Exercício sobre linguagem (IBMEC SP Insper/2017) Texto I A palavra falada é um fenômeno natural; a palavra escrita é um fenômeno cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o pode o homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita é um fenômeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é a essência e o esteio. Pertencendo, pois, a mundos (mentais) essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra obedecem forçosamente a leis ou regras essencialmente diferentes. A palavra falada é um caso, por assim dizer, democrático. Ao falar, temos que obedecer à lei do maior número, sob pena de não sermos compreendidos ou sermos inutilmente ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra, temos que a pronunciar mal: diremos anedota, embora sabíamos que se deve dizer anécdota. Se a maioria usa de uma construção gramatical errada, da mesma construção teremos que usar: diremos “hás-de tu compreender”, embora saibamos que “hás tu de compreender” é a fórmula verdadeira. Se a maioria caiu em usar estrangeirismos ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer: “match de football” diremos, e não “partida de bolapé”. Os termos ou expressões que na linguagem escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se uma estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam-se até em má-criação, pois o preceito fundamental da civilidade é que nos conformemos o mais possível com as maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem falamos, ainda que nisso faltemos às boas–maneiras ou à etiqueta, que são a cultura exterior. (Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1999) Texto II (…) há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e recebe o nome de “português”); e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome). E é esta última que é a língua materna dos brasileiros; a outra (o “português”) tem de ser aprendida na escola, e a maior parte da população nunca chega a dominá-la adequadamente. Vamos chamar a língua falada no Brasil de vernáculo brasileiro (…). Assim, diremos que no Brasil se escreve em português, uma língua que também funciona como língua de civilização em Portugal e em alguns países da África. Mas a língua que se fala no Brasil é o vernáculo brasileiro, que não se usa nem em Portugal nem na África. (Mário A. Perini, Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 1997) Nas considerações que fazem em relação à língua, os dois autores enfatizam o aspecto cultural da língua escrita. No entendimento de ambos, ela é definida como uma a) expressão espontânea, cujas regras de comunicação são menos rigorosas que as da fala. b) variedade linguística menos afetada pelos usos cotidianos, o que garante a sua unidade. c) manifestação linguística pura, por isso seu estudo e aprendizado têm prestígio social. d) forma de expressão de menor importância, pois não é considerada língua materna. e) equivalência da língua falada, pois serve aos mesmos propósitos de comunicação.
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Exercício sobre linguagem vista Ciência Hoje promoveu e publicou um ² debate sobre a causa e a cura das doenças mentais, do ³ qual participaram profissionais ligados à psicanálise e à 4 psiquiatria e à psicofarmacologia. Reproduzimos a 5 resposta de alguns dos participantes à pergunta: “Há 6 cura para doenças mentais?”7 Jurandir Freire (psicanalista): “A cura, entendida 8 como restabelecimento de um equilíbrio prévio, é uma 9 definição médica, e isso não existe na psiquiatria. A 10 pessoa pode ter uma experiência psicopatológica e sair 11 dela desejando um equilíbrio diferente do que tinha antes. 12 Normalmente, o que entendo por cura? É a abolição dos 13 sintomas que vêm fazendo a pessoa sofrer e, em 14 seguida, a identificação com os próprios ideais, os 15 propósitos de vida ou a busca de equilíbrio e a satisfação 16 efetiva. Nesse aspecto, há códigos psíquicos que são 17 mais complicados de se atingirem; outros, pouco menos. 18 A resposta é sempre singularizada. Quanto à promessa 19 do que podemos fazer, posso ser taxativo. A gente 20 melhora bastante o sofrimento das pessoas que estão 21 atingidas mentalmente. Com o arsenal que temos em 22 neuroclínica, no plano institucional-hospitalar, no 23 atendimento individualizado, conseguimos muitas vezes 24 favorecer a pessoa”.25Joel Birman (psicanalista): “Na psicanálise, a 26 cura é problemática por causa dessa ideia de restauração 27 do estado anterior ao acontecimento. No estado de 28 perturbação, o sujeito perde sua capacidade de produção 29 de normas, tanto biológicas quanto psíquicas. A função 30 do tratamento nas perturbações psíquicas é restaurar 31 uma certa plasticidade do sujeito, para que ele tenha 32 novamente a possibilidade de novas produções 33 normativas. Tentamos fazer com que ele se torne mais 34 elástico, com maior capacidade de superação dos 35 obstáculos que se impõem, tanto em nível social quanto 36 pessoal.”37 Marcelo Versiani (psiquiatra): “A ‘cura’, o restitutio 38 ad integrum, na medicina como um todo, apesar 39 de todo o progresso atual, ainda é rara. Isso é 40 particularmente válido para as doenças crônicas, e a 41 maioria dos transtornos mentais se enquadra nessa 42 categoria. Contudo, se considerarmos que, até a década 43 de 70, a maior parte dos transtornos mentais resultava 44 em importantes graus de permanente incapacitação — 45 e isso não é mais verdade —, há motivo para otimismo. 