Ao se deparar com as injustiças que “os cinco do Central Park” – Antron McCray (Caleel Harris), Kevin Richardson (Asante Blackk), Korey Rise (Jharrel Jerome), Raymond Santana Jr (Marquis Rodriguez) e Yusef Salaam (Ethan Herisse) – sofreram ao serem julgados por um crime que não cometeram, ainda com a máxima da manipulação do sistema racista policial que os induziu a admitir falsas evidências do ocorrido, a sensação é indescritivelmente revoltante, talvez a ponto de a realizadora Ava DuVernay não conseguir dosar o sentimento que pessoalmente tanto a conturba, tão notavelmente, que a faz perder a sutileza da denúncia tão importante de Olhos Que Condenam.
Há um certo desequilíbrio em sua direção, no sentido de propor uma vista grossa ao mesmo tempo que tenta controlar uma fácil hiperdramatização de uma história por si só muito poderosa. Então, há muitos momentos em que a militância se torna óbvia demais, verborragicamente explícita, abusando de narrações em off para ligar paralelos com paráfrases atuais em discursão, e outros em que falta uma mão mais pesada para extrair todo o desespero da injustiça. Sinto DuVernay muito mais à vontade quando explora os arredores do caso, até porque a diretora tem bastante conhecimento na área sociológica debatida, sendo cirurgicamente realista na didática do trato de cada tipo de preconceito, sem esteriotipações baratas, apenas posicionando determinados interesses em um contexto consequencial, um tratamento de hostilidade de fora para dentro que consegue ser mais impactante do que a narrativa principal, baseada em fatos.
E aí está o problema, porque há uma constante dicotomia na proposta de Olhos Que Condenam, entre o mergulho visceral do acontecimento ou estudo social documental do que o gerou e do que ele geraria nos personagens. Falta por vezes, um equilíbrio entre essas duas frentes, que talvez só o segundo episódio tenha conseguido emular em total coesão, e um pouco do primeiro porque a narrativa vai se revelando aos poucos. Por mais que a cena em si do fatídico incidente não tenha sido tão clara quanto poderia, vejo que foi intencional, com o objetivo de dinamizar o jogo de interrogatórios numa crescente em incômodo, onde ficamos perdidos com os personagens, mas nos é didaticamente explicado, de forma bem escancarada, os pormenores da injustiça ali ocorrida.
O segundo episódio já dimensiona com melhor objetividade as etapas que o fizeram perder o processo, tanto na parte da ineficiência da sistemática jurídica, quando expondo a força da onda de querer sobrepor discursos de diferentes justiças, onde a interseção se encontra a busca imediata por um culpado, que historicamente, recai num mesmo perfil sem o luxo de se defender ou ser devidamente escutado quando teve a oportunidade, ainda mais em 1989, ano do incidente. Há de se parabenizar a condução do elenco mirim neste episódio, que nem parecem atores de tão incorporados naquelas personas. Destaque também para as veteranas Felicity Huffman como a advogada Linda Fairstein e Vera Farmiga como a advogada de acusação Elizabeth Lederer e a tarefa indigesta de interpretar personagens tão detestáveis.
Infelizmente, o equilíbrio não está presente em toda a proposta e a outra metade com o terceiro e quarto episódio são a prova disso. No terceiro, a dramática consequências dos personagens quando adultos e finalmente livres parece demasiadamente passiva em comparação a anterior, a ponto de parecer que a diretora somente está observando cada realidade transformada ao invés de expurgar os sentimentos envoltos no tempo das vidas perdidas. Além de oferecer uma quebra busca de ritmo, o capítulo não consegue explorar cada uma das vítimas com o devido cuidado e acredito eu, que não deveria poupar economia de tempo para isso, com no mínimo, um episódio destinado para cada que pudesse fazer esse papel. No entanto, somente um deles ganha esse destaque, Korey, o que indicativamente teve a trajetória mais “sofrida”, logo, a série compensa a falta de intensidade e contextualização dos demais, nele, num último capitulo decepcionante ao cair num melodrama apelativo em busca de choro.
Claro que diante da relevância do protesto a condição carcerária nas prisões americanas, utilizar a história de Korey como fio condutor final, a narrativa ganha força de contraste na conclusão esperançosa, mas acredito que no geral, a minissérie poderia ter sido mais impactante se explorasse todos os personagens de maneira igualitária, e ao mesmo tempo, que fosse mais sutil do que foi, quando decidiu explorar um deles de maneira representativa. Olhos Que Condenam acaba sendo ociosa enquanto dramaturgia, por quase depender do descontentamento automático do público na sua temática.
Explicação:
Ficou um pouco grande, mais vc pode dar uma diminuída.
