MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel Departamento de Fitotecnia Programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes
DISSERTAÇÃO
ADUBAÇÃO NITROGENADA NA PRODUÇÃO DE BIOMASSA E SEMENTES DE AZEVÉM EM ROTAÇÃO COM SOJA
ALBERTO BOHN
PELOTAS, RS 2014.
Dados de catalogação na fonte: Maria Beatriz Vaghetti Vieira – CRB 10/1032 Biblioteca de Ciência & Tecnologia – UFPel. B677a
Bohn, Alberto Adubação nitrogenada na produção de biomassa e sementes de azevém em rotação com soja/Alberto Bohn. – 58p.: il. color. – Dissertação (Mestrado). Programa de PósGraduação em Ciência e Tecnologia de Sementes. Área de concentração em Fitotecnia. Universidade Federal de Pelotas. Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel. Pelotas, 2014. – Orientador Carlos Eduardo da Silva Pedroso. 1. (Lolium multiflorum Lam.) 2. Características estruturais 3. Qualidade fisiológica da semente 4. Relação C/N 5. SPAD 6. Densidade de sementes I. Pedroso, Carlos Eduardo da ALBERTO Silva - Orientador II. Título.BOHN
CDD: 631.521
ALBERTO BOHN
ADUBAÇÃO NITROGENADA NA PRODUÇÃO DE BIOMASSA E SEMENTES DE AZEVÉM EM ROTAÇÃO COM SOJA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Ciência e Tecnologia de Sementes.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Carlos Eduardo da Silva Pedroso
PELOTAS, RS 2014.
ALBERTO BOHN
ADUBAÇÃO NITROGENADA NA PRODUÇÃO DE BIOMASSA E SEMENTES DE AZEVÉM EM ROTAÇÃO COM SOJA
Dissertação aprovada, como requisito parcial, para obtenção do grau de Mestre em Ciência e Tecnologia de Sementes no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas.
Data da defesa: 17/03/2014
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Eduardo da Silva Pedroso (Orientador).
_______________________________________________________________ Prof. Dr. Manoel de Souza Maia.
_______________________________________________________________ Prof. Dr. Silmar Teichert Peske.
_______________________________________________________________ Prof. Dr. Otoniel Geter Lauz Ferreira.
Dedico esta dissertação aos meus pais, Carlitos Bohn e Maria Jacinta Angst Bohn, que sempre me apoiaram nos momentos mais dificeis e também as minhas irmãs Marise e seu namorado Alencar e Ligia Bohn juntamente com seu marido Cláudio, seu filho Leonel e aos demais familiares que sempre me apoiaram. A todos meus amigos que fiz durante essa caminhada e que estiveram do meu lado me incentivando, o meu muito obrigado.
Agradecimentos À família, pelo amor imensurável, pelo apoio, por estarem sempre presentes mesmo a quilômetros de distância. Aos meus pais, Carlitos e Maria Jacinta, pelos valores que formaram nosso caráter, pela educação, por realizarem tudo que estava ao seu alcance e até mesmo o que não estava permitindo chegar até aqui. As minhas irmãs, Ligia, seu marido Cláudio e seu filho Leonel, a Marise e seu namorado Alencar, minhas verdadeiras amigas e confidentes e com quem sempre posso contar, e aos demais familiares que sempre me apoiaram. Aos amigos e colegas pela torcida, compreensão e cumplicidade, pelas experiências de aprendizado que adquirimos juntos, especialmente aos colegas Alex Leal, Carolina Terra Borges, César Iván Suárez Castellanos, Cristiane Deuner, Elisa Souza Lemes, Flávio Reina Abib, Geliandro Anhaia Rigo, Mariana Peil da Rosa, Mateus Olivo, Mateus Pino, Raphael Dutra Pereira, Ricardo Pereira da Cunha, Sandro de Oliveira e Winícius Menegaz. Também quero agradecer aos meus estagiários Anna dos Santos Suñé, Camile Lenz Bertão, Igor da Silva Martins e Marcelo Medeiros. Ao professor, Carlos Eduardo da Silva Pedroso, meu orientador, durante esses dois anos, pela disponibilidade, dedicação, competência e amizade, pelo apoio de sempre. Ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes da faculdade de Agronomia Eliseu Maciel no Departamento de Fitotecnia pela qualidade da informação transmitida e pelo preparo dos profissionais para o mercado de trabalho, apesar das dificuldades sempre está buscando o melhor. Aos demais professores Francisco Amaral Villela (Coordenador do Curso de Pós-graduação), professores Antônio Carlos Souza de Albuquerque Barros, Luiz Osmar Braga Schuch e Silmar Teichert Peske pelos conselhos, sabedoria, motivação e paciência. A todas as pessoas que me apoiaram durante o Mestrado, pela parceria, amizade e pelos momentos de alegria e tristeza que passamos juntos. Também pelos amigos e pessoas que conheci durante esse período, pelas rodas de mate e conversa no final de tarde, churrascos e festas. Pelo Caio e o Mateus Olivo que moraram comigo durante um bom tempo. Agradeço a todos. Muito obrigado.
