Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Acre, Rio Branco, AC 3

Comunicado192 Técnico Foto: Romeu de Carvalho Andrade Neto

ISSN 0100-8668 Agosto, 2016 Rio Branco, AC

Recomendações Técnicas para o Cultivo de Abaca

Author Edison Farias Caiado

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Comunicado192 Técnico Foto: Romeu de Carvalho Andrade Neto

ISSN 0100-8668 Agosto, 2016 Rio Branco, AC

Recomendações Técnicas para o Cultivo de Abacaxizeiro, cv. Rio Branco (BRS RBO) Romeu de Carvalho Andrade Neto1 Sônia Regina Nogueira2 Márcia da Costa Capistrano3 João Ricardo de Oliveira4 Ueliton Oliveira de Almeida5

Informações gerais O abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril) é uma planta provavelmente de origem brasileira e tipicamente tropical, pois a região Amazônica é considerada um dos seus centros de origem. Bastante apreciado, o abacaxi pode ser consumido in natura e na forma de geleia e compota, além de dar origem a subprodutos, como fruto minimamente processado, polpa congelada e sucos concentrados. Serve como matéria-prima para a produção de bolos, tortas, sorvetes, vinho, aguardente, chás, blends, produtos medicinais e cosméticos, vinagre e álcool. O Brasil é o terceiro maior produtor do mundo, ficando atrás da Tailândia e da Costa Rica (FAO, 2016). Os estados do Pará, Paraíba e Minas são os maiores produtores e, juntos, somam acima de 50% da quantidade produzida no País (IBGE,

2016). O Acre detém somente 0,4% da produção brasileira e, em todos os seus municípios, há o cultivo do abacaxizeiro. A cultura adapta-se muito bem às condições edafoclimáticas do Estado do Acre, apresenta boa tolerância à acidez do solo e à falta de água no período seco, sendo de fácil propagação. O cultivo é realizado principalmente por pequenos produtores na forma de consórcios com outras culturas, principalmente anuais, a fim de diminuir os riscos de produção e aumentar a rentabilidade, uma vez que o preço dos frutos oscila muito em determinadas épocas do ano. Embora a espécie encontre na região condições de clima e solo favoráveis ao seu cultivo, as produtividades (número de frutos/hectare) obtidas no estado, em torno de 14.028 frutos por hectare, são, ainda, muito baixas e isso pode ser explicado

¹Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Acre, Rio Branco, AC 2 Engenheira-agrônoma, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Acre, Rio Branco, AC 3 Engenheira-agrônoma, mestre em Produção Vegetal, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, AC 4 Engenheiro-agrônomo, doutorando em Produção Vegetal, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, AC 5 Engenheiro-agrônomo, doutorando em Produção Vegetal, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, AC

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pelo não uso ou uso inadequado de tecnologias de produção. Além do manejo, a utilização de variedades locais adaptadas, produtivas, resistentes a pragas e que atendam à exigência do consumidor é fundamental para que o rendimento da cultura seja elevado. A cultivar Rio Branco (BRS RBO), registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sob o número 34943, anteriormente denominada RBR-1, é uma variedade selecionada localmente muito utilizada pelos abacaxicultores. Apresenta porte semiereto, as folhas são curtas (em média 5,6 cm) e não há espinhos. Os rebentões formados na colheita favorecem um segundo ciclo de produção; a massa média dos frutos é superior a 1,5 kg, o formato é cilíndrico e a polpa amarelada; o teor de sólidos solúveis é próximo a 14 ºBrix e a acidez em torno de 0,6%; não há fasciação (distúrbio morfogenético indesejável). De acordo com observações de campo, as plantas não apresentam suscetibilidade à Dysmicoccus brevipes (cochonilha), tampouco à rachadura interna e podridão dos frutos ocasionada por Penicillium. Não há informações de que a planta seja suscetível ou resistente à fusariose, entretanto, essa doença não foi detectada na cultivar.

Os solos indicados são aqueles que promovem uma boa aeração e drenagem, com profundidade mínima de 70 cm e pH variando entre 4,5 e 5,5.

