Atualmente, se faz cada vez mais necessário que os profissionais tenham uma visão sobre os processos de saúde e doença abrangente e multifatorial. No modelo de compreensão biopsicossocial, saúde e doença são entendidas enquanto resultado de uma combinação de fatores genéticos, fisiológicos, sociais, emocionais, econômicos, étnicos, culturais etc. A partir desse modelo, busca-se a compreensão da pessoa enquanto um todo, que não pode ser reduzida a um único aspecto e tratada somente por ele (BRANNON; FEIST; UPDEGRAFF, 2014)
Considerando o modelo de compreensão biopsicossocial dos processos de saúde e doença, descreva como os fatores biológicos, os fatores psicológicos ou emocionais e os fatores sociais considerados por esta perspectiva.
Resposta:Inicialmente, com relação aos fatores biológicos, absolutamente tudo que ocorre com o organismo, ocorre em um contexto biológico. Qualquer vivência, pensamento, comportamento e experiência só é possível por existir um aparato biológico, que funciona e coloca esse organismo em interação com o mundo. Assim, torna-se importante compreender quais aspectos do nosso organismo influenciam a saúde e a doença. Por exemplo, algumas condições genéticas e hereditárias explicam a maior probabilidade de desenvolvimento de determinadas patologias. Pessoas que possuem pais que fazem uso abusivo de álcool têm maior tendência a desenvolver etilismo, assim como pessoas com familiares obesos também têm uma maior tendência ao desenvolvimento da obesidade (STRAUB, 2014). Ainda, nesse ponto, torna-se necessário esclarecer o conceito de vulnerabilidade biológica ou genética, voltando ao exemplo de uma pessoa com maior tendência a desenvolver o etilismo. Algumas pessoas poderão ter uma maior resistência ao efeito do álcool no seu organismo e menores efeitos colaterais após o consumo (a famosa “ressaca”), o que aumenta a probabilidade de fazerem um consumo exagerado da bebida (STRAUB, 2014). Outras pessoas podem ter uma sensibilidade muito grande ao açúcar, o que contribui para que tenham uma maior sensação de prazer ao consumirem alimentos com essa propriedade, aumentando a chance de buscarem o seu consumo com maior frequência. No campo das emoções, podemos encontrar uma pessoa que tenha uma tolerância menor a estímulos aversivos, o que aumenta a probabilidade de ela apresentar comportamentos de raiva com mais frequência do que as demais pessoas (SAFER; ADLER; MASSON, 2020). Além disso, práticas inadequadas também podem produzir vulnerabilidade. Por exemplo, quando alguém se recusa a receber vacinas, isso leva à ausência de anticorpos, deixando a pessoa mais suscetível a desenvolver certos tipos de doenças (LALONI, 2006).
Compreendemos que estados emocionais podem exercer uma influência importante no processo de saúde-doença. Inicialmente, vale a pena destacar a intersecção entre aspectos emocionais e reações fisiológicas. A vivência de qualquer emoção é acompanhada de alterações na bioquímica do nosso cérebro. Emoções, como raiva, ansiedade e medo, ativam o sistema simpático e o modo de luta ou fuga, caracterizado por alterações fisiológicas como a taquicardia e hiperventilação. A ativação frequente ou crônica desse sistema pode causar prejuízos importantes para o organismo, já que a liberação excessiva de hormônios do estresse interferem negativamente no sistema autoimune.
O sofrimento emocional, em uma determinada situação estressante, é diretamente influenciado pela forma como essa situação é avaliada pela pessoa que o vivencia, ou seja, se a pessoa avalia o evento como possível de ser enfrentado e superado ou se avalia que tem recursos emocionais e materiais suficientes para lidar com esse evento, o seu sofrimento será relativamente menor. Entretanto, se avaliar o evento como impossível de ser enfrentado, sofrerá de uma forma mais intensa. Além disso, independentemente de o evento estressor ser realmente vivenciado ou imaginado, o nível de estresse experienciado pode ser muito semelhante. Uma pessoa que constantemente se lembra de uma situação que foi muito difícil pode ficar emocionalmente abalada, visto que é como se estivesse
efetivamente revivendo a situação (STRAUB, 2014). Os efeitos do estresse para o indivíduo serão
abordados, de forma mais aprofundada, no próximo tópico.
Sabe-se, também, que pacientes mais tranquilos e que acreditam no tratamento proposto tendem a ser mais capazes e motivados a seguir as orientações médicas. Por outro lado, pacientes que duvidam do tratamento ou que ficam focados nos efeitos colaterais que as medicações podem causar tendem a experimentar um nível de tensão maior, que culmina em reações físicas desconfortáveis acerca do tratamento (STRAUB, 2014).
Por fim, podemos tratar dos fatores sociais, o que dizem sobre o modo como pensamos e nos relacionamos uns com os outros e com nosso ambiente. Para tanto, precisamos compreender que todos nós estamos inseridos em um determinado contexto social e exercemos determinados papéis nesse contexto. Por exemplo, você pertence a uma determinada comunidade, família, grupo profissional, mas também seu gênero, sua idade e sua classe socioeconômica podem exercer uma influência importante nas crenças e nos cuidados que você tem com sua saúde. Além disso, sentir que pertence a um grupo e que está conectado emocionalmente às pessoas que o compõem, recebendo suporte social, aumenta a adesão às orientações médicas e a resposta positiva a um tratamento e melhores hábitos de vida e cuidados com a saúde (STRAUB, 2014).
