PROFISSÃO DE FÉ

Invejo o ourives quando escrevo:

Imito o amor

Com Ele, em ouro, o alto-relevo

Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois nem de Carrara

A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel

A pena, como em prata firme

Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,

A ideia veste:

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima

A frase; e enfim,

No verso de ouro engasta a rima,

Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,

Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,

Por tão sutil,

Possa o lavor lembrar de um vaso

De Becerril.

E horas sem conta passo, mudo,

O olhar atento,

A trabalhar, longe de tudo

O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia,

Tanta requer,

Que ofício tal... nem há notícia

De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena

Segue esta norma,

Por te servir, Deusa serena,

Serena Forma!

Olavo Bilac. Profissão de fé. In: Poesia. Rio de Janeiro: Agir, p. 39-40.

Entendendo o poema:

01 – O tema do poema é:

a) a exaltação do lavor poético.

b) a valorização da profissão do ourives.

c) a inveja despertada por algumas profissões.

d) a vocação para trabalhos artísticos.

02 – A linguagem utilizada no poema é:

a) simples b) apurada c) informal d) subjetiva.

03 – O eu lírico inveja o ourives devido:

a) a forma como ele trabalha.

b) ao material com o qual ele trabalha.

c) ao valor do produto que ele produz.

d) a beleza das peças criadas por ele.

04 – O sentimento de inveja que o ourives desperta no eu lírico o motiva a:

a) difamá-lo em seus versos.

b) seguir-lhe o exemplo.

c) ignorá-lo em seus versos.

d) elogiá-lo no poema.

05 – Revela a perfeição formal buscada pelo poeta os versos

a) “Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

Azul-celeste.”

b) “Que ofício tal... nem há notícia

De outro qualquer.”

c) “Do ourives, saia da oficina

Sem um defeito:”

d) “A pena, como em prata firme

Corre o cinzel."

06 – O poeta parnasiano tem a concepção de arte pela arte, distanciando-se da realidade. Percebemos esse distanciamento nos versos

a) “Porque o escrever – tanta perícia,

Tanta requer,”

b) “Por te servir, Deusa serena,

Serena Forma!”

c) “Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel”

d) “A trabalhar, longe de tudo

O pensamento.”

07 – Do ponto de vista formal, o poema caracteriza-se pela regularidade métrica e rímica, observando aos critérios clássicos de beleza poética, seguidos pelos parnasianos. Justifique essa afirmação, mostrando o tipo de estrutura métrica e rímica que possui.



08 – Na primeira estrofe, desenvolve-se uma comparação que nos permite perceber a extrema importância da forma, para a poesia parnasiana. De que comparação se trata?

09 – Os elementos estatísticos da poesia parnasiana destacados pela comparação citada referem-se à matéria-prima do trabalho – a linguagem – e também ao modo de executá-lo. Que passagem da 1ª estrofe pode ser relacionada com a precisão, a minúcia, a preocupação com os detalhes, típicas desse estilo?



10 – Indique a estrofe que sintetiza o ideal normativo e esteticista do estilo parnasiano, deixando subentendido o sacrifício da dimensão conteudistica do poema.



11 – Que verbos da quarta estrofe exprimem o pressuposto parnasiano de que a criação literária é fundamentalmente um trabalho intelectual, um debruçar-se sobre a obra em busca da perfeição formal?
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