Todo subconjunto não vazio [tex]X\subseteq N[/tex] possui um menor elemento, isto é, existe [tex]x\in X[/tex] tal que [tex]x\leq y[/tex] para todo [tex]y\in X[/tex].
[Teorema 1]: Todo número natural é menor que seu sucessor, ou seja, n < n + 1, para todo n ∈ ℕ.
[Demonstração] Segue diretamente da definição da relação < (é menor que), visto que existe k ∈ ℕ, tal que n + k = n + 1, e tal k é o próprio1 (um).
Portanto, para todo n ∈ ℕ, temos n < n + 1. □
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[Teorema 2]: Seja n ∈ ℕ. Então n = 1 ou n > 1 (ou equivalentemente de forma compacta, n ≥ 1).
[Demonstração] Suponha por absurdo que n < 1. Pela definição da relação <, então existe k ∈ ℕ, tal que n + k = 1.
Porém, como n ≠ 1, então n é o sucessor de algum número natural m, ou seja, n = m + 1, para algum m ∈ ℕ (por um dos axiomas de Peano).
Substituindo n por m + 1, temos
⟹ (m + 1) + k = 1
⟹ m + 1 + k = 1
⟹ m + k + 1 = 1
⟹ (m + k) + 1 = 1
⟹ 1 é sucessor de m + k ∈ ℕ
absurdo, pois 1 não é sucessor de nenhum natural (outro dos axiomas de Peano).
Logo, pela tricotomia, concluímos que n = 1 ou n > 1. □
Obs.: O Teorema 2 evidencia que o conjunto dos naturais tem um elemento mínimo, e este elemento é o número 1 (um).
─────
[Teorema 3]: Seja n ∈ ℕ. Então não existem ∈ ℕ, tal que n < m < n + 1.
[Demonstração] Suponha por absurdo que existe m, tal que n < m < n + 1.
Como n < m, pela definição da relação <, existe k ∈ ℕ, tal que
n + k = m
mas como m < n + 1, novamente pela definição da relação <, existe p ∈ ℕ, tal que
m + p = n + 1
Substituindo m por n + k, temos
⟹ (n + k) + p = n + 1
⟹ n + (k + p) = n + 1
⟹ k + p = 1
⟹ k < 1ep < 1
(absurdo, pois contradiz o Teorema 2).
Logo, não existe m ∈ ℕ, tal que n < m < n + 1. □
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Princípio da Boa Ordem
[Teorema 4 – Princípio da Boa Ordem]
Seja X ⊆ ℕ não-vazio. Então, existex₀ ∈ X tal que x₀ ≤ x, para todo x ∈ X.
[Demonstração] Temos dois casos a considerar.
Caso 1: 1 ∈ X.
Pelo Teorema 2, para todo x ∈ ℕ, temos 1 ≤ x. Como X ⊆ ℕ, em particular, temos 1 ≤ x, para todo x ∈ X.
Logo, está provada a existência do elemento mínimox₀ = 1 ∈ X. □
Caso 2: 1 ∉ X.
Considere o conjuntoY⊆ℕ, cujos elementos são todos os naturais menores que qualquer elemento de X.
Y = {y ∈ ℕ:y < x,para todo x ∈ X}.
Os conjuntos X e Y são disjuntos, pois todo elemento de Y é menor, e portanto diferente de qualquer elemento de X.
Como Xnão é vazio, então existe algum elemento x ∈ X⊆ ℕ. Contudo, X∩Y=∅, e por issodevemos ter x ∉ Y. Então, existe algum natural que não é elemento de Y. Logo, Y ≠ ℕ.
Novamente pelo Teorema 2, em particular, temos x ≥ 1, para todo x ∈ X ⊆ ℕ.
No entanto,
1 ∉ X
⟹ x ≠ 1
⟹ x > 1
⟹ 1 < x, para todo x ∈ X.
Logo, pela propriedade que caracteriza os elementos de Y, concluímos que 1 ∈ Y.
Suponha por absurdo que
para todo y ∈ Y, y + 1 ∈ Y.
Caso essa hipótese fosse verdadeira, pelo Axiomada Indução, teríamos Y = ℕ (absurdo, pois já mostramos que Y ≠ ℕ).
Logo, deve existir algum y₀ ∈ Y, tal que
y₀ + 1 ∉ Y.
Como y₀ ∈ Y, temos y₀ < x, para todo x ∈ X.
Além disso, como y₀ + 1 ∉ Y, então deve existir x₀ ∈ X tal que y₀ + 1 ≥ x₀, e em particular, y₀ < x₀ ∈ X.
Temos dois casos a analisar: y₀ + 1 > x₀ ou y₀ + 1 = x₀.
Suponha por absurdo que y₀ + 1 > x₀.
⟹ y₀ < x₀ < y₀ + 1
(absurdo, pois contradiz o Teorema 3).
Portanto, devemos ter y₀ + 1 = x₀.
Mostraremos a seguir que x₀ é o elemento mínimo de X.
Por fim, suponha por absurdo que existe x₁ ∈ X, tal que x₁ < x₀ = y₀ + 1.
Como y₀ ∈ Y e x₁ ∈ X, em particular, temos y₀ < x₁.
Logo, segue que
⟹ y₀ < x₁ < x₀ = y₀ + 1
(absurdo, pois contraria novamente o Teorema 3).
