dias da alta, foi novamente internado com quadro de vômitos incoercíveis, hipernatremia, leucocitose, aumento da proteína soro amilóide A (PSA) e da proteína C reativa (PCR), distúrbio metabólico e alcalose grave. Ao exame físico, apresentava-se em mau estado geral, oligúria e desidratação grave, com tecido celular subcutâneo e muscular hipotróficos, com abdome escavado e flácido e “aspecto caquético”. Peso, na internação, de 3.355g.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O QUE DEVE SER FEITO NESSA ATIVIDADE?
Com todas as informações expostas acima, é hora de agir! Pensando que você faz parte da equipe multiprofissional de um hospital, imagine que você foi direcionado para o atendimento do bebê do caso clínico relatado acima. Com base nos conhecimentos e estudos adquiridos no decorrer da disciplina de patologia, reflita sobre as seguintes questões: você consegue identificar as bases da desidratação e sua relação com os distúrbios do equilíbrio ácido-base e consequentemente o perfil de desidratação? Você consegue relacionar as alterações metabólicas que incluem perda tecidual com os mecanismos de adaptação celular frente a uma lesão? Consegue determinar a relação entre a infecção bacteriana e a leucocitose? Consegue relacionar a ação das proteínas de coagulação com a função das células fagocíticas? Ainda, quais são os mecanismos de compensação nas alterações do equilíbrio ácido-base? O que é hipotrofia? Quais as causas da hipotrofia? Qual a relação da desidratação com a hipernatremia? Qual a relação da desidratação com a oligúria? O que causa leucocitose? Qual a relação da leucocitose com doenças infecciosas? Qual a relação dos leucócitos com as proteínas de coagulação? Qual a diferença entre PSA e PCR? Qual a relação de PSA/PCR com a fagocitose?
DESENVOLVENDO O TRABALHO
Após essa breve reflexão, responda ao que se pede:
a) IDENTIFIQUE o tipo de alcalose envolvida no caso clínico apresentado e JUSTIFIQUE a sua resposta.
b) EXPLIQUE o mecanismo de compensação envolvido com a alcalose identificada na letra a.
c) EXPLIQUE o mecanismo de adaptação celular referente a hipotrofia subcutânea e muscular, RELACIONANDO com os dados apresentados no caso clínico.
d) RELACIONE a hipernatremia com a desidratação e oligúria.
e) JUSTIFIQUE a leucocitose e RELACIONE com o aumento na concentração das proteínas PCR e PSA.
Lista de comentários
No caso clínico apresentado, o bebê de dois meses de idade foi admitido no pronto atendimento com vômitos incoercíveis, desidratação e distúrbio metabólico grave. Como profissional da equipe de saúde, é necessário compreender as bases da desidratação e sua relação com os distúrbios do equilíbrio ácido-base e, consequentemente, o perfil de desidratação.
A desidratação ocorre quando há uma perda excessiva de água e eletrólitos do organismo, resultando em uma diminuição do volume de líquidos corporais. Essa perda pode ser devido à diminuição da ingestão de líquidos, aumento das perdas (como ocorre nos vômitos) ou uma combinação dos dois. A desidratação afeta diretamente o equilíbrio ácido-base do organismo, levando a distúrbios metabólicos.
Os distúrbios do equilíbrio ácido-base podem incluir a acidose metabólica ou alcalose metabólica, dependendo das alterações na concentração de íons de hidrogênio (H+) e bicarbonato (HCO3-) no organismo. No caso do bebê descrito, os vômitos incoercíveis podem levar a uma perda excessiva de ácido clorídrico (HCl), resultando em alcalose metabólica compensatória.
Além disso, é importante relacionar as alterações metabólicas, como a perda tecidual, com os mecanismos de adaptação celular frente a uma lesão. Quando ocorre uma lesão ou infecção, as células podem ativar mecanismos para garantir a sobrevivência e reparação do tecido. Esses mecanismos podem incluir a quebra de proteínas musculares e tecidos adiposos para fornecer energia e substratos para o reparo celular. Portanto, a perda tecidual observada no bebê pode ser uma resposta adaptativa às alterações metabólicas causadas pela infecção bacteriana.
A relação entre a infecção bacteriana e a leucocitose também deve ser considerada. A infecção bacteriana ativa o sistema imunológico, resultando em uma resposta inflamatória e na produção de células de defesa, como os leucócitos. A leucocitose, caracterizada pelo aumento no número de leucócitos no sangue, é uma resposta do organismo para combater a infecção e eliminar os patógenos invasores.
Por fim, é fundamental compreender a relação entre a ação das proteínas de coagulação e a função das células. As proteínas de coagulação são essenciais para o processo de coagulação sanguínea, no qual ocorre a formação de um coágulo para interromper o sangramento. Além disso, as células sanguíneas desempenham um papel importante na defesa imunológica, transporte de oxigênio, remoção de resíduos e coagulação sanguínea.
Em resumo, ao analisar o caso clínico apresentado, é possível relacionar a desidratação com os distúrbios do equilíbrio ácido-base, compreender as alterações metabólicas causadas pela infecção bacteriana, identificar a relação entre a infecção e a leucocitose e reconhecer a importância das proteínas de coagulação e função das células. Esses conhecimentos são cruciais para o diagnóstico e manejo clínico adequado do paciente neonatal.