Composto por uma mistura de plantas amazônicas, a ayahuasca ou o chá do Santo Daime é o elemento central de rituais xamânicos herdados da cultura indígena. O berço dessas doutrinas fica em Rio Branco (AC) e a bebida é usada há milhares de anos pelos pajés de várias tribos amazônicas do Brasil, do Peru e do Equador.
A ayahuasca é produzida a partir de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó mariri ou jagube (Banisteriopsis caapi) e folhas do arbusto chacrona ou rainha (Psychotria viridis). O nome quíchua é de origem Inca, o "cipó dos espíritos" ou "vinho dos mortos", e se refere a uma bebida sacramental.
Com gosto amargo, a cor da bebida varia entre ocre e marrom-escuro e seus efeitos mais comuns são vômito e diarreia. O chá também provoca alucinações e visões místicas. Mas isso não impede que ela seja consumida regularmente por índios da Amazônia ou pelas seitas religiosas como o Santo Daime e a União do Vegetal (UDV).
Para os adeptos do Santo Daime, o encontro com o sagrado é chamado de miração. Já na União do Vegetal, as visões são conhecidas por "burracheira".
Foi no meio da mata que o seringueiro maranhense Raimundo Irineu Serra conheceu o chá, por meio de curandeiros indígenas. Ele foi instruído a ir para a mata e jejuar. No oitavo dia, sob efeito da ayahuasca, Irineu teve a visão de uma senhora, que se identificou como Nossa Senhora da Conceição, que lhe passou os ensinamentos da igreja que iria fundar. Essa é a história contada pelos seguidores do Santo Daime, seita criada por mestre Irineu, originalmente em Rio Branco, no Acre.
Isso também aconteceu com a União do Vegetal (UDV), a maior organização baseada no uso do chá. Nascida em 1961, em Rondônia, e tendo como fundador outro seringueiro, mestre José Gabriel da Costa, a União conta com mais de 20 mil seguidores espalhados por todas as grandes cidades.
Wágney Guimarães, de 50 anos, iniciou na União do Vegetal, convidado por um colega de trabalho, há 20 anos. Para ele foi uma experiência marcante: “senti uma diferença, alguma ligação espiritual muito forte na primeira vez”. Após a quinta sessão, Guimarães concluiu que era o momento de se associar a União do Vegetal, uma das sociedades hoasqueiras mais organizadas que se tem conhecimento. Para ele, o chá não é um líquido viciante:
“Nesse tempo, eu tenho o privilégio de ter os meus filhos na União do Vegetal. Eu me lembro que a minha filha, hoje com 21 anos, que cursa Administração em uma universidade federal, tomou o vegetal pela primeira vez aos 3 anos de idade”, conta.
O membro da União do Vegetal ressalta que o risco do consumo da ayahuasca é, no máximo, a pessoa ter um mal-estar estomacal, diarreia, vômito, ou queda de pressão. Isso porque o vegetal funciona como um instrumento de limpeza orgânica. "Algumas pessoas passam anos sem demonstrar nenhum desses efeitos, outras já vivenciam no primeiro momento", conclui.
Segundo Guimarães, quando a pessoa vomita, ela "põe para fora as impurezas do corpo" e tem a sensação psicológica de que todo o mal e angústia que tinha também se foram. “É uma catarse, a pessoa bebe o vegetal e entra em um estado de concentração mental ampliada e começa a se olhar. Quando a pessoa encontra alguma coisa que não lhe faz bem, ocorre uma somatização, uma ação orgânica e mental, em que a pessoa está sujeita a vomitar”, explica.
O chá existe para todos, mas não são todos que estão preparados para usar o vegetal. “Toda vez que se acende uma luz dentro de uma caverna, os morcegos ficam incomodados”, diz Wágney. Sobre os benefícios do chá, ele explica que não é todo mundo que tem coragem de olhar para dentro e se enfrentar. “O maior problema de quem busca pelas verdades da vida é não estar disposto a encontrá-las. Isso faz com que o ego entre em guerra com a clareza do espírito”, destaca o membro da UDV.
