"Houve um momento grande, parado, sem nada dentro. Dilatou os olhos, esperou. Nada veio. Branco. Mas de repente num estremecimento deram corda no dia e tudo recomeçou a funcionar, a máquina trotando, o cigarro do pai fumegando, o silêncio, as folhinhas, os frangos pelados, a claridade, as coisas revivendo cheias de pressa como uma chaleira a ferver. Só faltava o tin-dlen do relógio que enfeitava tanto. Fechou os olhos, fingiu escutá-lo e ao som da música inexistente e ritmada ergueu-se na ponta dos pés. Deu três passos de dança bem leves, alados. Então subitamente olhou com desgosto para tudo como se tivesse comido demais daquela mistura. "Oi, oi, oi...", gemeu baixinho cansada e depois pensou: o que vai acontecer agora agora agora? E sempre no pingo de tempo que vinha nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer, compreende? Afastou o pensamento difícil distraindo-se com um movimento do pé descalço no assoalho de madeira poeirento. Esfregou o pé espiando de través para o pai, aguardando seu olhar impaciente e nervoso. Nada veio porém. Nada. Difícil aspirar as pessoas como o aspirador de pó."
1) Na obra de Clarice Lispector, dois registros temporais convivem: O cronológico e o psicológico. Como cada um deles aparece no fragmento descrito? 2)Releia a última frase do fragmento: "Difícil aspirar as pessoas como o aspirador de pó". O que ela revela a respeito da personagem Joana?
**1) Na obra de Clarice Lispector, dois registros temporais convivem: O cronológico e o psicológico. Como cada um deles aparece no fragmento descrito?**
No fragmento descrito, o registro cronológico é marcado pela passagem do tempo, que é apresentada de forma linear e objetiva. O início do dia é marcado pelo "momento grande, parado, sem nada dentro", que é seguido pelo "estremecimento" que dá corda no dia e faz com que tudo recomece a funcionar. O fim do fragmento é marcado pela frustração de Joana, que percebe que nada vai acontecer.
O registro psicológico é marcado pela interioridade da personagem, que é revelada por meio de seus pensamentos, sentimentos e sensações. Joana experimenta um momento de suspensão do tempo, em que ela se sente desorientada e sem saber o que fazer. Ela também se sente frustrada e cansada, pois espera que algo aconteça, mas nada acontece.
**2) Releia a última frase do fragmento: "Difícil aspirar as pessoas como o aspirador de pó". O que ela revela a respeito da personagem Joana?**
A última frase do fragmento revela que Joana se sente frustrada e impotente diante da falta de comunicação com as pessoas. Ela sente que não consegue "aspirar" as pessoas, ou seja, não consegue entender suas emoções e pensamentos. Isso a deixa cansada e desanimada.
A metáfora do aspirador de pó também pode ser interpretada como uma crítica à sociedade moderna, que é marcada pela superficialidade e pela falta de empatia. As pessoas são vistas como objetos que podem ser facilmente descartados, assim como o pó é aspirado pelo aspirador.
Aqui estão algumas interpretações possíveis da frase:
* Joana sente que as pessoas são difíceis de compreender. Elas são complexas e imprevisíveis, e ela não consegue entender seus motivos e comportamentos.
* Joana sente que as pessoas não querem ser compreendidas. Elas são fechadas e retraídas, e ela não consegue entrar em contato com elas.
* Joana sente que é difícil se conectar com as pessoas. Ela é diferente delas, e ela não consegue encontrar um ponto de contato.
Independentemente da interpretação, a frase revela a dificuldade de Joana em se relacionar com as pessoas. Ela é uma personagem solitária e desiludida, que se sente alienada do mundo ao seu redor.
Lista de comentários
Explicação:
**1) Na obra de Clarice Lispector, dois registros temporais convivem: O cronológico e o psicológico. Como cada um deles aparece no fragmento descrito?**
No fragmento descrito, o registro cronológico é marcado pela passagem do tempo, que é apresentada de forma linear e objetiva. O início do dia é marcado pelo "momento grande, parado, sem nada dentro", que é seguido pelo "estremecimento" que dá corda no dia e faz com que tudo recomece a funcionar. O fim do fragmento é marcado pela frustração de Joana, que percebe que nada vai acontecer.
O registro psicológico é marcado pela interioridade da personagem, que é revelada por meio de seus pensamentos, sentimentos e sensações. Joana experimenta um momento de suspensão do tempo, em que ela se sente desorientada e sem saber o que fazer. Ela também se sente frustrada e cansada, pois espera que algo aconteça, mas nada acontece.
**2) Releia a última frase do fragmento: "Difícil aspirar as pessoas como o aspirador de pó". O que ela revela a respeito da personagem Joana?**
A última frase do fragmento revela que Joana se sente frustrada e impotente diante da falta de comunicação com as pessoas. Ela sente que não consegue "aspirar" as pessoas, ou seja, não consegue entender suas emoções e pensamentos. Isso a deixa cansada e desanimada.
A metáfora do aspirador de pó também pode ser interpretada como uma crítica à sociedade moderna, que é marcada pela superficialidade e pela falta de empatia. As pessoas são vistas como objetos que podem ser facilmente descartados, assim como o pó é aspirado pelo aspirador.
Aqui estão algumas interpretações possíveis da frase:
* Joana sente que as pessoas são difíceis de compreender. Elas são complexas e imprevisíveis, e ela não consegue entender seus motivos e comportamentos.
* Joana sente que as pessoas não querem ser compreendidas. Elas são fechadas e retraídas, e ela não consegue entrar em contato com elas.
* Joana sente que é difícil se conectar com as pessoas. Ela é diferente delas, e ela não consegue encontrar um ponto de contato.
Independentemente da interpretação, a frase revela a dificuldade de Joana em se relacionar com as pessoas. Ela é uma personagem solitária e desiludida, que se sente alienada do mundo ao seu redor.