Portanto, não existex₁ ∈ X, tal que x₁ < x₀, ou equivalentemente,
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Alguns teoremas com demonstrações prévias
[Teorema 1]: Todo número natural é menor que seu sucessor, ou seja, n < n + 1, para todo n ∈ ℕ.
[Demonstração] Segue diretamente da definição da relação < (é menor que), visto que existe k ∈ ℕ, tal que n + k = n + 1, e tal k é o próprio 1 (um).
Portanto, para todo n ∈ ℕ, temos n < n + 1. □
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[Teorema 2]: Seja n ∈ ℕ. Então n = 1 ou n > 1 (ou equivalentemente de forma compacta, n ≥ 1).
[Demonstração] Suponha por absurdo que n < 1. Pela definição da relação <, então existe k ∈ ℕ, tal que n + k = 1.
Porém, como n ≠ 1, então n é o sucessor de algum número natural m, ou seja, n = m + 1, para algum m ∈ ℕ (por um dos axiomas de Peano).
Substituindo n por m + 1, temos
⟹ (m + 1) + k = 1
⟹ m + 1 + k = 1
⟹ m + k + 1 = 1
⟹ (m + k) + 1 = 1
⟹ 1 é sucessor de m + k ∈ ℕ
absurdo, pois 1 não é sucessor de nenhum natural (outro dos axiomas de Peano).
Logo, pela tricotomia, concluímos que n = 1 ou n > 1. □
Obs.: O Teorema 2 evidencia que o conjunto dos naturais tem um elemento mínimo, e este elemento é o número 1 (um).
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[Teorema 3]: Seja n ∈ ℕ. Então não existe m ∈ ℕ, tal que n < m < n + 1.
[Demonstração] Suponha por absurdo que existe m, tal que n < m < n + 1.
Como n < m, pela definição da relação <, existe k ∈ ℕ, tal que
n + k = m
mas como m < n + 1, novamente pela definição da relação <, existe p ∈ ℕ, tal que
m + p = n + 1
Substituindo m por n + k, temos
⟹ (n + k) + p = n + 1
⟹ n + (k + p) = n + 1
⟹ k + p = 1
⟹ k < 1 e p < 1
(absurdo, pois contradiz o Teorema 2).
Logo, não existe m ∈ ℕ, tal que n < m < n + 1. □
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Princípio da Boa Ordem
[Teorema 4 – Princípio da Boa Ordem]
Seja X ⊆ ℕ não-vazio. Então, existe x₀ ∈ X tal que x₀ ≤ x, para todo x ∈ X.
[Demonstração] Temos dois casos a considerar.
Pelo Teorema 2, para todo x ∈ ℕ, temos 1 ≤ x. Como X ⊆ ℕ, em particular, temos 1 ≤ x, para todo x ∈ X.
Logo, está provada a existência do elemento mínimo x₀ = 1 ∈ X. □
Considere o conjunto Y ⊆ ℕ, cujos elementos são todos os naturais menores que qualquer elemento de X.
Y = {y ∈ ℕ: y < x, para todo x ∈ X}.
Os conjuntos X e Y são disjuntos, pois todo elemento de Y é menor, e portanto diferente de qualquer elemento de X.
Como X não é vazio, então existe algum elemento x ∈ X ⊆ ℕ. Contudo, X ∩ Y = ∅, e por isso devemos ter x ∉ Y. Então, existe algum natural que não é elemento de Y. Logo, Y ≠ ℕ.
Novamente pelo Teorema 2, em particular, temos x ≥ 1, para todo x ∈ X ⊆ ℕ.
No entanto,
1 ∉ X
⟹ x ≠ 1
⟹ x > 1
⟹ 1 < x, para todo x ∈ X.
Logo, pela propriedade que caracteriza os elementos de Y, concluímos que 1 ∈ Y.
Suponha por absurdo que
para todo y ∈ Y, y + 1 ∈ Y.
Caso essa hipótese fosse verdadeira, pelo Axioma da Indução, teríamos Y = ℕ (absurdo, pois já mostramos que Y ≠ ℕ).
Logo, deve existir algum y₀ ∈ Y, tal que
y₀ + 1 ∉ Y.
Como y₀ ∈ Y, temos y₀ < x, para todo x ∈ X.
Além disso, como y₀ + 1 ∉ Y, então deve existir x₀ ∈ X tal que y₀ + 1 ≥ x₀, e em particular, y₀ < x₀ ∈ X.
Temos dois casos a analisar: y₀ + 1 > x₀ ou y₀ + 1 = x₀.
Suponha por absurdo que y₀ + 1 > x₀.
⟹ y₀ < x₀ < y₀ + 1
(absurdo, pois contradiz o Teorema 3).
Portanto, devemos ter y₀ + 1 = x₀.
Mostraremos a seguir que x₀ é o elemento mínimo de X.
Por fim, suponha por absurdo que existe x₁ ∈ X, tal que x₁ < x₀ = y₀ + 1.
Como y₀ ∈ Y e x₁ ∈ X, em particular, temos y₀ < x₁.
Logo, segue que
⟹ y₀ < x₁ < x₀ = y₀ + 1
(absurdo, pois contraria novamente o Teorema 3).
Portanto, não existe x₁ ∈ X, tal que x₁ < x₀, ou equivalentemente,
para todo x ∈ X, x ≥ x₀. ■
Dúvidas? Comente.
Bons estudos! :-)[tex]\,[/tex]