Necessito de uma análise antropológica da Copa do Mundo aqui no Brasil. Ela deve abranger termos sociológicos como por exemplo ; etnocentrismo, xenofobismo, aculturação, dentre outros. Realmente necessito disso. OBRIGADO
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edna30
Sediar uma copa do mundo de futebol é muito diferente de participar dela.1A constatação, um tanto óbvia, precisa ser tratada com atenção pois a diferença pressupõe modalidades distintas de engajamento do Estado-nação, com implicações econômicas, políticas e culturais muito diferentes. Em linhas gerais pode-se dizer que a participação na copa implica a mobilização da nação, enquanto comunidade de sentimento que se projeta no time que a representa, ao passo que a realização do evento compromete o Estado, parceiro da FIFA na organização da competição.
A participação do Brasil ou de qualquer outra representação nacional em competições esportivas é, de fato, uma participação delegada, que se realiza por um time organizado por uma entidade esportiva que, a rigor, não possui qualquer relação com o Estado, embora este disponha de legislação visando balizar a atuação dessas agências.2A transformação do time da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em "seleção brasileira", ou simplesmente em "Brasil", envolve um processo de investimento simbólico realizado ao longo de algumas décadas e cuja atualização ocorre, de forma mais intensa, nos períodos que antecedem às copas ou competições equivalentes. A cada quatro anos, uma nova leva de brasileiros aprende que o time da CBF é o Brasil e é instigada a torcer por ele. A força do time da CBF – apresentado, acreditado e vivido – como a seleção brasileira deriva do fato de que os brasileiros – se não todos, a grande maioria deles – são envolvidos emocionalmente com ele. O Brasil não é o único país no qual um time de futebol foi alçado a símbolo da nação, mas o fato de que não tenhamos um histórico belicoso, de onde a nação pinça boa parte de seus heróis e narrativas épicas, faz do time da CBF uma unanimidade ou quase. Se procede a constatação de que um jogo de futebol é uma forma de experimentar a guerra por outras vias, as copas tornam a analogia ainda mais convincente na medida em que se trata de uma competição entre equipes que representam Estados-nações. Nessa guerra mimética, o Brasil participa assiduamente, e de forma exitosa. Isso não tem repercussões econômicas e políticas expressivas, exceto em alguns setores pontuais, mas cumpre uma função simbólica importante, de propiciar à nação a experiência da integração e da unidade, ainda que temporárias, pois quando a copa termina tudo volta ao seu lugar. Se jogar a copa é participar de uma guerra mimética, tanto mais dramática deve ser a organização desse evento extraordinário. Entretanto, há aqui duas diferenças essenciais. A primeira é que na organização da copa quem representa a nação não é o time da CBF, mas o Estado, seus agentes e suas agências, sejam elas federais, estaduais ou municipais. A segunda é que a organização da copa demanda o aporte de recursos econômicos e políticos de grande monta, algo que não ocorre quando se joga a copa.
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A participação do Brasil ou de qualquer outra representação nacional em competições esportivas é, de fato, uma participação delegada, que se realiza por um time organizado por uma entidade esportiva que, a rigor, não possui qualquer relação com o Estado, embora este disponha de legislação visando balizar a atuação dessas agências.2A transformação do time da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em "seleção brasileira", ou simplesmente em "Brasil", envolve um processo de investimento simbólico realizado ao longo de algumas décadas e cuja atualização ocorre, de forma mais intensa, nos períodos que antecedem às copas ou competições equivalentes. A cada quatro anos, uma nova leva de brasileiros aprende que o time da CBF é o Brasil e é instigada a torcer por ele. A força do time da CBF – apresentado, acreditado e vivido – como a seleção brasileira deriva do fato de que os brasileiros – se não todos, a grande maioria deles – são envolvidos emocionalmente com ele. O Brasil não é o único país no qual um time de futebol foi alçado a símbolo da nação, mas o fato de que não tenhamos um histórico belicoso, de onde a nação pinça boa parte de seus heróis e narrativas épicas, faz do time da CBF uma unanimidade ou quase.
Se procede a constatação de que um jogo de futebol é uma forma de experimentar a guerra por outras vias, as copas tornam a analogia ainda mais convincente na medida em que se trata de uma competição entre equipes que representam Estados-nações. Nessa guerra mimética, o Brasil participa assiduamente, e de forma exitosa. Isso não tem repercussões econômicas e políticas expressivas, exceto em alguns setores pontuais, mas cumpre uma função simbólica importante, de propiciar à nação a experiência da integração e da unidade, ainda que temporárias, pois quando a copa termina tudo volta ao seu lugar. Se jogar a copa é participar de uma guerra mimética, tanto mais dramática deve ser a organização desse evento extraordinário. Entretanto, há aqui duas diferenças essenciais. A primeira é que na organização da copa quem representa a nação não é o time da CBF, mas o Estado, seus agentes e suas agências, sejam elas federais, estaduais ou municipais. A segunda é que a organização da copa demanda o aporte de recursos econômicos e políticos de grande monta, algo que não ocorre quando se joga a copa.