Resumo
BOHN, Alberto. Adubação nitrogenada na produção de biomassa e sementes de azevém em rotação com soja. 2014. 58 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes. Universidade Federal de Pelotas - UFPel. Pelotas - RS.
O experimento foi conduzido na Estação Experimental da Embrapa Clima Temperado/Terras Baixas e no Laboratório de Análises de Sementes do departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Pelotas - UFPel. Foram avaliadas diferentes densidades de sementes no solo (T1 - 777,70 Kg.ha-1; T2 - 736,63 Kg.ha-1; T3 - 624,59 Kg.ha-1 e T4 - 234,42 Kg.ha-1) de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) em sucessão a cultura da soja. Ocorreu a colheita de forragem em duas ocasiões e, após a segunda desfolha, utilizada diferentes doses de ureia (zero; 45; 90 e 135 kg.ha-1). As maiores densidades proporcionaram mais rápido estabelecimento da cultura e maior massa de forragem colhida, tanto no primeiro, quanto no segundo corte. Neste sentido, a partir da aplicação das diferentes doses de ureia verificou-se, apenas, efeito significativo do nitrogênio sobre o rendimento de sementes, de modo que o acréscimo de uma unidade de ureia aumentou 1,7 unidades de sementes. Através do clorofilômetro foi possível predizer o rendimento de sementes pelos níveis de SPAD, quando comparadas antes do florescimento. Previamente a colheita da semente os modelos de regressão entre SPAD e níveis de nitrogênio não foram significativos. A qualidade fisiológica da semente não influenciada pelos fatores avaliados.
Palavras-chave: (Lolium multiflorum Lam.); características estruturais; qualidade fisiológica da semente; relação C/N; SPAD; densidade de sementes.
Abstract
BOHN, Alberto. Biomass production of the nitrogen fertilization and ryegrass seeds in rotation of the soybean crop. 2014. 58 p. Dissertation (Master Degree). Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes. Universidade Federal de Pelotas - UFPel. Pelotas - RS.
The experiment was conducted at the Experimental Station of Embrapa Clima Temperado/Lowlands and Seed Analysis Laboratory of the Department of Plant Science, UFPel. Different densities in the soil seeds (T1 - 777.70 kg.ha-1; T2 736.63 kg.ha-1; T3 - 624.59 kg.ha-1 and T4 - 234.42 kg.ha-1) were tested in annual ryegrass (Lolium multiflorum Lam.) in succession to soybean crop. Forage harvesting has occurred twice and after the second defoliation, were tested different levels of urea (null; 45; 90 and 135 kg.ha -1). The highest densities produced more rapid crop establishment and greater mass of harvested forage, both at first and in the second cut. In this sense, from the application of different doses of urea was found, only significant effect of nitrogen on seed yield, so the addition of a unit of urea increased by 1.7 units seeds. Occurred relationship between levels of SPAD when the assessment was conducted before flowering. Prior to harvest seed regression models between SPAD and urea levels were not significant. The seed physiologic quality was not affected by the levels of in the soil seeds and urea.
Key-words: (Lolium multiflorum Lam.); structural features; seed physiologic quality; C/N ratio; SPAD; seeds of densities.
