(UFLA, 2011, adaptada)
ADMIRÁVEL LIVRO NOVO - O CHEIRINHO DO LIVRO
Ainda é cedo para medir o impacto na criação narrativa da literatura sem papel. O livro eletrônico poderia desenvolver novas formas expressivas – assim como o livro impresso possibilitou o boom do romance, e a câmera filmadora a explosão do cinema? Boa parte das obras produzidas no novo formato ainda é experimental. De fato, há dúvidas sobre como classificar as obras produzidas a partir das estratégias narrativas abertas pelas novas tecnologias. Seriam livros ou alguma forma nova, que já é chamada de transmídia, que conviverá em separado com o mercado editorial tradicional, como a televisão adquiriu uma linguagem diferente do cinema?
Apesar de toda essa excitação, não faltam leitores que não pretendem abandonar o papel por nada. Seus argumentos são pertinentes. Ler num computador não é tão confortável como ler uma obra impressa (por outro lado, uma biblioteca inteira cabe num levíssimo e-reader). É difícil ler na tela porque os olhos se cansam da luminosidade (aparentemente não os das novas gerações, habituadas às telas do computador). As baterias acabam, enquanto livros duram quase uma eternidade (em compensação os livros impressos não podem ser baixados para o seu e-book quando se está há horas esperando na antessala do médico). Para praticamente todo argumento contra um tipo de livro há um a favor.
Resta o insubstituível “cheirinho do livro”. Para quem não abre mão dele, uma história divertida é a relatada pelo historiador americano Robert Darnton em A Questão dos Livros: Passado, Presente e Futuro, que sai no Brasil em maio. Conta que uma pesquisa com estudantes constatou que 43% deles consideravam o cheiro uma das maiores qualidades dos livros. É a única que aparentemente não poderia ser suplantada pelos livros eletrônicos. Mas uma editora on-line, a CaféScribe, já apareceu com uma solução: oferecer um adesivo para ser colado em seus computadores com um aroma similar.
Especialista na história do livro, Darnton mostra que o livro impresso é também uma tecnologia de leitura, que já desbancou outras, no passado: os rolos de pergaminho e as obras manuscritas, mesmo que sob severos protestos de seus defensores. Nesta área, as mudanças têm sido cada vez mais rápidas. “Da descoberta da escrita até o codex (o formato atual do livro), passaram-se 4.000 anos; do codex à tipografia, 1.150 anos; da tipografia para a internet, 524 anos; da internet para os mecanismos de busca, 17 anos; deles para o Google, sete anos; e quem sabe o que estará ali na esquina ou vindo na próxima onda?”, pergunta. [...].
COSTA, Cristiane. Admirável livro novo. Revista Bravo, abril de 2010. p. 75-77. (Fragmento)
O fragmento do texto que apresenta um argumento a favor da leitura no computador é:
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