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Resposta:
Ao se deparar com as injustiças que “os cinco do Central Park” – Antron McCray (Caleel Harris), Kevin Richardson (Asante Blackk), Korey Rise (Jharrel Jerome), Raymond Santana Jr (Marquis Rodriguez) e Yusef Salaam (Ethan Herisse) – sofreram ao serem julgados por um crime que não cometeram, ainda com a máxima da manipulação do sistema racista policial que os induziu a admitir falsas evidências do ocorrido, a sensação é indescritivelmente revoltante, talvez a ponto de a realizadora Ava DuVernay não conseguir dosar o sentimento que pessoalmente tanto a conturba, tão notavelmente, que a faz perder a sutileza da denúncia tão importante de Olhos Que Condenam.
Há um certo desequilíbrio em sua direção, no sentido de propor uma vista grossa ao mesmo tempo que tenta controlar uma fácil hiperdramatização de uma história por si só muito poderosa. Então, há muitos momentos em que a militância se torna óbvia demais, verborragicamente explícita, abusando de narrações em off para ligar paralelos com paráfrases atuais em discursão, e outros em que falta uma mão mais pesada para extrair todo o desespero da injustiça. Sinto DuVernay muito mais à vontade quando explora os arredores do caso, até porque a diretora tem bastante conhecimento na área sociológica debatida, sendo cirurgicamente realista na didática do trato de cada tipo de preconceito, sem esteriotipações baratas, apenas posicionando determinados interesses em um contexto consequencial, um tratamento de hostilidade de fora para dentro que consegue ser mais impactante do que a narrativa principal, baseada em fatos.
E aí está o problema, porque há uma constante dicotomia na proposta de Olhos Que Condenam, entre o mergulho visceral do acontecimento ou estudo social documental do que o gerou e do que ele geraria nos personagens. Falta por vezes, um equilíbrio entre essas duas frentes, que talvez só o segundo episódio tenha conseguido emular em total coesão, e um pouco do primeiro porque a narrativa vai se revelando aos poucos. Por mais que a cena em si do fatídico incidente não tenha sido tão clara quanto poderia, vejo que foi intencional, com o objetivo de dinamizar o jogo de interrogatórios numa crescente em incômodo, onde ficamos perdidos com os personagens, mas nos é didaticamente explicado, de forma bem escancarada, os pormenores da injustiça ali ocorrida.
O segundo episódio já dimensiona com melhor objetividade as etapas que o fizeram perder o processo, tanto na parte da ineficiência da sistemática jurídica, quando expondo a força da onda de querer sobrepor discursos de diferentes justiças, onde a interseção se encontra a busca imediata por um culpado, que historicamente, recai num mesmo perfil sem o luxo de se defender ou ser devidamente escutado quando teve a oportunidade, ainda mais em 1989, ano do incidente. Há de se parabenizar a condução do elenco mirim neste episódio, que nem parecem atores de tão incorporados naquelas personas. Destaque também para as veteranas Felicity Huffman como a advogada Linda Fairstein e Vera Farmiga como a advogada de acusação Elizabeth Lederer e a tarefa indigesta de interpretar personagens tão detestáveis.
Infelizmente, o equilíbrio não está presente em toda a proposta e a outra metade com o terceiro e quarto episódio são a prova disso. No terceiro, a dramática consequências dos personagens quando adultos e finalmente livres parece demasiadamente passiva em comparação a anterior, a ponto de parecer que a diretora somente está observando cada realidade transformada ao invés de expurgar os sentimentos envoltos no tempo das vidas perdidas. Além de oferecer uma quebra busca de ritmo, o capítulo não consegue explorar cada uma das vítimas com o devido cuidado e acredito eu, que não deveria poupar economia de tempo para isso, com no mínimo, um episódio destinado para cada que pudesse fazer esse papel. No entanto, somente um deles ganha esse destaque, Korey, o que indicativamente teve a trajetória mais “sofrida”, logo, a série compensa a falta de intensidade e contextualização dos demais, nele, num último capitulo decepcionante ao cair num melodrama apelativo em busca de choro.
Claro que diante da relevância do protesto a condição carcerária nas prisões americanas, utilizar a história de Korey como fio condutor final, a narrativa ganha força de contraste na conclusão esperançosa, mas acredito que no geral, a minissérie poderia ter sido mais impactante se explorasse todos os personagens de maneira igualitária, e ao mesmo tempo, que fosse mais sutil do que foi, quando decidiu explorar um deles de maneira representativa. Olhos Que Condenam acaba sendo ociosa enquanto dramaturgia, por quase depender do descontentamento automático do público na sua temática.
Explicação:
Ficou um pouco grande, mais vc pode dar uma diminuída.
Espero ter ajudado ❤️