Leia os primeiros parágrafos do conto "Natal na barca", de Lygia Fagundes Telles: Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu. O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga. Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio. Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal. A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água. Assinale a passagem do texto que pode ser considerada como indício de acontecimentos misteriosos no prosseguimento da narrativa.A. Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. B. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. C. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal. D. A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.​
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Leia o fragmento de um conto: O pé da múmia 1. — Cinco luíses pelo pé da princesa Hermonthis é pouco, muito pouco, na verdade. Trata-se de um pé autêntico — disse o vendedor balançando a cabeça e girando os olhos nas órbitas. — Vamos, leve-o, e ainda lhe dou a embalagem de presente — acrescentou, enrolando-o num velho pano adamascado —; muito bonito, damasco verdadeiro, damasco das Índias, que nunca foi tingido de novo, forte, macio — murmurava passeando os dedos pelo tecido puído, com um resquício de hábito comercial que o fazia elogiar um objeto de tão pouco valor que ele mesmo o considerava digno de ser dado. 2. Ele colocou as moedas de ouro numa espécie de bolsa medieval presa à cintura, repetindo: 3. — O pé da princesa Hermonthis para servir de peso de papel! 4 Depois, fixando em mim suas pupilas fosfóricas, disse numa voz estridente como o miado de um gato que acabou de engolir uma espinha: 5. — O velho faraó não ficará contente, ele amava a filha, o grande homem. 6. — O senhor fala como se fosse seu contemporâneo. Apesar de velho, o senhor não é do tempo das pirâmides do Egito — respondi-lhe rindo, da porta da loja. 7. Voltei para casa bastante satisfeito com minha aquisição. Para fazer bom uso dela imediatamente, coloquei o pé da divina princesa Hermonthis sobre uma pilha de papéis. Eram esboços de versos e um mosaico indecifrável de rasuras: artigos começados, cartas esquecidas e engavetadas, algo que acontece com frequência com os distraídos. O efeito era encantador, bizarro e romântico. 8. Satisfeitíssimo com aquele embelezamento, desci para a rua e fui passear com a gravidade apropriada e o orgulho de um homem que tem, sobre todas as pessoas por quem passa, a extraordinária vantagem de possuir um pedaço da princesa Hermonthis, filha do faraó.O clima de mistério do conto, já instaurado pela estranheza do produto vendido na loja de antiguidades, é acentuado por alguns índices sutilmente distribuídos ao longo dessa estranha negociação. Leia as referências a seguir: I- o preço pedido pelo pé da múmia (§ 1) II- a descrição do olhar e da voz do vendedor (§ 4) III- a referência aos sentimentos do faraó (§ 5) IV- o comentário do narrador/comprador sobre a fala do vendedor (§ 6) V - a descrição da pilha de papéis sobre a mesa (§ 7) VI- a satisfação do narrador/comprador com sua aquisição (§ 7 e § 8) São índices do mistério e de possíveis ocorrências funestas as referências feitas apenas nos itens:A. I, II e III B. II, III e IV C. III, IV e V D. IV, V e VI​
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