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Composto por uma mistura de plantas amazônicas, a ayahuasca ou o chá do Santo Daime é o elemento central de rituais xamânicos herdados da cultura indígena. O berço dessas doutrinas fica em Rio Branco (AC) e a bebida é usada há milhares de anos pelos pajés de várias tribos amazônicas do Brasil, do Peru e do Equador.
A ayahuasca é produzida a partir de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó mariri ou jagube (Banisteriopsis caapi) e folhas do arbusto chacrona ou rainha (Psychotria viridis). O nome quíchua é de origem Inca, o "cipó dos espíritos" ou "vinho dos mortos", e se refere a uma bebida sacramental.
Com gosto amargo, a cor da bebida varia entre ocre e marrom-escuro e seus efeitos mais comuns são vômito e diarreia. O chá também provoca alucinações e visões místicas. Mas isso não impede que ela seja consumida regularmente por índios da Amazônia ou pelas seitas religiosas como o Santo Daime e a União do Vegetal (UDV).
Para os adeptos do Santo Daime, o encontro com o sagrado é chamado de miração. Já na União do Vegetal, as visões são conhecidas por "burracheira".
Foi no meio da mata que o seringueiro maranhense Raimundo Irineu Serra conheceu o chá, por meio de curandeiros indígenas. Ele foi instruído a ir para a mata e jejuar. No oitavo dia, sob efeito da ayahuasca, Irineu teve a visão de uma senhora, que se identificou como Nossa Senhora da Conceição, que lhe passou os ensinamentos da igreja que iria fundar. Essa é a história contada pelos seguidores do Santo Daime, seita criada por mestre Irineu, originalmente em Rio Branco, no Acre.
Isso também aconteceu com a União do Vegetal (UDV), a maior organização baseada no uso do chá. Nascida em 1961, em Rondônia, e tendo como fundador outro seringueiro, mestre José Gabriel da Costa, a União conta com mais de 20 mil seguidores espalhados por todas as grandes cidades.
Wágney Guimarães, de 50 anos, iniciou na União do Vegetal, convidado por um colega de trabalho, há 20 anos. Para ele foi uma experiência marcante: “senti uma diferença, alguma ligação espiritual muito forte na primeira vez”. Após a quinta sessão, Guimarães concluiu que era o momento de se associar a União do Vegetal, uma das sociedades hoasqueiras mais organizadas que se tem conhecimento. Para ele, o chá não é um líquido viciante:
“Nesse tempo, eu tenho o privilégio de ter os meus filhos na União do Vegetal. Eu me lembro que a minha filha, hoje com 21 anos, que cursa Administração em uma universidade federal, tomou o vegetal pela primeira vez aos 3 anos de idade”, conta.
O membro da União do Vegetal ressalta que o risco do consumo da ayahuasca é, no máximo, a pessoa ter um mal-estar estomacal, diarreia, vômito, ou queda de pressão. Isso porque o vegetal funciona como um instrumento de limpeza orgânica. "Algumas pessoas passam anos sem demonstrar nenhum desses efeitos, outras já vivenciam no primeiro momento", conclui.
Segundo Guimarães, quando a pessoa vomita, ela "põe para fora as impurezas do corpo" e tem a sensação psicológica de que todo o mal e angústia que tinha também se foram. “É uma catarse, a pessoa bebe o vegetal e entra em um estado de concentração mental ampliada e começa a se olhar. Quando a pessoa encontra alguma coisa que não lhe faz bem, ocorre uma somatização, uma ação orgânica e mental, em que a pessoa está sujeita a vomitar”, explica.
O chá existe para todos, mas não são todos que estão preparados para usar o vegetal. “Toda vez que se acende uma luz dentro de uma caverna, os morcegos ficam incomodados”, diz Wágney. Sobre os benefícios do chá, ele explica que não é todo mundo que tem coragem de olhar para dentro e se enfrentar. “O maior problema de quem busca pelas verdades da vida é não estar disposto a encontrá-las. Isso faz com que o ego entre em guerra com a clareza do espírito”, destaca o membro da UDV.