Lista de Figuras
ARTIGO I ....................................................................................................... ..18 Figura 1 - Número de folhas senescidas por perfilho ao primeiro corte ........ 28 Figura 2 - Resíduo final em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém.................................................................................... 30 Figura 3 - Matéria seca total em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém............................................................................... 31 Figura 4 - Proteína Bruta em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém.................................................................................... 32 Figura 5 - Relação C/N em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém.................................................................................... 33 ARTIGO II ........................................................................................................ 36 Figura 1 - Número de perfilhos em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém. ............................................................. 44 Figura 2 - Número de perfilhos férteis em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém. ............................................................. 45 Figura 3 - Comprimento dos perfilhos em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém................................................................46 Figura 4 - Número de sementes por planta em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém ........................................................ 47 Figura 5 - Rendimento de sementes em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém .............................................................. 49 Figura 6 - SPAD em função da aplicação de ureia em cobertura na pastagem de azevém. ................................................................................................... 50 Figura 7 - SPAD em função do rendimento de sementes de azevém. ......... 51
Lista de Tabelas ARTIGO I ......................................................................................................... 18 Tabela 1 - Variáveis meteorológicas observadas no período experimental .. 24 Tabela 2 - Altura da planta e massa de forragem colhida (kg.MSha-1) ......... 25 Tabela 3 - Número de folhas vivas e perfilhos, comprimento de perfilhos e folhas completamente expandidas. .............................................................. 28 ARTIGO II ........................................................................................................ 36 Tabela 1 - Variáveis meteorológicas observadas no período experimental...43
Sumário
INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................... 12 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 13 ARTIGO I ......................................................................................................... 18 Resumo ........................................................................................................ 18 Abstract......................................................................................................... 19 Introdução ..................................................................................................... 20 Material e Métodos ....................................................................................... 21 Resultados e Discussão ............................................................................... 24 Conclusão ..................................................................................................... 33 Referências................................................................................................... 34 ARTIGO II ........................................................................................................ 36 Resumo ........................................................................................................ 36 Abstract......................................................................................................... 37 Introdução ..................................................................................................... 38 Material e Métodos ....................................................................................... 39 Resultados e Discussão ............................................................................... 43 Conclusão ..................................................................................................... 52 Referências................................................................................................... 52 CONCLUSÃO GERAL ..................................................................................... 55 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 55
12 Introdução Geral
O azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) é uma planta forrageira, rústica, vigorosa, com boa capacidade de perfilhamento, desenvolve-se preferencialmente em solos argilosos de textura média e ligeiramente úmidos. É uma Poaceae cespitosa, composta por colmos cilíndricos e eretos com nós e entrenós de 30 a 60 cm de altura, geralmente. Folhas com aurículas desenvolvidas, espiguetas que possuem mais de 10 antécios e lenha com arista apical. A inflorescência é uma espiga dística com duas fileiras de espiguetas arranjadas alternadamente. A semente é uma cariopse com peso de mil sementes médio entre 2,0 a 2,5 gramas em variedades diploides e 3,0 a 4,5 gramas nas variedades tetraploides (BOLDRINI, 2005). Apresenta alta produção de sementes com dormência que proporcionam o retorno da pastagem no ano seguinte pela densidade de sementes no solo. Esta condição possibilita a rápida germinação da semente tão logo ocorram condições favoráveis. Por ser uma espécie adaptada a baixas temperaturas, desenvolve-se do outono à primavera, sendo desejável sob o aspecto forrageiro, pois a cultura estará apta ao pastejo mais rapidamente, o que possibilita melhor produção animal (PIANA, 1986; GALLI, 2005). No entanto, por diversas vezes a condução desta espécie não ocorre com sucesso por condições não adequadas de fertilidade do solo, dificultando o desenvolvimento das plantas. A urgência de utilização da pastagem pela deficiente alimentação oferecida aos animais na estação fria, em função do predomínio de espécies espontâneas, faz com que a pastagem seja utilizada prematuramente (GIERUS, et al., 2012). Neste contexto, a integração agricultura com a pecuária permite a melhoria da fertilidade do solo, especialmente pela adubação residual que permite com que a cultura subsequente se beneficie, através da mudança ambiental promovida com a presença de plantas bastante distintas e dos animais (BARBOSA, 2007; FLORES, et al., 2008). Destaca-se neste sistema a excelente qualidade forrageira e alelopática que a palhada exerce sobre as plantas invasoras da soja, além da já citada alta capacidade do retorno da cultura no ano seguinte. Após a queda da semente
13 no solo e da semeadura direta da soja, nas primeiras noites mais frias do verão (fevereiro), começa a significativa germinação da semente de azevém (FENNER, 2005). Como se trata de uma planta altamente sensível à sombra aliada a queda de folhas da soja à medida que se aproxima o final do ciclo, ocorre o rápido estabelecimento do azevém e utilização da pastagem após a colheita da soja (SAIBRO & SILVA 1999). Todavia, a utilização de azevém anual em sucessão com soja esta diminuindo gradativamente, devido a cultivares da espécie (azevém comum) ter desenvolvido a resistência ao (gliphosato). Entretanto, as instituições de pesquisa (públicas e privadas) estão desenvolvendo cultivares visando à suscetibilidade ao herbicida e ao mesmo tempo ter uma boa qualidade forrageira, fornecendo palhada para uma boa proteção ao solo e permitir a rotação com as culturas de verão (MONTARDO, et al., 2010; BERRY, 2014). Contudo, dúvidas permanecem a respeito da integração desta cultivar com a lavoura, especialmente em solos hidromórficos. Por ser um solo com limitações de drenagem, apresentando problemas de encharcamento em condições pluviométricas maiores e ressecamento muito rápido em períodos secos, o aumento do banco de sementes no solo pode ser favorável ao posterior estabelecimento da pastagem, assim como a adubação nitrogenada, também pode ser fundamental para a maior produção de forragem e de sementes (GISLUM, 2009). O objetivo do estudo é avaliar o efeito da densidade de sementes depositadas no solo, de azevém anual, da cultivar BRS Ponteio em solos hidromórficos e verificar diferentes níveis de adubação nitrogenada em cobertura, aproximadamente na diferenciação floral, na produção de forragem, bem como na produção de sementes.
