ESTRASBURGO, França (Reuters) - O presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, contestou a Rússia na segunda-feira ao dizer que o fim da Segunda Guerra Mundial, 60 anos atrás, havia instalado novos regimes totalitários no Leste Europeu e o terror nuclear no mundo.
Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, celebrava em Moscou o papel da União Soviética na derrota da Alemanha nazista, Borrell, um socialista espanhol, chamava atenção para o fato de que a vitória havia provocado o nascimento de uma Europa dividida, que só se uniria com a queda do comunismo.
"Alguns líderes políticos dizem que a bandeira da liberdade estava tremulando orgulhosamente por toda a Europa", afirmou o presidente do Parlamento Europeu.
"Hoje, temos de perceber que, naquela época, o fim da guerra levou paz e liberdade para apenas metade do continente."
Em declarações que devem agradar aos novos países-membros da União Européia (UE) vindos do Leste Europeu, Borrell lembrou o papel do acordo de Yalta (1945) na fundação da corrida nuclear ocorrida durante a Guerra Fria.
O acordo foi assinado pela União Soviética, pela Grã-Bretanha e pelos EUA, abrindo efetivamente o caminho para que o então ditador soviético, Josef Stalin, instalasse regimes comunistas em países como a Polônia e a então Tchecoslováquia.
As repúblicas balcânicas fizeram parte da União Soviética por quase 50 anos.
Líderes da região pediram que Putin reconhecesse publicamente o que chamam de a ocupação pós-guerra de seus países. Os presidentes da Lituânia e da Estônia boicotaram as celebrações realizadas em Moscou na segunda-feira. No Parlamento Europeu, muitos deputados dos novos países-membros pressionaram o órgão a lembrar, em uma declaração especial a ser divulgada, que o acordo de Yalta havia atirado o Leste Europeu em décadas de regime comunista.
Vivemos hoje uma situação muito estranha. Nunca na história da modernização – nos últimos duzentos, trezentos anos – deu-se a situação de uma crise social mundial que erigisse um tal potencial de devastação ecológica e alcançasse tanta destruição e abandono cultural, até a tendência na direção de uma nova barbárie.
E o estranho e paradoxal é que ao mesmo tempo, nestes últimos trezentos anos, a crítica social nunca esteve tão fortemente desarmada como hoje. Este paradoxo precisa ser explicado, já que o mundo nunca foi tão digno de crítica como hoje. É fácil obter a razão superficial desta contradição: pode-se colocá-la no contexto do colapso do Socialismo de Estado do leste europeu. Nas últimas décadas aquela teoria que formava o centro da crítica social do mundo ocidental, a saber, o marxismo, foi fortemente maculada por aquele Socialismo de Estado. Mesmo aqueles pensadores que no ocidente mantinham uma relação crítica com a União Soviética ou a China ainda ligavam-se, em suas argumentações básicas, embora de modo subterrâneo, com este Socialismo de Estado. A conseqüência é que todos nós, de certo modo, perdemos a fala.
O problema aqui contido só pode ser compreendido com a ampliação do quadro referencial, enfocando períodos anteriores ao assim chamado conflito de sistemas, estabelecido depois da 2ª Guerra Mundial. O Ocidente foi o vencedor no conflito dos sistemas, mas se ampliarmos o período em perspectiva e levarmos em consideração os últimos duzentos ou trezentos anos, podemos ironicamente constatar que o Socialismo de Estado entrou em colapso quase no momento das comemorações de duzentos anos da Revolução Francesa.
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ESTRASBURGO, França (Reuters) - O presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, contestou a Rússia na segunda-feira ao dizer que o fim da Segunda Guerra Mundial, 60 anos atrás, havia instalado novos regimes totalitários no Leste Europeu e o terror nuclear no mundo.
Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, celebrava em Moscou o papel da União Soviética na derrota da Alemanha nazista, Borrell, um socialista espanhol, chamava atenção para o fato de que a vitória havia provocado o nascimento de uma Europa dividida, que só se uniria com a queda do comunismo.
"Alguns líderes políticos dizem que a bandeira da liberdade estava tremulando orgulhosamente por toda a Europa", afirmou o presidente do Parlamento Europeu.
"Hoje, temos de perceber que, naquela época, o fim da guerra levou paz e liberdade para apenas metade do continente."
Em declarações que devem agradar aos novos países-membros da União Européia (UE) vindos do Leste Europeu, Borrell lembrou o papel do acordo de Yalta (1945) na fundação da corrida nuclear ocorrida durante a Guerra Fria.
O acordo foi assinado pela União Soviética, pela Grã-Bretanha e pelos EUA, abrindo efetivamente o caminho para que o então ditador soviético, Josef Stalin, instalasse regimes comunistas em países como a Polônia e a então Tchecoslováquia.
As repúblicas balcânicas fizeram parte da União Soviética por quase 50 anos.
Líderes da região pediram que Putin reconhecesse publicamente o que chamam de a ocupação pós-guerra de seus países. Os presidentes da Lituânia e da Estônia boicotaram as celebrações realizadas em Moscou na segunda-feira. No Parlamento Europeu, muitos deputados dos novos países-membros pressionaram o órgão a lembrar, em uma declaração especial a ser divulgada, que o acordo de Yalta havia atirado o Leste Europeu em décadas de regime comunista.
Vivemos hoje uma situação muito estranha. Nunca na história da modernização – nos últimos duzentos, trezentos anos – deu-se a situação de uma crise social mundial que erigisse um tal potencial de devastação ecológica e alcançasse tanta destruição e abandono cultural, até a tendência na direção de uma nova barbárie.
E o estranho e paradoxal é que ao mesmo tempo, nestes últimos trezentos anos, a crítica social nunca esteve tão fortemente desarmada como hoje. Este paradoxo precisa ser explicado, já que o mundo nunca foi tão digno de crítica como hoje. É fácil obter a razão superficial desta contradição: pode-se colocá-la no contexto do colapso do Socialismo de Estado do leste europeu. Nas últimas décadas aquela teoria que formava o centro da crítica social do mundo ocidental, a saber, o marxismo, foi fortemente maculada por aquele Socialismo de Estado. Mesmo aqueles pensadores que no ocidente mantinham uma relação crítica com a União Soviética ou a China ainda ligavam-se, em suas argumentações básicas, embora de modo subterrâneo, com este Socialismo de Estado. A conseqüência é que todos nós, de certo modo, perdemos a fala.
O problema aqui contido só pode ser compreendido com a ampliação do quadro referencial, enfocando períodos anteriores ao assim chamado conflito de sistemas, estabelecido depois da 2ª Guerra Mundial. O Ocidente foi o vencedor no conflito dos sistemas, mas se ampliarmos o período em perspectiva e levarmos em consideração os últimos duzentos ou trezentos anos, podemos ironicamente constatar que o Socialismo de Estado entrou em colapso quase no momento das comemorações de duzentos anos da Revolução Francesa.