(UFSCar-SP)
Na minha opinião, existe no Brasil, em permanente funcionamento, não fechando nem para o almoço, uma Central Geral de Maracutaia. Não é possível que não exista. E, com toda a certeza, é uma das organizações mais perfeitas já constituídas, uma contribuição inestimável do nosso país ao patrimônio da raça humana. Nada de novo é implantado sem que surja no mesmo instante, às vezes sem intervalo visível, imediatamente mesmo, um esquema bem montado para fraudar o que lá seja que tenha sido criado. [...] Exemplo mais recente ocorreu em São Paulo, mas podia ser em qualquer outra cidade do país, porque a CGM é onipresente, não deixa passar nada, nem discrimina ninguém. Segundo me contam aqui, a prefeitura de São Paulo agora fornece caixão e enterro gratuitos para os doadores de órgãos, certamente os mais pobres. Basta que a família do morto prove que ele doou pelo menos um órgão, para receber o benefício. Mas claro, é isso mesmo, você adivinhou, ser brasileiro é meramente uma questão de prática. Surgiram indivíduos ou organizações que, mediante uma módica contraprestação pecuniária, fornecem documentação falsa, “provando” que o defunto doou órgãos, para que o caixão e o enterro sejam pagos com dinheiro público.
(João Ubaldo Ribeiro. O Estado de S. Paulo, 18.9.2005).
O trecho – a CGM é onipresente, não deixa passar nada, nem discrimina ninguém. – pode ser reescrito, sem alteração de sentido, como:
a CGM é quase presente, não deixa passar nada, nem distingue ninguém.
a CGM está presente em todo lugar, não deixa passar nada, nem segrega ninguém.
a CGM é ubíqua, não deixa passar nada, nem absolve ninguém.
a CGM é virtual, não deixa passar nada, nem exclui ninguém.
a CGM é sempre presente, não deixa passar nada, nem inocenta ninguém.
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