Revisão de Literatura Nos últimos anos o Brasil está aumentando sua capacidade de produção, principalmente soja e milho, possuindo grandes extensões de terra e muitas ainda não exploradas (OLIVEIRA et al., 2001).
14 Com a utilização de novas tecnologias e o desenvolvimento de cultivares com alto potencial produtivo a safra 2012/2013, alcançou uma produção recorde
segundo
levantamentos
da
CONAB,
(2013)
alavancando
as
exportações e aumentando o poder aquisitivo dos produtores que investem no setor. Dentro do contexto agrícola a pecuária ocupa um espaço relativo, no entanto os cuidados para que o manejo da pastagem não comprometa o sucesso de produtividade da lavoura devem ser planejados. Uma pastagem mal manejada tem a produção de forragem e sementes comprometida, devido à diminuição dos pontos de crescimento, pelos perfilhos decapitados, diminuindo assim o potencial fotossintético utilizado pela planta para transformar energia luminosa em alimento (MEDEIROS & NABINGER, 2001). No caso de uma pastagem bem manejada, proporciona um melhor aproveitamento do solo, diversifica a produção, que pode ser convertida em renda ao produtor e ainda fornece as condições adequadas para reduzir os riscos de compactação, além de favorecer a cultura subsequente (SILVA & NASCIMENTO, 2007). O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é uma forrageira amplamente utilizada na formação de palhada em cobertura do solo no período de inverno. Possui boa aceitabilidade, elevados teores de proteína e digestibilidade, além de uma equilibrada composição mineral e fornecimento de alimento para os animais (PEDROSO, 2004). Possui concomitantemente alta produção de forragem e capacidade de rebrote, resistência ao excesso de umidade, suportando lotações elevadas com a capacidade de produção de 2,0 a 6,0 toneladas de MS.ha-1, chegando a alguns casos em 10,0 toneladas de MS.ha -1 (BARBOSA, 2007). Embora tolere bem a acidez do solo é mais exigente em fertilidade e umidade que a aveia preta (Avena strigosa Schreb.), por possuir raizes muito superficiais (5,0 a 15,0 cm), aumentando a sensibilidade ao stress hídrico. A temperatura de crescimento ideal fica em torno de 18 a 25ºC, paralisando o crescimento com temperaturas abaixo de 5,0ºC, com o desenvolvimento prejudicado em casos de ocorrência de geada (OLIVEIRA et al., 2001). O período de florescimento e formação das sementes se dá no final da primavera, sendo que após a maturidade fisiológica das sementes, caem ao
15 solo, permanecendo dormentes até o final do verão, quando recebem um estímulo para superar a dormência (frio), na sua maioria provenientes do banco de sementes depositadas no solo no ano anterior a ressemeadura, ou através de sementes persistentes que caíram no solo durante os cultivos anteriores, dependente da prática de manejo adotada (MAIA, 2005). A cultura pode ser consorciada com (Poaceae e Fabaceae), esta última pode fornecer o nitrogênio fixado pela atmosfera para o azevém, reduzindo os custos de consorciação e aplicação de nitrogênio via adubação foliar, além de proporcionar a palhada para a cultura que será implantada (PIANA, 1986; GALLI, 2005). Como o Rio Grande do Sul apresenta um aumento expressivo de implantação de lavouras de verão, no inverno estão sendo usados sistemas de consórcio de aveia preta e azevém, servindo como cobertura do solo, além do fornecimento de alimento para os animais no inverno quando diminui a oferta. Esse sistema de consórcio oferece ao produtor ou pecuarista mais uma alternativa para geração de renda da propriedade, porém o principal entrave da adoção desse sistema é o temor referente à compactação do solo, influenciando negativamente nas culturas de verão (MORAES et al., 2002). No entanto, Flores et al., (2008), demostrou que quando a pastagem for devidamente manejada, não oferece risco a porosidade e densidade do solo, rotacionando os piquetes com altura residual entre 10 a 40 cm. Segundo os mesmos autores o Sistema de Integração Lavoura-pecuária juntamente com a produção de grãos ou sementes proporciona uma otimização do uso da lavoura, devendo os animais serem retirados a tempo para não comprometer a produção. Quanto ao número de desfolhas, a opinião diverge entre os autores, mas todos concordam que o momento do corte (pastejo) deve coincidir com o Índice de área Foliar crítico (IAF crítico) e o máximo de Índice de Luminosidade (IL) das folhas, quando o IL atingir 95% do IAF crítico (BARBOSA et al., 2002). Há um consenso entre os autores, que dizem que o sistema de pastoreio passa pelo melhor aproveitamento da luz, pois a energia luminosa é transformada em compostos orgânicos através da fotossíntese que resulta em um maior acúmulo de biomassa. Porém um excessivo sombreamento de folhas poderá comprometer a qualidade da forragem, devido à diminuição da
