Venho através dessa carta, expressar como me sinto tendo de fazer tudo pela qual eu não desejo. Que por mais que lhe seja lucrativo ter-me como escravo, os ferimentos que os serviços braçais me causaram, me doem muito, as chicotadas marcaram minha pele, marcaram também histórias pela qual um jamais desejei escrever, que o modo como somos tratados perante nossos senhores são os mais injustos, pois também somos seres humanos. Corre sangue pela minha veia assim como corre nas suas, tenho sentimentos dentro de mim assim como o senhor tem dentro de ti, e tenho família da mesma forma que o senhor também tem. Nós não somos de raça, pois nós somos pessoas. Nós somos de cor, assim como o senhor! Mas essa minha cor é marcada pelas agressões que o tempo nunca irá tirar de mim, aliás, com essa mísera vida que tenho de suportar, não sei mais oque ainda tenho de perder, já que mal posso aproveitar um ano de minha vida, pois trabalho e vivo como um animal, não posso reagir contra as agressões, não posso impedir que meus filhos e minha mulher sejam vendidos como bichos, não posso vê-los crescer e prosperarem perto de mim, nem ao menos posso ter uma vida livre para ser quem eu nasci pra ser, já que no ventre de minha mãe, o destino já me estava preparando para ser um escravo. A dor de viver como um escravo, não faz diferença para aqueles que não a sente.

Escrevi como se eu fosse alguém que estivesse no lugar de um escravo.