Desafio As pneumonias atípicas são as que ocorrem em pacientes na comunidade e são causadas por microrganismos diferentes da pneumonia bacteriana típica, como Chlamydia, Mycoplasma e Legionella. Essas condições ocorrem em 10 a 40% dos casos de pneumonias comunitárias.
Avalie o caso a seguir: Paciente do sexo masculino, 9 anos, apresenta febre e dores de cabeça há quatro dias, sendo tratado para sinusite com amoxacilina. A consulta com o otorrinolaringologista excluiu a possibilidade de sinusite ou meningite. Por apresentar sintomas de pneumonia, foi realizada investigação e mantida a amoxacilina. Foram solicitados exames bacterioscópicos e bacteriológicos de escarro, os quais foram negativos. Após dois dias com persistência da febre, trocou-se a amoxacilina por azitromicina e solicitou-se pesquisa de micoplasmas. O paciente apresentou melhora e a sorologia para M. pneumoniae demonstrou altos títulos de anticorpos.
Responda: a) Qual a explicação mais plausível para os exames microbiológicos serem negativos? b) Qual a explicação para a manutenção da febre, mesmo o paciente estando em tratamento com antimicrobiano? c) Que exames podem ser realizados para confirmação da suspeita do caso?
a) A explicação mais plausível para os exames microbiológicos (bacterioscópicos e bacteriológicos de escarro) serem negativos pode ser que o microrganismo causador da pneumonia seja um micoplasma, como *Mycoplasma pneumoniae*. Micoplasmas são bactérias que não possuem parede celular rígida, o que os torna difíceis de serem detectados pelos métodos tradicionais de coloração e cultura utilizados nos exames de escarro.
b) A manutenção da febre mesmo durante o tratamento com antimicrobianos pode estar relacionada ao tempo que o antibiótico leva para começar a efetivamente combater a infecção, ou seja, pode demorar alguns dias para que o paciente comece a sentir melhoras significativas. Além disso, em algumas infecções, a febre pode persistir por algum tempo mesmo após o início do tratamento, especialmente se houver complicações associadas à infecção.
c) Para confirmar a suspeita do caso de pneumonia atípica causada por *Mycoplasma pneumoniae*, exames específicos podem ser realizados, como a sorologia para detecção de anticorpos contra o micoplasma. Nesse caso, como mencionado no cenário clínico, a sorologia para *Mycoplasma pneumoniae* demonstrou altos títulos de anticorpos, o que reforça a suspeita diagnóstica. Além disso, testes moleculares como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) podem ser usados para detectar o material genético do micoplasma, proporcionando uma confirmação mais rápida e precisa da presença do microrganismo.
a) Os micoplasmas são bactérias desprovidas de parede celular e de tamanho diminuto, com aproximadamente 0,2-0,3 µm, não sendo corados pela coloração de Gram e não podendo ser visualizados através de microscópio ótico, o que explica a ausência de achados no exame bacterioscópico. São exigentes nutricionais, pois necessitam de meios enriquecidos com lipídios e precursores de ácidos nucleicos. São muito sensíveis às condições ambientais, devendo ser colocados imediatamente em meios apropriados após a coleta da amostra. O tempo de incubação deve ser prolongado, de um a quatro dias. O exame bacteriológico de rotina para escarro visa à pesquisa dos agentes bacterianos típicos, não provendo as condições necessárias para isolamento de Mycoplasma pneumoniae.
b) A amoxacilina é um antimicrobiano da classe dos betalactâmicos, que atua inibindo a síntese da parede celular. Micoplasmas são bactérias atípicas e desprovidas de parede celular, sendo então intrinsecamente resistentes ao tratamento com betalactâmicos. A alteração do medicamento para azitromicina, um macrolídio de amplo espectro que atua na inibição da síntese proteica, é acompanhada de melhora clínica em virtude da ação desse fármaco sobre o Mycoplasma pneumoniae, assim como de outras bactérias atípicas.
c) O padrão ouro para confirmação de pneumonias por Mycoplasma pneumoniae é cultura e isolamento em meios de cultura específicos. Para tal, podem ser utilizadas amostras do trato respiratório (swabs, escarro, aspirado traqueal, lavado broncoalveolar e biópsia pulmonar), imediatamente inoculadas em meio de transporte, como o caldo tripticase-soja com soro bovino ou meio de cultura específico para micoplasmas. Uma vez que o cultivo nem sempre é disponível, outras técnicas são sugeridas para confirmação da suspeita, como as técnicas de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT) realizadas diretamente de materiais clínicos com elevada sensibilidade e especificidade em comparação à cultura. Devido à disponibilidade limitada dos testes de cultura e NAAT, o diagnóstico frequentemente é realizado por meio de achados clínicos e sorológicos. A detecção de anticorpos IgM é o exame mais utilizado, pois, nas primeiras semanas da doença, títulos elevados são encontrados e vão reduzindo ao longo de meses.