16 produtividade de perfilhos, aumentando o alongamento dos colmos. A estratégia de melhor interceptação da energia luminosa deve ser adotada para todas as culturas, pois quando a planta absorve melhor a radiação solar, maior será sua produtividade, seja para forragem, sementes ou grãos (CÂNDIDO, 2006; PEDROSO et al., 2009). O manejo de cortes reduz a população de perfilhos férteis, aumenta os perfilhos vegetativos e, também, retarda o acamamento das plantas e, assim, pode possibilitar maior produção de sementes. No entanto, o manejo de desfolha normalmente é referenciado pelo calendário Juliano, porém deve-se tomar cuidado com interferências climáticas ou diferentes estádios fenológicos (YOUNG, 1996b; MEDEIROS & NABINGER, 2001). De acordo com PEDROSO et al.(2004) a pastagem de azevém pode estar disponível aos animais após 60 dias após a semeadura, quando a planta já possui reserva suficiente para tolerar o pastejo, dependendo muito das condições climáticas, durante este período a cultura poderá alcançar uma produção de massa seca entre 1500 a 1800 kg.ha-¹, chegando a altura do dossel entre 15 a 20cm. Em comparação com a aveia preta o pastejo poderá ser dado dos 30 a 40 dias após a semeadura e com o período de utilização podendo variar de 30 a 80 dias, dependendo também das condições climáticas, a oferta de forragem pode ser proporcionada aos animais por um largo período suprindo a necessidade de oferta de alimento no inverno (KICHEL, 2000). Após o pastejo as condições de recuperação da cultura dependem da área foliar remanescente (abaixo de 6,0 cm é prejudicial à cultura), para que possa acumular reserva suficiente e estimular os pontos de crescimento (meristemas). Em condições muito severas é preciso antecipar a retirada dos animais para não prejudicar a produção de massa seca (forragem) para a cobertura do solo ou a produção de sementes (PONTES et al., 2003). Para Gislum et al., (2009), a principal fonte de determinação do rendimento de sementes e produção de biomassa em (Poaceae) depende da utilização e aproveitamento do nitrogênio fornecido a cultura. A aplicação de nitrogênio interfere na produção de perfilhos vegetativos e férteis e produção de sementes. Porém se o manejo for dado incorretamente na pastagem, após o período de frio, no início da primavera, pode afetar negativamente o peso de
17 mil sementes, assim como o rendimento da cultura (PARK et al., 1987; AHRENS & OLIVEIRA, 1997). De acordo com Barth Neto et al., (2014) o banco de sementes de azevém no solo favorece a integração lavoura-pecuária, avaliando métodos de rotação de cultura com soja e milho no verão e pastagem no inverno, especialmente
pela
precoce
produção
de
perfilhos
vegetativos
e
estabelecimento da pastagem. O mesmo autor ressalva que a remoção excessiva
dos
meristemas
apicais
provoca
o
comprometimento
do
estabelecimento da pastagem para o ano subsequente. Por outro lado, o pastejo moderado garante a produção de sementes adequada para o ano seguinte, diminui os problemas de compactação do solo, aumenta a produtividade das culturas de verão, permitindo que os animais aumentem de peso, mesmo no inverno. Como a maturação do azevém é desuniforme, é recomendado realizar a colheita após a maturidade fisiológica, com a porcentagem de umidade chegar a 35% (AHRENS & OLIVEIRA, 1997). A colheita tardia da semente, com umidade próxima a 20%, pode ser uma explicação para as produções de sementes serem tão baixas e chegar a 400 kg.ha-1, apesar de ter relatos em campos experimentais de produtividades superiores a 1000 kg.ha-1 quando colhidas com a umidade adequada (BAZZIGALUPI, 1982).
