Leia o poema “O bicho”, de Manuel Bandeira.
O Bicho (Manuel Bandeira)
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Considerando o poema lido e a função humanizadora da arte, assinale a alternativa incorreta:
Alternativas
Alternativa 1:
Este poema de Manuel Bandeira relata uma cena cotidiana, já que qualquer pessoa poderia se deparar com situação semelhante. O autor utiliza uma linguagem coloquial e acessível, recorrendo à simplicidade, característica tão marcante em sua obra.
Alternativa 2:
O texto se inicia com refinada passividade, talvez se perceba até mesmo o silêncio de uma rua vazia, ecoando alguns movimentos solitários e pontuais. E esta passividade se mantém quando se anuncia que o bicho descrito, que passa despercebido, na realidade é um homem.
Alternativa 3:
O poema intensifica a dinâmica da fome: não examinar nem cheirar demonstra ações imediatas e vorazes, próprias de um ser irracional, a que se reduz um homem diante à calamidade. Estar rebaixado além do cão, do gato e do rato introduz o impacto emocional do expectador, que impotente observa.
Alternativa 4:
Ver uma pessoa na rua numa grande cidade revirando o lixo talvez não causasse tamanha comoção, pois que o hábito de conviver com a pobreza a banaliza. No entanto, Manuel Bandeira a coloca no seu devido patamar de sensação: a da repulsa, a da lamentação, pois este olhar verdadeiro diante de um homem em necessidades extremas é o de identificação, de empatia.
Alternativa 5:
Assim se configura a função humanizadora da arte, pois ela tem a capacidade de nos irmanar com os outros; permite-nos enxergar o mundo à nossa volta e nos vermos parte dele. Sendo assim, a ética reside na percepção de que todos somos iguais, somos seres humanos e, portanto, deveríamos gozar dos mesmos direitos e deveres.
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Boa noite!Ao ler o poema "O bicho" de Manuel Bandeira e considerando a função humanizadora da arte, vemos a denúncia de uma cena de animalização do homem, mostrando a força da lírica do poeta na denúncia de situações como miséria, fome e opressão.
Analisando as alternativas, temos:
Alternativa 1: Correta. A situação de fome e miséria está diante de nós diariamente, em todas as cidades, em ruas, em todos os continentes, em nosso cotidiano. A linguagem é acessível e simples, passando com clareza a deterioração da humanidade em "coisa".
Alternativa 2: Incorreta. As estrofes seguem uma sequência que envolve: visão do poeta, ação do bicho, espanto e revelação. Quando há o anuncio de que o bicho é um homem, há perplexidade e não passividade, como diz a alternativa. O vocativo "meu Deus" ganha uma função de apelo que transpassa choque.
Alternativa 3: Correta. A fome elimina a razão, vez que o instinto de sobrevivência se sobressai e o homem devora sem pensar, a comida em meio aos detritos. A degradação que o poema impõe, com o recurso do paralelismo, coloca o homem abaixo dos animais classificados domésticos.
Alternativa 4: Correta. A situação que o poema abrange de um ser humano com fome, sem acesso digno à comida, consequência da terrível desigualdade social que se alastra na sociedade é tão corriqueira que não desperta muita comoção, mas a escrita de Manuel Bandeira traz para o leitor um novo olhar, um reconhecimento ao seu semelhante.
Alternativa 5: Correta. O poema consegue despertar a nossa sensibilização e reflexão a respeito das desigualdades sociais e das condições subumanas em que se encontram milhões de seres humanos, que em Lei, possuem os mesmos direitos e deveres que cada um de nós, mas que na prática enfrentam batalhas cotidianas para viver.