A narrativa tem início com a chegada de um homem a uma loja que vende antiguidades. Dentre tantas peças a que mais intriga o visitante é uma antiga tapeçaria que retrata uma caçada. Pouco tempo depois, uma senhora se aproxima e inicia um pequeno diálogo a respeito da peça: “Já vi que o senhor se interessa mesmo por isso… Pena que esteja nesse estado”.
É nesse momento que a história começa, realmente, a se desenvolver. O homem fica obcecado pela tapeçaria, como se já tivesse visto, ou ainda, vivenciado tal momento em sua vida.
A segunda fase do conto acontece no dia seguinte, quando o homem retorna a loja de antiguidades ainda intrigado pela tapeçaria. O clímax da narrativa inicia com a seguinte deixa: “Pode entrar, o senhor conhece o caminho”, é nesse momento que o protagonista percebe que o caminho retratado na tapeçaria é incrivelmente familiar.
Na sequência o personagem passa a observar a imagem a sua frente, como se fosse parte dela, como se estivesse naquela cena. Em poucos segundos sente uma dor lancinante nas costas tal qual uma flecha a atingi-lo e cai no chão.
“Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando embaçada, lá longe? (…) Era o caçador? Ou a caça? Não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado? (…) Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor! Não… – gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração” (A Caçada – Ligya Fagundes Telles – 1965).
Dessa forma termina “A CAÇADA”, recheado de incertezas, pontos de interrogação e fatos não esclarecidos. Seria sonho ou realidade? O próprio personagem era a caça? A partir daqui termina o papel da escritora Lygia Fagundes Telles e tem início a interpretação do leitor.
Enredo e elementos: rápida análise
Grosso modo, “A Caçada” narra a história de um homem que ao adentrar uma loja de antiguidades é tomado por um estranho sentimento ao observar uma velha tapeçaria. O envolvimento do protagonista com a peça é tão profundo que ele parece sentir-se parte da história ali retratada.
Pode-se dizer que o curto enredo é narrado no passado, porém, os personagens colocam suas falas todas no presente. Vamos agora listar alguns importantes elementos do conto.
1 – Personagens: são dois, o homem e a dona, ou funcionária do antiquário (já que isso não está explícito). Uma importante constatação sobre os personagens é que em nenhum momento algum dele recebe nome ou características.
2 – Cenário: loja de antiguidades e o cenário retratado na tapeçaria.
3 – Narrador: responsável por descrever não apenas os personagens e os fatos, mas também, descrever minuciosamente cada cenário do conto.
4 – Discurso: um dos aspectos mais interessantes de “A Caçada” é a própria ambiguidade, já que existe um tipo de tensão entre o que é real e o que sobrenatural. Em grande parte é esse discurso o responsável por dar o tom de mistério ao conto. Para compreender melhor vamos a um trecho da história: “Parece que hoje tudo está mais próximo – disse o homem em voz baixa. – É como se… Mas não está diferente? A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los. – Não vejo diferença nenhuma. – Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta… – Que seta? O Senhor está vendo alguma seta?”
Perceba que para cada questionamento em tom de incerteza do homem, a velha rebate com uma explicação plausível em tom de normalidade. Como já mencionado, é essa tensão a grande responsável por lançar sobre a narrativa um tom de mistério.
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A narrativa tem início com a chegada de um homem a uma loja que vende antiguidades. Dentre tantas peças a que mais intriga o visitante é uma antiga tapeçaria que retrata uma caçada. Pouco tempo depois, uma senhora se aproxima e inicia um pequeno diálogo a respeito da peça: “Já vi que o senhor se interessa mesmo por isso… Pena que esteja nesse estado”.
É nesse momento que a história começa, realmente, a se desenvolver. O homem fica obcecado pela tapeçaria, como se já tivesse visto, ou ainda, vivenciado tal momento em sua vida.
A segunda fase do conto acontece no dia seguinte, quando o homem retorna a loja de antiguidades ainda intrigado pela tapeçaria. O clímax da narrativa inicia com a seguinte deixa: “Pode entrar, o senhor conhece o caminho”, é nesse momento que o protagonista percebe que o caminho retratado na tapeçaria é incrivelmente familiar.
Na sequência o personagem passa a observar a imagem a sua frente, como se fosse parte dela, como se estivesse naquela cena. Em poucos segundos sente uma dor lancinante nas costas tal qual uma flecha a atingi-lo e cai no chão.
“Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando embaçada, lá longe? (…) Era o caçador? Ou a caça? Não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado? (…) Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor! Não… – gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração” (A Caçada – Ligya Fagundes Telles – 1965).
Dessa forma termina “A CAÇADA”, recheado de incertezas, pontos de interrogação e fatos não esclarecidos. Seria sonho ou realidade? O próprio personagem era a caça? A partir daqui termina o papel da escritora Lygia Fagundes Telles e tem início a interpretação do leitor.
Enredo e elementos: rápida análiseGrosso modo, “A Caçada” narra a história de um homem que ao adentrar uma loja de antiguidades é tomado por um estranho sentimento ao observar uma velha tapeçaria. O envolvimento do protagonista com a peça é tão profundo que ele parece sentir-se parte da história ali retratada.
Pode-se dizer que o curto enredo é narrado no passado, porém, os personagens colocam suas falas todas no presente. Vamos agora listar alguns importantes elementos do conto.
1 – Personagens: são dois, o homem e a dona, ou funcionária do antiquário (já que isso não está explícito). Uma importante constatação sobre os personagens é que em nenhum momento algum dele recebe nome ou características.
2 – Cenário: loja de antiguidades e o cenário retratado na tapeçaria.
3 – Narrador: responsável por descrever não apenas os personagens e os fatos, mas também, descrever minuciosamente cada cenário do conto.
4 – Discurso: um dos aspectos mais interessantes de “A Caçada” é a própria ambiguidade, já que existe um tipo de tensão entre o que é real e o que sobrenatural. Em grande parte é esse discurso o responsável por dar o tom de mistério ao conto. Para compreender melhor vamos a um trecho da história:
“Parece que hoje tudo está mais próximo – disse o homem em voz baixa. – É como se… Mas não está diferente?
A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los. – Não vejo diferença nenhuma.
– Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta…
– Que seta? O Senhor está vendo alguma seta?”
Perceba que para cada questionamento em tom de incerteza do homem, a velha rebate com uma explicação plausível em tom de normalidade. Como já mencionado, é essa tensão a grande responsável por lançar sobre a narrativa um tom de mistério.