A Literatura Comparada do século XIX, hoje chamada de Estudos Culturais ou Comparativismo Cultural, aborda a comparação entre textos literários, assim como outros de cunho artístico, filosófico, sociológico, cinema e teatro. Não se trata apenas de uma comparação, mas sim de um olhar apurado para os textos, verificando os pontos de convergência e divergência entre eles. Assim, leia os textos a seguir, produzidos em diferentes períodos literários, e elabore uma análise comparativa, em um texto de até duas páginas, na qual sejam contemplados: aspectos semânticos (significado), momento em que são enfatizados aspectos ligados ao conteúdo do texto; e estruturais (formato do texto), momento em que são enfatizados aspectos ligados à forma do texto. Sua análise deve abordar tais aspectos em comparação aos dois textos apresentados a seguir.
Texto I
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias
Texto 2
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
(Murilo Mendes)
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