Mudas para o plantio O plantio pode ser estabelecido a partir de mudas de diferentes tipos, como coroas, filhotes, filhoterebentão, rebentão, e até mesmo de mudas produzidas a partir do seccionamento do caule das plantas. A cv. BRS RBO apresenta, em média, 8 filhotes (mudas localizadas logo abaixo do fruto), por isso é mais indicada para novos plantios. Recomenda-se efetuar o manejo das mudas por meio da ceva, colheita, seleção, cura e tratamento fitossanitário, antes de levá-las a campo. A ceva consiste em deixar os filhotes aderidos à planta até que atinjam um tamanho mínimo de 30 cm. Depois de colhido e selecionado, o material propagativo deve ficar exposto ao sol com a base voltada para cima até 15 dias sobre as próprias plantas-mães ou espalhado sobre o solo. Esse processo denomina-se cura.

O objetivo desta publicação é apresentar a cultivar BRS RBO e fornecer informações técnicas relacionadas ao seu cultivo.

Uma vez curadas, as mudas devem ser selecionadas, eliminando-se as doentes e defeituosas, e padronizadas por tipo e tamanho a fim de que o plantio seja feito em talhões homogêneos.

Clima e solo para cultivo

Preparo e correção do solo

Por ser uma fruteira de clima tropical, o abacaxizeiro apresenta melhor crescimento e qualidade dos frutos quando cultivado em faixas de temperatura que vão de 22 ºC a 32 ºC. É exigente em luz, necessitando, anualmente, de uma insolação entre 2.500 e 3.000 horas, ou seja, 6,8 a 8,2 horas de brilho solar por dia. A planta não tolera sombreamento e requer precipitações entre 60 mm e 100 mm por mês.

O solo deve ser preparado utilizando-se uma aração e duas gradagens, nos dois sentidos do terreno, até atingir a profundidade de 30 cm, para facilitar o desenvolvimento e o aprofundamento das raízes.

É preciso escolher áreas planas ou com, no máximo, 5% de declividade. Em terrenos declivosos o plantio deve ser feito em nível ou por outros métodos que possam conservar o solo.

A correção da acidez deve ser feita 2 a 3 meses antes da instalação da cultura, preferencialmente com calcário dolomítico, com base na análise de solo, a fim de elevar o pH até 5,5 e a saturação de base entre 50% e 60%.

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Espaçamento e sistema de plantio No Acre, os abacaxicultores costumam utilizar espaçamentos maiores, o que implica em poucas plantas por hectare. Sugestões de espaçamento podem ser verificadas na Tabela 1. Tabela 1. Recomendações de espaçamento para o cultivo do abacaxizeiro (cv. BRS RBO). Tipo de Distância entre Plantas/ha plantio filas e plantas (m) Filas 0,90 x 0,30 37.000 simples Filas duplas

0,90 x 0,40 x 0,40

38.460

1,00 x 0,40 x 0,40

35.715

1,20 x 0,40 x 0,40

31.250

O plantio pode ser realizado em fileiras simples, duplas ou triplas. Embora nas fileiras simples os tratos culturais sejam facilitados, recomendase priorizar o sistema de fileiras duplas, por possibilitar maior produtividade e maior estabilidade do plantio frente a intempéries, como ventos fortes e radiação, que possam provocar, respectivamente, tombamento de plantas e queima solar dos frutos.

Plantio Pode ser feito em qualquer época do ano, notadamente quando se combinam diversas práticas agropecuárias com o objetivo de escalonar a produção para obter boa rentabilidade. Tanto sulcos como covas podem ser feitos para o plantio de mudas. É importante frisar que as mudas devem ficar em perfeito contato com o solo e firmes, sendo enterrado, na ocasião do plantio, um terço do seu tamanho. É preciso ficar atento para que não caia solo no “olho” da planta.

Adubação orgânica e química Deve ser orientada e racional com base na análise do solo e no preço dos adubos. Recomenda-se aplicar 10 t/ha de esterco de gado curtido no sulco de plantio ou 0,5 kg de esterco/ cova.

A adubação fosfatada pode ser feita até 30 dias após o plantio, caso as mudas não apresentem ainda sistema radicular formado. O nitrogênio e o potássio devem ser aplicados três a quatro vezes em cobertura até, no máximo, 30 dias antes da indução floral. As adubações devem ser realizadas junto às plantas ou nas axilas das folhas basais, com cuidado para que o adubo não caia no olho da planta. Pode-se confeccionar um funil de garrafa PET acoplado a um cano de PVC, para aplicar o adubo de forma localizada. Recomenda-se colocar terra na base da planta (amontoa), após as adubações, para cobrir os adubos aplicados. Sugestões de adubação para o abacaxizeiro podem ser verificadas na Tabela 2.

