Considere os textos a seguir:
Texto 1
“Atenienses, eu vos sou reconhecido e vos amo, mas obedecerei antes ao deus que a vós; enquanto tiver alento e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos dirigir exortações, de ministrar ensinamentos em toda ocasião àquele de vós com quem eu deparar, dizendo-lhe o que costumo: ‘Meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por sua cultura e poderio, não te envergonhas de cuidares de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares nem cogitares da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?’”
Platão (427-347 a.C.). Apologia de Sócrates.
Texto 2
“Todos os homens tendem, por natureza, ao saber. Sinal disto é seu gosto pelas sensações, pois estas, além do proveito que possam ter, agradam por si mesmas, e as da visão mais que as outras. Pois, não só em nossos afazeres, mas também quando não fazemos nada, preferimos o ver, por assim dizer, a todos os demais sentidos. E isso porque pela visão as coisas nos são mais notórias e manifestam-se muitas diferenças”.
ARISTÓTELES. Metafísica. 2 ed. SP: Edipro, 2012.
Texto 3
“De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?”
Marcos, 8:36
- A grande preocupação do pensamento socrático foi com a essência do homem; com essa questão, ele inicia os temas da virtude, da felicidade e da ética. Com Sócrates, a preocupação se desloca da natureza e do Cosmos para o ser humano. Sobre o que seria a essência do homem, Sócrates responde: o homem é a sua alma. E por alma, no entanto, entende a nossa razão, a sede de nossa atividade pensante.
Essa atividade pensante, lógica e racional, dá início à construção de um arquétipo de homem ciente e conhecedor de tudo o que se passa ao seu redor. O refinamento da capacidade intelectual do homem passa por seu gosto por conhecer e explorar e vai ao encontro da reflexão sobre a natureza da felicidade.
Um tema recorrente que aparece nessa reflexão é a busca pelo homem virtuoso (ou a discussão sobre a virtude). Fale sobre isso incluindo em seu texto o seguinte itinerário:
Os três elementos fundamentais do método socrático para alcançar a sabedoria e os perigos dessa postura intelectual;
A preocupação dos pós-socráticos com as leis e os fenômenos humanos, em particular com o ser virtuoso de Platão;
A contraposição entre “ganhar o mundo inteiro” e “perder sua alma” proposta no texto bíblico e sua relação com a ética e a lógica.
Lista de comentários
Explicação:
O método socrático para alcançar a sabedoria consiste em três elementos fundamentais: a ironia, a maiêutica e o conhecimento de si mesmo. Através da ironia, Sócrates questionava e desafiava as opiniões e conhecimentos prévios das pessoas, promovendo uma reflexão crítica sobre o que era verdadeiro ou falso. A maiêutica, por sua vez, consistia em fazer com que as pessoas chegassem às suas próprias respostas através de perguntas e diálogos, buscando assim a sua própria sabedoria interior. E o conhecimento de si mesmo referia-se à importância de autoconhecimento e da busca pela verdade interior.
No entanto, essa postura intelectual também pode apresentar perigos. Ao questionar as crenças e conhecimentos estabelecidos, Sócrates gerava resistência e conflitos com as autoridades e com a sociedade. Seus métodos e ensinamentos foram interpretados como uma ameaça à ordem estabelecida, o que levou à sua condenação à morte.
Após Sócrates, os pós-socráticos, como Platão, se preocuparam com as leis e os fenômenos humanos, em particular com a busca pela virtude. Para Platão, a virtude estava relacionada ao conhecimento e à sabedoria, sendo alcançada através do desenvolvimento da alma e da prática de ações justas e equilibradas. Ele defendia a ideia de que somente os filósofos-reis, que possuem o conhecimento verdadeiro, seriam capazes de governar com sabedoria e justiça.
Em relação ao texto bíblico mencionado, essa contraposição entre "ganhar o mundo inteiro" e "perder sua alma" está relacionada à ética e à lógica. A perspectiva bíblica destaca a importância de priorizar valores e princípios morais em detrimento do acúmulo de riquezas e poder. Ao escolher ganhar o mundo inteiro, buscando apenas benefícios materiais e superficiais, o ser humano pode acabar perdendo a sua essência, sua alma, que está ligada à sua integridade moral e sua busca por uma vida virtuosa.
Em resumo, o pensamento socrático iniciou a reflexão sobre a essência do homem, buscando através da razão e da virtude uma vida plena. Os métodos socráticos para alcançar a sabedoria envolviam a reflexão crítica, a busca pelo autoconhecimento e o diálogo. Os pós-socráticos, como Platão, desenvolveram esses temas, especialmente relacionados à virtude e à busca pelo conhecimento e sabedoria. A contraposição entre "ganhar o mundo inteiro" e "perder sua alma" trazida pelo texto bíblico destaca a importância da ética e da lógica na tomada de decisões e na busca por uma vida plena e significativa.
O método socrático, centrado no diálogo e na maiêutica, buscava alcançar a sabedoria por meio do questionamento e da reflexão. Os três elementos fundamentais desse método incluem a ironia, a maiêutica e a dialética.
A ironia socrática consiste em aparentar ignorância para incentivar o interlocutor a expor suas ideias, enquanto a maiêutica é o processo de "dar à luz" as ideias do interlocutor por meio do questionamento. A dialética, por sua vez, é a análise crítica e a busca pela verdade por meio do confronto de argumentos.
No entanto, essa postura intelectual não estava isenta de perigos. O diálogo socrático muitas vezes levava à exposição da ignorância das pessoas, o que gerava desconforto e hostilidade. A abordagem socrática, ao questionar as crenças arraigadas, desafiava a tradição e a autoridade estabelecida, o que eventualmente resultou na condenação à morte de Sócrates.
Os pós-socráticos, especialmente Platão, mantiveram a preocupação com as questões éticas e virtuosas. Em sua obra "Apologia de Sócrates", Platão retrata seu mestre como alguém que busca a verdade e a virtude, mesmo diante da condenação injusta. A filosofia platônica desenvolve a teoria das Ideias, onde a busca pela virtude está intrinsecamente ligada à contemplação do mundo das Formas, a realidade eterna e imutável.
#SPJ2