O século 21 inicia imerso em novas tecnologias, uma revolução que segue transformando as nossas vidas, hábitos, trabalho e jeito de se expressar. Um dos fatores de fácil percepção sobre as redes sociais, trazidas pelas novas tecnologias, é a exposição da vida pessoal, das viagens, do trabalho e de tantos outros aspectos da vida cotidiana. Pensando nisso, leia o texto “Poema em linha reta”, de Fernando Pessoa:
"Nunca conheci quem tivesse levado porada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza".
Após ler o poema da primeira metade do século 20, reflita sobre a relação que o eu-lírico faz entre ele e as outras pessoas e compare com o fenômeno da exposição nas redes sociais e a vida real e cotidiana das pessoas no século 21 e responda: a necessidade de mostrar uma autoimagem positiva e bonita para os outros é um fenômeno recente? Apresente argumentos que justifiquem sua resposta.
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A necessidade de mostrar uma autoimagem positiva e bonita para os outros não é um fenômeno recente, pois essa preocupação com a imagem pessoal tem raízes históricas e sociais que antecedem o século 21 e as redes sociais.
Preocupação com a Autoimagem na História
No poema de Fernando Pessoa, o eu-lírico se sente inadequado em relação aos outros, destacando suas falhas e fragilidades enquanto exalta os demais como "príncipes" que nunca cometeram atos ridículos ou sofreram enxovalhos.
Essa comparação entre o eu-lírico e os outros pode ser relacionada ao fenômeno da exposição nas redes sociais, onde as pessoas frequentemente compartilham apenas suas melhores versões e momentos, buscando criar uma imagem positiva perante os outros.
A necessidade de mostrar uma autoimagem positiva para ser bem aceito socialmente é uma questão que tem raízes históricas e sociais. Desde tempos antigos, os indivíduos procuram se destacar e serem admirados por suas qualidades e virtudes.
Para melhor entendermos como a preocupação com a imagem pessoal ocorre desde muito antes da chegada do século 21, podemos destacar alguns pontos principais:
História da sociedade:
Cultura e normas sociais:
História da literatura e arte:
Fenômenos pré-redes sociais:
Sociedade e aparência física:
Portanto, a necessidade de mostrar uma autoimagem positiva para os outros é uma preocupação que transcende a era digital e as redes sociais, sendo uma questão presente desde tempos antigos e influenciada por diversos fatores culturais, sociais e históricos.
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