O Brasil bater recordes nos diferentes registros relativos às desigualdades socioeconômicas, a produção científica ainda é insipiente para explicar dimensões específicas dos processos em curso.Insistimos na gravidade do fenômeno e apresentamos algumas evidências empíricas que caracterizam a desmedida entre o "pólo pobreza" e o "pólo riqueza". O fato de que o primeiro é bem mais conhecido que o segundo leva-nos a ressaltar ainda mais dimensões peculiares do que chamamos "a riqueza substantiva", conceito que indica a natureza dos recursos econômicos que estão acumulados e concentrados em poucas mãos e cujo volume possibilita o exercício do poder em termos renovados no que tange ao controle da sociedade e à concorrência intercapitalista.
Volumes expressivos da riqueza social são apropriados e fruídos em termos que se imaginavam superados pela modernização capitalista. Para uma avaliação mais precisa das velhas práticas reeditadas ou dos novos comportamentos permitidos pela extrema concentração de renda são necessários novos conceitos cuja função heurística deve contribuir para esclarecer os processos em curso reduzindo, assim, o déficit explicativo existente.
Insuficiências teóricas e a existência de preconceitos e de dificuldades materiais bloqueiam o avanço do conhecimento sobre as questões candentes da sociabilidade brasileira, sobre os elementos estruturantes que definem as percepções sobre a desigualdade, sobre a legitimidade das situações de poder e sobre as correlações de força que configuram as lutas sociais
A distribuição de renda manteve-se inalterada nos últimos 30 anos. Há três décadas, os 40% mais pobres recebem entre 11 e 12% da renda nacional, os 50% mais pobres entre 49% e 51%; 10% mais ricos acumulam 49% e 51% e o 1% mais rico entre 10 e 13%. Regime militar, Nova República, três períodos de governos liberais e um governo mais afinado com demandas populares, estagnação e retomada do desenvolvimento, hiperinflação e estabilidade de preços: nada disso alterou substancialmente o regime distributivo que coloca o Brasil entre os quatro países com as piores colocações segundo o Índice de Gini, numa péssima posição no ranking estabelecido pelo Índice de Desenvolvimento Humano e em outras classificações negativas que medem esperança de vida, analfabetismo, violência, baixa educação e saúde, etc. (Neri, 2003; IBGE, 2003; Mir, 2004; Pochmann, 2004). Nos últimos anos observa-se a redução do número de famílias situadas abaixo da linha de pobreza. Entretanto, a desigualdade socioeconômica não é medida por uma arbitrária linha de rendimentos abaixo da qual estão situam-se os pobres e sim pelas distâncias entre as posições relativas ocupadas pelos diversos segmentos da sociedade.
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O Brasil bater recordes nos diferentes registros relativos às desigualdades socioeconômicas, a produção científica ainda é insipiente para explicar dimensões específicas dos processos em curso.Insistimos na gravidade do fenômeno e apresentamos algumas evidências empíricas que caracterizam a desmedida entre o "pólo pobreza" e o "pólo riqueza". O fato de que o primeiro é bem mais conhecido que o segundo leva-nos a ressaltar ainda mais dimensões peculiares do que chamamos "a riqueza substantiva", conceito que indica a natureza dos recursos econômicos que estão acumulados e concentrados em poucas mãos e cujo volume possibilita o exercício do poder em termos renovados no que tange ao controle da sociedade e à concorrência intercapitalista.
Volumes expressivos da riqueza social são apropriados e fruídos em termos que se imaginavam superados pela modernização capitalista. Para uma avaliação mais precisa das velhas práticas reeditadas ou dos novos comportamentos permitidos pela extrema concentração de renda são necessários novos conceitos cuja função heurística deve contribuir para esclarecer os processos em curso reduzindo, assim, o déficit explicativo existente.
Insuficiências teóricas e a existência de preconceitos e de dificuldades materiais bloqueiam o avanço do conhecimento sobre as questões candentes da sociabilidade brasileira, sobre os elementos estruturantes que definem as percepções sobre a desigualdade, sobre a legitimidade das situações de poder e sobre as correlações de força que configuram as lutas sociais
A distribuição de renda manteve-se inalterada nos últimos 30 anos. Há três décadas, os 40% mais pobres recebem entre 11 e 12% da renda nacional, os 50% mais pobres entre 49% e 51%; 10% mais ricos acumulam 49% e 51% e o 1% mais rico entre 10 e 13%. Regime militar, Nova República, três períodos de governos liberais e um governo mais afinado com demandas populares, estagnação e retomada do desenvolvimento, hiperinflação e estabilidade de preços: nada disso alterou substancialmente o regime distributivo que coloca o Brasil entre os quatro países com as piores colocações segundo o Índice de Gini, numa péssima posição no ranking estabelecido pelo Índice de Desenvolvimento Humano e em outras classificações negativas que medem esperança de vida, analfabetismo, violência, baixa educação e saúde, etc. (Neri, 2003; IBGE, 2003; Mir, 2004; Pochmann, 2004). Nos últimos anos observa-se a redução do número de famílias situadas abaixo da linha de pobreza. Entretanto, a desigualdade socioeconômica não é medida por uma arbitrária linha de rendimentos abaixo da qual estão situam-se os pobres e sim pelas distâncias entre as posições relativas ocupadas pelos diversos segmentos da sociedade.
Espero ter ajudado