18 ARTIGO I Produção de biomassa de azevém a partir densidade de sementes no solo em integração com a soja* Resumo - O experimento foi realizado na Estação Experimental da Embrapa Clima Temperado/Terras Baixas. Em 29/04/2011 ocorreu à semeadura do azevém (Lolium multiflorum Lam.), com a densidade de 25 kg.ha-1 de sementes puras viáveis. A pastagem foi manejada com diferentes desfolhas, o que propiciou diferentes densidades de sementes no solo, respectivamente, sem corte (T1) - 777,70 kg.ha-1, um corte (T2) 736,63 kg.ha-1 - durante o estádio vegetativo, dois cortes (T3) - 624,59 kg.ha-1 - no estádio vegetativo e no estádio de pré-florescimento e três cortes (T4) - 234,42 kg.ha-1 durante o estádio vegetativo, no estádio de pré-florescimento e no estádio de florescimento pleno. Logo após a degrana da semente do azevém foi implantada a cultura da soja em semeadura direta na totalidade da área, apresentando rendimento de grãos semelhante sob palhada resultante de todos os tratamentos. A germinação do azevém ocorreu pela densidade de sementes no solo, sendo que o estabelecimento pleno ocorreu em meados de julho de 2012. Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo verificar o estabelecimento da pastagem, a colheita de forragem (dois cortes) e o resíduo final de azevém anual a partir da densidade de sementes no solo em função de diferentes números de desfolhas realizadas no ano anterior. Para favorecer a palhada e a relação C/N ao final do ciclo produtivo do azevém, foram conduzidos, após o segundo corte, os níveis de adubação (zero; 45; 90 e 135 kg.ha-1). As maiores densidades propiciaram mais rápido estabelecimento da cultura e maior massa de forragem colhida, tanto no primeiro, quanto no segundo corte. Após o segundo corte ocorreu uniformização da estrutura da vegetação verificando-se efeito positivo da aplicação de nitrogênio sobre a produção de palhada para o resíduo final e produtividade de matéria seca total da cultura. O teor de proteína bruta foi favorecido com o acréscimo de nitrogênio e a relação C/N diminuiu linearmente com o aumento da dose de ureia. Palavras-chave: (Lolium multiflorum Lam.), características estruturais, relação C/N, estabelecimento, produção de matéria seca.
*Sob normas para publicação na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira.
19 Biomass production of ryegrass density in the soil seeds in integration with soybean crop. Abstract - The experiment was conducted at the Experimental Station of Embrapa Clima Temperado/Lowlands. Occurred sowing ryegrass on 04/29/2011 (Lolium multiflorum Lam.), with the density of 25 kg.ha-1 of pure viable seeds. The pasture was managed with different number of cuts, and the production densities in the soil of seeds, respectively, blunt (T1) = 777.70 kg.ha-1, a cut (T2) = 736.63 kg.ha-1 - during the vegetative stage, two cuts (T3) = 624.59 kg.ha-1 - the vegetative stage and at the preflowering and three cuts (T4) = 234.42 kg.ha-1 - during the vegetative stage, the stage of pre-flowering and the flowering stage. Soon after the degeneration of the seed was planted soybean crop under total area, which presented a same yield under straw all cutting treatments. Germination of ryegrass occurred through density in the soil seeds, and the full establishment occurred in mid-July 2012. In this sense, the present study aimed to verify the establishment of pasture, forage harvest (two cuts) and the final residue of annual ryegrass from natural reseeding obtained for different numbers of defoliation during the previous year. To promote the straw and C/N ratio at the end of the production cycle of ryegrass were tested after the second cut, fertilization levels (null; 45; 90 and 135 kg.ha-1). The highest densities produced more rapid crop establishment and greater mass of harvested forage, both at first and the second cut. After the second cut occurred uniformity of vegetation structure verifying positive effect of nitrogen application on the production of straw for the final residue yield and total dry matter of crop. The crude protein content was favored with the addition of nitrogen and C/N ratio decreased linearly with increasing dose of urea.
