*Sobre as paredes internas que restavam, equilibravam-se pontas de vigamento, revestidas de um bolor claro de
cinza, tições enormes, apagados. Na atmosfera luminosa da manhã flutuava o sossego fúnebre que vem no dia seguinte
sobre o teatro de um grande desastre.
Informaram-me de coisas extraordinárias. O incêndio fora propositalmente lançado pelo Américo, que para isso
rompera o encanamento do gás no saguão das bacias. Desaparecera depois do atentado.
Desaparecera igualmente durante o incêndio a senhora do diretor.
Dirigi-me para o terraço de mármore do outão. Lá estava Aristarco, tresnoitado, o infeliz. No jardim continuava a
multidão dos basbaques. Algumas famílias em toilette matinal, passeavam. Em redor do diretor muitos discípulos
tinham ficado desde a véspera, inabaláveis e compadecidos. Lá estava, a uma cadeira em que passara a noite, imóvel,
absorto, sujo de cinza como um penitente, o pé direito sobre um monte enorme de carvões, o cotovelo espetado na
perna, a grande mão felpuda envolvendo o queixo, dedos perdidos no bigode branco, sobrolho carregado.
Falavam do incendiário. Imóvel! Contavam que não se achava a senhora. Imóvel! A própria senhora com quem ele
contava para o jardim de crianças! Dor veneranda! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais! Majestade inerte
do cedro fulminado! Ele pertencia ao monopólio da mágoa. O Ateneu devastado! O seu trabalho perdido, a conquista
inapreciável dos seus esforços!... Em paz!... Não era um homem aquilo; era um de profundis.
Lá estava: em roda amontoavam-se figuras torradas de geometria, aparelhos de cosmografia partidos. Enormes
cartas murais em tiras, queimadas, enxovalhadas, vísceras dispersas das lições de anatomia, gravuras quebradas da
história santa em quadros, cronologias da história pátria, ilustrações zoológicas, preceitos morais pelo ladrilho, como
ensinamentos perdidos, esferas terrestres contundidas, esferas celestes rachadas; borra, chamusco por cima de tudo:
despojos negros da vida, da história, da crença tradicional, da vegetação de outro tempo, lascas de continentes
calcinados, planetas exorbitados de uma astronomia morta, sóis de ouro destronados e incinerados...
Ele, como um deus caipora, triste, sobre o desastre universal de sua obra.
Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez se
ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo — o funeral para sempre das horas.
qual é o foco narrativo?
a)de 3ª pessoa, sendo o narrador do tipo onisciente.
b)de3ª pessoa, sendo o narrador do tipo observador.
c)de 1ª pessoa; ocupando, o narrador, apenas uma função .
d)de 1ª pessoa; acumulando, o narrador, funções diferentes na narrativa.
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Olá EGG você perguntou Sobre o FOCO NARRATIVO -->é o ponto de vista que o narrador cconta a história --->qual é o foco narrativo? D-)d)de 1ª pessoa; acumulando, o narrador, funções diferentes na narrativa. ele é o narrador- personagem ( SÉRGIO )Nesta crônica, se nos reportarmos ao texto, no trecho: dirige-me para o terraço de mármore do oitão", ou seja, procurou uma posição para poder observar e narrar. Portanto, seu foco narrativo, é assumir a posição unicamente de observador dos fatos do tipo onisciente, pois conhece toda a história inclusive o que sentem os personagens - "Dor veneranda! Indiferença suprema dos sofrimentos excepcionais!
Espero ter lhe ajudado!