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Resposta:
a) A explicação mais plausível para os exames microbiológicos (bacterioscópicos e bacteriológicos de escarro) serem negativos pode ser que o microrganismo causador da pneumonia seja um micoplasma, como *Mycoplasma pneumoniae*. Micoplasmas são bactérias que não possuem parede celular rígida, o que os torna difíceis de serem detectados pelos métodos tradicionais de coloração e cultura utilizados nos exames de escarro.
b) A manutenção da febre mesmo durante o tratamento com antimicrobianos pode estar relacionada ao tempo que o antibiótico leva para começar a efetivamente combater a infecção, ou seja, pode demorar alguns dias para que o paciente comece a sentir melhoras significativas. Além disso, em algumas infecções, a febre pode persistir por algum tempo mesmo após o início do tratamento, especialmente se houver complicações associadas à infecção.
c) Para confirmar a suspeita do caso de pneumonia atípica causada por *Mycoplasma pneumoniae*, exames específicos podem ser realizados, como a sorologia para detecção de anticorpos contra o micoplasma. Nesse caso, como mencionado no cenário clínico, a sorologia para *Mycoplasma pneumoniae* demonstrou altos títulos de anticorpos, o que reforça a suspeita diagnóstica. Além disso, testes moleculares como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) podem ser usados para detectar o material genético do micoplasma, proporcionando uma confirmação mais rápida e precisa da presença do microrganismo.
Resposta:
a) Os micoplasmas são bactérias desprovidas de parede celular e de tamanho diminuto, com aproximadamente 0,2-0,3 µm, não sendo corados pela coloração de Gram e não podendo ser visualizados através de microscópio ótico, o que explica a ausência de achados no exame bacterioscópico. São exigentes nutricionais, pois necessitam de meios enriquecidos com lipídios e precursores de ácidos nucleicos. São muito sensíveis às condições ambientais, devendo ser colocados imediatamente em meios apropriados após a coleta da amostra. O tempo de incubação deve ser prolongado, de um a quatro dias. O exame bacteriológico de rotina para escarro visa à pesquisa dos agentes bacterianos típicos, não provendo as condições necessárias para isolamento de Mycoplasma pneumoniae.
b) A amoxacilina é um antimicrobiano da classe dos betalactâmicos, que atua inibindo a síntese da parede celular. Micoplasmas são bactérias atípicas e desprovidas de parede celular, sendo então intrinsecamente resistentes ao tratamento com betalactâmicos. A alteração do medicamento para azitromicina, um macrolídio de amplo espectro que atua na inibição da síntese proteica, é acompanhada de melhora clínica em virtude da ação desse fármaco sobre o Mycoplasma pneumoniae, assim como de outras bactérias atípicas.
c) O padrão ouro para confirmação de pneumonias por Mycoplasma pneumoniae é cultura e isolamento em meios de cultura específicos. Para tal, podem ser utilizadas amostras do trato respiratório (swabs, escarro, aspirado traqueal, lavado broncoalveolar e biópsia pulmonar), imediatamente inoculadas em meio de transporte, como o caldo tripticase-soja com soro bovino ou meio de cultura específico para micoplasmas. Uma vez que o cultivo nem sempre é disponível, outras técnicas são sugeridas para confirmação da suspeita, como as técnicas de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT) realizadas diretamente de materiais clínicos com elevada sensibilidade e especificidade em comparação à cultura. Devido à disponibilidade limitada dos testes de cultura e NAAT, o diagnóstico frequentemente é realizado por meio de achados clínicos e sorológicos. A detecção de anticorpos IgM é o exame mais utilizado, pois, nas primeiras semanas da doença, títulos elevados são encontrados e vão reduzindo ao longo de meses.
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