Já havia anoitecido e um trenzinho conduzia trabalhadores, cansados depois de um dia de labuta, de volta para casa. Entre os passageiros, um negro cego, chamado Baiano Velho.
A luz dos vagões estava queimada e, no escuro, os passageiros dormiam ou conversavam. Baiano Velho puxou conversa com um rapaz, perguntando se o jornal tinha dado alguma nova sobre a sucessão presidencial. O rapaz informou que não sabia, pois estavam no escuro.
Baiano Velho ficou matutando. Apesar de cego, tentava entender a ausência da luz. De repente, indignou-se, começou a bater com o porrete no assoalho e gritar assim: “Não pode ser! Estrada de ferro relaxada! Que é que faz que não acende? Não se pode viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o maior dom da natureza! Luz! Luz! Luz!”.
Logo, já havia se formado um tumulto. O vagão inteiro gritava contra a falta da luz. A revolta foi caminhando pelos outros vagões e, logo, todo o trem estava em motim. Um passageiro sugeriu que matassem o chefe do trem, mas outro lembrou que era pobre como eles. Um outro sugeriu uma grande passeata, com foguetes e banda de música.
Os ânimos foram ficando cada vez mais exaltados e, logo, o trem estava sendo destruído. Os passageiros rasgaram os estofamentos e jogaram os pedaços pela janela, arrancaram bancos, quebraram vidraças, uma revolução.
No dia seguinte, o motim saiu no jornal. O delegado chamou vários passageiros, mas ninguém quis ser delator do iniciador da revolta. Até que apareceu um dedo-duro, um fura-motim, um traidor.
O traidor estava disposto a contar tudo, indo contra a vontade do povo que se aglomerava diante da delegacia.
O delegado perguntou: “Qual a verdadeira causa do motim?” O homem respondeu: “A causa verdadeira do motim foi a falta de luz nos vagões.” O delegado olhou firme nos olhos do delator e continuou: “Quem encabeçou o movimento?” Um murmúrio percorreu a multidão. Ninguém queria que o líder do movimento fosse preso. Em meio da ansiosa expectativa dos presentes o homem revelou: “Quem encabeçou o movimento foi aquele cego!”.
O delegado olhou para o cego Baiano Velho e pensou por um momento.
O delator quis jurar sobre a bíblia, mas foi imediatamente recolhido ao xadrez porque com autoridade não se brinca.
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Já havia anoitecido e um trenzinho conduzia trabalhadores, cansados depois de um dia de labuta, de volta para casa. Entre os passageiros, um negro cego, chamado Baiano Velho.
A luz dos vagões estava queimada e, no escuro, os passageiros dormiam ou conversavam. Baiano Velho puxou conversa com um rapaz, perguntando se o jornal tinha dado alguma nova sobre a sucessão presidencial. O rapaz informou que não sabia, pois estavam no escuro.
Baiano Velho ficou matutando. Apesar de cego, tentava entender a ausência da luz. De repente, indignou-se, começou a bater com o porrete no assoalho e gritar assim: “Não pode ser! Estrada de ferro relaxada! Que é que faz que não acende? Não se pode viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o maior dom da natureza! Luz! Luz! Luz!”.
Logo, já havia se formado um tumulto. O vagão inteiro gritava contra a falta da luz. A revolta foi caminhando pelos outros vagões e, logo, todo o trem estava em motim. Um passageiro sugeriu que matassem o chefe do trem, mas outro lembrou que era pobre como eles. Um outro sugeriu uma grande passeata, com foguetes e banda de música.
Os ânimos foram ficando cada vez mais exaltados e, logo, o trem estava sendo destruído. Os passageiros rasgaram os estofamentos e jogaram os pedaços pela janela, arrancaram bancos, quebraram vidraças, uma revolução.
No dia seguinte, o motim saiu no jornal. O delegado chamou vários passageiros, mas ninguém quis ser delator do iniciador da revolta. Até que apareceu um dedo-duro, um fura-motim, um traidor.
O traidor estava disposto a contar tudo, indo contra a vontade do povo que se aglomerava diante da delegacia.
O delegado perguntou: “Qual a verdadeira causa do motim?” O homem respondeu: “A causa verdadeira do motim foi a falta de luz nos vagões.” O delegado olhou firme nos olhos do delator e continuou: “Quem encabeçou o movimento?” Um murmúrio percorreu a multidão. Ninguém queria que o líder do movimento fosse preso. Em meio da ansiosa expectativa dos presentes o homem revelou: “Quem encabeçou o movimento foi aquele cego!”.
O delegado olhou para o cego Baiano Velho e pensou por um momento.
O delator quis jurar sobre a bíblia, mas foi imediatamente recolhido ao xadrez porque com autoridade não se brinca.