Leia o texto: São Paulo, 13-XI-42 Murilo, São 23 horas e estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de após gripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. [...] Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha. [...] De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando “lar fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso do coral. (Mário de Andrade, Cartas a Murilo Miranda) “... estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno.” No trecho, o termo grifado indica que o autor da carta pretende: Questão 8Resposta a. demarcar o tempo em que permanece impossibilitado de sair. b. usar a doença como pretexto para sua voluntária inatividade. c. revelar a acentuada sinceridade com que se dirige ao leitor. d. descrever o lugar onde é obrigado a ficar em razão da doença. e. enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa.
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A alternativa E é a certa. A expressão "estou honestissimamente em casa, imagine!" utilizada pelo autor da carta pretende enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa.
A escolha da palavra "honestissimamente" sugere que o autor está realmente em casa, mas essa sinceridade está relacionada à sua condição de estar impossibilitado de sair devido à doença. A expressão é usada de forma irônica para destacar a situação desagradável de estar confinado em casa por motivo de doença.
#SPJ1