Irrigação No Acre existe um período de seca (junho, julho e agosto) curto no qual os regimes pluviométricos não ultrapassam 50 mm ao mês, chegando a índices ao redor de 33 mm em junho. Esse déficit hídrico pode comprometer seriamente o desenvolvimento da cultura do abacaxi que necessita de pelo menos 60 mm de chuva bem distribuída ao longo do mês. Sabendo-se que as fases críticas para a cultura concentram-se no período de crescimento vegetativo e floração e considerando que o déficit hídrico pode afetar a produção e, consequentemente, o peso e a qualidade do fruto, faz-se necessário o uso de irrigação nos meses de menor precipitação. O escalonamento da produção pode ser realizado quando, no sistema de produção da cultura, está embutida a prática de irrigação. Além disso, a aplicação de fertilizantes pode ser otimizada pela irrigação (fertirrigação). Os sistemas de irrigação mais usados na cultura são os de aspersão convencional, pivô central, autopropelido, microaspersão e gotejamento. É oportuno que se faça uma análise de viabilidade econômica para justificar o uso de irrigação. Nas condições do Acre, a irrigação por aspersão convencional tem sido utilizada e vem se mostrando bastante promissora.

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Tabela 2. Recomendações de adubação nitrogenada (N), fosfatada (P205) e potássica (K2O) na cultura do abacaxizeiro. Nutriente

Tempo após o plantio 1º ao 2º mês

5º ao 6º mês

8º ao 9º mês

110

130

N (kg/ha) Nitrogênio

80

Fósforo (P) no solo (Mehlich) mg.dm-3

P2O5 (kg/ha)

Até 5

80

0

0

6 a 10

60

0

0

11 a 15

40

0

0

Potássio (K) no solo mg.dm-3

K2O (kg/ha)

Até 30

120

160

200

31–60

80

110

130

61–90

60

80

100

Fonte: Reinhardt et al. (2000).

Indução da floração A

A época ideal para a realização da indução floral no abacaxizeiro é determinada de acordo com a data desejada da colheita. Entretanto, algumas características da planta devem ser observadas, como vigor, idade e comprimento da folha “D”. De maneira geral, recomenda-se que a indução seja realizada 8 a 12 meses após o plantio, utilizando-se plantas vigorosas, com pelo menos um metro de altura, massa fresca da maior folha (folha “D”) superior a 80 gramas e com, pelo menos, 80 cm de comprimento. No caso da BRS RBO, a planta deve ter pelo menos 100 cm de altura (do solo até a folha mais alta) ou 55 cm (do solo à base do fruto) e comprimento da folha “D” em torno de 90 cm. Os produtos mais utilizados na indução floral do abacaxizeiro são à base de etileno, como o carbureto de cálcio e o etefon (ácido 2-cloroetilfosfônico). O carbureto de cálcio pode ser aplicado na forma sólida em períodos chuvosos ou plantios irrigados (0,5 g a 1,0 g do produto na roseta foliar de cada planta).

O etefon (produto comercial Ethrel 240 g/L) deve ser diluído em água, na quantidade de 2 mL do produto comercial por litro de água. Em termos práticos, em um pulverizador de 20 L, devem ser adicionados 40 mL do Ethrel 240 e ainda ureia a 2% (400 mL ou 528 g). Em torno de 30 mL a 40 mL dessa solução devem ser colocados na roseta foliar ou “olho” das plantas. A indução deve ser realizada à noite ou nas horas mais frescas do dia, de preferência com o tempo nublado. Se chover após as primeiras horas da aplicação, a operação deve ser repetida. Caso a cv. BRS RBO tenha 10 meses de idade, a partir do plantio, recomenda-se utilizar o etefon. Se a planta tiver 12 meses, pode ser utilizado o etefon ou o carbureto de cálcio (LEDO et al., 2004).

Plantas daninhas Por possuírem crescimento lento e serem sensíveis à concorrência por mato, recomendase manter os plantios de abacaxizeiro livres de plantas daninhas, principalmente nos primeiros 5 a 6 meses.

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Nas condições do Acre, o controle de plantas pode ser manual, com 4 a 5 capinas nos primeiros 5 meses, mecânico, com 3 roçagens utilizando-se roçadeira manual, e químico (Tabela 3).

A cobertura do solo, seja viva (adubação verde) ou morta (uso do plástico ou restos vegetais), pode ser uma alternativa viável, uma vez que é bastante dispendioso o controle de daninhas na cultura.