Aspectos socioculturais podem explicar algumas práticas de saúde em determinadas populações, considerando comportamentos, crenças, valores e costumes que foram desenvolvidos por um grupo
ao longo do tempo. Tribos que possuem seus próprios rituais e curandeiros têm maior resistência a
aceitar intervenções e tratamentos oferecidos pela medicina ocidental, por exemplo. Algumas religiões
também recusam determinados tratamentos e creem na cura por oração. Do mesmo modo, aspectos
econômicos e educacionais exercem algum tipo de influência, uma vez que pessoas com um nível de
escolaridade e de renda maior tendem a seguir mais corretamente as orientações de saúde.
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Resposta:Inicialmente, com relação aos fatores biológicos, absolutamente tudo que ocorre com o organismo, ocorre em um contexto biológico. Qualquer vivência, pensamento, comportamento e experiência só é possível por existir um aparato biológico, que funciona e coloca esse organismo em interação com o mundo. Assim, torna-se importante compreender quais aspectos do nosso organismo influenciam a saúde e a doença. Por exemplo, algumas condições genéticas e hereditárias explicam a maior probabilidade de desenvolvimento de determinadas patologias. Pessoas que possuem pais que fazem uso abusivo de álcool têm maior tendência a desenvolver etilismo, assim como pessoas com familiares obesos também têm uma maior tendência ao desenvolvimento da obesidade (STRAUB, 2014). Ainda, nesse ponto, torna-se necessário esclarecer o conceito de vulnerabilidade biológica ou genética, voltando ao exemplo de uma pessoa com maior tendência a desenvolver o etilismo. Algumas pessoas poderão ter uma maior resistência ao efeito do álcool no seu organismo e menores efeitos colaterais após o consumo (a famosa “ressaca”), o que aumenta a probabilidade de fazerem um consumo exagerado da bebida (STRAUB, 2014). Outras pessoas podem ter uma sensibilidade muito grande ao açúcar, o que contribui para que tenham uma maior sensação de prazer ao consumirem alimentos com essa propriedade, aumentando a chance de buscarem o seu consumo com maior frequência. No campo das emoções, podemos encontrar uma pessoa que tenha uma tolerância menor a estímulos aversivos, o que aumenta a probabilidade de ela apresentar comportamentos de raiva com mais frequência do que as demais pessoas (SAFER; ADLER; MASSON, 2020). Além disso, práticas inadequadas também podem produzir vulnerabilidade. Por exemplo, quando alguém se recusa a receber vacinas, isso leva à ausência de anticorpos, deixando a pessoa mais suscetível a desenvolver certos tipos de doenças (LALONI, 2006).
Compreendemos que estados emocionais podem exercer uma influência importante no processo de saúde-doença. Inicialmente, vale a pena destacar a intersecção entre aspectos emocionais e reações fisiológicas. A vivência de qualquer emoção é acompanhada de alterações na bioquímica do nosso cérebro. Emoções, como raiva, ansiedade e medo, ativam o sistema simpático e o modo de luta ou fuga, caracterizado por alterações fisiológicas como a taquicardia e hiperventilação. A ativação frequente ou crônica desse sistema pode causar prejuízos importantes para o organismo, já que a liberação excessiva de hormônios do estresse interferem negativamente no sistema autoimune.
O sofrimento emocional, em uma determinada situação estressante, é diretamente influenciado pela forma como essa situação é avaliada pela pessoa que o vivencia, ou seja, se a pessoa avalia o evento como possível de ser enfrentado e superado ou se avalia que tem recursos emocionais e materiais suficientes para lidar com esse evento, o seu sofrimento será relativamente menor. Entretanto, se avaliar o evento como impossível de ser enfrentado, sofrerá de uma forma mais intensa. Além disso, independentemente de o evento estressor ser realmente vivenciado ou imaginado, o nível de estresse experienciado pode ser muito semelhante. Uma pessoa que constantemente se lembra de uma situação que foi muito difícil pode ficar emocionalmente abalada, visto que é como se estivesse
efetivamente revivendo a situação (STRAUB, 2014). Os efeitos do estresse para o indivíduo serão
abordados, de forma mais aprofundada, no próximo tópico.
Sabe-se, também, que pacientes mais tranquilos e que acreditam no tratamento proposto tendem a ser mais capazes e motivados a seguir as orientações médicas. Por outro lado, pacientes que duvidam do tratamento ou que ficam focados nos efeitos colaterais que as medicações podem causar tendem a experimentar um nível de tensão maior, que culmina em reações físicas desconfortáveis acerca do tratamento (STRAUB, 2014).
Por fim, podemos tratar dos fatores sociais, o que dizem sobre o modo como pensamos e nos relacionamos uns com os outros e com nosso ambiente. Para tanto, precisamos compreender que todos nós estamos inseridos em um determinado contexto social e exercemos determinados papéis nesse contexto. Por exemplo, você pertence a uma determinada comunidade, família, grupo profissional, mas também seu gênero, sua idade e sua classe socioeconômica podem exercer uma influência importante nas crenças e nos cuidados que você tem com sua saúde. Além disso, sentir que pertence a um grupo e que está conectado emocionalmente às pessoas que o compõem, recebendo suporte social, aumenta a adesão às orientações médicas e a resposta positiva a um tratamento e melhores hábitos de vida e cuidados com a saúde (STRAUB, 2014).
Aspectos socioculturais podem explicar algumas práticas de saúde em determinadas populações, considerando comportamentos, crenças, valores e costumes que foram desenvolvidos por um grupo
ao longo do tempo. Tribos que possuem seus próprios rituais e curandeiros têm maior resistência a
aceitar intervenções e tratamentos oferecidos pela medicina ocidental, por exemplo. Algumas religiões
também recusam determinados tratamentos e creem na cura por oração. Do mesmo modo, aspectos
econômicos e educacionais exercem algum tipo de influência, uma vez que pessoas com um nível de
escolaridade e de renda maior tendem a seguir mais corretamente as orientações de saúde.
Explicação: