3. “Defendo a tese de que a consciência e os usos costumeiros eram particularmente fortes no século XVIII. Na verdade, alguns desses ‘costumes’ eram de criação recente e representavam as reivindicações de novos ‘direitos’. É clara nos historiadores que se ocupam dos séculos XVI e XVII a tendência de ver o século XVIII como uma época em que esses costumes se encontraram em declínio, juntamente com a magia, a feitiçaria e superstições semelhantes, o povo estava sujeito a pressões para ‘reformar’ sua cultura segundo normas vindas de cima, a alfabetização suplantava a transmissão oral, e o esclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores – pelo menos era o que se propunha. Mas as pressões em favor da ‘reforma’ sofriam uma resistência teimosa; e o século XVIII viu abrir-se um hiato profundo, uma profunda alienação entre a cultura patrícia e a da plebe” (THOMPSON, 1998, p. 13). No trecho destacado, Thompson apresenta brevemente a questão das pressões sobre as mudanças de costumes das classes subalternas no século XVIII, a partir da leitura do trecho é possível afirmar que: a) Costume não é uma categoria estanque, que pode ser modificada pela simples imposição de novas práticas, assim, por mais que as classes dominantes desejassem “reformas”, dependia das classes subalternas em sua experiência cotidiana modificar práticas, exigir e aceitar direitos e deveres para que tais mudanças se realizassem. b) Independentemente das pressões das classes dominantes, de suas imposições e aspirações para a formação e conformação das classes populares, os projetos de “reforma” dos costumes não tiveram sucesso, uma vez que a ignorância do povo não permitia a emancipação e progresso social. U2 - A história repensada: os excluídos da história 73 c) Ao acenar com a possibilidade de alfabetização e de esclarecimento, as classes dominantes conseguiram realizar as “reformas” e constituir uma nova classe de operários aptos para o trabalho fabril, a qual se tornaria exemplar para o resto das sociedades que aspiravam à industrialização. d) As tradições e costumes medievais ainda presentes nos primórdios da industrialização impediram que novos costumes e noções de direito fossem constituídos pelos trabalhadores que exigiram a manutenção das leis paternalistas e a continuidade da proteção patronal. e) O impacto das mudanças econômicas e sociais ocorridas no século XVIII criou uma massa de indivíduos que perderam suas tradições e isso explica o grande hiato e a alienação entre a cultura pretendida pelos dominantes e aquela mantida pelos dominados.
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1. “A escassez de testemunhos sobre o comportamento e as atividades das classes subalternas do passado é com certeza o primeiro – mas não o único – obstáculo contra o qual as pesquisas históricas se chocam. Porém, é uma regra que admite exceções. Este livro conta a história de um moleiro friulano – Domenico Scandella, conhecido por Menocchio – queimado por ordem do Santo Ofício, depois de uma vida transcorrida em total anonimato. A documentação dos dois processos abertos contra ele, distantes 15 anos um do outro, nos dá um quadro rico de ideias e sentimentos, fantasias e aspirações. Outros documentos fornecem indicações sobre as suas atividades econômicas, sobre a vida de seus filhos. Temos também algumas páginas escritas por ele mesmo e uma lista parcial de suas leituras (sabia ler e escrever). Gostaríamos, é claro, de saber muitas outras coisas sobre Menocchio. Mas o que temos em mãos já nos permite reconstruir um fragmento do que se costuma denominar ‘cultura das classes subalternas’ ou ainda ‘cultura popular’.” (GINZBURG, 2006, p. 11). A partir do trecho destacado é possível dizer que: a) A dificuldade de se encontrar fontes acerca das classes subalternas é um entrave para a pesquisa desses grupos, assim a solução é o estudo de casos individuais que somados em um conjunto de análises interdependentes recompõem o passado. b) Apesar da dificuldade em se encontrar fontes sobre as classes subalternas, realizar análises “vistas de baixo” é possível graças à tradição oral mantida na cultura popular, que propaga o conhecimento e a história das sociedades campesinas intactas. c) A dificuldade de se encontrar fontes acerca das classes subalternas é um entrave para a pesquisa desses grupos, mas não um impedimento efetivo, uma vez que pequenos vestígios podem ser seguidos e diversas fontes, aparentemente aleatórias podem ser cruzadas, na busca por reconstruir parte do passado. d) Apesar da dificuldade em se encontrar fontes sobre os excluídos e marginalizados, a produção escrita por camponeses como Menocchio é bastante volumosa e permite que os historiadores reconstruam o passado tendo como objetivo uma “história total”. e) A dificuldade de se encontrar fontes acerca das classes subalternas é um entrave para a pesquisa desses grupos, um impedimento efetivo que para ser suplantado exige do historiador a manutenção de fontes seriais, que permitem compreender as classes populares, sua cultura e forma de pensar e se relacionar socialmente.
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2. As duas imagens abaixo são de uma famosa obra chamada Primeira nova crônica e bom governo de Felipe Guamán Poma de Ayala (1534 – 1615). Este autor era descendente da nobreza inca, mas, criado por espanhóis, se considerava também latino. Escreveu sua monumental obra na região do Peru como aviso ao governo espanhol a respeito das injustiças e violências sofridas pelos indígenas da região. Na primeira imagem temos um quipucamayoc, figura do mundo inca responsável pela leitura e produção dos quipos, forma de registro tridimensional utilizada no reino do Tahuantinsuyu. Na segunda, temos o primeiro encontro de um Sapa Inca e um conquistador espanhol Observando as imagens e a partir do conhecimento da história da conquista no Peru, podemos afirmar que: a) Descendentes da nobreza inca, como Poma de Ayala, jamais aceitaram a conquista espanhola, como podemos ver na valorização das tradições incas (como o quipo) e na posição de subalterno do espanhol ajoelhado diante do soberano indígena. b) Poma de Ayala busca conciliar as tradições incas e espanholas, na medida em que valoriza as tradições indígenas locais e, ao mesmo tempo, tenta mostrar uma visão pacífica da Conquista, como o diálogo entre espanhóis e nativos da imagem que mostra a igualdade da sociedade colonial. c) A chegada dos espanhóis a região do Peru foi marcada pela derrota de Francisco Pizarro (como vemos, ajoelhado, na segunda imagem) e por um longo período de negociações entre Império Inca e governo espanhol. d) A vitória dos espanhóis no processo de Conquista do Império Inca foi realizado violentamente e a aculturação dos indígenas com o catolicismo foi profunda, na medida em que antigos registros coloniais como o livro de Guamán Poma de Ayala são os únicos fragmentos restantes da cultura nativa. e) A sociedade colonial que se formava no período de Guamán Poma de Ayala era marcada por graves injustiças e violências contra os grupos indígenas, mas também por diferentes formas de resistência nativa, que incluíam, como no caso acima, a assimilação de alguns valores e códigos do conquistador
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2. No prefácio de sua obra The Making of the English Working Class (traduzida para o português como “A formação da classe operária inglesa”), Edward Thompson faz a seguinte afirmação: “Este livro tem um título um tanto desajeitado, mas adequado ao seu propósito. Fazer-se, porque é um estudo sobre um processo ativo que se deve tanto à ação humana como aos condicionamentos. A classe operária não surgiu tal com sol numa hora determinada. Ela estava presente ao seu próprio fazer-se” (THOMPSON, 1987a, p. 9). Sobre o conceito de classe deste autor, é possível afirmar: a) Pressupõe uma relação entre questões econômicas e sociais que acabam por criar uma nova categoria de trabalhadores que, ao serem lançados dentro de uma nova realidade, abandonam suas práticas e costumes anteriores. b) É criada no fazer-se do capitalismo industrial, quando novas formas de ser e estar no mundo são impostas aos trabalhadores por meio de aparatos ideológicos que criam uma nova categoria social: o operário. 72 U2 - A história repensada: os excluídos da história c) Traz consigo uma noção de relação histórica e como toda relação não pode ser compreendida ou observada como algo estanque e único, envolve diversas dimensões e operações que transitam entre aqueles que a envolvem e que por ela são envolvidos. d) É uma relação histórica, entretanto não precisa estar encarnada em pessoas e contextos específicos, sendo possível identificar, por exemplo, duas classes constituindo-se de formas paralelas e independentes num mesmo período, sendo colocadas em contato na medida em que a infraestrutura econômica lhes impõe essa relação. e) É dependente da experiência de diversos grupos em contextos de opressão e exploração, que impõem aos subalternos novas realidades obrigando-os a abandonarem seus costumes tradicionais e a assumirem os novos impostos pelas classes dominantes.
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3. “Defendo a tese de que a consciência e os usos costumeiros eram particularmente fortes no século XVIII. Na verdade, alguns desses ‘costumes’ eram de criação recente e representavam as reivindicações de novos ‘direitos’. É clara nos historiadores que se ocupam dos séculos XVI e XVII a tendência de ver o século XVIII como uma época em que esses costumes se encontraram em declínio, juntamente com a magia, a feitiçaria e superstições semelhantes, o povo estava sujeito a pressões para ‘reformar’ sua cultura segundo normas vindas de cima, a alfabetização suplantava a transmissão oral, e o esclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores – pelo menos era o que se propunha. Mas as pressões em favor da ‘reforma’ sofriam uma resistência teimosa; e o século XVIII viu abrir-se um hiato profundo, uma profunda alienação entre a cultura patrícia e a da plebe” (THOMPSON, 1998, p. 13). No trecho destacado, Thompson apresenta brevemente a questão das pressões sobre as mudanças de costumes das classes subalternas no século XVIII, a partir da leitura do trecho é possível afirmar que: a) Costume não é uma categoria estanque, que pode ser modificada pela simples imposição de novas práticas, assim, por mais que as classes dominantes desejassem “reformas”, dependia das classes subalternas em sua experiência cotidiana modificar práticas, exigir e aceitar direitos e deveres para que tais mudanças se realizassem. b) Independentemente das pressões das classes dominantes, de suas imposições e aspirações para a formação e conformação das classes populares, os projetos de “reforma” dos costumes não tiveram sucesso, uma vez que a ignorância do povo não permitia a emancipação e progresso social. U2 - A história repensada: os excluídos da história 73 c) Ao acenar com a possibilidade de alfabetização e de esclarecimento, as classes dominantes conseguiram realizar as “reformas” e constituir uma nova classe de operários aptos para o trabalho fabril, a qual se tornaria exemplar para o resto das sociedades que aspiravam à industrialização. d) As tradições e costumes medievais ainda presentes nos primórdios da industrialização impediram que novos costumes e noções de direito fossem constituídos pelos trabalhadores que exigiram a manutenção das leis paternalistas e a continuidade da proteção patronal. e) O impacto das mudanças econômicas e sociais ocorridas no século XVIII criou uma massa de indivíduos que perderam suas tradições e isso explica o grande hiato e a alienação entre a cultura pretendida pelos dominantes e aquela mantida pelos dominados.
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