Leia o trecho do texto a seguir:



“A noção de espaço, estreitamente ligada à de tempo, acompanha-lhe de perto o desenvolvimento dentro da novela. Como esta se organiza em torno de peripécias que se sucedem ininterruptamente, cria-se um dinamismo acelerado à semelhança da pressa no rodar alguns filmes do cinema mudo. As graças de Carlitos acentuavam-se mercê da precipitação no ato de exibi-las. Ora, essas características implicam, necessariamente, ausência de unidade espacial. Às personagens aborrece ficar num único lugar, e volta e meia procuram, no deslocamento físico, pôr cobro à angústia em que vivem. Por isso, o novelista é dono absoluto da geografia ficcional, e pode conduzir as personagens, ou deixar que elas o façam, para pontos distantes e variados. Uma espécie de absurda noção de geografia se impõe, porquanto o transporte se opera fora de qualquer obediência às leis da verossimilhança: no lapso de tempo que mal daria para realizar atos corriqueiros, a personagem transfere-se para lugares longínquos e de acesso difícil. Entende-se logo que o processo visa a atender ao gosto imaginativo do leitor médio, sequioso por contemplar paisagens fantásticas ou exóticas. Entretanto, algumas limitações podem nascer dessas particularidades da novela, pois, como o nascimento das personagens obedece ao desenrolar da ação, e tendo esta as características apontadas, certos lugares são apenas referidos e nada mais”.

(Fonte: MOISÉS, Massaud. A criação literária: introdução à problemática da literatura. São Paulo: Melhoramentos, 1973, p.162).
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