Ardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro do que um pássaro sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar. MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. A leitura do texto permite inferir que: ALTERNATIVAS aquilo que se deseja guardar deve ficar escondido a sete chaves. aquilo que se quer guardar pode ser guardado no coração e a apreciação fará vir à tona o que se desejou guardar. guardar é muito mais que esconder, é trancar para esquecer e não deixar ninguém tocar. o poema não é capaz de guardar nada, pois as palavras nada podem insinuar ou mostrar. a escrita não eterniza nada do que se deseja guardar, ela é passageira, por isso, não se deve escrever.
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