As comemorações em torno da figura de Vargas são uma constante na nossa história. Por isso mesmo, são elementos importantes para entendermos os mecanismos de construção e funcionamento da memória coletiva brasileira. É bom lembrar que o sentido primeiro de comemorar é trazer à memória, recordar. Nem sempre a comemoração é festa ou celebração. O que ela pode expressar são estratégias de controle do passado para poder comandar o presente.
Os preparativos para a comemoração dos 50 anos do suicídio de Vargas reforçam a tese de que a memória tem sido uma das preocupações culturais mais importantes das sociedades contemporâneas. A volta obsessiva ao passado conduz à produção de uma cultura da memória que se materializa de diversas maneiras, sendo a comemoração apenas uma delas. Quais seriam as razões desse culto da memória? Nestes tempos de incertezas quanto ao futuro e de desilusões com as grandes utopias do século XX, o que o passado pode nos oferecer? O que as comemorações em torno de Vargas podem nos trazer?
Ao longo dos últimos 50 anos, os eventos comemorativos ligados a Vargas revestiram-se, em alguns momentos, de significados diferentes. Neste ano de 2004, mais que nunca são evidentes o interesse e a mobilização provocados pela passagem de cinco décadas da morte de Getúlio. Prova disso é a grande variedade de eventos a que temos assistido, como seminários, exposições, debates, construção de memoriais, artigos em revistas especializadas, cadernos especiais nos jornais, programas de televisão e rádio, etc. Há, sem dúvida, nessas práticas comemorativas, uma intenção de discutir o legado de Vargas. Mas que elementos estão sendo ressaltados? Que significados sua história pode adquirir, ou melhor, que apropriações estão sendo feitas numa memória em disputa? A primeira constatação diante desse boom de comemorações é que as atenções se concentram no segundo governo (1950-1954), colocando numa posição de menor relevância as outras conjunturas e eventos da trajetória política de Vargas.
A Era Vargas tornou-se uma matriz de referências quando se discute uma agenda política e econômica para o país. A experiência do segundo governo trouxe uma definição clara do papel do Estado como eixo central de um projeto nacionalista. Foi um momento de crescimento econômico e de implantação de políticas industriais que estimularam a ampliação do mercado de trabalho, o que possibilitou maior inclusão social - e tudo se passou dentro do respeito às normas democráticas. Nos dias de hoje, é compreensível que esse cenário provoque nostalgia naqueles que voltam o olhar para a década de 1950. Integrar o pleno funcionamento da democracia com a retomada do crescimento econômico e a diminuição das desigualdades sociais é o grande desafio colocado pela atualidade. Nota-se assim uma inegável positividade nas falas que ouvimos hoje sobre Vargas, ficando em plano secundário as vozes que denunciam o legado autoritário e a história de repressão política de seu primeiro governo.
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As comemorações em torno da figura de Vargas são uma constante na nossa história. Por isso mesmo, são elementos importantes para entendermos os mecanismos de construção e funcionamento da memória coletiva brasileira. É bom lembrar que o sentido primeiro de comemorar é trazer à memória, recordar. Nem sempre a comemoração é festa ou celebração. O que ela pode expressar são estratégias de controle do passado para poder comandar o presente.
Os preparativos para a comemoração dos 50 anos do suicídio de Vargas reforçam a tese de que a memória tem sido uma das preocupações culturais mais importantes das sociedades contemporâneas. A volta obsessiva ao passado conduz à produção de uma cultura da memória que se materializa de diversas maneiras, sendo a comemoração apenas uma delas. Quais seriam as razões desse culto da memória? Nestes tempos de incertezas quanto ao futuro e de desilusões com as grandes utopias do século XX, o que o passado pode nos oferecer? O que as comemorações em torno de Vargas podem nos trazer?
Ao longo dos últimos 50 anos, os eventos comemorativos ligados a Vargas revestiram-se, em alguns momentos, de significados diferentes. Neste ano de 2004, mais que nunca são evidentes o interesse e a mobilização provocados pela passagem de cinco décadas da morte de Getúlio. Prova disso é a grande variedade de eventos a que temos assistido, como seminários, exposições, debates, construção de memoriais, artigos em revistas especializadas, cadernos especiais nos jornais, programas de televisão e rádio, etc. Há, sem dúvida, nessas práticas comemorativas, uma intenção de discutir o legado de Vargas. Mas que elementos estão sendo ressaltados? Que significados sua história pode adquirir, ou melhor, que apropriações estão sendo feitas numa memória em disputa? A primeira constatação diante desse boom de comemorações é que as atenções se concentram no segundo governo (1950-1954), colocando numa posição de menor relevância as outras conjunturas e eventos da trajetória política de Vargas.
A Era Vargas tornou-se uma matriz de referências quando se discute uma agenda política e econômica para o país. A experiência do segundo governo trouxe uma definição clara do papel do Estado como eixo central de um projeto nacionalista. Foi um momento de crescimento econômico e de implantação de políticas industriais que estimularam a ampliação do mercado de trabalho, o que possibilitou maior inclusão social - e tudo se passou dentro do respeito às normas democráticas. Nos dias de hoje, é compreensível que esse cenário provoque nostalgia naqueles que voltam o olhar para a década de 1950. Integrar o pleno funcionamento da democracia com a retomada do crescimento econômico e a diminuição das desigualdades sociais é o grande desafio colocado pela atualidade. Nota-se assim uma inegável positividade nas falas que ouvimos hoje sobre Vargas, ficando em plano secundário as vozes que denunciam o legado autoritário e a história de repressão política de seu primeiro governo.