Key-words - (Lolium multiflorum Lam.), structural characteristics, C/N ratio, establishment, dry matter production.
20 Introdução O azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) é utilizado comumente como planta de cobertura para a cultura da soja. Entretanto a espécie pode ser explorada para a produção de forragem e, ainda, fornecer boa cobertura vegetal para a semeadura direta das culturas de verão (MAIA, 2005). De modo geral para minimizar impactos na produção de sementes e na formação de palhada, as desfolhas para a exploração da pastagem, ocorrem durante o período vegetativo. Porém quando o objetivo maior é a colheita de forragem e apenas a produção de sementes suficiente para a ressemeadura natural, especula-se que as desfolhas possam ocorrer até mesmo durante o período reprodutivo, sem comprometer a formação da pastagem no ano seguinte (MAIA, 2005; CUNHA, 2013). A densidade de sementes muito superior à recomendada para a implantação da pastagem pode ocasionar intensa competição entre plantas, formação de perfilhos pouco desenvolvidos, por conseguinte, um inadequado estabelecimento da pastagem. Por outro lado, reduzida ressemeadura natural pode resultar em número insuficiente de plantas e demasiada participação de espécies de baixo valor forrageiro no dossel da pastagem (GIERUS, et al., 2012). Com a valorização econômica e a necessidade de rotação de culturas, a soja está sendo cada vez mais cultivada em solos hidromórficos. Esses solos normalmente apresentam restrições em termos de teor de matéria orgânica e argila, o que limita as condições de fertilidade e, especialmente, os atributos físicos do mesmo. Em função das condições adversas, maiores densidades de sementes no solo, podem ser favoráveis ao estabelecimento da pastagem. Todavia, em caso de excesso ou insuficiente densidade de sementes para o estabelecimento da pastagem, o manejo de desfolha e/ou a adubação nitrogenada poderiam proporcionar, em função da plasticidade fenotípica das plantas,
21 uma adequada colheita de forragem e formação de palhada para o cultivo de espécies de estação quente. Neste sentido o presente estudo teve por objetivo verificar o efeito do número de desfolhas no azevém em integração com soja, em solos hidromórficos, na regeneração da pastagem por ressemeadura natural pela densidade de sementes no solo, submetida a duas desfolhas e, ainda, a resposta em função da adubação nitrogenada. Material e métodos A área experimental localiza-se no município de Capão do Leão-RS (31°80’S e 52°40’W, altitude de 13m), na Embrapa Clima Temperado/Terras Baixas. O solo é classificado como planossolo háplico eutrófico solódico, submetido ao preparo convencional (aração e duas gradagens). A semeadura da pastagem foi realizada em 29/04/2011, utilizando-se a cultivar de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.), BRS Ponteio. A semeadura foi feita em linha, com densidade de 25 kg.ha-1 de sementes puras viáveis e espaçamento de 20 cm entre linhas. A adubação de base e cobertura foi realizada de acordo com as exigências da cultura. Para eliminação da vegetação espontânea foram feitas duas aplicações do herbicida Atanor (glifosato), uma antes e outra após a semeadura, bem como do inseticida Klap (fipronil), para o controle de insetos. A área experimental de 1536 m2 era composta de 16 parcelas, de 88 m2 cada. A densidade de sementes no solo foi de 777,70 kg.ha-1 para as parcelas que não sofreram desfolhas no ano anterior - T1; de 736,63 kg.ha-1 para as parcelas que tiveram apenas uma desfolha no ano anterior - T2; de 624,59 kg.ha-1 para duas desfolhas no ano anterior - T3; e de 234,42 kg.ha-1 para as parcelas com três desfolhas no ano anterior T4, sem diferença de qualidade fisiológica das sementes. Portanto, foram quatro níveis de desfolha e quatro repetições em um delineamento de blocos ao acaso.
