Noite na taverna

Um outro conviva se levantou. [...] Esvaziou o copo cheio de vinho, e com a barba nas mãos alvas, com os olhos de verde-mar fixos, falou: — Sabeis, uma mulher levou-me à perdição. Foi ela quem me queimou a fronte nas orgias, e desbotou-me os lábios no ardor dos vinhos e na moleza de seus beijos, quem me fez devassar pálido as longas noites de insônia nas nesas de jogo, e na doidice dos abraços convulsos com que ela me apertava o seio! [...] Foi uma vida insana a minha com aquela mulher! Era um viajar sem fim. [...] Nossos dias eram lançados ao sono como pérolas ao amor; nossas noites sim eram belas! Um dia ela partiu; partiu, mas deixou-me os lábios ainda queimados dos seus e o coração cheio do germe dos vícios que ela aí lançara. Partiu; mas sua lembrança ficou como um fantasma de um mau anjo perto de meu leito. [...]
(AZEVEDD, Álvares de. Noite na taverna. In: BUEND, Alexei (Grg.). Obra completa de Álvares de Azevedo. Rio de Janeiro Nova Aguilar, 2000. p. 571-573. (Fragmento).)

1. O que o narrador descreve como a “perdição” a que foi levado por uma mulher?
2. Bertram atribui sua degradação moral a essa mulher. Quais expressões se referem a ela e aos sentimentos do narrador?
Que imagem de mulher é sugerida por essas expressões?
3. A construção dessa imagem de mulher contribui para ilustrar a visão que os poetas da segunda geração têm do amor sexualizado. Qual é essa visão?
4. De que maneira o relato de Bertram deixa implícita a visão de amor que será defendida pelos poetas ultrarromânticos?
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