Quais consequências importantes aconteceram na guerra russo -japonesa ?
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eduardocorrea4914
Foi há cem anos que o mundo assistiu a uma guerra que viria a marcar a história da primeira metade do século XX. A Guerra Russo-Japonesa não só influiu no equilíbrio de poderes entre as potências dominantes na altura, como serviu de ensaio a um tipo de conflito militar que, dotado de novas tecnologias, eclodiria mais tarde, na Europa, marcando-a penosamente pela severidade dos combates que se traduziu em milhões de mortes nos campos de batalha. A Guerra Russo-Japonesa, apesar de distante no tempo, continua a ser importante para a compreensão do mundo tal qual era no início do século XX e para a forma como este caminhou para a 1ª Guerra Mundial. A problemática do pós-Guerra Russo-Japonesa e do consequente reequilíbrio do poder no Extremo Oriente e na Europa, com as consequentes repercussões nas alianças entre as potências mundiais, constitui o tema central deste artigo. Objectivamente a questão é perceber até que ponto as consequências diplomáticas da Guerra Russo-Japonesa foram determinantes no eclodir da 1ª Guerra Mundial. Sobre esta matéria defendemos que, mais do que qualquer outra crise que envolveu as potências europeias, a Guerra Russo-Japonesa teve o papel iniciador e decisivo para a criação do sistema de alianças bipolar que, entre outras razões, foi causa profunda da Primeira Guerra Mundial. Volvidos quase cem anos deste conflito, o facto da bibliografia que o versa continuar a aumentar, é sinal da sua importância. De uma forma geral as obras centram-se mais nas causas do que nas consequências. O facto de ser um conflito “longe” de Portugal talvez justifique a dificuldade em encontrar alguma bibliografia para além das obras mais comuns. Não deixa de ser interessante o facto da Revista Militar, nos anos de 1904 e 1905, ter dedicado bastantes páginas a este conflito provando, como também hoje o faz, o seu interesse e empenho em compreender os conflitos que lhe são contemporâneos. O artigo está articulado em quatro secções que resultam da “divisão” do próprio tema. Na primeira secção é feita uma breve caracterização do mundo antes de 1904 e das origens para o eclodir do conflito entre a Rússia e o Japão. Correlativamente defendemos ter sido a aliança Anglo-Japonesa determinante para a iniciativa do Japão atacar a Rússia e fazê-lo de acordo com o seu calendário de interesses. Na segunda secção é abordada a guerra propriamente dita, onde fazemos uma breve referência à influência das batalhas de Mukden e Tsushima no desenvolvimento da vontade dos beligerantes para encetarem conversações de paz. Sobre estas, defendemos que o tratado alcançado favoreceu os dois beligerantes mas, principalmente, e ao contrário do sentimento da época, foi o Japão que tirou os maiores dividendos. A terceira secção centra-se nas consequências diplomáticas. Identificamos as três grandes consequências deste conflito: - A aproximação da Grã-Bretanha à França, que a guerra veio acelerar e consolidar; - A convenção anglo-russa, para a qual a França foi o interlocutor por excelência; - A tripla entente, como corolário da aproximação sucessiva, primeiro da França e Grã-Bretanha, depois entre a Grã-Bretanha e a Rússia e finalmente, como um puzzle que se encaixa facilmente, a junção das três peças. Por fim, a quarta e última secção centra-se no Equilíbrio Internacional e Europeu. O argumento desta secção é de que a Guerra Russo-Japonesa foi o acontecimento que iniciou e estabeleceu a bipolarização das alianças que mais nenhuma outra crise, entre as potências europeias, viria a ser capaz de alterar e que seria uma causa profunda para a Primeira Guerra Mundial. Por isso, percorremos as crises na Europa e no Pacífico, precisamente as duas áreas geográficas cujo equilíbrio, determinado por este conflito, foi determinante no equilíbrio mundial.
I. O Percurso até à Guerra Nas vésperas de eclodir o conflito entre Russos e Japoneses, o mundo continuava um percurso de desenvolvimento e de euforia económica iniciado uma dezena de anos antes. O aparecimento e a utilização de novas fontes de energia, como o petróleo e a electricidade, levou a um aumento significativo da actividade industrial. A competição económica entre potências fazia-se sentir a dois níveis: por um lado, na capacidade de escoar a produção com o consequente cuidado de garantir a exclusividade dos mercados, por outro, controlar, no mundo, as fontes de matérias primas. A publicação, em 1859, da “Origem das Espécies” de Darwin, teve o efeito de gerar também a ideia de que existiria um darwinismo social que justificaria a subjugação de determinados povos por outros, tal como na natureza se passa com os seres vivos. A derrota chinesa na guerra de 1894-95 com o Japão, a humilhação da Espanha pelos Estados Unidos no breve conflito de 1898, e o recuo francês frente à Grã-Bretanha no incidente de Fashoda, no Alto Nilo (1898-99), foram todos interpretados como provas de que “a sobrevivência do mais capaz” ditava a sorte das nações tal como nas espécies animais.
