A moreninha - Joaquim Manoel de Macedo
Augusto e Carolina estão completamente apaixonados. Ele já voltou mais
de uma vez a ilha para ficar com e ela não consegue pensar em mais nada
a não ser nesse amor. Preparando-se para mais um domingo de encontro
com a namorada, o rapaz recebe a visita do pai, que o proibe de sair,
repreendendo-o por ter relaxando nos estudos.
Texto I
[...] Augusto amava deveras, e pela primeira vez em sua vida; e o amor,
mais forte que seu espírito, exercia nele um poder absoluto e invencível.
Ora, não há idéias mais livres que as do preso; e, pois, o nosso
encarcerado estudante soltou as velas da barquinha de sua alma, que
voou atrevida por esse mar imenso da imaginação: então, começou a
criar mil sublimes quadros e em todos eles lá aparecia a encantadora
Moreninha, toda cheia de encantos e graças; viu-a, com seu vestido
branco, esperando-o em cima do rochedo; viu-a chorar, por ver que ele
não chegava, e suas lágrimas queimavam-lhe o coração. Ouviu-a acusá-lo
de inconstante e ingrato; daí a pouco pareceu-lhe que ela soluçava,
escutou um grito de dor semelhante a esse que soltara no primeiro dia
que ele tinha passado na ilha! Aqui, foi o nosso estudante às nuvens;
saltou exasperado fora do leito em que se achava deitado, passeou a
largos passos por seu quarto, acusou a crueldade dos pais, experimentou
se podia arrombar a porta, fez mil planos de fuga, esbravejou, escabelou-
se e, como nada disso lhe valesse, atirou com todos os seus livros para
baixo da cama e deitou-se de novo, jurando que não havia de estudar
dois meses. Carrancudo e teimoso, mandou voltar o almoço, o jantar e a
ceia que lhe trouxeram, sem tocar num só prato; e sentindo que seu pai
abria a porta do quarto, sem dúvida para vir consolá-lo e dar-lhe salutares
conselhos, voltou o rosto para a parede e principiou a roncar como um
endemoninhado.
- Já dormes, Augusto? perguntou o bom pai, abrindo as cortinas
do leito.
A única resposta que obteve foi um ronco que mais assemelhou-
se a um trovão.
O experimentado velho fingiu ter-se deixado enganar e, retirando-
se, trancou a porta ao pobre estudante.
Uma noite de amargor foi, então, a que se passou para este; na
solidão e silêncio das trevas, a alma do homem que padece é, mais que
nunca, toda de sua dor; concentra-se, mergulha-se inteira em seu
sofrimento, não concebe, não pensa, não vela e não se exalta se não por
ele. Isto aconteceu a Augusto, de modo que, ao abrir-se na manhã
seguinte a porta do quarto, o pai veio encontrá-lo ainda acordado, com
os olhos em fogo e o rosto mais enrubescido que de ordinário.
Augusto quis dar dois passos e foi preciso que os braços paternais
o sustivessem para livrá-lo de cair.
- Que fizeste, louco? perguntou o pai, cuidadoso.
- Nada, meu pai; passei uma noite em claro, mas... eu não sofro
nada .
Oh! ele queria dizer que sofria muito!
Imediatamente foi-se chamar um médico que, contra o costume da
classe, fez-se esperar pouco.
Augusto sujeitou-se com brandura ao exame necessário e quando
o médico lhe perguntou:
- O que sente?
Ele respondeu, com toda fria segurança do homem determinado:
- Eu amo.
- E mais nada?
- Oh! Sr. doutor, julga isso pouco?
E além destas palavras não quis pronunciar mais uma única sobre
o seu estado. E, contudo, ele estava em violenta exacerbação. O médico
deu por terminada a sua visita.[...]

Exercício

a) O narrador pode ser considerado onisciente? Justifique sua resposta.

b) O narrador refere-se aos personagens como “nosso estudante” e
“nossa cara menina”. O pronome possessivo, nesse caso, refere-se a que
pessoas?

12. Qual efeito produzido pelo emprego desse pronome e do adjetivo cara?

13. No segundo parágrafo do texto II, o narrador apresenta uma tese a
respeito do amor. Qual a função desse parágrafo?

Obs.: Tive que anexar um texto pois são dois textos e estava ultrapassando o limite de caracteres.
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