Tabela 3. Principais herbicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para controle de plantas daninhas na cultura do abacaxizeiro. Ingrediente ativo

Produto comercial*

Formulação

Ametrex WG

WG

Ametrina

Herbipak WG Sulfentrazona

Boral 500 SC

Dose P. C. 2 kg/ha–3 kg/ha

SC

0,8 L/ha–1,4 L/ha

Cention SC

SC

4,8 L/ha

Direx 500 SC

SC

1,6 L/ha–6,4 L/ha

Diuron Nortox

WP

2 L/ha–4 L/ha

Diuron 500 SC Milenia

SC

5 L/ha–6 L/ha

Karmex

WG

1 kg/ha–4 kg/ha

WG

2 kg/ha–4 kg/ha

Gramocil

SC

2 L/ha

Krovar

WG

2 kg/ha–4 kg/ha

Explorer 500 SC Diuron

Karmex 800 Diuron + dicloreto de paraquate Bromacila + diuron

WG: granulado dispersível; SC: suspensão concentrada; WP: pó molhável. Dose P. C.: dosagem do produto comercial. *A citação do nome comercial do produto não significa recomendação ou endosso de tais marcas por parte da Embrapa. Fonte: AGROFIT-MAPA (2016).

Doenças As principais doenças registradas no Acre são fusariose (Fusarium subglutinans), podridãonegra (Ceratocystis paradoxa) e podridão-do-olho (Phytophthora nicotianae var. parasitica), sendo essa última a mais ocorrente na cv. BRS RBO. • Fusariose – Fusarium subglutinans Sua principal característica é a presença de exsudação de goma e odor parecido com fermentação de açúcar em tecidos lesionados. Outros sintomas são folhas amareladas, com o “olho” aberto; folhas menores; “olho torto”; raízes

reduzidas e até mesmo a morte da planta. Além da liberação de goma no centro do frutilho atacado, ocorre o apodrecimento dos frutos, que perdem seu valor comercial. O controle satisfatório da doença requer a integração de práticas de manejo, por meio da utilização de mudas sadias, eliminação de plantas doentes, inspeções periódicas dos plantios, utilização de cultivares resistentes e controle químico por meio de fungicidas registrados para a cultura (Tabela 4).

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Tabela 4. Principais fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para controle da fusariose, podridão-negra e podridão-do-olho na cultura do abacaxizeiro. Ingrediente ativo

Grupo químico

Marca comercial*

Formulação

Dose P. C.

Fusariose (Fusarium subglutinans) Tiofanatometílico

Benzimidazol

Topsin 700

WP

70 g–100 g/100 L de água

Cercobin 700WP

WP

70 g–100 g/100 L de água

Constant

EC

100 mL/100 L de água

Elite

EC

100 mL/100 L de água

Folicur 200

EC

100 mL/100 L de água

Rival 200

SC

100 mL/100 L de água

Triade

EC

100 mL/100 L de água

Benzimidazol

Tecto SC

SC

750 mL/ha

Triazol

Tenaz 250

SC

0,5 L/ha–0,75 L/ha

Tebuconazol

Tiabendazol

Triazol

Flutriafol

Podridão-negra (Ceratocystis paradoxa) Metiram

Ditiocarbamato

Cabrio Top

WG

2,5 kg/ha–3,0 kg/ha

Captana

Dicarboximida

Orthocide 500

WP

2 kg/ha–2,5 kg/ha

Podridão-do-olho (Phytophthora nicotianae var. parasitica) Fosetil Captana

Fosfanato

Aliette

WP

1 g/L–2,5 g/L

Dicarboximida/ Ftalimida

Orthocide 500

WP

2 kg/ha–2,5 kg/ha

WP: pó molhável; EC: concentrado emulsionável; SC: suspensão concentrada; WG: granulado dispersível. Dose P. C. : dosagem do produto comercial. *A citação do nome comercial do produto não significa recomendação ou endosso de tais marcas por parte da Embrapa. Fonte: AGROFIT-MAPA (2016).

• Podridão-negra – Ceratocystis paradoxa (INDEX FUNGORUM, 2014)

Ocorre principalmente através de ferimentos no pedúnculo e na casca devido ao manuseio incorreto.

É uma doença que ocorre após a colheita, podendo causar perdas elevadas de frutos destinados ao consumo in natura e à indústria.

