Preciso saber um quadro brasileiro para resignificar (para o brasil atual de hoje em dia)
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RicciardoCastro
Ou da Venezuela do que o ferro que extraem de seu próprio subsolo.”
O trecho poderia pertencer a qualquer jornal brasileiro da atualidade, mas foi retirado da antológica obra de Eduardo Galeano, “As Veias Abertas da América Latina”, clássico publicado em 1971.
O uruguaio segue, em sua análise, lembrando a trágica queda de Getúlio Vargas, o qual escolhera desrespeitar a imposição americana firmada em acordo militar que proibia o Brasil de vender matérias-primas estratégicas para países socialistas, vendendo ferro para a Polônia e a Tchecoslováquia a preços mais altos que os que conseguia com os EUA em 53 e 54.
Em 1957, a americana Hanna Mining Co. compraria grande parte da mineradora britânica que explorava o Vale do Paraopeba, em Minas Gerais, onde, à época, se encontrava a maior concentração de ferro do mundo. Mas, apesar do grande negócio, a empresa não estava legalmente habilitada para explorar a riqueza cobiçada. A mineradora, porém, contava em seus quadros com pessoas que integravam o alto escalão do Estado brasileiro.
Jânio Quadros, em 21 de agosto de 1961, tentaria se defender da cobiça das empresas americanas, anulando as autorizações ilegais que favoreciam a Hanna e restituindo as jazidas de ferro à reserva nacional. Quatro dias depois, porém, seria obrigado a renunciar após pressão de ministros militares. Mas a Campanha da Legalidade, liderada por Brizola, frearia o anseio militar e americano ao colocar o vice João Goulart no poder.
Jango tentaria pôr em prática o ataque fatal a Hanna, a partir de julho de 1962, com um plano de estabelecer um entreposto de minerais no Adriático para abastecer europeus capitalistas e socialistas. Tal objetivo somou-se a outras medidas, como a restrição à drenagem dos lucros de empresas estrangeiras, criando uma situação cada vez mais explosiva no país que culminaria no golpe militar de 1964.
A revista Fortune consideraria o golpe como um “resgate de último minuto pelo Primeiro da Cavalaria” para a Hanna. Já o Washington Star diria que “um bom e velho golpe de estado, no velho estilo, dos líderes militares conservadores bem pode servir aos melhores interesses de todas as Américas”.
Mas a história logo mostraria que nem todas as Américas sairiam satisfeitas.
Logo após o golpe, homens da Hannah ocuparam a vice-presidência do Brasil e mais três ministérios. Não tardaria para que a mineradora americana tivesse seus desejos atendidos. Em 24 de dezembro de 1964, quando o corpo da democracia ainda esfriava, a Hanna ganharia um decreto que a autorizava a explorar o ferro de Paraopeba.
E a US Steel não poderia ficar atrás. A outra mineradora americana se associou à Vale do Rio Doce, o que lhe garantiria a concessão das jazidas de ferro da Serra dos Carajás, na Amazônia. Galeano ainda lembra que, “como de costume, o governo aduziu que o Brasil não dispunha de capitais para realizar a exploração por conta própria”.
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O trecho poderia pertencer a qualquer jornal brasileiro da atualidade, mas foi retirado da antológica obra de Eduardo Galeano, “As Veias Abertas da América Latina”, clássico publicado em 1971.
O uruguaio segue, em sua análise, lembrando a trágica queda de Getúlio Vargas, o qual escolhera desrespeitar a imposição americana firmada em acordo militar que proibia o Brasil de vender matérias-primas estratégicas para países socialistas, vendendo ferro para a Polônia e a Tchecoslováquia a preços mais altos que os que conseguia com os EUA em 53 e 54.
Em 1957, a americana Hanna Mining Co. compraria grande parte da mineradora britânica que explorava o Vale do Paraopeba, em Minas Gerais, onde, à época, se encontrava a maior concentração de ferro do mundo. Mas, apesar do grande negócio, a empresa não estava legalmente habilitada para explorar a riqueza cobiçada. A mineradora, porém, contava em seus quadros com pessoas que integravam o alto escalão do Estado brasileiro.
Jânio Quadros, em 21 de agosto de 1961, tentaria se defender da cobiça das empresas americanas, anulando as autorizações ilegais que favoreciam a Hanna e restituindo as jazidas de ferro à reserva nacional. Quatro dias depois, porém, seria obrigado a renunciar após pressão de ministros militares. Mas a Campanha da Legalidade, liderada por Brizola, frearia o anseio militar e americano ao colocar o vice João Goulart no poder.
Jango tentaria pôr em prática o ataque fatal a Hanna, a partir de julho de 1962, com um plano de estabelecer um entreposto de minerais no Adriático para abastecer europeus capitalistas e socialistas. Tal objetivo somou-se a outras medidas, como a restrição à drenagem dos lucros de empresas estrangeiras, criando uma situação cada vez mais explosiva no país que culminaria no golpe militar de 1964.
A revista Fortune consideraria o golpe como um “resgate de último minuto pelo Primeiro da Cavalaria” para a Hanna. Já o Washington Star diria que “um bom e velho golpe de estado, no velho estilo, dos líderes militares conservadores bem pode servir aos melhores interesses de todas as Américas”.
Mas a história logo mostraria que nem todas as Américas sairiam satisfeitas.
Logo após o golpe, homens da Hannah ocuparam a vice-presidência do Brasil e mais três ministérios. Não tardaria para que a mineradora americana tivesse seus desejos atendidos. Em 24 de dezembro de 1964, quando o corpo da democracia ainda esfriava, a Hanna ganharia um decreto que a autorizava a explorar o ferro de Paraopeba.
E a US Steel não poderia ficar atrás. A outra mineradora americana se associou à Vale do Rio Doce, o que lhe garantiria a concessão das jazidas de ferro da Serra dos Carajás, na Amazônia. Galeano ainda lembra que, “como de costume, o governo aduziu que o Brasil não dispunha de capitais para realizar a exploração por conta própria”.