JABORANDI Aí, o rapazinho fez tãe, tãe, tãe... Cada
murro! Os bandidos chega viravam.
TESTA-SECA Isso é mentira.
JABORANDI Mentira o quê? É verdade.
TESTA-SECA É mentira.
CITONHO Eu, por mim, só acreditava se visse.
JABORANDI E eu não vi?
CITONHO Você viu no cinematógrafo.
PARAÍBA
E como foi que terminou?
JABORANDI Hein? Ah, sim! Quando eu estava nisso, o
artista pegou um revólver no chão e me-
teu o dedo. Mas cadê bala? Aí, um ban-
dido apanhou um garfo, rapaz, desse
tamanho!, e partiu pro rapazinho. Ele foi
recuando, recuando e trãe, pulou pela ja-
nela do décimo andar.
CITONHO Vai ver que nem morreu nem nada.
JABORANDI Agora, só na próxima semana.
CITONHO
Mas isso é que é ser uma besteira. Esperar
uma semana pra ver se esse camarada
morreu ou não morreu. Não morre nunca!
JABORANDI Morre nada. Morrer o quê?
TESTA-SECA Então, é mentira. Cair duma altura esqui-
sita e não morrer!
JABORANDI Você não sabe o que é isso, não. Aquele
pulo é um episódio. Entende? Episódio.
Na última hora, acontece uma coisa. Aí
é que está o ruim: a gente passar uma
semana sofrendo, bolando que coisa
foi essa.

O posicionamento de Jaborandi a respeito das produções
cinematográficas demonstra:
a) compreensão de que o cinema de ficção explora o que
é verossímil, e não o que é verdadeiro.
b) indignação contra quem defende uma posição pessi-
mista sobre as artes contemporâneas.
c) sofrimento motivado pela preocupação em saber se o
ator que representava a cena morreu ou não.
d) confusão acerca dos argumentos de seus interlocuto-
res, pois entende o cinema como expressão verdadeira
dos fatos.
e) deboche a respeito do caráter fantasioso do cinema,
em contraposição à verdade defendida por seus inter-
locutores.
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