Algumas práticas culturais preventivas da doença são recomendadas, tais como: colher os frutos com um pedaço do pedúnculo (2 cm–3 cm), evitar colheita em dias chuvosos prolongados e ferimentos

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nos frutos durante a colheita, eliminar restos culturais próximos às áreas onde os frutos serão armazenados e processados, reduzir o período entre a colheita e o processamento dos frutos, armazenar e transportar os frutos sob refrigeração (8 ºC–10 ºC). O controle químico também é recomendado (Tabela 4). • Podridão-do-olho – Phytophthora nicotianae var. parasitica É uma das principais doenças no abacaxieiro no Acre, sendo comum encontrá-la, principalmente, em solos sujeitos a encharcamento ou que apresentam drenagem deficiente. Os sintomas característicos da doença são a descoloração das folhas mais novas que a “D” e o apodrecimento e morte do olho da planta, o qual pode ser removido por inteiro, apresentando odor desagradável. O controle da doença pode ser feito por meio de práticas culturais e químicas. Dentre as práticas culturais estão: escolher solos bem drenados; observar o pH do solo ao realizar a calagem, pois o patógeno torna-se mais eficiente em solos com pH próximos da neutralidade; realizar plantios em camalhões, de cerca de 25 cm de altura, capazes de promover a drenagem do solo; evitar utilizar mudas do tipo coroa, pois são as mais susceptíveis à doença. O controle químico pode ser feito por fungicida sistêmico (Tabela 4).

Pragas As pragas mais comuns no Estado do Acre são a broca-do-fruto (Strymon megarus) e o percevejo (Thlastocoris laetus Mayr). • Broca-do-fruto – Strymon megarus As lagartas produzem orifícios nos frutos atacados de onde saem bolhas de resina líquida e incolor (goma) que ao entrar em contato com o ar adquirem tonalidade marrom-escura. Outro sintoma pode ser detectado por meio de dejetos

frescos saindo de orifícios produzidos pelas lagartas no interior da inflorescência. O fruto na planta perde umidade, ficando murcho e sem valor comercial. O sintoma do ataque da broca pode ser confundido com a fusariose. Entretanto, a diferença é que a goma correspondente à fusariose é liberada a partir do olho do frutilho, enquanto a goma produzida pela broca é exsudada entre os frutilhos. O produtor deve monitorar semanalmente a praga, cerca de 45 dias após a indução floral, quando as flores começam a abrir. Outra alternativa é proteger a inflorescência com saco de papel de dupla face em áreas pequenas. O controle químico deve ser feito preventivamente antes do início da infestação da praga, aplicandose um produto químico registrado para a cultura (Tabela 5). Deve-se realizar, no máximo, uma aplicação durante o ciclo da cultura, sempre respeitando o período de carência. • Percevejo-do-abacaxi – Thlastocoris laetus As informações descritas para essa praga, no Acre, foram obtidas de Fazolin (2001). Provavelmente essa seja a principal praga que ataca a cultivar BRS RBO (Rio Branco), tendo sido observada pela primeira vez em 1986 em áreas experimentais e culturas comerciais de abacaxi em sete municípios do estado. Os adultos e as ninfas atacam os frutos, a coroa, o pedúnculo da infrutescência e também sugam as folhas. Os insetos, ao se alimentarem das folhas, as tornam amareladas, e a planta, quando sobrevive, apresenta frutos de tamanho reduzido. A ocorrência dessa praga está relacionada às fases de desenvolvimento da cultura. Estudos demonstraram que o início do crescimento da população (média/planta) ocorre no final do desenvolvimento vegetativo das plantas e que a partir do florescimento a população cresce consideravelmente, apresentando níveis máximos durante a frutificação. A BRS RBO, quando comparada com outras variedades locais, mostra-se preferível ao percevejo.

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Tabela 5. Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle da cochonilha e da broca-do-fruto associadas à cultura do abacaxizeiro. Ingrediente ativo

Marca comercial*

Formulação

Modo de ação

Dose P. C.