46 Nas depressões e nas diferentes formas de ansiedade, 47 o avanço foi maior. Com o lítio e os antidepressores, 48 obtêm-se remissões em dois terços dos casos. No terço 49 restante, há graus variáveis de melhora. Na esquizofrenia, 50 o quadro, infelizmente, é mais sombrio — diferentes níveis 51 de melhora sim, mas raramente a recuperação total. 52 Essas ‘curas’ ou graus de melhora significativos têm 53 sido obtidos graças à inserção da psiquiatria no modelo 54 médico moderno. Resultados de pesquisa com números 55 representativos de pacientes e metodologia adequada 56 (escalas operacionais de avaliação, entrevistas, 57 diagnósticos computadorizados, métodos duplo-cego 58 com controle placebo etc) têm permitido e corroborado 59 esses avanços terapêuticos.”Revista Ciência Hoje. O emprego da expressão “a gente” em “A gente melhora bastante o sofrimento das pessoas que estão atingidas mentalmente.” (Refs. 19-21) denota um tom coloquial, considerado inadequado em um texto escrito mais formal, sobretudo em um contexto científico, por exemplo.As proposições a seguir constituem exemplos de construções linguísticas, bastante usuais no português falado, mas de aspecto divergente em textos escritos no padrão culto da língua portuguesa não só porque, como no caso apresentado, marcam coloquialismo, mas também porque é avaliado como erros ou desvios gramaticais da norma culta padrão.Analise os exemplos abaixo quanto à correção gramatical.I. TINHA muito menos loucos no século passado.II. (NOS) surpreendemos quando descobrimos a lucidez de alguns loucos.III. O tratamento (QUE) os doentes mais gostam é o que não envolve internação.IV. Desconfiamos muito dos loucos; (ENTENDER ELES) é um passo importante para lidar com o problema.A alternativa em que os termos grifados foram, nessa mesma ordem, substituídos corretamente quanto à correção gramatical é aa) Havia / Surpreendemos-nos / de que / entender-lhes.b) Havia / Surpreendemo-nos / de que / entendê-los.c) Havia / Surpreendemo-nos / em que / entendê-los.d) Haviam / Surpreendemo-nos / a que / entender-lhes.e) Haviam / Surpreendemo-nos / com que / entender-los.
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Filosofia “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.” (VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.) Com base no texto, assinale a alternativa correta. a) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais. b) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no começo”, ou seja, no momento original. c) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas. d) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente. e) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana.
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Filosofia Os poemas de Homero serviram de alimento espiritual aos gregos, contribuindo de forma essencial para aquilo que mais tarde se desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a harmonia, a proporção, o limite e a medida, assim como a presença de questionamentos acerca das causas, dos princípios e do porquê das coisas se faziam presentes, revelando depois uma constante na elaboração dos princípios metafísicos da filosofia grega. (Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994. p. 19. ) Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características que marcaram o nascimento da filosofia na Grécia, considere as afirmativas a seguir. I. A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para formar um grupo de iguais, os cidadãos, que buscavam a verdade pela força da argumentação. II. O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi substituído pela Ágora, espaço público onde os problemas da pólis eram debatidos. III. A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu a função ritualista de fórmula justa, passando a ser veículo do debate e da discussão. IV. A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos gregos, que substituíram a contemplação desinteressada dos mitos pela técnica utilitária do pensar racional. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I, II e III. b) I, II e IV. c) III e IV. d) II e IV. e) I e III.
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