Leia a fábula original de La Fontaine A cigarra e a formiga. Depois, comparea com a recriação de José Paulo Paes.
A Cigarra e a Formiga
A cigarra, sem pensar em guardar,
a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então,sem provisão na despensa,
como saída, ela pensaem recorrer a uma amiga: sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,algum grão, qualquer bocado,até o bom tempo voltar.“Antes de agosto chegar,pode estar certa a senhora:pago com juros, sem mora.”Obsequiosa, certamente,
a formiga não seria.
“Que fizeste até outro dia?”perguntou à imprevidente.“Eu cantava, sim, Senhora,noite e dia, sem tristeza.”“Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança agora...”La FontaineSem Barra
Enquanto a formiga
Carrega comida
Para o formigueiro,
A cigarra canta,
Canta o dia inteiro.
A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.
Mas sem a cantiga
da cigarra
que distrai da fadiga,
seria uma barra
o trabalho da formigaJosé Paulo Paes
Textos podem dialogar entre si, em processo de intertextualidade que pode revelar continuidade ou ruptura na abordagem temática.
O poema de José Paulo Paes é criado a partir da fábula original de La Fontaine e pretende:
Ratificar os objetivos da fábula no sentido de valorizar aqueles que trabalham incansavelmente e criticar a ociosidade.
Confirmar a mensagem trazida pela fábula, que pretende minimizar a importância do trabalho, valorizando também o lazer.
Revalorizar as ações da formiga, através de um componente lúdico e prazeroso, representado pela cantoria da cigarra.
Ironizar a atitude da cigarra, que tenta justificar a sua pouca responsabilidade com a importância de atividades de natureza artística.
Recuperar a figura da cigarra, atribuindo-lhe a função de, pela canção, tornar menos desagradável a faina diária da formiga.