“A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber. Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas.” (Carta de Pero Vaz de Caminha)

“Andam elas [as donas paulistanas] vestidas de rutilantes joias e panos finíssimos, que lhes acentuam o donaire do porte, e mal encobrem as graças, que a de nenhuma outra cedem pelo formoso do torneado e pelo tom. São sempre alvíssimas, as donas de cá́; e tais e tantas habilidades demonstram no brincar, que enumerá-las, aqui, seria fastiendo porventura; e, certamente, quebraria os mandamentos de discrição, que em relação de Imperator para súbditas se requer. Que beldades! Que elegância! Que cachet! Que dégagé flamífero, ignívomo, devorador!! Só́ pensamos nelas, muito embora não nos descuidemos, relapso, da nossa muiraquitã̃.” (Mário de Andrade, Macunaíma, 1928)

A partir dos trechos da carta de Pero Vaz de Caminha, documento inaugural da chegada dos portugueses, e da carta pras Icamiabas, presente em Macunaíma, obra de ficção de Mário de Andrade, explique porque a segunda carta é uma reavaliação crítica da descoberta do Brasil.
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