Beta-ciflutrina (piretroide)

Bulldock 125 SC

SC

Contato e ingestão

80 mL/ha

Bacillus thuringiensis (biológico)

Dipel WG

WG

Ingestão

100 g/ha–125 g/ha

Dipel WP

WP

Ingestão

600 g/ha

Deltametrina (piretroide)

Decis 25 EC

EC

Contato e ingestão

200 mL/ha

Dominador

SC

Contato e ingestão

100 mL/ha

Imunit

SC

Contato e ingestão

200 mL–400 mL/ 100 L de água

Sevin 480 SC

SC

Contato e ingestão

225 mL/100 L de água

Sevin 850 WP

WP

Contato e ingestão

150 g/100 L de água

Alfa-cipermetrina (piretroide) + teflubenzurom (benzoilureia) Carbaril (metilcarbamato de naftila)

SC: suspensão concentrada; WG: granulado dispersível; WP: pó molhável; EC: concentrado emulsionável. Dose P. C.: dosagem do produto comercial. *A citação do nome comercial do produto não significa recomendação ou endosso de tais marcas por parte da Embrapa. Fonte: AGROFIT- MAPA (2016).

Colheita, acondicionamento e transporte As atividades da colheita referem-se aos cuidados que devem ser tomados desde a pré-colheita (determinação do ponto de colheita, decisão de colheita) até a pós-colheita (transporte e acondicionamento). • Colheita Por ser um fruto climatérico é necessário realizar a colheita após o seu completo desenvolvimento fisiológico.

A época ideal da colheita vai depender do seu destino e distância do mercado consumidor. Quando destinados à indústria, os frutos devem ser colhidos maduros (casca mais amarela que verde). Para o mercado de frutas devem ser colhidos “de vez” (casca mais verde que amarela). O importante é que tenham completado seu desenvolvimento fisiológico (sólidos solúveis no mínimo 12 ºBrix), uma vez que não amadurecem quando colhidos “verdes”. A colheita deve ser feita com um facão cortando o pedúnculo de 3 cm a 5 cm abaixo da base do fruto e segurando-o pela coroa. Quando o fruto é destinado ao mercado local, pode-se “quebrar” o pedúnculo rente à sua base.

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• Acondicionamento Os frutos devem ser acondicionados de tal maneira que não sofram danos. As caixas contendo os frutos devem ser armazenadas a uma temperatura constante, que não pode ser menor que 7 ºC, pois podem ocorrer injúrias na casca causadas pelo frio excessivo (chilling), nem superior a 10 ºC, já que acima dessa temperatura a susceptibilidade ao ataque de fungos é maior. • Transporte Pode ser feito em caixas, cestos, carros de mão, carroças e caminhão. O caminhão deve ter o assoalho e as paredes laterais revestidos com palha (arroz). Pode-se ainda proteger os frutos em camadas alternadas com capim, por exemplo, a fim de evitar injúrias. Dependendo do destino dos frutos, o transporte pode ser feito em temperatura ambiente ou em caminhões refrigerados.

Referências AGROFIT. Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários. [Ingredientes ativos para controle de pragas e doenças do abacaxi]. Disponível em: Acesso em: 25 jul. 2016. FAO. [Produtividade por país]. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2016. FAZOLIN, M. Reconhecimento e manejo integrado das principais pragas da cultura do abacaxi no Estado do Acre. Rio Branco: Embrapa Acre, 2001. 27 p. (Embrapa Acre. Documentos, 62). IBGE. Estatísticas sobre produção agrícola municipal. [2016]. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2016. INDEX FUNGORUM. [Podridão negra - Ceratocystis paradoxa]. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2016.

LEDO, A. S.; GONDIM, T. M. S.; OLIVEIRA, T. K.; NEGREIROS, J. R. S.; AZEVEDO, F. F. Efeito de indutores de florescimento nas cultivares de abacaxizeiro RBR-1, SNG-2 e SNG-3 em Rio Branco, Acre. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 26, n. 3, p. 395-398, 2004. REINHARDT, D. H.; SOUZA, L. F. da S.; CABRAL, J. R. S. (Org.). Abacaxi. Produção: aspectos técnicos. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura; Brasília, DF: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2000. p. 41-44. (Frutas do Brasil, 7).

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Comunicado Técnico, 192

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Presidente: José Marques Carneiro Júnior Secretária-Executiva: Claudia Carvalho Sena Membros: Carlos Mauricio Soares de Andrade, Celso Luis Bergo, Evandro Orfanó Figueiredo, Patrícia Silva Flores, Rivadalve Coelho Gonçalves, Rodrigo Souza Santos, Rogério Resende Martins Ferreira, Tadário Kamel de Oliveira, Tatiana de Campos Supervisão editorial: Claudia C. Sena/Suely M. Melo Revisão de texto: Claudia C. Sena/Suely M. Melo Normalização bibliográfica: Renata do Carmo F. Seabra Editoração eletrônica: Eduardo Soares CGPE 13083

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