A probabilidade de o mundo conseguir limitar o aquecimento global a 1,5°C diminuiu nos últimos anos, aponta o novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima) da ONU (Organização das Nações Unidas).
"Isso porque as emissões [de gases causadores do aquecimento global] aumentaram desde 2017, e muitos caminhos recentes têm emissões projetadas mais altas até 2030", diz o texto.
A análise compara a situação atual com o ciclo de avaliação feito em 2013. O aumento de 1,5°C é considerado limite para impedir o desaparecimento de países-ilha —se a temperatura ficar acima disso, esses lugares correm o risco de ficarem submersos.
o novo relatório também faz projeções sobre as reduções previstas nos compromissos do Acordo de Paris e as oportunidades de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.
"Este relatório é uma ladainha de promessas climáticas quebradas", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em um vídeo exibido no lançamento do relatório.
"Alguns líderes governamentais e empresariais estão dizendo uma coisa, mas fazendo outra. Simplificando, eles estão mentindo", afirmou Guterres, em referência à alta de emissões que acontece em meio a anúncios de compromissos climáticos.
Elaborado por 278 cientistas de 65 países e com citação de 18 mil referências, o trabalho foi revisado e comentado por um total de 59.212 especialistas e representantes de governos.
As emissões globais de gases-estufa subiram mais entre 2010 e 2019 do que em quaisquer das décadas anteriores. Por outro lado, o ritmo de crescimento foi menor: 1,3% por ano. Na década anterior, de 2000 a 2009, as emissões subiram 2,1% ao ano.
A responsabilidade pelas emissões também migrou nesse período, basicamente dos Estados Unidos para a China. O painel do clima aponta que a América do Norte respondia por 19% das emissões globais no ano 2000, mas, com o crescimento chinês, a fatia diminuiu para 14% em 2010 e 12% em 2019.
Enquanto isso, a Ásia oriental, puxada pela China, passou a responder por 27% das emissões globais em 2019. Em 2000, a região contribuía para 16% das emissões globais e, em 1990, 13%.
A mudança dos maiores emissores é um dos principais nós das negociações climáticas da ONU. Os países desenvolvidos, responsáveis pela maior parte das emissões históricas, argumentam que países em desenvolvimento como a China —e também Brasil e Índia— precisam aumentar seus compromissos climáticos.
O relatório do IPCC, no entanto, tem como política não mencionar diretamente nenhum país, referindo-se apenas às regiões do globo.
As revelações do IPCC sobre o aumento das emissões recentes, cuja contribuição maior vem de países em desenvolvimento como a China, geraram disputas sobre o texto que atrasaram a plenária final de aprovação do relatório, revisado e comentado por representantes de governos dos 195 países.
Prevista para ser concluída na última sexta-feira (1º), a plenária se estendeu até o domingo (3), levando ao adiamento do lançamento do material. A discussão entre China e EUA foi, segundo participantes da plenária, uma das principais dificuldades para a aprovação do texto.
Pequim é criticada por planejar atingir o pico de emissões apenas no final da década, o que é aceito pelo Acordo de Paris para países em desenvolvimento. Para os americanos, os chineses deveriam ter compromissos mais altos, já que lideram as emissões atuais.
Por outro lado, as taxas de emissão per capita são mais altas na região da América do Norte, com emissão de 19 gigatoneladas de carbono anuais por pessoa, enquanto a Ásia oriental emite pouco mais de 11 gigatoneladas e a América Latina, 9,2 gigatoneladas per capita.
O relatório também mostra que, embora as emissões globais tenham subido na última década, pelo menos 18 países estão sustentando uma redução há mais de dez anos.
"As reduções foram associadas à descarbonização da oferta de energia, ganhos de eficiência energética e redução da demanda de energia, que resultaram tanto de políticas quanto de mudanças na estrutura econômica", aponta o painel do clima.
"Alguns países alcançaram vários anos de taxas consecutivas de redução de cerca de 4% ao ano, comparáveis às reduções globais em cenários que limitam o aquecimento a 2°C ou menos. Essas reduções compensaram apenas parcialmente o crescimento das emissões globais."
Para limitar o aquecimento em até 1,5°C —limite que previne o aumento catastrófico de eventos climáticos extremos— o mundo deveria atingir o pico de emissões antes de 2025.
"Sem fortalecer políticas para além das implementadas até o final de 2020, as emissões devem levar a um aquecimento global médio de 3,2°C até o fim do século", diz também o relatório.
