Dentre as importantes obras de Machado de Assis (1939-1908), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi considerado o romance que inaugurou o Realismo no Brasil. Famoso por apresentar um autor-defunto, o livro representa, inclusive, uma dedicatória, na qual se lê: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas” (ASSIS, 1978, p. 13).
Observe um trecho da obra a seguir.
“Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência [...]. Mas na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele não se estenda para cá, e não nos examine e julgue; mas a nós é que se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados. [...]. Lá me ia a pena a escorregar para o enfático” (ASSIS, 1978, p. 54).
ASSIS, M. de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
De acordo com a leitura do trecho da obra de Machado de Assis, assinale a alternativa correta.
a.
A experiência da morte narrada em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é apresentada de modo negativo pelo narrador.
b.
A avaliação do narrador sobre as pessoas é de que são hipócritas e não se pode falar as verdades para elas.
c.
O narrador fala de si mesmo e reclama da situação em que se encontra, afinal, está morto e não pode mais falar.
d.
A obra apresenta como narrador um defunto, empenhado em recompor seus dias mediante um livro de memórias e reflexões.
e.
O olhar da opinião de Brás Cubas é de que, na vida, é possível desabafar mais do que na morte, porque se tem pessoas com quem falar.