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A Guerra Russo-Japonesa, apesar de distante no tempo, continua a ser importante para a compreensão do mundo tal qual era no início do século XX e para a forma como este caminhou para a 1ª Guerra Mundial.
A problemática do pós-Guerra Russo-Japonesa e do consequente reequilíbrio do poder no Extremo Oriente e na Europa, com as consequentes repercussões nas alianças entre as potências mundiais, constitui o tema central deste artigo. Objectivamente a questão é perceber até que ponto as consequências diplomáticas da Guerra Russo-Japonesa foram determinantes no eclodir da 1ª Guerra Mundial. Sobre esta matéria defendemos que, mais do que qualquer outra crise que envolveu as potências europeias, a Guerra Russo-Japonesa teve o papel iniciador e decisivo para a criação do sistema de alianças bipolar que, entre outras razões, foi causa profunda da Primeira Guerra Mundial.
Volvidos quase cem anos deste conflito, o facto da bibliografia que o versa continuar a aumentar, é sinal da sua importância. De uma forma geral as obras centram-se mais nas causas do que nas consequências. O facto de ser um conflito “longe” de Portugal talvez justifique a dificuldade em encontrar alguma bibliografia para além das obras mais comuns. Não deixa de ser interessante o facto da Revista Militar, nos anos de 1904 e 1905, ter dedicado bastantes páginas a este conflito provando, como também hoje o faz, o seu interesse e empenho em compreender os conflitos que lhe são contemporâneos.
O artigo está articulado em quatro secções que resultam da “divisão” do próprio tema.
Na primeira secção é feita uma breve caracterização do mundo antes de 1904 e das origens para o eclodir do conflito entre a Rússia e o Japão. Correlativamente defendemos ter sido a aliança Anglo-Japonesa determinante para a iniciativa do Japão atacar a Rússia e fazê-lo de acordo com o seu calendário de interesses.
Na segunda secção é abordada a guerra propriamente dita, onde fazemos uma breve referência à influência das batalhas de Mukden e Tsushima no desenvolvimento da vontade dos beligerantes para encetarem conversações de paz. Sobre estas, defendemos que o tratado alcançado favoreceu os dois beligerantes mas, principalmente, e ao contrário do sentimento da época, foi o Japão que tirou os maiores dividendos.
A terceira secção centra-se nas consequências diplomáticas. Identificamos as três grandes consequências deste conflito:
- A aproximação da Grã-Bretanha à França, que a guerra veio acelerar e consolidar;
- A convenção anglo-russa, para a qual a França foi o interlocutor por excelência;
- A tripla entente, como corolário da aproximação sucessiva, primeiro da França e Grã-Bretanha, depois entre a Grã-Bretanha e a Rússia e finalmente, como um puzzle que se encaixa facilmente, a junção das três peças.
Por fim, a quarta e última secção centra-se no Equilíbrio Internacional e Europeu. O argumento desta secção é de que a Guerra Russo-Japonesa foi o acontecimento que iniciou e estabeleceu a bipolarização das alianças que mais nenhuma outra crise, entre as potências europeias, viria a ser capaz de alterar e que seria uma causa profunda para a Primeira Guerra Mundial. Por isso, percorremos as crises na Europa e no Pacífico, precisamente as duas áreas geográficas cujo equilíbrio, determinado por este conflito, foi determinante no equilíbrio mundial.
I. O Percurso até à Guerra
Nas vésperas de eclodir o conflito entre Russos e Japoneses, o mundo continuava um percurso de desenvolvimento e de euforia económica iniciado uma dezena de anos antes. O aparecimento e a utilização de novas fontes de energia, como o petróleo e a electricidade, levou a um aumento significativo da actividade industrial. A competição económica entre potências fazia-se sentir a dois níveis: por um lado, na capacidade de escoar a produção com o consequente cuidado de garantir a exclusividade dos mercados, por outro, controlar, no mundo, as fontes de matérias primas.
A publicação, em 1859, da “Origem das Espécies” de Darwin, teve o efeito de gerar também a ideia de que existiria um darwinismo social que justificaria a subjugação de determinados povos por outros, tal como na natureza se passa com os seres vivos. A derrota chinesa na guerra de 1894-95 com o Japão, a humilhação da Espanha pelos Estados Unidos no breve conflito de 1898, e o recuo francês frente à Grã-Bretanha no incidente de Fashoda, no Alto Nilo (1898-99), foram todos interpretados como provas de que “a sobrevivência do mais capaz” ditava a sorte das nações tal como nas espécies animais.