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A probabilidade de o mundo conseguir limitar o aquecimento global a 1,5°C diminuiu nos últimos anos, aponta o novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima) da ONU (Organização das Nações Unidas).
"Isso porque as emissões [de gases causadores do aquecimento global] aumentaram desde 2017, e muitos caminhos recentes têm emissões projetadas mais altas até 2030", diz o texto.
A análise compara a situação atual com o ciclo de avaliação feito em 2013. O aumento de 1,5°C é considerado limite para impedir o desaparecimento de países-ilha —se a temperatura ficar acima disso, esses lugares correm o risco de ficarem submersos.
o novo relatório também faz projeções sobre as reduções previstas nos compromissos do Acordo de Paris e as oportunidades de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.
"Este relatório é uma ladainha de promessas climáticas quebradas", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em um vídeo exibido no lançamento do relatório.
"Alguns líderes governamentais e empresariais estão dizendo uma coisa, mas fazendo outra. Simplificando, eles estão mentindo", afirmou Guterres, em referência à alta de emissões que acontece em meio a anúncios de compromissos climáticos.
Elaborado por 278 cientistas de 65 países e com citação de 18 mil referências, o trabalho foi revisado e comentado por um total de 59.212 especialistas e representantes de governos.
As emissões globais de gases-estufa subiram mais entre 2010 e 2019 do que em quaisquer das décadas anteriores. Por outro lado, o ritmo de crescimento foi menor: 1,3% por ano. Na década anterior, de 2000 a 2009, as emissões subiram 2,1% ao ano.
A responsabilidade pelas emissões também migrou nesse período, basicamente dos Estados Unidos para a China. O painel do clima aponta que a América do Norte respondia por 19% das emissões globais no ano 2000, mas, com o crescimento chinês, a fatia diminuiu para 14% em 2010 e 12% em 2019.
Enquanto isso, a Ásia oriental, puxada pela China, passou a responder por 27% das emissões globais em 2019. Em 2000, a região contribuía para 16% das emissões globais e, em 1990, 13%.
A mudança dos maiores emissores é um dos principais nós das negociações climáticas da ONU. Os países desenvolvidos, responsáveis pela maior parte das emissões históricas, argumentam que países em desenvolvimento como a China —e também Brasil e Índia— precisam aumentar seus compromissos climáticos.
O relatório do IPCC, no entanto, tem como política não mencionar diretamente nenhum país, referindo-se apenas às regiões do globo.
As revelações do IPCC sobre o aumento das emissões recentes, cuja contribuição maior vem de países em desenvolvimento como a China, geraram disputas sobre o texto que atrasaram a plenária final de aprovação do relatório, revisado e comentado por representantes de governos dos 195 países.
Prevista para ser concluída na última sexta-feira (1º), a plenária se estendeu até o domingo (3), levando ao adiamento do lançamento do material. A discussão entre China e EUA foi, segundo participantes da plenária, uma das principais dificuldades para a aprovação do texto.
Pequim é criticada por planejar atingir o pico de emissões apenas no final da década, o que é aceito pelo Acordo de Paris para países em desenvolvimento. Para os americanos, os chineses deveriam ter compromissos mais altos, já que lideram as emissões atuais.
Por outro lado, as taxas de emissão per capita são mais altas na região da América do Norte, com emissão de 19 gigatoneladas de carbono anuais por pessoa, enquanto a Ásia oriental emite pouco mais de 11 gigatoneladas e a América Latina, 9,2 gigatoneladas per capita.
O relatório também mostra que, embora as emissões globais tenham subido na última década, pelo menos 18 países estão sustentando uma redução há mais de dez anos.
"As reduções foram associadas à descarbonização da oferta de energia, ganhos de eficiência energética e redução da demanda de energia, que resultaram tanto de políticas quanto de mudanças na estrutura econômica", aponta o painel do clima.
"Alguns países alcançaram vários anos de taxas consecutivas de redução de cerca de 4% ao ano, comparáveis às reduções globais em cenários que limitam o aquecimento a 2°C ou menos. Essas reduções compensaram apenas parcialmente o crescimento das emissões globais."
Para limitar o aquecimento em até 1,5°C —limite que previne o aumento catastrófico de eventos climáticos extremos— o mundo deveria atingir o pico de emissões antes de 2025.
"Sem fortalecer políticas para além das implementadas até o final de 2020, as emissões devem levar a um aquecimento global médio de 3,2°C até o fim do século", diz também o relatório.