Leia os trechos abaixo, todos de Machado de Assis. Texto 1 Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta: mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. Texto 2 No dia seguinte, passei pela casa do defunto, sem entrar nem parar – ou, se parei, foi só um instante, ainda mais breve que este que vo-lo digo. Se me não engano, andei até mais depressa, receando que me chamassem como na véspera. Uma vez que não ia ao enterro, antes longe que próximo. Fui andando e pensando no pobre diabo. Texto 3 Rubião chegou ao fim da Rua da Saúde. Ia à toa com os olhos espraiados e desatentos. Rente com ele, passou uma mulher, não bonita, nem singela sem elegância, antes pobre que remediada, mas fresca de feições; contaria vinte e cinco anos, e levava pela mão um menino. Este atrapalhou-se nas pernas de Rubião. Com relação ao foco narrativo desses trechos, são feitas as seguintes afirmações: A- O foco narrativo do Texto 1 é de 3ª pessoa, onisciente, que conhece o exterior e o interior da personagem, assim como o passado e o presente dela. B- O foco narrativo do Texto 2 é de 1ª pessoa, que narra suas ações externas e internas, conversando com o leitor e sintetizando seu pensamento. C- O foco narrativo do Texto 3 é de 3ª pessoa, que narra as ações das personagens, descreve, levanta hipótese e emite opinião. Sobre as três considerações acima, pode-se dizer que Escolha uma: a. somente A e B estão corretas. b. somente B e C estão corretas. c. todas estão corretas. d. somente A está correta.
Responda
O uso de figuras de estilo não está limitado aos textos literários: usamo-las na linguagem comum do quotidiano, na publicidade, na comunicação social, na política, no desporto, etc. Repara-se na observação do retórico latino Quintiliano, que chama a atenção para a universalidade e evolução da linguagem figurativa: “Figures of speech have always been liable to change and are continually in process of change in accordance with the variations of usage. Consequently when we compare the language of our ancestors with our own, we find that practically everything we say nowadays is figurative.” (Institutio oratoria, IX, iii, 1-4, Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1996, p.443). Devido ao efeito especial produzido no discurso, afastando-o da norma, o ouvinte/leitor/interlocutor tem mais probabilidades de ser afectado pela mensagem figurativa que se quer transmitir. A combinação de várias figuras de estilo no mesmo discurso pode contribuir não só para a sua originalidade como para o reforço da sua eficácia como discurso utilitário ou não, literário ou não. De notar que em muitas épocas, a excessiva afectação do discurso levou a exageros de linguagem que dificilmente cativam o público. Lembramos as experiências retóricas dos poetas barrocos, por exemplo, cuja postura literária os levava a acumular um grande número de figuras de estilo para produzir um efeito de máximo adorno do discurso, o que revelaria não só a sua erudição como o respeito pelo gosto da época. De referir ainda que a maior referência literária para a exemplificação de figuras de estilo continua a ser a Bíblia, onde predominam as metáforas, as comparações, as personificações, as hipérboles, as antíteses e as alegorias. As idiossincrasias culturais também influenciam a escolha do reportório retórico num discurso, por exemplo, a literatura oriental não privilegia figuras ao serviço da sátira de costumes ou da simples crítica pessoal ou social, preferindo uma maior moderação do discurso, se compararmos esta postura com as literaturas ocidentais, que sempre recorrem a todas as formas possíveis de adornamento do discurso, sem muitas vezes atender a regras de deontologia, bom senso, ou bons costumes. Pelo contrário, deste sempre as culturas ocidentais recorreram a figuras de estilo para reforçar a força de um argumento, de uma crítica ou de uma oração política de forma a ferir a atenção do público, qualquer que seja a deontologia subjacente. A ironia, por exemplo, tem, neste caso, um valor e uma prática naturalmente diferentes nas literaturas ocidentais, por oposição às literaturas orientais e africanas. O texto acima é o segundo parágrafo do verbete "figuras de estilo", de Carlos Ceia. Nele, o autor aponta, principalmente: Escolha uma: a. o afastamento da norma, a combinação das várias figuras de estilo, o repertório retórico de um discurso. b. os diversos tipos de texto em que as figuras de estilo são usadas, a recepção das figuras de estilo, as circunstâncias que influenciam a escolha do repertório retórico de um discurso. c. a proliferação do uso das figuras de estilo, as relações entre figuras de estilo e o público leitor, a influência do repertório retórico sobre a cultura. d. a utilização das figuras de estilo nos diversos tipos de texto, o afastamento da norma, as implicações do uso das figuras de estilo nos textos barrocos e na Bíblia.
Responda

Helpful Social

Copyright © 2024 ELIBRARY.TIPS - All rights reserved.