22 Logo após a colheita de sementes de azevém, ocorreu à semeadura da soja em 12/12/2011, de forma direta sobre a palhada do azevém, conforme Indicações Técnicas para a Cultura da Soja no Rio Grande do Sul e Santa Catarina - 2011/2012 e 2012/2013(300.000 plantas.ha-1), com um rendimento de grãos semelhante sob palhada para todos os tratamentos adotados. A emergência do azevém ocorreu em meados de fevereiro, e o estabelecimento pleno da pastagem em julho - 07/07/2012, momento em que foi feita a primeira adubação de cobertura (120 kg.ha-1 de ureia) para favorecer o perfilhamento do azevém, oriundo do banco de sementes no solo. A colheita da forragem ocorreu em dois momentos. O primeiro corte foi realizado em 06/08/2012 com altura das plantas de aproximadamente entre 10 e 15 cm e o segundo corte em 26/09/2012 quando as plantas estavam, aproximadamente, com alturas entre 20 e 30cm. A altura residual – resultante dos cortes - foi de, aproximadamente, 5cm. Foram observadas as seguintes variáveis resposta:
Forragem colhida: foram coletadas quatro amostras por parcela (20 x 50 cm), conforme as alturas de corte mencionadas anteriormente, as quais foram secas em estufa (60°C por 72h);
As seguintes características estruturais foram avaliadas em oito plantas por unidade experimental nas condições pré e pós-corte:
Altura do dossel, com o auxílio de régua graduada;
Comprimento das folhas completamente expandidas (CE) com o auxílio de régua graduada, o comprimento da fração verde das lâminas foliares, sem a parte senescente, a partir das respectivas lígulas;
Número de folhas completamente senescidas por perfilho;
Número de folhas vivas por perfilho;
23
Número de perfilhos por planta;
Comprimento dos perfilhos, com as folhas esticadas desde a base da planta.
Após as desfolhas para a colheita de forragem procedeu-se a segunda aplicação de nitrogênio em 02/10/2012, (em função da temperatura e disponibilidade hídrica do solo, favoráveis ao desenvolvimento da forrageira - tabela 1). As parcelas, desde então, foram subdivididas em quatro partes iguais (16 m²), para o teste de diferentes doses de ureia em cobertura (zero = testemunha, 45, 90 e 135 kg.ha-1 de ureia). Após a aplicação da ureia e da colheita de sementes de azevém, foram determinadas as seguintes variáveis:
Resíduo final - coletadas quatro amostras por subparcela rente ao solo (50 x 50 cm), secada em estufa (60°C por 72h), após pesadas na balança de precisão;
Proteína bruta (PB), determinada pelo método Kjedhal descrito por Bremner (1965), a partir das amostras anteriormente descritas.
Produção de matéria seca (kg.ha-1), forragem colhida, somada ao resíduo;
Relação C/N, determinada pelo método Kjedhal, descrito por Bremner (1965), a partir das amostras do resíduo, descritas anteriormente, as quais foram moídas;
As variáveis meteorológicas observadas no período experimental foram obtidas na Estação Agrometeorológica da Universidade Federal de Pelotas localizada ao lado da área experimental, estão representadas na (tabela 1).
24 Tabela 1 - Variáveis meteorológicas observadas no período experimental. Norma Norma Mês Normal Mês Mês l l Elemento Julho Agosto Setembro 10,4 12,3 16,4 13,4 16,2 14,9 Temperatura média (ºC) 16,8 17,5 22,9 18,6 21,3 19,6 Temperatura máxima (ºC) 5,6 8,6 12,6 9,5 12,3 11,2 Temperatura mínima (ºC) 138,5 146,0 103,1 117,4 115,3 125,5 Chuva registrada (mm) 9,0 11,4 12,0 9,7 10,0 10,8 Dias de precipitação 81,4 84,9 84,1 83,2 81,1 81,8 Umidade relativa do ar (%) Índice de radiação solar 221,7 190,0 263,3 238,8 309,9 299,2 (Cal.cm-2.dia-1) 10,0 5,7 4,7 2,7 Número de dias de geadas 8-9-12-18-19-2025-26-28-30 Datas das geadas Fonte: Estação Agrometeorológica da Universidade Federal de Pelotas no ano de 2012.
Mês
Normal
Outubro 19,2 17,5 23,6 22,2 15,9 13,6 106,5 100,7 9,0 10,6 81,2 79,5 338,5
385,9
-
0,7 -
Os dados foram submetidos à análise de variância e a comparação de médias pelo teste Tukey (P